Movimentos sociais do campo fazem acordo histórico

Tempo de leitura: 4 min

Camponeses lançam manifesto pela Reforma Agrária após encontro histórico

28 de fevereiro de 2012

Da Página do MST

Os movimentos sociais do campo, que fizeram uma reunião no começo desta semana em Brasília, lançaram um manifesto em defesa da Reforma Agrária, do desenvolvimento rural com o fim das desigualdades, da produção e acesso a alimentos saudáveis, da agroecológica e da garantia e ampliação de direitos sociais aos trabalhadores rurais.

O encontro de dirigentes das entidades mais representativas do campo no Brasil é considerado “um momento histórico, um espaço qualificado, com dirigentes das principais organizações do campo que esperam a adesão e o compromisso com este processo”.

No manifesto, foi criticado também o modelo de produção de commodities agrícolas baseado em latifúndios, na expulsão das famílias do campo e nos agrotóxicos.

“O agronegócio representa um pacto de poder das classes sociais hegemônicas, com forte apoio do Estado Brasileiro, pautado na financeirização e na acumulação de capital, na mercantilização dos bens da natureza, gerando concentração e estrangeirização da terra, contaminação dos alimentos por agrotóxicos, destruição ambiental, exclusão e violência no campo, e a criminalização dos movimentos, lideranças e lutas sociais”, afirmam no manifesto.

O documento é assinado pelo MST, Via Campesina, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf).

Os movimentos sociais prometem “um processo de luta unificada em defesa da Reforma Agrária, dos direitos territoriais e da produção de alimentos saudáveis”.

Na tarde desta terça-feira (28/2), os movimentos apresentam o manifesto à sociedade em ato político no plenário 15 da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Abaixo, leia a versão integral do manifesto.

MANIFESTO DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS DO CAMPO

As entidades APIB, CÁRITAS, CIMI, CPT, CONTAG, FETRAF, MAB, MCP, MMC, MPA e MST, presentes no Seminário Nacional de Organizações Sociais do Campo, realizado em Brasília, nos dias 27 e 28 de fevereiro de 2012, deliberaram pela construção e realização de um processo de luta unificada em defesa da Reforma Agrária, dos direitos territoriais e da produção de alimentos saudáveis.

Considerando:

1) O aprofundamento do capitalismo dependente no meio rural, baseado na expansão do agronegócio, produz impactos negativos na vida dos povos do campo, das florestas e das águas, impedindo o cumprimento da função socioambiental da terra e a realização da reforma agrária, promovendo a exclusão e a violência, impactando negativamente também nas cidades, agravando a dependência externa e a degradação dos recursos naturais (primarização).

2) O Brasil vive um processo de reprimarização da economia, baseada na produção e exportação de commodities agrícolas e não agrícolas (mineração), que é incapaz de financiar e promover um desenvolvimento sustentável e solidário e satisfazer as necessidades do povo brasileiro.

3) O agronegócio representa um pacto de poder das classes sociais hegemônicas, com forte apoio do Estado Brasileiro, pautado na financeirização e na acumulação de capital, na mercantilização dos bens da natureza, gerando concentração e estrangeirização da terra, contaminação dos alimentos por agrotóxicos, destruição ambiental, exclusão e violência no campo, e a criminalização dos movimentos, lideranças e lutas sociais.

4) A crise atual é sistêmica e planetária e, em situações de crise, o capital busca saídas clássicas que afetam ainda mais os trabalhadores e trabalhadoras com o aumento da exploração da força de trabalho (inclusive com trabalho escravo), super exploração e concentração dos bens e recursos naturais (reprimarização), flexibilização de direitos e investimento em tecnologia excludente e predatória.

5)  Na atual situação de crise, o Brasil, como um país rico em terra, água, bens naturais e biodiversidade, atrai o capital especulativo e agroexportador, acirrando os impactos negativos sobre os territórios e populações indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e camponesas. Externamente, o Brasil pode se tornar alavanca do projeto neocolonizador, expandindo este modelo para outros países, especialmente na América Latina e África.

6)  O pensamento neodesenvolvimentista centrado na produção e no lucro, defendido pela direita e por setores de esquerda, exclui e trata como empecilho povos indígenas, quilombolas e camponeses. A opção do governo brasileiro por um projeto neodesenvolvimentista, centrado em grandes projetos e na exportação de commodities, agrava a situação de exclusão e de violência. Consequentemente não atende as pautas estruturais e não coloca a reforma agrária no centro da agenda política, gerando forte insatisfação das organizações sociais do campo, apesar de pequenos avanços em questões periféricas.

Estas são as razões centrais que levaram as organizações sociais do campo a se unirem em um processo nacional de luta articulada. Mesmo reconhecendo a diversidade política, estas compreendem a importância da construção da unidade, feita sobre as bases da sabedoria, da maturidade e do respeito às diferenças, buscando conquistas concretas para os povos do campo, das florestas e das águas.

Neste sentido nós, organizações do campo, lutaremos por um desenvolvimento com sustentabilidade e focado na soberania alimentar e territorial, a partir de quatro eixos centrais:

a) Reforma Agrária ampla e de qualidade, garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas e quilombolas e comunidades tradicionais: terra como meio de vida e afirmação da identidade sociocultural dos povos, combate à estrangeirização das terras e estabelecimento do limite de propriedade da terra no Brasil.

b) Desenvolvimento rural com distribuição de renda e riqueza e o fim das desigualdades;

c) Produção e acesso a alimentos saudáveis e conservação ambiental, estabelecendo processos que assegurem a transição para agroecológica.

d) Garantia e ampliação de direitos sociais e culturais que permitam a qualidade de vida, inclusive a sucessão rural e permanência da juventude no campo.

