“El éxito de Lula también es el mío”

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“El éxito de Lula también es el mío”

FERNANDO GUALDONI – Madrid – 19/06/2010

do EL PAÍS

Dilma Rousseff (Belo Horizonte, 1947) está diante do maior desafio de sua vida, tornar-se a primeira mulher a governar o Brasil. É a protegida do presidente Lula da Silva e ele nunca duvidou que ela seria sua sucessora no cargo, embora a ministra da Casa Civil (chefe de Gabinete) jamais tenha disputado uma eleição. Lula não vacilou diante das pressões do Partido dos Trabalhadores (PT) contra a candidatura – não é  uma “baronesa” do partido – nem quando ela teve que ser operada, no ano passado, para extrair um câncer linfático.

Rousseff tem um passado de ativa militante e de luta contra a ditadura que se manteve no Brasil de 1964 a 1985. A candidata do PT participou diretamente da luta armada contra os militares até que em 1970 foi presa e mandada para um presídio onde foi torturada. Era conhecida como a Joana D’Arc do movimento Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, um dos mais importantes da época. No final dos anos 70 se casou com outro integrante da guerrilha, Carlos Franklin Paixão de Araújo, com quem teve sua única filha e se mudou para o Rio Grande do Sul. Ali, cursou Ciências Econômicas e, em 1977, começou sua carreira política, primeiro no Partido Democrático Trabalhista e, desde 1999, no PT.

Ela esteve ontem em Madrid por apenas algumas horas. E sendo quem é, não é exagero destacar que chegou com uma comitiva modesta e se hospedou em um hotel também modesto. Tem fama de dura, mas isso é impossível de confirmar apenas durante uma hora de entrevista. Mas pode-se dizer, sim, que é enérgica, que parece muito segura de si mesma, e que não gosta de ser interrompida.

Se a senhora ganhar, seguirá o modelo político de Lula?

Vou continuar o modelo de Lula, mas com coração e alma de mulher. Não para repetir, mas para avançar. Para mim, a mulher tem uma grande capacidade de cuidar e, ao mesmo tempo, de estimular. É claro que o homem também pode ser cuidadoso, mas o olhar feminino é diferente. O programa Bolsa Família – as famílias recebem dinheiro para que as crianças frequentem a escola e tomem as vacinas – por exemplo, é gerido pelas mães.  Em primeiro lugar, porque elas têm um papel chave na integração familiar. E, em segundo, porque…Vc conhece uma mãe que, se lhe derem dinheiro, não o destine ao bem estar dos filhos? Difícil. Não? No Brasil, uma das maiores tarefas é a recomposição dos laços familiares. Melhorar a situação econômica não é suficiente. Também é preciso reconstruir as famílias. Essa é a chave para melhorar a educação, combater a delinquência.. para que a sociedade cresça. Essa recomposição dos laços familiares deve ser colocada como um dos pontos centrais da agenda política. E não é tarefa para um mandato, mas para muitos anos de trabalho. No Brasil, privilegiar a mulher não é uma política de gênero, é uma política social.  As mulheres comandam 30 % das famílias. E 52% da população somos mulheres e os 48% restantes são nossos filhos. Não se trata de criar um matriarcado, senão de dar à mulher a importância devida na estrutura familiar. Lula tem muita sensibilidade com este tema, ele foi criado por uma mulher forte.

A senhora não teme que a sombra de Lula prejudique sua carreira?

Sou a ministra da Casa Civil. Sou quem coordena os ministros e os principais projetos do Governo. Trabalhei diretamente com o presidente Lula nos últimos cinco anos e meio. Seu êxito é o meu. Fui seu braço direito e esquerdo. Ele não será ministro se eu chegar ao Governo, mas sempre estarei aberta às suas propostas. Temos uma relação muito forte.

Esta é  a primeira vez que concorre a um cargo eletivo? Como a senhora se sente? Como está sua saúde?

A pressão é  a mesma que quando se está dentro do Governo, talvez seja até  menor, por que quando se governa é preciso dar respostas todos os dias.  O processo eleitoral é diferente. Há discussões, debates, viagens…Mas me permite estar mais perto das pessoas. E o povo brasileiro é muito alegre, muito sensível. Gosto muito. E me sinto muito bem de saúde.

Se a senhora for eleita, como compatibilizará a política do crescimento econômico com a da proteção ao meio ambiente?

