Promotor suíço que ajudou Deltan a demolir Odebrecht hoje defende acusados de crime de colarinho branco

Tempo de leitura: 4 min
Foto Divulgação

Chutaremos a porta de um banco menor, com fraudes escancaradas, enquanto estamos com rodada de negociações em curso com bancos maiores. A mensagem será passada! Roberson Pozzobon, em mensagem a colegas da Lava Jato, combinando poupar alguns criminosos, enquanto a operação perseguia outros.

Da Redação

Stefan Lenz era um dos grandes parceiros de Deltan Dallagnol na Suíça.

Foi ele quem deu aos procuradores da Lava Jato acesso antecipado e clandestino ao sistema Drousys, no qual a empreiteira Odebrecht registrava sua contabilidade.

Clandestino significa por fora dos acordos oficiais assinados entre o Brasil e a Suiça.

Lenz pediu demissão do cargo público, mudou de lado no balcão e hoje atua como advogado.

No seu currículo, menciona que participou de investigações complexas, com as dos casos Alstom, de um integrante da família do ditador líbio Muamar Kadafi e do escândalo Petrobras/Odebrecht.

“Ofereço meu conhecimento e experiência a todos os réus em casos de crimes de colarinho branco, ou vítimas, ou partes de tais crimes que dependem de apoio legal na Suíça”, diz ele em seu site.

Lenz deu entrevista à Folha de S. Paulo em 2017.

Na entrevista, ele sugere que foram os bancos suíços que frearam as investigações da Lava Jato no país.

Curiosamente, a Lava Jato não avançou sobre os bancos no Brasil.

Nada sobre o Bradesco, nem sobre o Itaú — apesar da ameaça de delação do ex-ministro Antonio Palocci.

A entrevista de Lenz, publicada em dezembro de 2017, foi compartilhada por Deltan Dallagnol no Facebook:

Thiago Resende, colaboração para a Folha, de Zurique

Stefan Lenz, o procurador que comandava, até outubro do ano passado, as investigações da Lava Jato na Suíça, responsabiliza a articulação de forças políticas nos dois países pelo “fracasso nos esforços” para intensificar a cooperação bilateral.

A proposta de criar uma força-tarefa conjunta foi anunciada em março de 2016, mas até hoje ainda depende de iniciativas do Ministério da Justiça brasileiro.

Lenz, que era conhecido como o “cérebro” da Lava Jato no país europeu, declarou, em sua primeira entrevista ao Brasil desde que pediu demissão do cargo, também haver ingerência nas investigações suíças.

Folha — Quando o sr. ainda atuava como procurador, o Brasil e a Suíça já discutiam a criação de uma equipe de investigação conjunta. No entanto, essa força-tarefa continua apenas como um projeto. Por quê?

Stefan Lenz — A criação desse mecanismo não está previsto no acordo bilateral atualmente em vigor entre os dois países.

Embora as autoridades tenham buscado estabelecer uma base jurídica para a criação desse grupo, ainda não foi possível chegar a um consenso. As considerações políticas, e não jurídicas, podem ter desempenhado papel crucial no fracasso desses esforços.

Quais seriam as vantagens da criação dessa equipe?

Em casos envolvendo crimes econômicos transfronteiriços, o intercâmbio de informações é –ou seria– de longe o fator mais importante para aliar internacionalmente as apurações em busca de eficiência e uma conclusão promissora.

Os obstáculos legais para tal troca de dados ainda são elevados na Suíça. Somente por meio de um grupo de investigação conjunta a importância de algumas evidências pode ser adequadamente avaliada.

Por exemplo, os nomes dos políticos no Brasil não são necessariamente conhecidos pelos investigadores suíços. Além disso, os sistemas policiais de ambos os países poderiam trabalhar juntos, inclusive em relação a medidas coercitivas, como detenções e buscas.

A corrupção ligada à Operação Lava Jato é o maior caso que o sr. já investigou? Por quê?

Diante das investigações envolvendo a Lava Jato, foram identificadas transações suspeitas.

Em mais de 60 casos, esses relatórios se transformaram em abertura de processos na Suíça, pelos quais foram confiscados mais de 1 bilhão de francos suíços (R$ 3,3 bilhões).

Considerando esses números, a Lava Jato pode certamente ser descrita como o maior complexo processual que o Ministério Público da Suíça conduziu até então.

O sr. pediu demissão do cargo de procurador no ano passado emitindo críticas à gestão do Ministério Público. Quais os motivos da sua saída?

O Ministério Público Federal Suíço não está e não estava equipado com recursos suficientes para lidar com esses procedimentos tão complexos.

Falta mão de obra e até a remuneração foi alterada. Restaram, assim, duas opções: renunciar à situação insustentável ou conviver com resignação interna.

Há falta de interesse para que a investigação avance?

Apesar de o setor financeiro da Suíça estar no meio desse escândalo, um caso desta magnitude, como a Lava Jato, talvez não seja totalmente revelado por causa da escassez de recursos e diante da proteção aos bancos.

Parece-me que existe uma falta de vontade política para coordenar tais casos excepcionais com recursos adicionais, processá-los de forma eficiente e completa, e assim contribuir muito mais para a limpeza do centro financeiro suíço.

O sr. avalia que a Operação Lava Jato desacelerou nos últimos meses? Ainda há muito a ser revelado pelas investigações, principalmente após a criação do grupo bilateral?

Não me parece que houve mudança no ritmo das investigações no Brasil.

Não posso e não quero comentar sobre o desenvolvimento da Operação Lava Jato na Suíça desde o fim de 2016.

A Lava Jato, na sua opinião, será capaz de reduzir significativamente ou até mesmo eliminar a corrupção no Brasil?

O sucesso dessa investigação na luta contra a corrupção endêmica no Brasil é indiscutível. Mesmo que as forças políticas tentem dificultar ou impedir as investigações no país, é impensável para mim que não haja um efeito positivo duradouro na sociedade brasileira.

Atualmente, o sr. atua como advogado e usa a experiência no Ministério Público para que instituições e estatais recuperem os danos causados pela corrupção. Quem no Brasil foi prejudicado?

A vítima é sempre a sociedade, que paga pelos custos dos projetos e pelo enriquecimento ilícito de alguns.

Nessa lista também estão municípios, Estados e a República Federativa, bem como empresas com modelo de controle acionário, como a Petrobras.

OUTRO LADO

O Ministério Público da Suíça, procurado pela reportagem, não quis comentar as declarações do ex-procurador Stefan Lenz.

Sobre a força-tarefa bilateral entre Brasil e Suíça, o ministério declarou que, por ser a primeira vez que esse grupo será formado, “é um processo extensivo”.

A Procuradoria-Geral da República do Brasil informou que, em novembro, voltou a cobrar o Ministério da Justiça sobre as negociações para a criação da Equipe Conjunta de Investigação (ECI) com os suíços.

A pasta da Justiça negou que o processo esteja parado, justificou que o mecanismo é inédito e declarou que a cooperação entre os dois países “é uma das mais efetivas no plano mundial”.

PS do Viomundo: Cadê o Itaú na Lava Jato? O Bradesco? O Santander? Cadê a delação do Palocci falando do sistema financeiro? Da Globo? Ah, já sei, a Lava Jato escolhe alvos!


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Roberto

quem votou nele nada vai comentar.estão arrependidos e com razão.houve redução da credibilidade imposta a essa família.filhos acabaram com Bolsonaro.

Deixe seu comentário

Leia também