Ab’Saber: Lula comandou a aceitação da hegemonia do mercado

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Política| 12/09/2012 | Copyleft

“Transformação” do PT gera polêmica em simpósio de História

Discordâncias sobre o caráter dos governos Lula e Dilma marcaram a mesa “Do petismo ao lulismo: o PT ontem e hoje”, uma das que abriram o Simpósio Internacional Esquerda na América Latina: História, Presente, Perspectivas, que acontece na USP. Todos concordaram que o PT mudou, mas enquanto André Singer defendeu as políticas sociais das gestões Lula e Dilma como cumpridoras de parte do programa original do partido, Cyro Garcia e Tales Ab’Saber condenaram o lulismo por, segundo eles, beneficiar grandes grupos econômicos.

Igor Ojeda, na Carta Maior

São Paulo – Discordâncias sobre o caráter dos governos Lula e Dilma marcaram a mesa “Do petismo ao lulismo: o PT ontem e hoje”, uma das que abriram o Simpósio Internacional Esquerda na América Latina: História, Presente, Perspectivas, que acontece a partir desta terça-feira (11) até a próxima quinta-feira (13) no campus da Universidade de São Paulo (USP). A programação do evento, promovido pelo Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pode ser conferida aqui.

Participaram da mesa “Do petismo ao lulismo” o cientista político e jornalista André Singer, ex-porta voz de Lula; Cyro Garcia, presidente do PSTU-RJ e membro da central sindical Conlutas; e o psicanalista Tales Ab’Saber. De maneira geral, Singer fez críticas ao processo de “transformação” do PT – principalmente, a partir de 2002, segundo ele – e buscou defender as políticas sociais adotadas por Lula e Dilma.

Garcia e Ab’Saber, por sua vez, condenaram as gestões petistas por, segundo eles, beneficiarem os grandes grupos econômicos.

Em sua exposição, André Singer afirmou que o PT surgiu como um partido de natureza radical mais significativa que seu caráter socialista. “Na história política do Brasil, há uma longa tradição de conciliação pelo alto. O PT se propôs a ser um partido radical a partir dessa leitura. Foi uma novidade a existência de um partido legal e abertamente radical. Numa cultura política avessa ao confronto, se apresenta como um partido que quer romper com a ordem. A segunda novidade e que deu certo: ganhou o apoio dos movimentos sociais desde o início”.

O cientista político listou três evidências concretas do radicalismo do PT durante os anos 1980, que se traduziu em três recusas: a primeira, a votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985, após a derrota das Diretas Já; a segunda, a votar a favor da Constituição de 1988; a terceira, o rechaço ao apoio do PMDB no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, por este ser um partido burguês.

“Minha hipótese é que o PT arquivou esse radicalismo em 2002. Tomou a direção da moderação. Para mim, foi de repente, embora se olharmos com lupa os anos 1990 podemos perceber indícios disso. No entanto, publicamente, nos anos 1990 ainda não estava mudando. Em 2002, a mudança foi abrupta, com a assinatura da Carta ao Povo Brasileiro, que em seguida foi incorporada ao programa de governo do Lula. O que estava lá? Um conjunto de garantias ao capital de que o PT não faria um governo de ruptura. Foi uma mudança de fundo. De um partido de confronto para um partido de não confronto com o capital”, analisou.

Para Singer, o lulismo é a implementação na prática dessa nova política, mas com uma característica incomum: simultaneamente, a ativação de um mercado interno “por baixo”.

“Foram executadas políticas de combate à pobreza capazes de ativar o mercado interno e diminuir a desigualdade social, cumprindo uma parte importante do programa original do partido”. Segundo o ex-porta voz de Lula, essa realidade configurou, em 2006, uma nova base social de eleitores para o PT: adesão de setores de baixa e baixíssima renda e afastamento dos eleitores de classe média.

“Hoje, o PT, que era um partido da classe média, é um partido popular. Por causa disso, é muito forte, e essa realidade, somada à capilaridade que acumulou ao longo dos anos, fará com que sua hegemonia dure por muito tempo.”

O presidente do PSTU-RJ, Cyro Garcia, autor do livro PT: de oposição à sustentação da ordem, discordou de Singer quanto ao momento da mudança do caráter do PT. Para ele, a transformação do partido em uma agremiação “da ordem” começou a ocorrer em 1988, quando conquistou as eleições em várias cidades importantes do país.

