Aliado de Bolsonaro acusa Moro de agir como imperador da segurança. Ex-juiz depende do cargo de ministro para ser candidato em 2022

Tempo de leitura: 5 min
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Da Redação

O ex-juiz federal Sergio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, diz que não é candidato.

Em cargo público, não filiado a um partido, ele se mantém na posição confortável de argumentar que é “apolítico” e “apartidário”.

Não se envolve em polêmicas com o chefe, o presidente Jair Bolsonaro, e pode muito bem dizer nos bastidores que é para poder fazer avançar a luta contra a corrupção “por dentro”, inclusive em relação aos malfeitos do entorno bolsonarista.

Alheio às questões econômicas, também pode argumentar que o Brasil não avançou tanto nesta área porque o combate à corrupção ainda depende de medidas que só ele, com o poder da caneta presidencial, poderia tomar.

A posição de ministro garante a Moro a visibilidade necessária para manter em banho maria sua possível candidatura ao Planalto em 2022.

Ele tem salário, verba para viagem, exposição na mídia, poder para fazer articulações e uma plataforma: combate à corrupção e, especialmente, à criminalidade.

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em dezembro do ano passado, Moro era o ministro mais vem avaliado do governo Bolsonaro, com 53% de ótimo/bom.

Na mais recente pesquisa CNT/MDA, as duas áreas associadas a Sergio Moro estavam entre as três melhor avaliadas pelos entrevistados.

Isso apesar de o Brasil ter atingido em 2019 a pior nota no Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional, que começou a ser publicado em 2012.

Além disso, Jair Bolsonaro mantém no governo o ministro do Turismo Marcelo Álvaro, denunciado pelo MPF por seu envolvimento no laranjal do PSL em Minas Gerais.

Moro já declarou publicamente que era a favor do afastamento do governo de ministros formalmente acusados de corrupção, mas se negou a falar do assunto quando questionado no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Um dos filhos do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro, é investigado por vários crimes, dentre os quais praticar rachadinha com dinheiro público do salário de assessores e lavagem de dinheiro, em associação com suspeito de integrar milícia no Rio de Janeiro.

Outro assunto do qual Moro fugiu no Roda Viva.

O fato de que os dois temas — denunciado por corrupção no ministério e filho presidencial investigado por corrupção — não ocupam o mesmo espaço na TV aberta que as ações da Lava Jato pode explicar o resultado da pesquisa da CNT-MDA na qual mais de 30% dizem que o melhor desempenho de Bolsonaro está no combate à corrupção.

O número também é compatível com a base bolsonarista, alimentada pela militância que segue o presidente da República nas redes sociais e não acredita em nenhuma notícia que não venha do clã presidencial e de seu entorno.

Quanto à segurança pública, o discurso oficial de Moro vem sendo aberta e fortemente questionado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB, aliado de Bolsonaro.

Em entrevista ao Estadão, ele disse ser favorável à recriação do Ministério da Segurança Pública, o que implicaria tirar de Sergio Moro o combate ao crime, ao crime organizado e o controle da Polícia Federal.

A queda de 22% no número de homicídios no Brasil, entre janeiro e agosto de 2019, tem sido utilizada por aliados de Sergio Moro como a estatística mágica para endeusá-lo.

Ao Estadão, Ibaneis afirmou que existe no STF uma ação movida pelos governadores de Estado pelo fato de que Moro não liberou aos governos estaduais o dinheiro do Fundo Nacional de Segurança para combater o crime.

“Ainda teve a covardia de dizer que os resultados da segurança são por conta do trabalho dele e não por conta dos governadores e dos secretários estaduais, o que nos incomodou muito”, disse.

Por 11 votos a 9, no dia anterior, o Conselho Nacional de Segurança Pública, formado por secretários de segurança,  havia decidido pedir em carta a recriação do Ministério da Segurança Pública, o que diminuiria o poder de Sergio Moro consideravelmente.

Candidato a ocupar um recriado Ministério da Segurança Pública, o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), coronel aposentado da Polícia Militar, é amigo de Bolsonaro.

A O Globo, ele disse: 

Não há relação direta, com todo o respeito que eu tenho ao ministro Moro, que é um ícone no combate à corrupção. Mas vamos dar a César o que é de César. Num momento como esse, você esquecer o esforço dos governos estaduais é sacanagem. Todo mundo sabe que os números que aí estão foram consequência da criação do ministério da Segurança Pública quando era isolado (no governo de Michel Temer). Isso é importante dizer. O mérito da redução da criminalidade é das polícias estaduais. É uma covardia dizer que é do ministério da Segurança Pública.

Jair Bolsonaro, ao desembarcar em Nova Déli, na Índia, descartou a intenção de desfazer o superministério de Moro, depois que o ex-juiz informou através de aliados que deixaria o governo se perdesse a pasta da Segurança Pública.

O Jornal Nacional, tradicional garoto de recados de Moro, informou a seus telespectadores:

Sergio Moro está bastante decepcionado e já disse a interlocutores que “se isso se confirmar” (a criação do novo Ministério de Segurança Pública) “ele sai do governo”.

A especulação de bastidores é de que Bolsonaro vê Moro como possível adversário em 2022 e teria interesse em tirá-lo agora do comando da Polícia Federal.

A PF tem investigações em andamento sobre Flávio Bolsonaro e sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ).

Moro nega interesse em ser candidato.

Bolsonaristas enxergam o ex-juiz como candidato a vice do próprio Bolsonaro ou a uma vaga no STF.

O ex-presidente Lula acredita que Moro ganha tempo dentro do governo para eventualmente se lançar candidato.

No tweeter, ele escreveu:

Eu acho que o Moro quer estar nas urnas sim. A sentença contra mim já mostrava que ele já era político. Um juiz político que me condenou por “atos” indeterminados. Ou seja, nem ele sabe porque me condenou.

Com Lula fora do páreo em 2022, ir ao segundo turno ficaria mais fácil para Moro, razão pela qual o ex-juiz batalha para manter o ex-presidente inelegível, dando sequencia ao trabalho que fez pré 2018, para impedir o petista de concorrer.

Lula era favorito e, mesmo substituído, conseguiu levar Fernando Haddad ao segundo turno. Moro aceitou o cargo de ministro de Bolsonaro ainda durante a campanha presidencial e agiu na surdina para bombardear a chapa petista, o que ficou exposto pelos vazamentos do Intercept Brasil.

Hoje, o governador do DF Ibaneis escancarou as portas do descontentamento político dos governadores e secretários de Segurança, que parecem enxergar um ministro Moro afoito por “roubar” o crédito alheio, sem assumir a culpa por eventuais problemas na segurança pública.

De acordo com Ibaneis, eles se comunicam através de um grupo de WhatsApp.

Mas de quem partiu a iniciativa de recriar o Ministério da Segurança Pública?, perguntou o Estadão ao aliado de Bolsonaro.

Eu estou desde o ano passado batendo nisso. […] Agora eu estou com um problema com o Moro muito sério que é esse presídio federal que ele tem aqui (no DF). Aí veja o que aconteceu: eu tive uma tentativa de fuga que foi contornada pelo Exército, sem comunicar a Secretaria de Segurança. Aí, logo em seguida, eu tenho uma tentativa de fuga do presídio no Paraguai. O Marcola vai (é levado) para o nosso instituto de gestão hospitalar, sem comunicação com o secretário de Segurança. Daqui a pouco, nós vamos ter o PCC tocando fogo em Brasília e o Moro não está nem aí para isso.


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