Requião: Ao espionar Dilma, americanos não estavam em busca de uma dieta para emagrecer

Tempo de leitura: 6 min

Brasileiros, tomemos consciência: na luta final pela soberania, só tememos a desonra

por Roberto Requião*

Há tempo que a ciência e os fatos da vida comprovam que nada é por acaso.

No entanto, embora a ideia medieval da abiogênese, a “geração espontânea”, seja a representação paradigmática daqueles tempos trevosos, ainda hoje a proposição do espontaneísmo resiste e é amplamente aceita, quando se trata da política ou mesmo da economia.

Diariamente, a mídia empresarial espalha a intrujice de que do acúmulo de lixo nascem insetos e ratos, que é possível originar vida de matéria não viva.

Se Humberto Eco foi assertivo ao dizer que a internet liberou infindáveis legiões de néscios, ele esqueceu de acrescentar à turma os comentaristas e ditos analistas de política e economia que infestam as televisões, rádios e jornais da mídia comercial e monopolista.

É notável a incapacidade de raciocinar, de somar dois com dois.

Gramsci dizia que não existe o canalha absoluto, que o canalha absoluto é uma criação ficcional.

Essa generosidade do filósofo que sofreu no corpo debilitado os horrores do fascismo sempre me impressionou.

Então, se concedemos que nem todos sejam canalhas plenos, integrais, resta outra suposição: a burrice córnea.

A ceratina penetrou de tal forma na cabeça dessa gente que as tornou duras, resistentes, impermeáveis à verdade dos fatos.

Se, ato contínuo à ampliação de nosso mar territorial de 12 para 200 milhas marítimas, em 1970, sob Garrastazu Médici, os norte-americanos movimentam sua IV Frota — por mais que o governo militar fosse um aliado incondicional– não o fazem para competir com os franceses na pesca da lagosta.

Se, sob Ernesto Geisel, em 1975, de repente, os Estados Unidos tornam-se guardiões dos direitos humanos e pressionam a ditadura brasileira, não é porque a tortura, os assassinatos, o desaparecimento de opositores os preocupassem, e sim os acordos nucleares do Brasil com a Alemanha.

Mais recentemente, quando os norte-americanos grampeiam a presidente Dilma, monitoram suas conversas, perscrutam suas decisões e controlam sua comunicação com ministros, auxiliares e políticos, não estão à procura da receita de sua dieta para emagrecer.

Quando os serviços de espionagem dos Estados Unidos invadem, vasculham, devassam todas as informações da Petrobrás, não são os Cerveró, os Duque, os Paulo Roberto Costa, os Youssef, os Barusco ou os Sérgio Machado que os mobilizam.

A corrupção é um segredo de polichinelo, o pré-sal o prêmio.

Se, antigamente, a Escola das Américas era o centro formador dos torturadores, dos assassinos estatais, dos sabotadores dos governos populares e nacionalistas, hoje, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em cooperação com o FBI, a CIA, a NSA, encarrega-se de seduzir, domesticar e abduzir juízes, procuradores e policias.  E políticos é claro.

A produção de cabos Anselmo não foi interrompida, sofisticaram-se os meios e os métodos. Ao invés dos sicários a soldo, temos os heróis de almanaques.

Os super-juízes, os super-procuradores, e, como contrafação, já que nenhuma exageração escapa do ridículo, temos o japonês da federal. E o coreano do MBL.

Quando o presidente Lula sanciona, em 2010, a Lei da Ficha Limpa e a presidente Dilma, em 2013, assina a Lei das Organizações Criminosas, disciplinando a delação premiada; quando se desequilibra a harmonia entre os poderes, e produz-se a hipertrofia do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal; quando o presidencialismo de coalizão cede a um Parlamento que se transformou em mandalete dos financiadores de campanha; quando o presidente Lula coloca no Banco Central e no Ministério da Fazenda homens de confiança do mercado financeiro; quando a presidente Dilma, na crise política após as jornadas de 2013 e a eleição de 2014, adota políticas neoliberais, aprofundando a crise; quando tanto um como outro presidentes constrangem-se diante das pressões da mídia monopolista e comercial e fogem de adotar aqui as mesmas legislações que os norte-americanos e alguns países europeus  adotaram para democratizar os meios de comunicação;  quando tudo isso somado produz um salto qualitativo, temos o golpe e seu corolário de horrores: a alienação da soberania nacional, a entrega do petróleo, dos minérios,das terras, da água, a destruição da República Social, a sabotagem da Petrobrás, as privatizações.