“A partir daí, o PT passa por um processo de profunda burocratização – incrusta-se no aparato estatal burguês. O Congresso do partido de 1991 consolida um projeto reformista. Em 1992, expulsou a Convergência Socialista por defender o ‘Fora Collor’, avaliando que o mesmo tipo de mobilização poderia ser usado contra o Lula em seguida, pois tinham a esperança de que ele ganharia em 1994. Em 1994, passa a aceitar doações de pessoas jurídicas. A Carta ao Povo Brasileiro é o corolário dessas mudanças. O PT abandona o caráter classista e passa a defender o ‘cidadão’”, analisou.

Para Garcia, o PT tinha um caráter mais classista que radical, já que era formado por setores da Igreja Católica, grupos que haviam participado da luta armada contra a ditadura, organizações trotskistas e, sobretudo, o novo sindicalismo.

“O slogan de campanha era: ‘Vote no 3, o resto é burguês’. Sua característica principal era a ruptura da ordem.” Segundo o integrante do PSTU, o partido obteve um crescimento eleitoral progressivo ao longo da década de 1980 sem fazer concessões, contrariando, de acordo com ele, a tese de que uma agremiação de esquerda precisa ceder espaço para a burguesia se quiser ganhar eleições.

Na opinião de Garcia, o governo Lula se beneficiou de uma conjuntura econômica mundial favorável para executar uma política assistencialista que serviu, segundo ele, para manter a pobreza no país. “É uma política para se locupletar da pobreza. Por isso é o partido dos pobres, para que estes continuem votando no PT. Dá o peixe para que continuem dependentes.”

Segundo o integrante do PSTU, não houve distribuição de renda durante as gestões petistas, mas “concentração de renda”. “Tem muito dinheiro a banqueiros, empreiteiras. Um estudo mostrou que de cada real doado ao PT, as empreiteiras têm um retorno de R$ 8,50. É um investimento tranquilo, não é mesmo?”

Em sua exposição, o psicanalista Tales Ab’Saber explicou os principais eixos do seu livro Lulismo, cultura pop e cultura anticrítica. Segundo ele, as gestões petistas deram um passo na direção do favorecimento dos grandes grupos econômicos, estabelecendo um pacto social entre os extremos e uma inclusão social por meio do consumo. “Consumo como centro da própria subjetivação social e política”. Para Ab’Saber, “Lula comandou um grande processo de aceitação da hegemonia do mercado”.

“Houve uma celebração do aquecimento econômico, que pouco alterou a condição de vida concreta. O lastro real deve ser encontrado na expansão brutal das commodities brasileiras e na descoberta de novos campos de petróleo, que se traduzem em negócios futuros garantidos”, opinou. Para ele, após a eclosão da crise econômica internacional, o governo Lula passou a ser visto como um modelo conservador que pode reorganizar uma retomada do capitalismo.

“Por isso o Obama chamou o Lula de ‘o cara’. É um modelo edulcorado pela redenção do PT às práticas tradicionais. A gestão política foi entregue à direita política”, defendeu. Para Ab’Saber, toda essa política foi mediada pela figura carismática de Lula, um “ídolo pop”.

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Comentários

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Pitagoras

Fiz bem em rasgar minha carteirinha do PT. O PT atual é uma caricatura grotesca do que foi em sua origem.

Marcelo de Matos

O que os intelectuais da USP e outras universidades públicas, bem como blogueiros e jornalistas de esquerda por aí mais gostam de fazer é criticar o PT. Não resolve nada criticar: nós, simpatizantes do PT, não vamos mudar. É melhor irem cuidar das campanhas de seus partidos e melhorarem a performance de Anaís, Ana Luísas e Marinas Silva. O PT já fez a sua escolha e pronto. O dia que um partido desses vencer a eleição presidencial poderá concitar os análogos a seguirem seus conselhos.

Marcelo de Matos

Claro como água: para participar de eleições com possibilidade de chegar ao poder o partido político tem de aceitar as regras do mercado. Do contrário poderá continuar com o discurso revolucionário, desde que não represente ameaça de ruptura. O PT não poderia assinar a Carta aos Brasileiros, comprometendo-se a acatar as diretrizes das entidades da “sociedade civil” (leia-se Fiesp/Febraban) e fazer de conta que não assinou. O PCdoB, por exemplo, não mudou totalmente o discurso, mas, mudou a prática: em Campinas, por exemplo, fez coligação com PSB, DEM e PSDB. PSOL e PSTU conservam o discurso revolucionário, mas, com inexpressivo apoio eleitoral não representam ameaça ao sistema.