Este é um momento histórico, um espaço qualificado, com dirigentes das principais organizações do campo que esperam a adesão e o compromisso com este processo por outras entidades e movimentos sociais, setores do governo, parlamentares, personalidades e sociedade em geral, uma vez que a agenda que nos une é uma agenda de interesse de todos e todas.

Brasília, 28 de fevereiro de 2012.

APIB – Associação dos Povos Indígenas do Brasil

CÁRITAS Brasileira

CIMI – Conselho Indigenista Missionário

CPT – Comissão Pastoral da Terra

CONTAG – Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura

FETRAF – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

MCP – Movimento Camponês Popular

MMC – Movimento de Mulheres Camponesas

MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Via Campesina Brasil


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Comentários

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Eudes H. Travassos

Leandro, o que você está chamando de economia, talvez esteja querendo dizer capitalismo neoliberal e quanto se o governo vai peitar quem ainda garante exportações, eu te pergunto, este governo chegaria a governar se não fizesse duros enfrentamentos? Claro que não! Apesar das conseções programáticas, é ele o responsável pelas maiores mudanças sociais na Brasil nestes últimos 40 anos.É meu véi, tudo que é sólido se desmancha no ar, já dizia um senhor alemão do século XVIII, aliás, o gigante do pensamento humano moderno…..rsrsrsrs.

SILOÉ-RJ

É ISSO AÍ!!!!
ORGANIZAÇÃO, FORÇA e UNIÃO, nas reivindicações.

Eudes H. Travassos

Se eu pudesse colocaria minha assinatura neste manifesto, mas claro, sou apenas um militante.
O que mais me comove neste fato histórico é que além do fortalecimento da luta pela reforma agrária, nasce uma nova concepção política nos movimentos sociais, a unificação de vários movimentos em torno de uma mesma luta, coisa historicamente rara na história dos movimentos sociais. Espero mesmo que sirva de lição e que os movimentos encontrem logo esta maturidade e consigam, mesmo com seus caracteres particulares, unificar suas lutas. Juntos serão(emos) bem mais fortes e derrotaremos, justo o uma das conquistas importantes do neoliberalismo que foi a fragmentação.
Movimentos sociais do mundo, uni-vos!

leandro

Vocês acham que o governo vai peitar quem ainda garante exportações e superavit nesse país? Mais uma vez esse "manifesto" vai ser recebido, apoiado, prometido como meta e jogado no lixo assim que virarem as costas. Não aprendem.."É a economia estúpido".

Téo

Não tem outro caminho….tem que ir pra cima, pois o capital pressiona, tem que disputar os rumos, até porque esse Governo na tá ajudando muito, podia ajudar mais…ser um aliado mais significativo.

cronopio

É isso mesmo, trata-se de um acordo mais do que importante: fundamental. Sem ele, nada poderia acontecer. É apenas o começo, mas até que enfim começou!

paaulo

É os avanços esperados no governo da atual presidente no trato da reforma agrária por enquanto estão a esperar.Aiiás nem se tem notícias sobre esse assunto na mídia tem algum tempo. Claroo grande poder tem outras notícias de seus patrocinadores mais importantes como por exemplo a eleição Americana; a disputa paulista pela prefeitura com Serras e outros mais; a doença do Chavez e Fidel;a Coréia doNorte;e a crise da Europa e os seus "baderneiros de plantão". É o nosso Brasil…povo marcado e povo feliz.

EUNAOSABIA

Onde se lê "acordo histórico", leia-se, "aumento do peleguismo".

Querem é continuar mamando nas tetas da viúva.

Mamateiros com um projeto político fracassado, querem é continuar atados as tetas da nação.

    cronopio

    Realmente, reforma agrária é um projeto político fracassado, deve ser por isso que os países de primeiro mundo fizeram!rs Nessa você se superou, fascistinha.

    augusto

    E o eterno insipiente continua babaca!
    Eu e o restante da torcida sabe: quem TEM entre 150 e 200 de bancada agro-negocista no congresso nao sao as entidades da reforma agrária.
    O babacófilo insipiente projeto de troll nao imagina quanto essa bancadinha bem remunerada consegue das tais
    'tetas da nação'.

    Miguel

    voce nao sabe de nada, mas ja teve noticia de algum pais capitalista que se desenvolveu sem uma reforma agraria? Um so? Nao tem a menor ideia de como se moderniza a politica e a economia de um pais, nos processos sociais de eliminacao de estruturas arcaicas, nao e'?

Mel

Tinha que ter igreja metida na coisa. Ei pessoal do aborto, olha o fundamentalismo religioso fazendo movimento. Estamos num país laico ou não? É o Vaticano outra vez querendo pautar o governo. Já entregaram o corpo das mulheres para o Vaticano, agora vão entregar a reforma agrária? Vamos abortar esse acordo campesino. Abaixo os torquemadas. Assim não dá, assim não pode.

    Carlito

    Mel
    Gostei demais do teu irônico e humoristico comentário. Vais ser unanimidade e possivelmente record de negativação, por teres englobado e enquadrado todas as correntes "filosóficas" que aqui se fazem passageiros (leitores e comentaristas).
    Valeu.

    cronopio

    Aí, Carlito, continua dando uma de palhaço. Pelo menos é fascista de bom humor.rs

    candido

    Alguém comentaria este artigo científico? http://jme.bmj.com/content/early/2012/02/22/medet

    Miguel

    e voce acha que essa corrente tem apoio da hierarquia eclesiastica? Ja viu o que fizeram com a Teologia da Libertacao? Cinismo em doses letais…

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