Deputado bolsonarista tumultua CPI das Universidades; irrita até colegas conservadores

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Alesp

Deputado bolsonarista transforma CPI das Universidades em circo de horrores

Fã do astrólogo Olavo de Carvalho, Douglas Garcia consegue irritar até deputados do campo conservador

por Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo

O deputado estadual paulista Douglas Garcia (PSL)  não cansa de causar constrangimentos.

Ele debutou na cena política no carnaval de 2018,, quando liderou um movimento de extrema-direita intitulado Porão do Dops, que queria fazer crer tratar-se de um bloco carnavalesco

Um episódio dantesco, do qual saiu derrotado pelo promotor Eduardo Valério, que conseguiu barrar na justiça o desfile do grupo, que entre outros absurdos defendia a tortura e a volta da ditadura militar.

Agora  usa o cargo público para tumultuar os trabalhos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e atormentar os parlamentares.

Em apenas dois meses de mandato, ele já conseguiu, por suas provocações, três processos no Conselho de Ética da Casa, que podem levar à sua cassação.

Na fotomontagem acima, Douglas aparece na primeira foto. Ele está na ponta da mesa, de terno azul.

Na última quarta-feira, 15, ele voltou à carga durante a reunião da CPI das Universidades.

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Levou para o auditório, onde os deputados debatiam, uma claque do Direita São Paulo, grupo que dirige, para gritar o nome de seu guru, Olavo de Carvalho.

Ele conseguiu criar mais confusão que a própria claque.

Chegou a ser desautorizado pela própria colega de partido, Valéria Bolsonaro, que está ao lado de blusa cinza, ao pedir vistas em um requerimento, mesmo sendo suplente da parlamentar na CPI.

“Eu sou a titular”, reagiu Valéria, para na sequência pedir vistas sobre o mesmo item destacado por Douglas.

A insistência em querer atribuir poderes à CPI sobre investigações  fora do escopo da Comissão rendeu-lhe  um puxão de orelhas da professora Bebel (PT): “Isso só demostra que o senhor não está preparado (para ocupar uma cadeira no Parlamento)”.

Mas coube ao veterano conservador Barros Munhoz (cabelos brancos, ao lado de Valéria; ex-PSDB, atualmente no PSB) capitanear os torpedos mais pesados contra o bolsonarista.

Profundamente irritado com os chavões ideológicos repetidos insistentemente, Munhoz, com vários mandatos no currículo e que já presidiu a Casa em duas legislaturas, foi contundente:

“O senhor fala coisas, que juridicamente são absurdas. Não estamos numa terra sem lei. O que o senhor propõe, não cabe nem ao Congresso Nacional discutir. A autonomia universitária é consagrada no Brasil e em vários países do mundo”.

Douglas queria que os reitores das três universidades públicas paulistas fossem investigados pela CPI, porque segundo ele, estão por trás do movimento contra os cortes de verbas na educação imposto por Bolsonaro.

Para ele, os reitores incitam os estudantes a irem para a rua se manifestar contra o governo.

Munhoz retrucou, afirmando que quem toca fogo no país é o movimento de extrema-direita comandado a partir do exterior, numa clara alusão ao astrólogo Olavo de Carvalho, que vive na Virgínia, nos Estados Unidos:

 “Querem incendiar o Brasil. Estamos regredindo à Idade da Pedra. Os templários querem dominar o Brasil a partir da Virgínia”.

A claque bolsonarista reagiu, gritando: “Olavo, Olavo, Olavo”.

Ao que Munhoz rebateu: “Pra mim, Olavo era o beque do Corinthians (que jogou no time na década de 50)”, silenciando a torcida extremista.

O desconhecimento de Douglas Garcia sobre o papel da Assembleia Legislativa também irritou os parlamentares.

Novamente coube a Barros Munhoz escancarar a ignorância do bolsonarista para a plateia, composta por professores e estudantes.

Munhoz não se conteve quando o deputado da extrema-direita propôs solicitar documentos ao Ministério Público, sem saber que esses papéis são justamente encaminhados ao Órgão pela Casa Legislativa.

“Isso é ridiculo”, enfatizou, levando o parlamentar extremista a amuar e fincar o queixo sobre as mãos em cima da mesa.

Quando a vergonha pela descompostura passou, ele voltou a tumultuar.

Os parlamentares aprovaram um texto que dizia que  assuntos fora do escopo da CPI não seriam discutidos pela Comissão, numa clara tentativa de conter o tumulto provocado por ele.

“O deputado Douglas é um deputado de uma nota só. A toda hora quer fazer a discussão se os reitores incitam (os estudantes)”, criticou Paulo Fiorilo (PT).

De concreto pouco se discutiu na reunião.

O deputado Jorge Caruso (MDB) chegou, inclusive, a levantar uma questão de fundo, ao questionar a validade da CPI por não ter se baseado em nenhum fato determinado: “Esta CPI foi aberta em suposições. Quero saber o que tem de concreto para ter sido aberta”.

Essa também é a indagação da presidente da UEE-SP (União Estadual dos Estudantes de São Paulo), Nayara Souza.

Ela considera que não há motivo para a instalação de uma CPI para investigar as três universidades públicas paulistas, que são referências no país e internacionalmente em excelência nas áreas de ensino, pesquisa e extensão.

“A CPI tem o propósito de perseguir a Universidade e sua autonomia”, critica a dirigente estudantil, que quase foi posta para fora da sessão por se manifestar em defesa da Educação.

A ordem para a expulsão partiu do presidente da CPI, Wellington Moura (PRB). Ele aparece no meio da mesa central dos trabalhos.

Wellington Moura afirmou ainda que, a partir daquele momento, os estudantes precisariam apresentar identificação comprovando a sua condição de discentes, para que pudessem entrar e acompanhar as reuniões da Comissão nas galerias.

Nenhuma das ameaças foi levada a sério por ninguém no auditório.

Os próprios policiais no local aguardaram a intervenção do deputado Barros Munhoz, que apelou ao bom senso e solicitou que Moura recuasse na decisão de expulsar Nayara do recinto.

A dirigente da UEE continuou na sessão e tem uma explicação para a perseguição contra ela, já que outras pessoas também se manifestaram:

“Fiz parte da ocupação da Assembleia Legislativa há três anos, para pressionar pela aprovação da CPI da Merenda. Ele me reconheceu”.

“Eles [os parlamentares] se recusavam a investigar o escândalo  do roubo da merenda, mas agora querem investigar as universidades, que têm autonomia”, ressalta o contrassenso.

“Essa CPI foi articulada pelo governo Dória para armar um circo para o time de Bolsonaro”, ressalta o professor João Chaves, que preside a Adunesp (Associação dos Docentes da Universidade Estadual Paulista).

“É uma tentativa de destruição do pensamento crítico, para estabelecer o controle ideológico. Ambos elegeram a educação como inimiga”, enfatiza o docente.

João Chaves destaca que o verdadeiro problema que atinge as universidades — a queda no repasse de recursos para as instituições — é ignorado pela CPI.

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