Djalma

Sobre o comentário Ab’Saber – escrevi ontem e mais uma vez fui censurado.
Realmente, é proíbido falar a verdade, falar contra o sistema, o processo, dondo concluo que todo blog, é faccioso(parcial)

Julio Silveira

Minha teoria é de que o PT vinha crescendo na preferência popular por força de como propagandeava a forma de conduzir a politica, que pretendiam para o País. Mais cedo ou mais tarde iriam conquistar amplos setores da cidadania. O que aconteceu é que venceram o debate interno os personagens que optaram por copiar suas antiteses politicas de discurso. Os que priorizaram o poder acima da renovação da cultura politica. Trocaram os revolucionarios pelos imediatistas, os oportunistas, personalistas egoistas. Não pensaram o Brasil, me desculpem quem pensa o contrário. De uma certa forma hoje os discursos tucano e petista estão muito parecidos, e ainda que sob disfarce proclamem-se deferenças, a busca pelas parcerias entre o que de mais retrógrado produz e produziu a politica brasileira já confirma isso. Diga-me com quem andas que te direi que és ou podes ser. Isso serve para discursos criticos, mas não vale quando se quer sofismar sobre si mesmo. De fato, o que o PT fez mesmo foi um grande mal as esquerdas. Por que tirou dela a confiança numa esquerda feita de gente sincera, de gente com carater e ética. Levou todos para a vala comum, adotou o é dando que se recebe, e ainda que produzam alguns beneficios a cidadania prejudicou a sociedade como um todo, transformando-a numa sociedade de hipocritas, onde a regra vendida é não acreditar na sua construção por gente integra, apenas meio integra, meio qualquer coisa como se isso existisse. O inverso do revolucão de verdade, mesmo daquelas teóricas, que se pretendia. Quando falo revolução não me refiro a pegar armas para fazer valer ideias, me refiro áquela que deixa legado cultural que se incorpora as necessidades e se tornam vitais para dar direção a sociedade.

    Julio Silveira

    Concluido o raciocinio: O PT continua reproduzindo a cultura tupiniquim e a republica de bananas.

O_Brasileiro

PT: o primeiro partido brasileiro simultaneamente ELITISTA e POPULISTA!

    Marcelo de Matos

    PT não: PTB, de Getúlio Vargas.

Ricardo JC

Eu gostaria de saber se, de fato, os ilustres debatedores defendem que o PT seja o partido a comandar a ruptura? Quero que os que defendem a ruptura vão às ruas e proclamem suas ideias… e que consigam os votos necessários para realizá-la. Porque o que vejo, até hoje, é que o povo brasileiro não está disposto a enfrentar esta situação. Não adianta dizer que há uma despolitização geral, o que até concordo, mas não sou daqueles que acha que o povo não sabe votar. Sabe sim…e sabe muito bem escolher aqueles que defendem suas ideias e vontades. A verdade é que se o PT mantivesse suas ideias iniciais intactas até hoje, possivelmente o PSTU e o PSOL não existissem. E certamente, não teria chegado ao poder…para realizar pelo menos uma parte da obra que prometeu. Estaríamos até hoje sob a batuta de um PSDB ou um DEM da vida, o que nos levaria ainda mais para o fundo do poço. Não adianta teorizar. A realidade é dura. Sem concceder, nada feito!!!

    Roxane

    Boa analise ,concordo com você.

    Marcelo de Matos

    Idem, idem.

    francisco.latorre

    sem dúvida.

    ..

    xacal

    Ricardo JC, concordo e acrescento:

    A tese da “despolitização” é, de fato, uma construção ideológica que serve a dois extremos do espectro político brasileiro contemporâneo:

    01- A direita, que acha que a Democracia seria melhor sem o “povo”, onde suas decisões são tachadas de “manipuladas”, ou “fisiológicas”, como se o esbaldamento em favores fiscais, incentivos e “escolhas gerenciais” dos serviços estatais, como a segurança pública que protege os ricos e mata os pobres, para atender a classe média não fossem uma espécie “polida e diluída” de “fisiologismo”, ou seja, voto em quem me favorece, e não em quem favorece a coletividade.

    02- E infelizmente, a esquerda sectária, que se sentiu traída quando o PT teve que enfrentar uma decisão crucial: continuar a crescer, ampliar seu capital político para além da agenda moralóide neoudnista, e do apoio incondicional aos reclames corporativos de categorias mais fortes e organizadas e funcionários públicos. Os chamados “esclarecidos” da classe média, que hoje, decadente, engrossa o caldo de valores culturais políticos conservadores e segregacionistas. Estes, por motivos diferentes, entendem que o “povo” precisa ser guiado pela vanguarda esclarecida (e despótica).

    Não me interessa muito neste debate o que pensa o pessoal do Millenium.

