Jorge Altamira: Capital vê Alberto Fernández como aliado, mas ele vai ter que governar à esquerda na Argentina

Tempo de leitura: 3 min
Foto: Elineudo Moura

Dirigente do maior partido de esquerda argentino diz que capital vê Alberto Fernández como aliado

por Lúcia Rodrigues, especial para o Viomundo

O neoliberalismo vai receber cartão vermelho nas urnas argentinas neste domingo, 27. A vitória do candidato peronista, Alberto Fernández, é dada como certa.

A política econômica desastrosa do presidente neoliberal Mauricio Macri que jogou a Argentina praticamente em uma bancarrota é o principal cabo eleitoral de Fernández.

“A crise econômica é feroz. E a situação do povo é terrível, gravíssima. A pobreza explodiu. Por isso, os argentinos têm ódio de Macri”, explica Jorge Altamira, dirigente do Partido Obrero, a maior legenda à esquerda do peronismo (força política populista de centro-esquerda).

Ele ressalta que até os empresários estão apoiando o candidato peronista .

“O empresariado que apoiava Macri, já está apoiando Alberto Fernández, porque ele ganhou as (eleições) primárias e com certeza vai ganhar neste domingo também. Além disso, ele é diferente da Cristina.”

Altamira conversou com Viomundo durante o Simpósio Internacional sobre o centenário da Terceira Internacional Comunista, que aconteceu na USP.

Ele diz que Fernández é considerado um aliado pelo capital.

“Vai colocar em seu gabinete gente ligada ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e aos empresários do principal empreendimento da Argentina, que é o gás de xisto. Ele é bom para o capital.”

O líder do Partido Obrero conhece Alberto Fernández de perto. Ambos foram deputados no Parlamento argentino.

“Além dos debates em plenário, nos reuníamos três vezes por semana nas comissões legislativas e tinhamos atritos constantes. Deu para conhecê-lo bem”, frisa.

“Alberto participou do governo (do presidente Carlos) Menem (que perdoou ditadores como Jorge Videla), do gabinete econômico do (ministro da Economia, Domingo) Cavallo (que dolarizou a economia argentina).”

Questionado sobre qual dos Fernández (Cristina ou Alberto) dará a linha política na Presidência da República com a queda de Macri. Altamira responde que essa é a grande pergunta, mas considera que será um governo de duplo comando.

A relação entre os dois não é um mar de rosas. “Quando Cristina bateu de frente com os ruralistas argentinos, Alberto era chefe de gabinete e renunciou”, conta o dirigente político.

Altamira recorda que Alberto Fernández também criticou o segundo mandato de Cristina. “Disse que tinha sido muito ruim e se recusou a votar nela. Votou em branco.”

Mas a vitória dele se dará em função da popularidade e prestígio da ex-presidente Cristina Elisabet Fernández de Kirchner, que concorre agora à vice-presidência.

“A maioria dos votos contra Macri vem da Cristina, não vêm de Alberto Fernández nem do peronismo em geral. Quem vai ganhar a eleição deste domingo é a Cristina.”

A engenharia política que vai levar Alberto à Casa Rosada está assentada em uma coalizão que faz com que os Kirchner voltem ao poder, sem estar na linha de frente da disputa.

“Se ele não fizer um bom governo, quem assume é a Cristina”, frisa.

Por isso, Alberto pode conduzir seu governo mais à esquerda. Altamira antecipa que o peronista deve bater de frente com Trump por causa da Venezuela.

“Macri reconheceu (Juan) Guaidó e a embaixadora que ele mandou para a Argentina. Certamente, Alberto a mandará embora. E isso vai gerar um atrito importante com Trump.”

Além disso, ele já deixou claro que pretende retirar a Argentina do Grupo de Lima, que reúne os governos conservadores da América Latina.

“Argentina, Uruguai, Bolívia e México fariam uma aliança contra o Grupo de Lima”, prevê Altamira.

Alberto Fernandes também já visitou o ex-presidente Lula, em Curitiba, e declarou que sua prisão é ilegal. “Isso é um choque contra a direita.”

A certeza da vitória neste domingo é tanta que fez com que o candidato peronista intermediasse recentemente a suspensão de uma greve de pilotos prevista para ocorrer na Argentina.

“O governo não conseguiu nada e ele convenceu os pilotos a desistirem da greve. Está na cara que ele vai ganhar a eleição.”

“Ele sabe que a situação do país é difícil e já propôs um pacto social entre trabalhadores e empresários. Todos os sindicatos e todas entidades empresariais fariam um pacto para não aumentar os salários nem os preços.”

Mas o dirigente do Partido Obrero ressalta que é possível que ocorra algum reajuste nos salários: “Os salários são muito baixos”.

Altamira também destaca que pela primeira vez na história, a Argentina terá dois candidatos de extrema-direita disputando nas urnas a Presidência da República.

“Um clerical, contra o aborto, que reivindica a ditadura militar (José Gómez Centurión, militar aposentado) e outro neoliberal (José Luis Espert).”

Além da eleição presidencial, os argentinos escolhem neste domingo 130 deputados, 24 senadores e 43 deputados para o Parlamento do Mercosul.

 


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Era só o que faltava. Um LeninMoreno argentino.
É muita tôca …

Deixe seu comentário

Leia também