Antônio David: Moro e Dallagnol promoveram o show, agora dizem que são apenas juiz e promotor

Tempo de leitura: 3 min

por Antônio David, especial para o Viomundo

O juiz do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Nivaldo Brunoni, negou na última terça-feira (9/5) pedido da defesa do ex-presidente Lula para gravar o depoimento em Curitiba por uma equipe por ela indicada.

Segunda a defesa do ex-presidente, seria o caso de capturar “a completude do ato judicial para observar as expressões faciais e corporais não somente do acusado, mas também do Ministério Público Federal e do juízo”.

Bruonni argumentou que “as gravações de audiência já passam de uma década e, até hoje, nunca transitou por este tribunal inusitado pedido, tampouco notícia de que a gravação oficial realizada pela Justiça Federal tenha sido prejudicial a algum réu”

Ao sustentar sua decisão valendo-se desse argumento, Brunoni agiu como se vivesse em outro mundo.

Ignorou o fato de que, até hoje, em mais de uma década de gravações em audiências na justiça federal do Paraná, nenhum caso foi alvo de espetáculo midiático. A Lava Jato é.

Ignorou ele que, se as gravações realizadas pela Justiça Federal nunca foram prejudiciais a algum réu, é porque tais gravações ficam restritas ao âmbito judicial, não são expostas ostensivamente nos meios de comunicação. O depoimento do ex-presidente Lula será.

Ignorou ele, sobretudo, que o juiz Sérgio Moro e o promotor Deltan Dallagnol favorecem e promovem a espetacularização midiática da Lava Jato, com suas declarações, atitudes, slides… em suma, pelo que fazem.

A juíza que proibiu manifestações em Curitiba por conta do depoimento de Lula na Justiça federal, Diele Denardin Zydek, já chamou Moro de “ídolo” e “inspiração” no facebook por conta da condução coercitiva de Lula em março do ano passado. Ela não foi a única.

Mas não é só pelo que fazem que Moro e Dallagnol favorecem e promovem a espetacularização midiática da Lava Jato, é também pelo que não fazem. Pelo seu conveniente silêncio.

Se um juiz e um promotor almejam ser apenas juiz e promotor, e não partes de um conflito, não deveriam eles protestar sempre que são ostensivamente representados como partes do conflito? Não deveriam ambos repreender a revista Veja e todos os demais veículos de comunicação sempre que o representam não como mero juiz e mero promotor, mas como alguém que vai varrer o PT e colocar Lula na cadeia? Não deveriam ao menos pedir publicamente que parem de representá-los da forma como têm sido representados?

Moro e Dallagnol, meros servidores públicos, têm sido ostensivamente representados pela grande mídia como partes de um confronto ideológico, social e político. E nessa representação, o final já é conhecido. Em nenhum momento, nem um nem outro protestou, nem sequer fez um reparo. Um e outro não parecem estar desconfortáveis. Ao contrário, ambos parecem estar bem à vontade nesse lugar.

Há poucos dias, Sérgio Moro declarou: “O processo não é uma guerra. O processo não é uma batalha, o processo não é uma arena. Em realidade as partes do processo são a acusação e a defesa. Não o juiz. O juiz não é parte no processo”.

Se assim é, por que ele nunca queixou-se da (e para) a Veja, a Globo, a Band, e todos indivíduos e agrupamentos que o pintam não como um juiz, mas como parte no processo? Diante desse conveniente silêncio, sua declaração soa cínica.

Se Moro e Dallagnol favorecem e promovem a espetacularização de algo que deveria ser um mero processo judicial, e se ambos silenciam diante da representação que deles é feita, se as expressões faciais e corporais de ambos estão de fato sendo veiculadas ostensivamente pela mídia, não com qualquer fim, mas com fins muito específicos, então por que suas expressões faciais e corporais (autênticas e espontâneas) durante o depoimento do ex-presidente Lula não podem aparecer?

ONDE ESTÁ A COERÊNCIA?

Se o pedido da defesa do ex-presidente é “inusitado” – e realmente é – é porque se trata de um depoimento que será espetacularizado pela mídia. Negar isso é de um cinismo total. Não é exatamente a espetacularização midiática da Lava Jato que deveria ser encarada como algo “inusitado” na história da justiça federal? Mas isso Bruonni não disse em sua decisão.

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Comentários

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LUIZ GONZAGA ROVERSI GENOVESE

Bom dia a Tod@s!

Gostei das cores da máscara, das luvas e do short do juiz​ Moro (q atua em parceria com a promotoria, um absurdo!) Moro, amarela e azul, nas capas das “revistas”.

Que coincidência!

São as cores representativas do PSDB.

Vixe, um lapso freudiano: a verdade dita!

Luiz Genovese

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