    No entanto, precisamos entender o fio condutor das críticas de esquerda, por dois motivos:

    a) Funcionam como um um grilo falante, ou um relógio quebrado e parado, que por duas vezes no dia marcam a hora certa. Assim, temos que aproveitar o debate para encaixar o lulopetismo em uma rota que não permita retrocessos, e mais: que não se acomode na agenda economicista re-distributivista.
    Há estruturas conservadoras que debem ser tocadas, e sem cumprir esta tarefa, não há modernização do Estado brasileiro, onde funcionaremos como “band-aid” em cortes arteriais. É só ver a estrutura normativo-jurídica, o aparato de persecução criminal (polícias), a completa separação de religião e Estado (que por aqui, por motivos óbvios, ainda não se deu, mas pelo jeito, em quase lugar nenhum), etc, etc.

    b) Como efeito deste tópico anterior, é preciso incorporar os setores mais ariscos da esquerda, para que sua contribuição possa sempre incomodar o governo em sua zona de conforto.

    De resto, o resto é propaganda.

    Em um debate como este, Cyro e o psicanalista, os debatedores querem algum espaço para marcar sua posição nos joguetes de hegemonia no qual estão inseridos, principalmente o pessoal do Conlutas.

    Eles elevam o tom, mas no íntimo sabem que mudar 502 anos de exclusão e acordos por cima não se dará no primeiro ciclo de poder.

    A não ser, como você disse, que peguem em armas e façam o assalto ao palácio de inverno…

    putz, no Brasil até isto é complicado….um calorão danado, e dá uma preguiiiiçaaaa….

enio

O “mal” que lula provocou no país foi ter deixado alguns acadêmicos sem voz e sem razão. Criticam e querem empurrar goela abaixo uma sociedade idealizada em torno de belos jantares e salas com ar condicionado (nada contra, por favor, mas só isso não dá). São figuras que detonam uma praga originária dos ditos acadêmicos uspinianos e é bem típica de um país de origem escravocrata: o imediatismo descolado da realidade, formado pelos manuais teóricos e que deve ser conduzido por seres fenomenais. São cínicos a procura de um porto seguro, o PIG, para brandear o cocô recuperado do Tiete e marginais.

Julio Silveira

Para aqueles que acham justificavel métodos no minimo esdruxulos em nome da alguma justiça social, devo dizer que Robim Hood, em qualquer cultura é considerado criminoso.

fernando cerdeira

Apesar das críticas de esquerda, de direita e do centro os governos de Lula e Dilma, até agora, conseguiram avançar seguindo a máxima “Brasil, um país de todos”.
Conseguiram, até agora, distribuir a riqueza sem derramamento de sangue.
Ouvimos falar de brasileiros adquirindo imóveis nos Estados Unidos mas observamos muitos pobres melhorando de vida.
Esta conquista incomoda muita gente mas, sinceramente, torço para que tudo continue neste caminho.

Fernando Noruega

Existe uma esquerdinha besta, cujo rosto é esse tal de PSTU, que não conseguiu avançar teoricamente além dos pejorativos e discursinhos infantilizados de diretor de grêmio estudantil. É só ver o conjunto vazio que é a fala desse tal de Cyro Garcia. Me irrita profundamente ver um adulto utilizando a palavra ‘burguês’ para descrever um fenômeno tão complexo quanto o aparato burocrático estatal.

Se substituirmos os termos retóricos que sinalizam ‘sou de esquerda’, essa fala dele poderia estar na boca do Merval tranquilamente. Muito diferente do Ab’Saber e do Singer, que sabem fundamentar um raciocínio. Aliás, sabem raciocinar. Esse PSTU sempre foi uma vergonha.

Nelson

E essa “hegemonia do mercado” é um preceito bem neoliberal e o governo Dilma segue a aceitando, impávido, haja vista as privatizações das rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.
Hein? O que?
Ah! Entendi. Desculpem, eu deveria ter sido mais cuidadoso; não se trata de privatizações mas de concessões.

Ricardo Lima Vieira

Olha, com todo o respeito ao Ab’Saber, mas como ele vem falar em inclusão social por meio do consumo, como se estivéssemos no etéreo? Ele convive com gente que há pouco tempo: sobrevivia catando lixo na rua?; dando sopinha pra família porque o salário não foi suficiente?; prostituindo-se pra ter arroz e feijão no prato?; ora… O governo do PT é cheio de erros, mas o conjunto de sua atuação é bem-intencionada – ao contrário dos “nossos” conservadores, que além de conservadores, não têm a minima pecha em agir de modo excludente (mídia grande incluidíssima nisso) – levando milhões ao patamar de seres humanos com vida material minimamente digna. Garantido o material podemos e devemos partir para voos mais altos no aprimoramento espiritual, cultural etc. Mas, caramba, alguém tem que dar o primeiro passo, e foi dado, depois de 502 anos de exclusão quase absoluta!

