Aton Fon: Lincoln, a militância petista continua na defesa da tarifa zero
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Manifestação na entrada do túnel em direção à Radial Leste. Foto: Ninja/EBC
de Aton Fon, especial para o Viomundo
Lincoln,
Conheço sua seriedade intelectual e por isso vou me atrever a fazer algumas observações críticas a seu artigo.
Desconheço nele a figura do historiador e militante político capaz de diferenciar as posturas e plataformas do governo e do partido. Desconheço nele o historiador e militante que ainda no dia 20 de maio último saudava o fato de que o PT começasse a apresentar uma agenda diferente daquela do governo. O autor deste artigo de agora atribui ao partido o que foi manifestação do governo, afirmando “que o PT criticou os ‘vândalos'”, quando bem sabe que essa crítica foi emanada de autoridade governamental, falando nessa condição, o Ministro da Justiça.
Estranho ainda mais essa menção, quando críticas a tais “vândalos” também foram feitas pelo ex-candidato à Presidência pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio e pelos queridos camaradas, do mesmo partido, Ivan Valente e Gilberto Maringoni.
Mais triste ainda é vê-lo perder-se nessa confusão entre o partido e a administração, porque a militância petista, a Juventude do PT, esteve presente, com suas bandeiras, na manifestação. E você deve saber, tem que saber – e se não sabe pode ver o manifesto da juventude petista postado pela Maria Frô – que eles continuam na defesa e na militância pela tarifa zero.
Mas, Lincoln, o que mais incomoda nesse seu artigo é que ele se soma, mesmo que não haja essa intenção, à campanha de algumas forças que tentam dividir o movimento.
Ao chegar à Maria Antônia, na subida da Consolação, os manifestantes estavam em diálogo com oficiais da PM para poder seguir em frente, quando começou a criminosa agressão policial. A tática da força repressiva foi contada em diversos relatos: dividir os manifestantes em pequenos grupos, para dispersar a manifestação.
Se a polícia se valia de bombas e tiros para conseguir o intento, a tática não diferiu, no mais, daquela empregada por grupos esquerdistas que atuavam entre os manifestantes já desde a concentração.
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Veja o relato que alguém faz no Facebook sobre a ação dessas correntes:
“Lembrando que ontem na concentração do ato em frente ao Teatro Municipal (entre 17 e 18 hrs na parte final do bloco), militantes que portavam a bandeira PT foram amplamente rechaçados pelo movimento e particularmente por jovens independentes. Gritaram palavras de ordem como “Fora PT”, “Haddad Cuzão, vem pegar buzão” e “Quem não pula é governista”. As pichações e o espírito do movimento em sua maioria é igualmente hostil aos governos municipal e estadual. São sinais de um novo tempo em que no processo de mobilização da juventude e do povo criam condições para que se perca as ilusões com relação aos governos do PT e ao horizonte de conciliação de classes que prega este partido. A companheira está inteiramente correta em sua avaliação. Todos os companheiros ou indivíduos que estiveram nas ruas defendendo voto em HADDAD-MALUF no ano passado tem no mínimo a responsabilidade de fazer a auto-crítica e possivelmente (espero sinceramente) que superem suas ilusões em torno deste campo político que está carnalmente atrelado aos interesses do capital, das máfias de transporte e dos interesses gerais da classe dominante do país. A Consulta/Levante da Juventude é uma das organizações que deve explicações ao movimento, já que também estiveram nas ruas puxando votos para Haddad/Maluf.Para finalizar, um causo não muito importante, mas emblemático. Ontem quando os gritos de “Fora PT” estavam no auge, o levante da juvenude que estava atrás do nosso bloco da JUVENTUDE AS RUAS, para tentar desviar a linha da palavra de ordem contra seus aliados do PT, começaram a gritar “quem não pula defende a tarifa”. O restante do movimento respondeu esta palavra de ordem com “quem não pula é governista”. E os nossos camaradas do programa “democrático popular” saíram mais uma vez desmoralizados”.
Não me consta que você se dedique a essas ações divisionistas, sendo esse mais um motivo pelo qual tomei a liberdade de fazer esses apontamentos.
Abraços.
Aton Fon
Em Tempo: A Consulta Popular pediu, sim, votos para Haddad. Como pediu votos para 2 candidatos a vereador do PT e um do PSOL. E não vê problemas em discordar da administração e participar de um movimento que tem uma proposta contrária. Somente os que são incapazes de compreender a dialética se negam a admitir a contradição. Ou, dizendo a seu modo, Lincoln, somente os incapazes de admitir a contradição podem querer que os movimentos sociais sejam meras correias de transmissão dos partidos políticos.
Aton Fon é advogado, integra o Setor de Direitos Humanos do MST e a Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. É militante da Consulta Popular.
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