E o aceleramento da marcha da desindustrialização e da precarização da ciência e da tecnologia.

Na divisão internacional do trabalho é o papel que nos reservam: celeiro do mundo, exportador de grãos e de matérias primas minerais, fornecedor de petróleo. E de água!

Afinal, vimos em Davos a Nestle e a Coca-Cola renovarem a cobiça pelo aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do planeta.

Senhoras e senhores, esses são os fatos da realidade. Essa é a verdade que os fatos revelam, por mais que o cinismo e a estultícia da grande mídia tentem perverter e adulterar a natureza das coisas.

Como antídoto para o massacre diário do discurso antinacional, antidemocrático e antipopular que se estabeleceu no país, quero oferecer um texto do professor de Filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo, Maurício Abdala, publicado no “Le Monde Diplomatique”.

Os 13 pontos do professor Abdala são uma leitura necessária para quem ama o Brasil e acredita que ainda é possível vencer esses tempos tão sinistros da nossa história.

Vamos ao contraveneno às sandices daqueles que acreditam que do lixo que produzem é possível brotar alguma vida.

Vamos lá.

1 – O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial com dimensões globais e conformações específicas locais.

2 – Os donos do poder não são os políticos. Estes são apenas instrumentos dos verdadeiros donos do poder.

3 – O verdadeiro exercício do poder é invisível. O que vemos, na verdade, é a construção planejada de uma narrativa fantasiosa com aparência de realidade para criar a sensação de participação consciente e cidadã dos que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.

4 – Os grandes meios de comunicação não se constituem mais em órgãos de “imprensa”, ou seja, instituições autônomas, cujo objeto é a notícia, e que podem ser independentes ou, eventualmente, compradas ou cooptadas por interesses. Eles são, atualmente, grandes conglomerados econômicos que também compõem o complexo financeiro-empresarial que comanda o poder invisível. Portanto, participam do exercício invisível do poder utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião.

5 – Os donos do poder não apoiam partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva. Isso muda de acordo com a conjuntura. O exercício real do poder não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro.

6 – O complexo financeiro-empresarial global pode apostar ora em Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um aventureiro qualquer da política. E pode destruir qualquer um desses de acordo com sua conveniência.

7 – Por isso, o exercício do poder no campo subjetivo, responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza Lula, em outro Dilma, e logo depois Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz parte de um grande jogo estratégico com cuidadosas análises das condições objetivas e subjetivas da conjuntura.

8 – O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos lucros.

9 – Assim, os donos do poder não querem um governo ou outro à toa: eles querem, na conjuntura atual, a reforma na previdência, o fim das leis trabalhistas, a manutenção do congelamento do orçamento primário, os cortes de gastos sociais para o serviço da dívida, as privatizações e o alívio dos tributos para os mais ricos.

10 – Se a conjuntura indicar que Temer não é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o povo brasileiro decida sobre o destino de seu país.

11 – Portanto, cada notícia é um lance no jogo. Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia. É especular sobre a estratégia que justifica cada movimento tático do complexo financeiro-empresarial (do qual a mídia faz parte), para poder reagir também de maneira estratégica.

12 – A queda de Temer pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento tático em uma estratégia mais ampla de quem comanda o poder. O que realmente importa é o que virá depois.

13 – Lembremo-nos: eles são mais espertos. Por isso estão no poder.

Senhoras e senhores, Brasileiros, os pressupostos estão aí. Mas essa compreensão incisiva da realidade obriga-nos um passo seguinte: a ação.

Depois que Hitler invadiu a França, despojando-a de sua soberania, anulando-a como nação, Charles de Gaulle chamou seus compatriotas à resistência, acima dos interesses de cada um.

O que estava em jogo era a existência do país, seus valores, suas tradições, suas crenças, sua identidade.

Até mesmo os contrabandistas que tão bem conheciam as fronteiras da França, até eles foram convocados à grande tarefa de libertação do país.

Não estou insinuando que, no caso da grande tarefa de libertação do Brasil, até corruptos devam ser convocados, mesmo porque boa parte deles estão de papo para o ar, refestelados nos milhões com que foram premiados pela delação.

Convoco os homens e as mulheres que amam este país, que abominam a corrupção e o entreguismo.

Que rejeitam ser escravos do dinheiro; que não aceitam a prevalência do capital financeiro sobre o capital produtivo.