Roberto Locatelli

Considero que o PT ainda é um partido que tem laços fortes com o movimento de massas. No entanto, é vero que ele deixou de ser o partido das transformações sociais para se tornar o partido que quer administrar o estado burguês com um jeitinho mais social. O que não é pouca coisa!

A mudança organizacional mais à direita foi a extinção dos chamados Núcleos de Base, que eram as raízes do PT no mopvimento popular. Esses Núcleos é que mantinham o PT à esquerda, quando sua direção já não era tão esquerda assim.

Entendo que, na configuração de forças que temos, a atitude mais coerente daqueles que propõem a superação do capitalismo, é militar no PT mas, ao mesmo tempo, ser crítico em relação às opções político-econômicas da direção do partido.

    Julio Silveira

    Prezado Locatelli, se fosse só isso eu ainda estaria firme na defesa do Partido. O que me fez rever minha posição foi o fato de terem aderido ao modus operandi e isso, amigo, para mim é imperdoavel.

    xacal

    Julio,

    Não posso deixar de considerar sua posição relevante, mas me permita discordar.

    Também tenho estas críticas ao “modo de operação” do PT, que parece ter sido incorporado.

    No entanto, sem ser fatalista, eu pergunto:

    Há acúmulo de forças no cenário político institucional brasileiro (sem as bobagens udenóides da revista “óia”, e outros guetos) para que o PT haja diferente?

    E não digo apenas nos desvios criminais, que devem ser punidos severamente, embora eu ache que a ampliação de seu significado como arma de propaganda política acabe por matar a própria política.

    Falo da estrutura normativa e do estamento ideológico.

    Eu vi a marina(joana d’arc da floresta) embarcar nas teses tea party verdes e com isto embaralhou o jogo em 2010.

    Como o PT pode influenciar as escolhas para a composição de forças no parlamento,por exemplo, sem ceder a tentação de “soluções de força”?

    Então fazemos como? Nos isolamos como freiras em um bordel? Não remeto ao vale-tudo, um “liberou geral”, mas é preciso identificar onde este nosso auto-flagelamento ético-moral não é muito mais uma culpa incutida pela mídia e seus patrões, que são na verdade os donos do bacanal no culto ao deus-mercado.

    O problema não é o PT aderir ao jogo, mas se acomodar em não querer mudar as regras. Mas isto, só podemos fazer jogando.

