Chanceler sul-africana:’A humanidade deveria se envergonhar de não fazer nada diante dos mais 35 mil assassinatos em Gaza’

Tempo de leitura: 4 min
A chanceler Naledi Pandor, da África do Sul, discursa na abertura da primeira Conferência Global Antiapartheid pela Palestina, que acontece de 10 a 12 de maio em Joanesburgo. Foto: Mishqa Rhoda

“Silêncio diante de 35 mil mortos em Gaza deveria envergonhar a humanidade”, afirma chanceler sul-africana
Durante a Conferência Global Antiapartheid, em Joanesburgo, Naledi Pandor defendeu ação sul-africana contra Israel na Corte Internacional de Justiça e convocou ampla mobilização internacional em solidariedade ao povo palestino

Por Felipe Bianchi, de Joanesburgo – África do Sul, Barão de Itararé

Naledi Pandor, chanceler da África do Sul, participou nesta sexta-feira (10), em Joanesburgo, da primeira Conferência Global Antiapartheid pela Palestina.

A representante do governo sul-africano fez uma defesa contundente de suas ações no âmbito do Direito internacional para responsabilizar Israel por crimes contra a humanidade praticados em Gaza.

“Nunca foi tão urgente que a comunidade internacional se mobilize em um esforço coletivo para pressionar pelo fim imediato do genocídio em curso na Palestina e do sistema de apartheid imposto pelo Estado de Israel na região”, afirmou a ministra das Relações Exteriores e Cooperação.

“As contínuas atrocidades cometidas por Israel exigem ampla mobilização de todas as forças progressistas do mundo pelo fim do colonialismo na Palestina”.

Foto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé

Figura histórica do Congresso Nacional Africano (ANC), partido político ao qual pertenceu o ex-presidente Nelson Mandela, Pandor explicou as razões de o país africano ter apelado à Corte Internacional de Justiça (CIJ) para que julgue Israel por violar a Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, de 1948, assinada por ambas as nações.

Além do número vertiginoso de assassinatos (já são mais de 35 mil mortos desde outubro de 2023), a ação também caracteriza a situação como genocídio por práticas como a destruição de casas e a expulsão de palestinos de onde vivem; o bloqueio à comida, água e à assistência médica; a destruição dos serviços de saúde essenciais para a sobrevivência de mulheres grávidas e de bebês recém-nascidos, entre outras barbaridades.

Foto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé

Falando em nome do governo sul-africano, Pandor explicou que é preciso aliar a denúncia das violações brutais dos direitos humanos à uma intensa campanha de solidariedade global: “Até agora, a abordagem tradicional à resolução de conflitos não conseguiu estabelecer a paz”, disse.

“É fundamental que haja mobilização internacional para encontrarmos, juntos, caminhos para a justiça. As forças progressistas devem exigir que os direitos inalienáveis à autodeterminação e ao retorno sejam garantidos ao povo palestino”.

O objetivo, conforme explica, é a aplicação justa e igualitária do direito internacional. “Todos nós, como humanidade, deveríamos ter vergonha de não fazer nada diante de 35 mil assassinatos e mais ocorrendo neste exato momento”, sentenciou.

“Se não conseguirmos encontrar um caminho, devemos considerar viajarmos para a Palestina e ser o muro de proteção da civilidade”.

Os laços entre África do Sul e Palestina

Remontando à luta contra o apartheid em seu país, a chanceler comentou a conexão histórica entre as nações:

“Os povos da África do Sul e da Palestina cultivam um vínculo de solidariedade forjado pelas respectivas lutas de libertação de seus países. A África do Sul tem sido, desde o fim do apartheid, uma aliada da Palestina, apoiando-os em organismos internacionais e oferecendo assistência material quando possível”.

Foto: Felipe Bianchi/Barão de Itararé

De acordo com Pandor, a luta da Palestina evoca memórias dos tempos de segregação racial e opressão brutal na África do Sul. “Experimentamos em primeira mão os efeitos dessa combinação e isso causa uma identificação total com a luta pela liberdade dos palestinos”, sublinhou.

“Nosso país e nosso povo têm demonstrado o seu compromisso com a questão Palestina antes mesmo de conquistarmos nossa democracia 30 anos atrás”, pontuou.

“O próprio Mandela dizia: não seremos livres até que o povo palestino também o seja. É nosso dever desempenhar um papel ativo nesta busca por justiça”.

A realização da Conferência Global Antiapartheid pela Palestina em Joanesburgo, que ocorre entre 10 e 12 de maio, é reflexo dessa ligação.

Organizado pela sociedade civil sul-africana, sem participação governamental, o evento reúne centenas de autoridades, intelectuais, líderes religiosos e ativistas para discutir estratégias de enfrentamento ao apartheid em curso contra o povo palestino.

“Como governo da África do Sul e representante do Congresso Nacional Africano (ANC), continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para preservar a existência do povo palestino e acabar com o apartheid e o genocídio aos quais estão submetidos”, encerrou.

Leia também

Fepal une-se ao Barão de Itararé para ampliar divulgação da Conferência pela Palestina; vídeo

África do Sul sediará Conferência Global pela Palestina: ‘Situação é pior do que no apartheid africano’, afirma organizador ao Barão de Itararé


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

ed.

Não há como não concordar que nós como humanidade estamos ficando sem vergonha de sermos sem vergonhas.
Vou escrever até ficar rouco:
Embora já “um tanto” tardia, a solução mais óbvia, humana, barata e eficaz chama-se: Forças Internacionais de Paz em Gaza!

Ou continuaremos assistindo impassíveis, parafraseando aquela máxima ínfima e infame de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”?

Deixe seu comentário

Leia também