Que não querem ver esse país tão rico transformado em uma plantation colonial, a ofertar ao mundo desenvolvido grãos, minérios, petróleo, terras e água.

Que não querem ver os nossos trabalhadores transformados em mão de obra semiescravizada, para o desfrute global.

Com Shakespeare e Henrique V, antes da batalha de Agincourt, encerro dizendo: aqui estão os brasileiros que deviam estar.

E os que não estiverem vão se arrepender até o fim de suas vidas não terem estado conosco.

Nada temos a perder, pois o que tínhamos está sendo surrupiado, desbaratado e vendido a preço de banana pelos entreguistas do Brasil, com a prestimosa colaboração de alguns tolos que se arvoram em heróis da pátria.

*Roberto Requião é senador da República, no segundo mandato. Foi governador do Paraná por três mandatos, prefeito de Curitiba, secretário de estado, industrial, agricultor, oficial do exército brasileiro e advogado. É graduado em direito e jornalismo com pós graduação em urbanismo e comunicação


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Comentários

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Julio Silveira

Eu só não entendo a permanencia do Requião nesse antro que se tornou o PMDB. Por que esse partido não tem salvação.

willian

A principal arma dos conservadores é o chamado “bode expiatório”.
Bode expiatório, na tradição religiosa, é um objeto, pessoa ou animal que concentra em si todo o pecado ou maldade presente em determinada sociedade.
Esse objeto é então sacrificado para que tudo o que poderia colocar em perigo a existência de tal sociedade sumisse com ele ou ao menos fosse controlado por um tempo.
Ele mesmo não precisa ser pecador ou malvado, mas no momento de sua morte, ele passava a encarnar todo o mal da sociedade.
Jesus é um exemplo, pois, com sua morte, em tese, levou consigo todo o pecado da humanidade.
Aproveitando-se dessa tradição religiosa, os conservadores vendem a mesma ideia sempre que sentem que os privilégios da elite está ameaçado.
Hitler usou os judeus, ciganos e comunistas como bode expiatório.
Os norte americanos sempre se utilizaram da figura do comunista para manter a ordem interna. Mas com o fim da URSS, passou a ser o terrorista (árabe de preferência). Negros, latinos e outras minorias também sempre foram bodes expiatórios na sociedade norte americana.
No Brasil, o bode expiatório favorito é a figura do corrupto. Como somos um povo miscigenado, não dá para usar minorias raciais. Como não somos ameaçados por terroristas por nossa insignificância política, não dá para usar o terrorista. Então resta o corrupto. Sempre que a classe média alta ou a elite sentem que o povo está ganhando algum tipo de poder, a figura mágica do corrupto é colocada sobre a mesa. Essa figura geralmente vem amalgamada com a figura do comunista destruidor da moral e dos bons costumes.
A ideia é: basta matar ou destruir o bode expiatório, que vai tudo ficar bem.
Uma ideia simplória e estúpida, mas usada e abusada pela nossa classe média alta ignorante.
Segundo a classe média alta udenista, Vargas era corrupto, Jango era corrupto, Juscelino era corrupto, Lula e Dilma os exemplos mais recentes. E não apenas corruptos, mas corruptos num nível muito acima do tolerável. O bode expiatório bananeiro aproveita-se do moralismo hipócrita da nossa sociedade, onde até o final do século XIX havia religião oficial de Estado. Os que bradam contra a corrupção são os mais corruptos.
E todos os brasileiros sabem que nosso moralismo é hipócrita.
Mas é que nossa sociedade é uma sociedade barroca da aparência.
Não importa o que se pensa e o que se faz de verdade. Importa o que aparece aos olhos dos outros. E não importa se esses outros saibam que é tudo jogo de cena hipócrita.
Basta lembrar da coroação de D. Pedro 2, feita a partir de um golpe, mas cheia de fausto barroco….
É uma ideia que faz com que determinados grupos sociais sejam atacados pela turba ensandecida.
O fascismo brasileiro, que eu chamo de elitismo, é a união entre uma burguesia verdadeira de 0,5% da população que é a burguesia da rapina financeira, que usa juros altos para rapinar o povo por meio de uma dívida que é 90% ilegal e a classe média que tem qualificação profissional ou pequenos negócios. O que une esse povo é o ódio ao pobre, visto ou como matável, ou como burro de carga. Usam sempre o discurso da corrupção e do bode expiatório como cortina de fumaça para manter seus privilégios;
O caso do Brasil não pode ser pensado com ferramentas para se analisar a Europa. Esses caras não são nacionalistas, pelo contrário. Problema deles é questão de ódio aos pobres. Não é como na Alemanha ou Itália que a adesão ao fascismo era feita pela glória de seus povos. Aqui é feito pela glória dos EUA. O problema de brasileiro de classe média, a verdadeira que tem qualificação profissional, é o ódio ao pobre. Sempre o ódio ao pobre. E o medo de ver o pobre se qualificando e brigando pela sua vaga no mercado de trabalho. Pobre aqui é visto como burro de carga e não ser humano. Não há amor algum dessas pessoas pelo povo brasileiro. Só há ódio pelo povo ser miscigenado. Classe média não liga para corrupção, classe média só liga de ver seus símbolos frágeis de status serem apropriados também pela classe baixa.