Darcy Brasil Rodrigues da Silva

Creio que nesse debate faltou, pelo menos, três outras opiniões. Das três posições mostradas, para confirmar as nossas expectativas, a de Cyro Garcia é, de longe, a mais subjetivista, mas desprovida de coerência.A afirmação de que o governo Lula rendeu-se aos grandes grupos econômicos precisa ser traduzida para o “pstuês”, que afirma acreditar ser possível bater de frente com o capitalismo independentemente da correlação de forças, das condições objetivas e,menos ainda, das subjetivas. O PSTU menospreza a necessidade de se acumular forças a partir dos movimentos sociais,mobilizando, organizando e elevando o nível consciência das grandes massas populares, e com paciência revolucionária.O PSTU atua nos movimentos sociais com permanente propósito conspirativo. Nesse sentido, não se permite o tempo necessário à educação política do povo, por ele visto como a palha sem vida,ou como a “pólvora” que não é capaz de pensar, mas é capaz de agir (de queimar, explodir), como massa de manobra,enfim, pronta a seguir os guias espirituais “revolucionários”, que se vêem como “centelhas” . Não importa se a massa será usada, induzida a ir contra a sua vontade pelos manipuladores “revolucionários”; nesse caso, “os nobres fins justificam os condenáveis meios”. “Para que esperar anos e anos a educar pacientemente grandes contingentes populares? A revolução sempre esteve logo ali ao alcance de nossas mãos. Não fossem esses “traidores dos trabalhadores””…Cyro Garcia afirma que a Convergência Socialista foi expulsa por defender o “Fora Collor”. Isto é uma inverdade. A Convergência atuava dentro do PT para além da crença, assumida pelo PT como seu grande princípio diferenciador, na possibilidade de convivência interna com a pluralidade de correntes. Para a CS o PT poderia ser assaltado por dentro, transformado em uma espécie de PSTU. Seus militantes atuavam dentro do PT, tal como atuam em qualquer entidade de massa,mais uma vez de forma conspirativa, desrespeitando a democracia interna . Disto decorreu sua expulsão.
Já análise econômica de Ab’Saber é bem psicanalítica. Em verdade, do ponto de vista econômico se atribui a Lula algo que este houvera herdado de FHC. A desindustrialização que se verifica nesses últimos 12 anos é produto da privatização desnacionalizante combinada com a desregulação de mercado promovida pelos governos neoliberais. O erro dos governos Lula foi não ter planejado e implementado uma reversão desse processo, definindo setores estratégicos, debatendo com a sociedade a necessidade de que estes setores sejam controlados pelo Estado, para, em seguida, poder rever as entregas efetuadas pelos governos dos dois Fernandos, ao mesmo tempo em que se definia políticas públicas visando assegurar o domínio das novas tecnologias que se configuram, investindo massivamente em inovação e atraindo empresas estrangeiras com base em novos contratos, asseguradores de transferências tecnológicas em médio prazo, tal como vimos a China implementar.
Quanto a análise de Singer, ela é em parte correta. Mas ao concordar com isso, primeiro confirma-se uma crítica que afirmava que o PT sempre foi,desde sua origem, muito menos original do que supunha, posto que outros partidos como a social-democracia alemã e o Partido Trabalhista inglês fundaram-se com o mesmo espírito e degeneraram-se progressivamente, até converterem-se no seu contrário.Assim, a base social inicial de sustentação do PT foram os trabalhadores que, pela sua situação econômica e pela ideologia que os empolga, pertenciam às classe médias, também chamadas por outros de pequena-burguesia. Até mesmo suas bases operárias, proletárias, concentradas na região do ABC,pertenciam a chamada aristocracia operária,ou seja, aquela parte do proletariado que recebe salários bem acima da maioria dos trabalhadores.Atualmente, também é fato, que essas classes médias estão a se afastar do PT, tendendo cada vez mais a migrar seu voto para o Psol. Porém ainda não se sabe ao certo qual é a sua disposição de substituir a parte do PT militante, que se organizava dentro dos sindicatos e dos movimentos sociais.
Por outro lado, a substituição do PT pelo “lulismo” equivale a substituição dos setores organizados e mobilizados em torno de um partido, por setores mobilizados em função de sentimentos de satisfação daquilo que consideravam ser um sonho: o seja o desejo de consumir determinados bens que desfilavam apenas nos intervalos dos programas da televisão comercial e não figuravam no carrinho de compras do supermercado. Até aí Saber está certo. Erra por não compreender que uma estratégia fundada no crescimento com distribuição de renda não é incorreta. Pode ser bastante efetiva em processo de desenvolvimento das forças produtivas. O grande problema é nó deixado pelo neoliberalismo,por mim já citado: a privatização desnacionalizante, que faz com que o aumento do mercado interno viabilize remessas colossais de lucros, inibindo a nossa capacidade de poupança interna.
O outro grande problema é que tais simpatizantes do PT o são não por reconhecer no seu programa um caminho que deveria ser perseguido pelo nosso país para que o Brasil se convertesse em um país democrático, soberano , desenvolvido e independente, mas apenas por razões economicistas, agravadas pelo fato de os meios de comunicação de massas estarem sob o controle das elites e também por ter a militância do PT abandonado as tarefas de organização, mobilização e educação política do povo, assinalando talvez uma provável mudança de objetivo político, em que se rejeita o socialismo tal como deve ser, ou seja, como um sistema que substitui o capitalismo, para valorizar o Estado de Bem Estar Social, ou seja, um regime político típico ao capitalismo,possível de ser realizado apenas em momento de fartura de mais-valia” em que a burguesia se permite repartir algumas sobras de seus lucros para programas sociais.
Por se ter afastado tanto do propósito de lutar pelo socialismo como da tarefa de organizar e politizar o povo, o “lulismo” é um momento histórico de grande instabilidade, ao contrário do que supõe Singer, em minha modesta opinião. Qualquer projeto de transformação da sociedade em um país como o Brasil jamais será factível sem a participação consciente do povo, sem que siga algo similar ao que assistimos na Venezuela. Talvez a grande realização de Chaves em seu país tenha sido o legado cada vez maior de participação popular. O tempo de superarmos essa gravíssima fragilidade no plano subjetivo da luta está por se esgotar. A esquerda necessita urgentemente regressar com força para os movimentos sociais , vistos como centro de sua atuação. O governo precisa também imperativamente tomar medidas audaciosas que retirem das elites a capacidade de pautar a luta política e ideológica, através do controle dos meios de comunicação de massa. Setores estratégicos entregues pelos governos neoliberais precisam ser retornados ao Estado, por meio de medidas audaciosas como a que assistimos na Argentina, sem que isso represente um litígio com o setor privado. O Brasil, como a China, ainda tem muito capitalismo para percorrer. Se assim é, que o seja também como a China, de forma soberana, independente, com distribuição permanente de renda e focalizando uma inserção internacional soberana e solidária como participante da luta contra a globalização unipolar imperialista.

