Movimentos populares brasileiros denunciam campanha contra o processo eleitoral na Venezuela

Tempo de leitura: 6 min

Da Redação

Nessa terça-feira, 03/04, movimentos populares e pessoas públicas lançaram um manifesto de solidariedade ao povo da Venezuela e denúncia a campanha internacional contra o processo eleitoral no país.

João Pedro Stedile, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um dos signatários.

Em seu perfil no X (antigo Twitter), @stedile_mst diz:

1- Desde a vitória eleitoral de Chavez em 1999, em 24 anos, a Venezuela realizou 35 eleições, inclusive um plebiscito sobre a nova Constituição. O chavismo perdeu duas a nível nacional; a oposição elegeu governadores, deputados e prefeitos.

2- Nestas eleições, se inscreveram 12 candidatos de oposição de todos os partidos. A imprensa brasileira reclama e faz um espetáculo porque foi inabilitada a candidata da extrema-direita, Maria Corina.

3- Quem é Maria Corina? No exílio, ela assumiu a nacionalidade panamenha e participava das reuniões da OEA para atacar seu próprio povo. Será que a imprensa vai defender o direito de Bolsonaro também se candidatar em 2026?!?!?

4- O pior são os setores ditos progressistas daqui e da América Latina criticarem o sistema venezuelano, alegando que não é democrático. Haja paciência!! Ficam repetindo frases que o Império aprecia para poderem aparecer na imprensa burguesa.

5- A nota dos burocratas do Itamaraty é uma vergonha. Imaginem se o governo da Venezuela tivesse criticado o processo eleitoral brasileiro? Tampouco vi comentários deles sobre outros países.

6- O que pensa o Itamaraty sobre as eleições de El Salvador, do Haiti ou dos Estados Unidos? Um sistema viciado que só admite dois candidatos e os eleitos são escolhidos por delegados, não pela maioria do povo. Mas la é democracia…

Abaixo, o manifesto e a lista dos signatários.

SOLIDARIEDADE AO POVO DA VENEZUELA E DENÚNCIA DA CAMPANHA INTERNACIONAL CONTRA O PROCESSO ELEITORAL

Diante das polêmicas relacionadas ao processo eleitoral na Venezuela, gostaríamos de manifestar nossa opinião.

1- Desde que Hugo Chávez ganhou as eleições em 1998 até hoje, o governo dos Estados Unidos e seus interesses petrolíferos movem uma guerra sem fim contra o povo da Venezuela.

2- Os EUA decretaram boicote a venda de seu petróleo, sequestraram contas no exterior e roubaram recursos depositados em vários bancos.

No último mês, sequestraram até um avião de carga da empresa estatal em Buenos Aires, auxiliado pelo governo Milei. Apesar de ser Boeing, alegou que tinha sido comprado do Irã. Levaram o avião para Miami e o desmontaram com o medo que algum tribunal internacional mandasse devolvê-lo.

3- Os EUA impuseram um presidente fantoche, o senhor Juan Guaidó, que praticou uma série de crimes, além de se apropriar de mais de 50 milhões de dólares, denunciado por seus comparsas. Hoje, ele vive nos EUA protegido pelas autoridades.

4- A Venezuela tem um sistema eleitoral democrático, que usa urnas eletrônicas e que tem também voto impresso para checagem. Realizou mais de 25 eleições nesse período, todas auditadas por autoridades judiciais internacionais, inclusive do Brasil.

5- Nessas eleições, foram eleitos governadores, prefeitos e deputados da oposição ao chavismo, sem que ninguém tenha protestado. A campanha contra urnas eletrônicas tem sido uma prática da extrema-direita em vários países, assim como no Brasil.

6- O poder eleitoral é determinado pelo Tribunal eleitoral da Venezuela, parecido com o nosso TSE. São cinco juízes indicados pela sociedade e partidos políticos. A assembleia nacional vota e escolhe os membros. Do atual conselho, dois membros foram indicados por partidos de oposição.

7- A candidata Maria Corina, representante da extrema-direita, “bolsonarista” e rejeitada por todos os demais partidos de oposição, estava impedida de concorrer há mais de seis meses.

Julgada por crimes de corrupção, traição à pátria e tentativas de golpe, patrocinados por ela e seu partido. Foi então declarada inelegível, assim como aconteceu com Bolsonaro no Brasil.

8- Maria Corina manteve a candidatura e, com uma jogada de propaganda, sabendo que estava inelegível, indicou outra pessoa de última hora, a senhora Corina Yoris.

Porém, ela não estava registrada em um partido político e, simplesmente, não cumpriu as normas eleitorais. E o conselho eleitoral rejeitou por unanimidade, como com frequência acontece aqui no Brasil.

9- Estão inscritos para concorrer 13 candidatos, sendo 12 de oposição, entre eles um governador de oposição, do estado de Zulia.

10- Há total liberdade de imprensa no país, com diversas televisões e jornais que fazem oposição aberta ao governo, nos quais os opositores falam o que querem.

11- O bloqueio econômico dos Estados Unidos, a impossibilidade de peças de reposição para a indústria petroleira e os limites para as exportações causaram enormes dificuldades econômicas para a população e muitos deles resolveram migrar, se transformando em refugiados econômicos.

Isso tem acontecido com povo de todos os países da América Latina, basta olhar para a fronteira do México. No Brasil, milhares de brasileiros deixam o país para tentar a sorte nos Estados Unidos e em Portugal.

12- A Venezuela sofreu duas tentativas de invasão militar por mar e através da Colômbia, que foram debeladas pelas forças públicas, com total apoio do povo.

13- O presidente Maduro sofreu duas tentativas de assassinato, por meio de drones, que também foram evitados e seus autores presos.