william

A principal arma dos conservadores é o chamado “bode expiatório”.
Bode expiatório, na tradição religiosa, é um objeto, pessoa ou animal que concentra em si todo o pecado ou maldade presente em determinada sociedade.
Esse objeto é então sacrificado para que tudo o que poderia colocar em perigo a existência de tal sociedade sumisse com ele ou ao menos fosse controlado por um tempo.
Ele mesmo não precisa ser pecador ou malvado, mas no momento de sua morte, ele passava a encarnar todo o mal da sociedade.
Jesus é um exemplo, pois, com sua morte, em tese, levou consigo todo o pecado da humanidade.
Aproveitando-se dessa tradição religiosa, os conservadores vendem a mesma ideia sempre que sentem que os privilégios da elite está ameaçado.
Hitler usou os judeus, ciganos e comunistas como bode expiatório.
Os norte americanos sempre se utilizaram da figura do comunista para manter a ordem interna. Mas com o fim da URSS, passou a ser o terrorista (árabe de preferência). Negros, latinos e outras minorias também sempre foram bodes expiatórios na sociedade norte americana.
No Brasil, o bode expiatório favorito é a figura do corrupto. Como somos um povo miscigenado, não dá para usar minorias raciais. Como não somos ameaçados por terroristas por nossa insignificância política, não dá para usar o terrorista. Então resta o corrupto. Sempre que a classe média alta ou a elite sentem que o povo está ganhando algum tipo de poder, a figura mágica do corrupto é colocada sobre a mesa. Essa figura geralmente vem amalgamada com a figura do comunista destruidor da moral e dos bons costumes.
A ideia é: basta matar ou destruir o bode expiatório, que vai tudo ficar bem.
Uma ideia simplória e estúpida, mas usada e abusada pela nossa classe média alta ignorante.
Segundo a classe média alta udenista, Vargas era corrupto, Jango era corrupto, Juscelino era corrupto, Lula e Dilma os exemplos mais recentes. E não apenas corruptos, mas corruptos num nível muito acima do tolerável. O bode expiatório bananeiro aproveita-se do moralismo hipócrita da nossa sociedade, onde até o final do século XIX havia religião oficial de Estado. Os que bradam contra a corrupção são os mais corruptos.
E todos os brasileiros sabem que nosso moralismo é hipócrita.
Mas é que nossa sociedade é uma sociedade barroca da aparência.
Não importa o que se pensa e o que se faz de verdade. Importa o que aparece aos olhos dos outros. E não importa se esses outros saibam que é tudo jogo de cena hipócrita.
Basta lembrar da coroação de D. Pedro 2, feita a partir de um golpe, mas cheia de fausto barroco….
É uma ideia que faz com que determinados grupos sociais sejam atacados pela turba ensandecida.

Messias Franca de Macedo

ATENÇÃO PARCELA DO BEM DA NAÇÃO BRASILEIRA
Ao vivo: entrevista com os Senadores Roberto Requião e Vanessa Grazziotin
IMPERDÍVEL – [Excelente] Programa ‘Duplo Expresso’, edição especial de 06/02/2018
https://www.youtube.com/watch?v=UmQ7JcVSeUY

    Messias Franca de Macedo

    BOMBA ATÔMICA?
    NÃO?
    UMA BOMBA *TSAR NA PORCA-tarefa do ‘mor(T)o’!
    Com o “DD playboy de porta de igreja”, o Janot do boteco da ‘Friboy’ e o restante dos nazigolpistas & antinacionalistas/entreguistas dentro!
    *com certeza é a bomba mais potente de todas.