Bertold

Aff,já enjoei há muito tempo de trololós e sofismas. Quando esses manés vão compreender o que é a filosofia da praxis?

    francisco.latorre

    praxis?..

    pra essa turma aí?..

    nunquinha.

    esses. vivem a esfera do desejo.

    realidade?.. ora realidade.

    ‘eu sou eu. nenhuma circunstância.’

    manés. disse bem.

    ..

    devaneios. metafísicos.

    cansei descansei cansei de novo.

    ..

FrancoAtirador

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“O Islã é um câncer”, diz diretor de filme que revoltou islâmicos

Do Opera Mundi

“O Islã é um câncer e ponto final”, afirmou nesta quarta-feira (12/09) o diretor do filme que provocou manifestações de repúdio nas embaixadas dos Estados Unidos na Líbia e no Egito, em entrevista ao jornal britânico The Guardian. Esta é a ideia que deu base à produção milionária A Inocência dos Muçulmanos que compara os islâmicos a um burro e mostra o profeta Maomé tendo relações sexuais com diferentes mulheres.

Escondido em um lugar não identificado, Sam Bacile continuou a provocar os fiéis do Islã. O norte-americano, que prefere se identificar como um israelense judeu, acredita que o filme vai ajudar o Estado judeu a dominar o território da Palestina por mostrar as falhas do Islã ao mundo.

“É um filme político”, disse ele ao descrever a sátira islamofóbica, que foi financiada por mais de 100 doadores judeus e custou US$ 5 milhões. O filme de duas horas foi filmado ao longo de três meses na Califórnia e utiliza atores amadores.

Apesar do trailer de A Inocência dos Muçulmanos ter sido divulgado em julho por meio do YouTube, o filme só conquistou a atenção do público depois de ganhar legendas em árabe na semana passada. Desde então, milhares de pessoas assistiram à versão, aprovada pelo diretor, e uma emissora egípcia chegou a reproduzi-la.

Em apenas 13 minutos, o trailer mostra, de um jeito cômico, muçulmanos atacando uma cidade e todos aqueles que possuem religião diferente, incluindo uma bela garota com uma cruz no peito. Em outras cenas, o profeta Maomé é chamado de “bastardo”, briga por um pedaço de carne com uma de suas esposas, aparece sem cuecas e faz sexo oral em uma mulher.

O filme provocou a ira de centenas de islâmicos que protestaram nesta terça-feira (11/09) em frente à Embaixada dos EUA no Cairo, capital egípcia, e ao consulado do país em Bengazi, segunda maior cidade da Líbia. Em decorrência dos protestos, o embaixador norte-americano na Líbia, J. Christopher Stevens, e outros três funcionários morreram, segundo informaram autoridades dos EUA e do país nesta quarta-feira (12/09).

A Inocência dos Muçulmanos, no entanto, conquistou o apoio de Terry Jones, pastor norte-americano, que pretende transmitir o filme na próxima quinta-feira (13/09) em sua igreja, na Flórida. “É uma produção norte-mericana, não foi feita para atacar os muçulmanos, mas mostra sua ideologia destrutiva”, disse ele, que foi responsável por queimar dezenas de cópias do Alcorão, livro sagrado do Islã.

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    FrancoAtirador

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    ” Eu me pergunto como isso pode acontecer
    num país que ajudamos a libertar,
    numa cidade que ajudamos a salvar da destruição? ”

    (Hillary Clinton, Secretária de Estado dos EUA)

    FrancoAtirador

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    EUA retiram funcionários de Benghazi e reduzem equipe em Trípoli

    Por Arshad Mohammed e Andrew Quinn, da Reuters

    WASHINGTON, 12 Set – Os Estados Unidos retiraram todo o seu pessoal de Benghazi até a capital líbia e reduziram sua equipe na embaixada em Trípoli devido a níveis não especificados de “emergência”, informou uma importante autoridade norte-americana em teleconferência.