No Brasil, 87% da energia elétrica vêm das hidrelétricas, quer dizer, é renovável. Somado a isto, a energia eólica está aumentando significativamente. Nosso parque automobilístico, por outro lado, utilizam etanol, um combustível que não é fóssil. Se você me pergunta se há  que cortar mais árvores no Brasil para produzir mais cana de acúcar, eu afirmo que não. O Brasil tem uma das tecnologias agrícolas mais importantes do mundo e as pesquisas para produzir mais em uma área menor estão avançando. Não é correta a idéia de que seja preciso mais áreas de terra para produzir mais. O que é preciso é uma tecnologia melhor para aproveitar melhor as áreas de cultivo. E isto é o que estamos fazendo no Brasil. Quero dizer ainda que a Amazônia, além de estar protegida pela lei, não é uma terreno fértil para o cultivo.

Quais são as principais diferenças entre suas propostas e as de José Serra?

A diferença mais importante é que sabemos como construir as condições para o crescimento sustentável. Crescemos ao mesmo tempo em que distribuímos a riqueza. No Brasil, hoje há mobilidade social, as pessoas sabem que amanhã  estarão melhor do que hoje.  24 milhões de brasileiros saíram da linha da pobreza e outros 31 milhões ascenderam socialmente. Mas ainda há muito por fazer, ainda há 50 milhões de pessoas que ganham menos do que um salário mínimo. Temos muito que investir em educação de qualidade, pois isto nos permitirá estimular o emprego forma. Este ano, serão criados dois milhões de empregos desse tipo.

Quais serão as diretrizes de sua política externa?

O Brasil sempre teve uma política externa focada em poucos países. As grandes conquistas dos últimos anos se devem ao avanço de uma política multilateral e ao fato de que o País vem tomando consciência de sua importância na América Latina. Nós trabalhamos com respeito e sem ingerências em políticas internas. Não somos imperialistas. Estimulamos a cooperação entre os países, não as políticas de imposição. Não podemos ser ricos, cercados de pobres. Por isso, o impulso às infraestruturas regionais é vital para nós. É muito importante também a relação com a África e com os BRICs (Rússia, Índia e China). Acho também que o Irã tem direito a desenvolver um programa nuclear para uso civil, e submeter esse programa – com a maior transparência possível – ao controle dos organismos internacionais é  a melhor política. Mas não creio que este conflito deve ser resolvido com sanções e, sim, com o diálogo. É preciso construir portas, não levantar muros.


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Comentários

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Maria Dirce

O que gostei mesmo de Dilma, foi qdo no roda viva, ela disse que os tucanos governaram apenas para1/3 da população, sendo que os pobres não tiveram vez e por isso as construções em ribeirinhas e encostas lugares baratos ,provocando desastres mortais.

Gianni

Dá-le, Dilma! Mulher arretada. Falou e disse. Voto em você!

O Brasileiro

Quando o povo não sabia que o Lula seria o melhor presidente da história do Brasil e um dos melhores presidentes da história mundial, e quando o povo votava no candidato do Itamar Franco, pai do plano Real, ai os tucano-demos tinham alguma chance…
Mas hoje, hoje, o povo brasileiro (e não o imperador) proclamou sua independência… do PIG e do cabresto!
Viva 01 de janeiro de 2003, dia da verdadeira independência brasileira!!! Dia em que o Lula começou a liderar a libertação do povo brasileiro!!!

Geysa Guimarães

Muy buena a reportagem, importante a constatação de que "sendo quem é, chegou com uma comitiva modesta e se hospedou em hotel também modesto". Além disso, esclarece que Dilma tem fama de dura mas os jornalistas só perceberam que é enérgica.
Esta é a nossa Dilma, como recomendava Che Guevara: endurecer sempre, mas sem perder a ternura jamais.

Urbano

O Presidente Lula possui uma percepção extra-sensorial para resolver toda e qualquer dificuldade que encontre pela frente e principalmente para escolher as pessoas certas para o cargo certo. A escolha da Dilma Rousseff está dentro desse mesmo prisma. Afinal, não é por acaso que ele ocupa a trigésima sexta posição na sucessão de presidentes. Os numerólogos conhecem perfeitamente o número 36.

william porto

Dilma vai muito bem, acho que ela nao deve repetir muito o fato de ser a canditada do Lula, a continuadora do Lula, uma espécie de alma gemea do Lula, deve imprimir a sua marca, as suas itideias, o jeito Dilkma de ser. Deve avaçcar, demonstrar quw e realmente a candidata ideal para assumir o governo. Se imprimir a sua personalidade vai syubir muito mais nas pesquisas.