    $$$$$$$$$$$$$$$$$

    Pega na mentira: empresa de investigação americana desmente Lava Jato e afirma que resgatou arquivos da Odebrecht (sonegados à defesa de Lula!)
    6 de Fevereiro de 2018 Romulus Maya 8 Comments
    Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso

    Os furos na “narrativa” sobre os “lapsos” na “investigação” (combinada) Lava Jato/ Odebrecht ficam cada vez mais evidentes. O alarme em Curitiba soou quando, no final do ano passado, o Duplo Expresso começou a tratar do relato da fonte do TI da própria Odebrecht contando como a fraude (conjunta) se dera. Em 22 de janeiro passado finalmente pudemos publicar a primeira parte do depoimento. E, dias depois, a sua transcrição.
    Desde que inauguramos essa pauta, em dezembro passado, veículos da grande imprensa – com destaque para a Folha de S. Paulo – vêm tentando fazer “hedge”.
    (…)

    FONTE [LÍMPIDA!]: https://www.duploexpresso.com/?p=87475

Nelson

Vejamos. A Nicarágua tem apenas 129.494 km² e uns 7 milhões de habitantes. O Haiti é bem menor em superfície: apenas 27 750 km² para uma população de uns 10 milhões. Já Cuba tem 110.861 km² e população de menos de 12 milhões.

Esses pequeninos países, juntos, somam uma área de pouco mais de 3% da do nosso país. Sua população, somada, é 14% da brasileira. Os três detêm uma riqueza muitíssimo menor que a existente no território do Brasil.

Raciocínio simples, que parece não ter passado pela cabeça da turma do PT. Se o Sistema de Poder que domina os EUA não tolerou a soberania de qualquer desses países, pequeninos, pobres, iria tolerar a de um paisão enorme, riquíssimo?

Se esse Sistema de Poder impõe, há mais de 50 anos, mais de meio século, um bloqueio econômico e político, criminoso e ilegal, a Cuba, porque os cubanos ousaram trilhar o caminho da soberania, iriam deixar os brasileiros fazerem o mesmo?

Tal sistema deixaria livre um paisão que é, talvez, o mais rico do planeta, com um potencial fabuloso para alcançar níveis elevados de desenvolvimento apenas com seus próprios recursos?

Deixaria esse país livre para, decorridas poucas décadas, o mesmo passar a prescindir da tecnologia dos países mais avançados, os EUA incluído?

Mais do que isso, o Sistema de Poder que domina os EUA deixaria o Brasil livre para que passasse a competir no já saturadíssimo mercado mundial da tecnologia e dos produtos industrializados?

Não, amigo. Mas, parece que a turma do PT deixou-se dominar pela inocência e a ingenuidade e não conseguiu enxergar isto e, claro, facilitou em muito o golpe.

Detalhe. Ainda que lá o citado Sistema de Poder não tenha necessitado partir para o golpe de Estado, todo este raciocínio é válido também para a Argentina. País também enorme, riquíssimo e que tem um potencial de desenvolvimento, segundo alguns, até maior que o do Brasil.

Nelson

Excelente, uma vez mais, o Sr Roberto Requião.

De quebra, ele oferece algumas pitadas sobre a história. Ótimo para reduzir um pouco a ignorância daqueles que andam alienados, “mais por fora do que aro de barril”. Ainda que existam muitos que optem por não enxergar a realidade das coisas.

É espantoso constatarmos que, com todo os ingredientes geopolíticos e geoestratégicos citados por Requião, há muito tempo conhecidos, a turma do PT tenha se deixado levar para o buraco de forma tão amadora.

Espantoso é ver gente que se diz entendida a conjecturar sobre tentando encontrar as causas do golpe apenas e tão somente dentro do nosso país.

Sim, o preconceito com o retirante nordestino, com a leve ascensão dos mais pobres, o medo do comunismo e outras variáveis contribuíram para o golpe. Contudo, arrisco afirmar que foram variáveis tangenciais, digamos assim.

O golpe foi armado de fora para dentro, a partir dos centros de inteligência e poder do sistema capitalista, localizados, claro, principalmente, nos Estados Unidos.

A razão do golpe reside em uma palavra, amigo: soberania. Ainda que a soberania imprimida pelo PT tenha sido bem tímida. A meu juízo, Leonel Brizola seria muito mais incisivo neste quesito, muito mais firme.

Continua.

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