14- O povo da Venezuela precisa que haja justiça internacional para devolver os bens sequestrados no exterior, como todas as suas reservas em ouro sequestradas pela Inglaterra.

15- Os venezuelanos precisam também que cesse o bloqueio econômico e que possam usar seu principal patrimônio, o petróleo, para recuperar o desenvolvimento do país.

16- O que está em curso é uma campanha difamatória articulada pelos interesses econômicos dos Estados Unidos, com a imprensa burguesa de todo o continente para atacar o processo eleitoral venezuelano e desacreditar os resultados.

17- Recomendamos os movimentos populares, as centrais sindicais, os partidos políticos, as associações de juízes e do Ministério Público brasileiros a viajarem para a Venezuela para acompanhar in loco o processo eleitoral.

18- Os movimentos populares e a esquerda brasileira são solidários com o povo venezuelano e denunciam as ações do governo americano e seus tentáculos, insertos nos planos de guerra híbridos, em curso há tantos anos.

19- Conclamamos a que todos sejamos igualmente solidários com os pobres dos Estados Unidos, com o povo do Haiti, Palestina, Cuba, Porto Rico e dos países do SAHEL africano, que estão enfrentando os mesmos interesses do Império americano e de seus aliados europeus, como o império Francês, que está sendo expulso da África depois de ter roubado tantas riquezas naturais.

20- Há 25 anos, o povo venezuelano vem sofrendo as consequências da guerra híbrida imposta pelo governo dos Estados Unidos e suas petroleiras. Apesar dos prejuízos e das dificuldades, sempre venceu e vencerá novamente.

Brasil, abril de 2024

MOVIMENTOS POPULARES E PARTIDOS 

Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil – CONTRAF-Brasil

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB

Centro Brasileiro Pela Paz – CEBRAPAZ

Central de Movimentos Populares – CMP

Centro de Estudos de Religiões de Matriz Africana-CENARAB

Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas-CONAQ

Conselho Pastoral dos/as Pescadores/as- CPP

Frente Evangélica pelo Estado de Direito

Levante Popular da Juventude – LPJ

Marcha Mundial de Mulheres- MMM

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra- MST

Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais – MPP

Movimento Brasil Popular – MBP

Movimento de Mulheres Camponesas – MMC

Movimentos dos Atingidos por Barragem – MAB

Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

Movimento dos Trabalhadores Desempregados- MTD

Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM

Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo – MTC

Partido Comunista do Brasil – PCdoB

Rede de Médicos e Medicas Populares – RMMP

União da Juventude Socialista – UJS

PERSONALIDADES E REPRESENTANTES DA SOCIEDADE

Acilino Ribeiro, dirigente do PSB

Ariovaldo Santos, pastor evangélico

Beto Almeida, jornalista

Breno Altman, jornalista

Celia Gonçalves, makota do povo de terreiro

Cesar Silva Fonseca, jornalista

David Stival, ex-presidente do PT-RS, professor universitário

Eduardo Moreira, empresário e comunicador

Frei Sérgio Gorgen, frade franciscano

Georgina de Queiroz, professora

Guilherme Estrela , geólogo da Petrobras

Joao Pedro Stedile, ativista da reforma agrária

José Reinaldo Carvalho, jornalista, presidente do Cebrapaz

Júlio Flávio Gameiro Miragaya, economista

Leila Jinkings, jornalista

Luis Sabanay, pastor presbiterano

Marcelo Barros, monge Beneditino

Maria Luiza Busse, jornalista da ABI

Mario Vitor Santos, jornalista

Monica Buckmann, professora universitária

Ney Stronzake,  Advogado

Nilza Valeria, jornalista

Oswaldo Maneschy , Jornalista

Paulo Miranda, Diretor da TV Comunitária de Brasília

Pedro Augusto Pinho, ex-presidente da AEPET e do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra

Roberto Requião, ex-governador , e ex-senador do Paraná

Rosana Fernandes , da CPP da Escola Nacional Florestan Fernandes

Rui Portanova, desembargador aposentado do TJ-RS

Sandra de Barreto, socióloga

Socorro Gomes, ex-deputada federal pelo PCdoB e diretora de relações internacionais do Cebrapaz

Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT

PARLAMENTARES

1. Airton Faleiro, deputado federal-Pará

2. Dilson Marcom, deputado federal do PT-RS

3. Joao Daniel, deputado federal-Sergipe

4. Marina do MST, deputada estadual do PT-RJ

5. Messias, deputado estadual do PT-Ceará

6. Nilto Tatto, deputado federal do PT de São Paulo

7. Orlando Silva, deputado federal, PCdoB- São Paulo

8. Rosa Amorim, deputada estadual do PT -Pernambuco

9.Valmir Assunção, deputado federal do PT-Bahia

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Comentários

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Zé Maria

O Sistema de Representação Popular de Cuba
é Mais Legítimo do que o dos Estados Unidos.

Nelson

“4- O pior são os setores ditos progressistas daqui e da América Latina criticarem o sistema venezuelano, alegando que não é democrático. Haja paciência!! Ficam repetindo frases que o Império aprecia para poderem aparecer na imprensa burguesa.”

J P Stedile “foi no rim”.

É de causar engulhos, ojeriza, a postura de boa parte da nossa esquerda. Tentando granjear algum espaço nos órgãos da mídia hegemônica, essa esquerda vende sua alma ao sistema.

Por óbvio, tal espaço, concedido de vez em quando pela mídia hegemônica, será sempre ínfimo diante da necessidade de termos uma imprensa realmente livre.

Contudo, o impacto negativo gerado no necessário avanço da consciência popular pela postura dessa esquerda é brutal, altamente e regressivo. Isto mostra o quão prejudicial é essa postura.

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