    Jairo_Beraldo

    Mas primeiro tem que colocar Lula em seu pescoço…depois ela faz seu papel.

mariazinha

Eu acompanho as falas da D. DILMA, desde o dia em que o Mino Carta a destacou como provável candidata de LULA. Isto, já tem um tempinho…
Acho-a irrepreensível e votarei NELA consciente de que é melhor para o Brasil.
Um tempo fantástico para as mulheres do Brasil, estamos vivenciando. Incrível como o PT consegue trazer a MULHER BRASILEIRA para o centro de seus planos. Gostaria de estar no meu apogeu da vida , para poder gozar esse tempo; mas mesmo assim esta sendo prazeroso.
Espero que as jovens mulheres brasileiras aproveitem bem esse tempo; ainda mais que os bravos HOMENS brasileiros estão do lado delas dando força, coragem e incentivo para irem em frente; AVANTE!

    clemes

    Mariazinha, sempre é hora. Beijo

    mariazinha

    Obrigada, Conceição Lemes.
    Sei bem que VC, querida, aproveita bem esse tempo.
    Parabéns!
    Um beijinho carinhoso, de volta.

    Jairo_Beraldo

    Está dificil, Mariazinha…mas vamos tentando fazer com que as mulheres se juntem ao projeto Lula de fazer Dilma Presidenta!

    ana

    o discurso da dilma sobre e para as mulheres nem está sendo útil para puxar voto, pelo que estamos lendo nos últimos tempos, e ainda causa arrepios a qualquer pessoa que tenha lido o mínimo sobre "mulheres e política". eu fico imaginando o que assessoria da dilma fala pra ela. acho que ela ignora o que falam ou então a assessoria é muito fraquinha em um assunto que deveria ser central nessa campanha.

    na minha opinião, é um erro enorme falar que política social não precisa de um viés de gênero. qualquer política tem que ter um viés de gênero, porque é um tema transversal, é uma dimensão entre várias que importam pra desenhar política pública.

    "mulher" não é sinônimo de "mãe". questões de gênero não são exclusivamente familiares e também envolvem o universo do trabalho, da política, do lazer, da economia, etc. somos muito mais do que potenciais mães e limitar a visão sobre o mundo feminino às obrigações familiares é confinar o papel das mulheres ao mundo doméstico. além disso, falar que mulher é boa de "cuidar" desconsidera que os homens só não são "bons de cuidar" porque geralmente não são treinados pra isso, e não porque são incapazes. é hora de chamar atenção pra isso e não de reafirmar que o papel do cuidado é só das mulheres.

    acho essas falas da dilma tão contraproducentes…. não estou dizendo que mulheres não são, ou não serão, ou não querem ser mães, mas não dá pra usar esse discurso como se essa fosse a função mais importante de uma mulher no mundo. a própria dilma está mostrando que pode ser presidente, então por que taxar o universo feminino de maternal? eu não acho que estou limitada a isso. me incomoda ouvir a principal candidata a presidência do meu país se dirigir dessa maneira às mulheres (e a mim, não é mesmo?).

    dukrai

    Ana
    A Dilma disse que "No Brasil, privilegiar a mulher não é uma política de gênero, é uma política social". Eu entendi que a questão da mulher mudou de patamar e passou para o centro do futuro governo, se ela for eleita.
    A mãe não foi colocada no lugar da mulher na fala da Dilma, ela aborda a questão mãe cuidadora falando de programas sociais, como elas são vitais para a fixação da família de baixa renda, na gestão do dinheiro recebido do governo, nos cuidados com os filhos e na sua proteção. As mães nas famílias de baixa renda são a chave para a solução de problemas na educação, delinquência, saúde e outros que afligem os milhões de brasileiros na pobreza.

    ana

    "No Brasil, privilegiar a mulher não é uma política de gênero, é uma política social. As mulheres comandam 30 % das famílias. E 52% da população somos mulheres e os 48% restantes são nossos filhos. Não se trata de criar um matriarcado, senão de dar à mulher a importância devida na estrutura familiar. Lula tem muita sensibilidade com este tema, ele foi criado por uma mulher forte."

    lendo essa frase não entendo como você, principalmente porque ela afirma em todas as frases seguintes "onde" as mulheres serão "privilegiadas", em sua visão: na esfera familiar. ainda reafirma o papel das mulheres como "mães" e diz que lula é sensível a isso porque teve uma "mãe forte".

    reconheço que é importante que o dinheiro do bolsa-família seja recebido pela mãe. é verdade que isso torna a política mais eficiente, porque as mães tendem a administrar melhor o dinheiro. só que mulher não é sinônimo de mãe, assim como homem não é sinônimo de pai. não tem nenhuma discussão de gênero avançada embutida nesse pensamento, se é que pretendia ter alguma…

    o maior problema de insistir nessa ligação mulher-mãe é que isso é um pressuposto falso. não existe uma essência feminina, baseada na maternidade. afirmar isso é naturalizar diferenças (como a questão do cuidado) que são sociais, não naturais.

