Coincidência: Bolsonaro ameaça fechar Valor e JN “ameniza” o tom sobre queimadas na Amazônia

Da Redação

O presidente Jair Bolsonaro falou ontem explicitamente em fechar o jornal Valor Econômico, do Grupo Globo.

Foi num encontro com representantes da Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (ACAERT), no Palácio do Planalto.

O presidente falou sobre a Medida Provisória que permitirá às empresas que publiquem seus balanços de graça, no site da Comissão de Valores Mobiliários ou no Diário Oficial.

Em entrevista anterior, Bolsonaro previu o fim da imprensa:

“Tirei de vocês R$ 1,2 bilhão de reais com publicação de balancetes. Não é maldade. É bondade e Justiça com os empresários, que não aguentam pagar isso para publicar páginas e páginas que ninguém lê. Então, publica no site oficial, CVM, a custo zero. Já estamos ajudando assim a não ter desmatamento, porque papel vem de árvore. Estamos em uma nova era. Assim como acabou no passado o datilógrafo, a imprensa está acabando também. Não é só por questão de poder aquisitivo do povo que não está bom. É porque não se acha a verdade ali”.

A ameaça explícita ao Grupo Globo foi feita durante a reunião com a ACAERT: “Sabe o que eu posso fazer? Chamo o presidente da Petrobrás aqui e digo: ‘Vem cá, Castello Branco. Você vai mostrar seu balancete este ano no jornal O Globo’. Vinte páginas de jornais para isso. E o jornal Valor Econômico, que é da Globo, vai fechar. Não devia falar? Não devia falar, mas qual é o problema? Será que eu vou ser um presidente politicamente correto? Uai. É isso daí aqui no Brasil”.

Nos últimos dias, o Jornal Nacional da TV Globo tem dado cobertura às queimadas na Amazônia, mas num tom que surpreendeu internautas.

“Encerramento do Jornal Nacional indecente. Sorrindo, apresentador afirma que a Amazônia não é o pulmão do mundo. Desqualifica alertas de cientistas e ambientalistas. Mas tranquiliza a família brasileira pq o Globo Repórter explicará tudo amanhã”, escreveu o jornalista Flávio Gomes depois de ver a edição da quinta-feira, 22/08.

Dias antes, o telejornal “informou” que o tom com o qual Bolsonaro se defendia no assunto das queimadas da Amazônia era parecido com o do ex-presidente Lula, falando sobre a soberania nacional.

A comparação também provocou críticas. O jornalista Lúcio de Castro, da Agência Sportlight, resumiu:

No lugar da comparação entre dados do desmatamento antes e depois, mesmo diante de escalada brutal, o Jornal Nacional escolhe como objeto da reportagem a simetria entre falas de presidentes e não a assimetria dos números. É assim que o jornalismo foge de sua responsabilidade.