Brasilândia pede socorro: “Vai ser um estrago bárbaro”, diz ativista da Saúde

Tempo de leitura: 3 min
Circe (com o filho) e Manoel, vítimas da covid-19 na Brasilândia. Reprodução do Jornal Nacional

Ela saía na rua para precaver meus avós e fazer as compras, medicamento, pegar remédio no posto, ela acabou se sacrificando para isso. Já se passaram oito dias do enterro dela. Enterro triste, que eu não pude nem ver a minha mãe, 20 dias sem ver a minha mãe no hospital e ainda ser enterrada num saco e dentro de um caixão fechado. É muito difícil. Diego de Figueiredo, filho de dona Circe, vitima da covid-19, ao Jornal Nacional.

Essa doença não é brincadeira eu te falo porque a gente não acreditava e ela levou meu pai embora, eu recomendo, todo mundo, leve a sério. Fique em casa. As pessoas vão se conscientiza disso daí só quando chegar até a familia deles. Paulo Alexandre dos Santos, filho do seo Manoel, vítima da covid-19, ao Jornal Nacional. Ambos moradores da Brasilândia

Da Redação

Até o dia 17 de abril, a Brasilândia, bairro de cerca de 300 mil habitantes, tinha o maior número de óbitos por coronavírus em São Paulo, 54.

À distância, em isolamento social por ser do grupo de risco, a militante da Saúde Maria Cícera de Salles observa aglomerações na agência da Caixa Econômica e no Bom Prato próximos à rua Parapuã.

Ela troca informações o dia todo sobre a situação no bairro por whatsapp.

“Brasileiro só começa a se preocupar quando acontece com alguém da família, da casa, da rua”, diz.

No caso dela, já aconteceu.

Ontem, Cícera conversou com a mãe de uma mulher de 41 anos de idade que morreu de covid-19.

Moradora do Jardim Paraná, a mulher deixou quatro filhos.

Um outro caso aconteceu no Jardim Paulistano, também parte da Brasilândia, de uma moça de apenas 28 anos de idade.

Na Brasilândia, não existem testes para pessoas com suspeita da doença e falta equipamento de proteção pessoal para os enfermeiros e auxiliares de enfermagem que estão na linha de frente.

O Hospital Penteado, o Cachoeirão e o de Taipas, de acordo com a militante, já lidam com um grande número de casos.

No Hospital da Brasilândia, um anexo de campanha onde deveriam existir 150 leitos de UTI já foi inaugurado em março, mas ela acredita que só estará de fato pronto para funcionar na segunda ou terceira semana de maio — pessoal ainda está sendo recrutado para trabalhar.

Uma das reivindicações dos militantes de Saúde é que o Hospital Sorocabana, instalado em terreno do Estado, seja reaberto pela Prefeitura de São Paulo — é uma antiga reivindicação.

Cícera milita no movimento de saúde há mais de 20 anos. Já foi dos conselhos municipal e estadual e hoje é do Conselho de Saúde do Centro de Referência de Saúde do Trabalhador da Freguesia do Ó, como representante dos usuários.

Enquanto o governo paulista se organizada para a reabertura gradual da economia, a partir de 11 de maio, Cícera pensa no pior.

“Vai ser um estrago bárbaro”, reflete, quando o vírus chegar a comunidades de grande adensamento populacional, onde de 5 a 6 pessoas dividem pequenos espaços.

“Não há testes para nós, mas a morte está nos atingindo em cheio”, diz o manifesto do qual Cícera é uma das signatárias, apontando para a realidade: a alocação de recursos públicos pode transformar esta em mais uma doença da desigualdade social, a marca registrada do Brasil.

Cícera conseguiu a assinatura da dona Rosa, a mãe que perdeu a filha, para o manifesto que reproduzimos abaixo. Ele deve ser lido na sessão virtual da Câmara Municipal de São Paulo pela vereadora Juliana Cardoso. 

Cícera aceita adesões.

Arte do jornal Agora São Paulo

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Comentários

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Zé Maria

Tava visto que primeiro iriam tratar os ricos
e depois deixariam os pobres apodrecer.

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