    eu nem estou dizendo que a dilma faça isso de má fé. só acho que a discussão dela, se ela quer falar alguma coisa sobre o assunto, deveria ser mais fundamentada. esse papo da essência feminina como mãe cuidadora é uma idéia ultrapassada, falaciosa e perigosa, porque tende a justificar que papel de mulher é em casa, mesmo, se o seu maior diferencial é ser mãe. se a dilma quer discutir gênero, ela está perdendo uma oportunidade para discutir de verdade. infelizmente, acho que ela não está disposta a isso.

    e, se "Não se trata de criar um matriarcado, senão de dar à mulher a importância devida na estrutura familiar", acho que deveria se tratar se dar à mulher a devida importância na estrutura social como um todo.

    o problema que eu vejo é que em todas as entrevistas da dilma, quando ela fala de ser mulher, sempre destaca o papel maternal. por que não dizer que ela foi a primeira ministra da casa civil de um país que tem pouquíssimas ministras? que, apesar das mulheres não ocuparem nem 10% das cadeiras da câmara, ela é uma candidata viável? que ela sempre se destacou, apesar da notável discriminação sofrida pelas mulheres na esfera pública? e que, assim, ela pode mostrar a esse grupo, que corresponde a 52% da população, que acessar espaços de poder é possível para nós? não, prefere gastar o tempo dela tentando achar um denominador comum entre ela e as demais mulheres: o fato de podermos parir.

    mariazinha

    Ana:
    talvez VC tenha boas razões mas, convenhamos, para uma primeira tentativa em um país essencialmente machista, há de concordar que talvez seja o discurso certo. A oposição, demoníaca, já queria tacha-la de durona, imagine o que viria depois!

    Só espero que não fiquemos presas aos detalhes, entendamos que, no Brasil, eleger uma MULHER para presidente precisa contar com todos os H e M brasileiros; os NOSSOS queridos HOMENS, já entenderam pois são práticos e lógicos[mas sem deixarem a doçura e eu os amo assim].
    Se não podemos ter tudo agora, quem sabe podemos começar com algo muito bom, de primeira?
    A mulher brasileira, mesmo não sendo 'MÃE', no sentido de parir, sempre cuida de um irmão, pai, amigo, tio, sobrinho, até de marido desgarrado e, na maioria das vzs é instintivo, na mulher, a cuidadora.
    L´gico que, com o tempo o discurso terá que mudar; não podemos bobear com essa oposição demoníaca.
    Adorei suas palavras finais:
    […]foi a primeira ministra da casa civil de um país que tem pouquíssimas ministras? que, apesar das mulheres não ocuparem nem 10% das cadeiras da câmara, ela é uma candidata viável? que ela sempre se destacou, apesar da notável discriminação sofrida pelas mulheres na esfera pública? e que, assim, ela pode mostrar a esse grupo, que corresponde a 52% da população, que acessar espaços de poder é possível para nós?[…][ANA]
    HUMMMM! Vejo aí, futuro na política!
    Abração!

    Sidnei

    Prezada,
    Não vejo essa segmentação que você identifica no discurso da Dilma. Mas, é fato o que ela informa, quando apresenta as estatísticas. O que você (e as mulheres) não deve perder de vista é que este país sempre foi governado por homens e com o viés do gênero masculino destacado. O que ela quer fazer, no meu entendimento, é um contraponto entre onde nos levaram e aonde podemos chegar com a mudança de gênero no poder. Ademais, da mesma forma que mulher não é sinônimo de cuidar, homem também não é de governar. Pense nisso e alargue o horizonte para outras variáveis.

    mariazinha

    Meu querido Beraldo!
    Sempre tão presente e amigo, um bom brasileiro!

Jairo_Beraldo

"Sou a ministra da Casa Civil. Sou…" Não houve um erro de tradução aí?

Sandra Lancaster

Azenha, por favor amigo, publique aqui ou comente pelos menos, o conteúdo que constava no site do Min do Planejamento, onde listava várias açõe do governo que não avançaram ou que simplesmente são um fracasso.

A página foi tirada do ar.

Fernando César Oliveira

Azenha, esta mesma entrevista já está traduzida para o português no blog da Dilma: http://www.dilmanaweb.com.br/noticias/entry/o-exi
Sds,
Fernando.

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