    O embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens, e três outros funcionários da embaixada foram mortos na terça-feira quando deixavam às pressas o prédio do consulado norte-americano em Benghazi em meio a um ataque em represália a um filme de produção norte-americana considerado um insulto ao profeta Maomé.
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    FrancoAtirador

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    Chefe do Estado-Maior dos EUA pede para pastor retirar apoio a vídeo

    Por Phil Stewart e David Adams, da Reuters

    WASHINGTON, 12 Set – O general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, falou com o pastor Terry Jones por telefone, nesta quarta-feira, e pediu que ele retire seu apoio ao vídeo que retrata o profeta Maomé e motivou protestos violentos, incluindo um ataque que matou o embaixador dos EUA na Líbia.

    “No breve telefonema, o general Dempsey expressou sua preocupação com a natureza do filme, as tensões que isso vai inflamar e a violência que vai causar”, disse à Reuters o coronel Dave Lapan, porta-voz de Dempsey.

    “Ele pediu ao sr. Jones que considere retirar seu apoio ao filme”, acrescentou.

    Autoridades militares dos EUA estão preocupadas que o vídeo possa inflamar os sentimentos anti-americanos no Afeganistão, onde 74 mil soldados norte-americanos estão em combate.

    Nesta quarta-feira, o Taliban pediu aos afegãos que se preparem para um combate contra os norte-americanos e exortou os insurgentes a buscarem “vingança” pelo vídeo.
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FrancoAtirador

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CRÔNICA DE PORTUGAL
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O “coiso” e o empreendedorismo

Revolta-me.
O desânimo à minha volta e a colar-se a mim.
A etiqueta de obrigatoriedade que se grudou ao empreendedorismo,
qual fórmula mágica capaz de salvar o mundo…
Talvez seja hora de perceber que a receita está errada.
Que a ideologia do cada um por si e o Estado só por alguns
nos vai levar à ruína. Que já nos está a levar à ruína.

Por Mariana Correia Pinto*, no P3

Uma boa ideia pode dar um bom negócio. Mas o mais provável é que não dê. Uma boa ideia pode conseguir aplausos do Governo, apoio comunitário, financiamento de empresários altruístas. Mas o mais provável é que isso não aconteça. Isto é um artigo de opinião, mas aqui há factos: em 2011, só 0,5% dos desempregados arriscou criar o próprio emprego, o que significa que quase todos ficaram quietinhos na sua zona de conforto.

Entretanto, o “coiso” não pára de crescer e nós, portugueses preguiçosos, não temos mesmo jeito nenhum para esta ‘coisa’. Perdão, para o D. Sebastião-salvador-da-economia-mundial, o empreendedorismo.

Mas valha-nos a juventude. Valha-nos a geração mais bem preparada de sempre, a do mundo global. Falamos inglês e temos internet, fazemo-nos ouvir nas redes sociais. E temos licenciaturas, mestrados, pós-graduações e doutoramentos. Estudamos fora. Emigramos. Perdão, internacionalizamo-nos.

Um dia, quem sabe, havemos de salvar o mundo. Mas para já não. Para já não temos emprego, não sabemos o que é um contrato. Vamos trabalhando “a projecto” – uma ironia, nós que nada podemos projectar ou programar.

O que mais me revolta na crise são os buracos que ela cria. Revolta-me, por exemplo, que me tenha levado os amigos – os que tiveram mais sorte foram para Lisboa (onde ainda se vê uma luz bem fraquinha no fundo do túnel), os mais decididos atravessaram o mundo. Outros voltaram a casa dos pais, cheios de talento e vontade de trabalhar, mas uns preguiçosos, está claro, incapazes de criar o próprio emprego.

Quando a minha amiga viaja da terrinha até ao Porto nós já não vamos ao cinema, nem ao teatro, nem almoçamos ou jantamos fora. Fazemos qualquer coisa “low cost” lá por casa e vemos séries ou filmes via “web”, que em boa hora os pais ofereceram, já que a tv só tem quatro canais e apenas um nos vai valendo.

A minha amiga não tem emprego e não pode criar a própria empresa. O trabalho, que devia ser um direito, tornou-se numa variante psico-económica de depressões generalizadas. Ela aguenta-se. Tem tanto talento que me recuso a acreditar que isto não seja passageiro (espero que ela se recuse comigo).

Os nossos governantes lavam as mãos, as mesmas que estendem a bancos e que retiram aos que mais precisam.

Revolta-me.
O desânimo à minha volta e a colar-se a mim.
A etiqueta de obrigatoriedade que se grudou ao empreendedorismo, qual fórmula mágica capaz de salvar o mundo.
A etiqueta que se descolou do Estado, como entidade com obrigação de fazer rodar a economia.
Talvez seja hora de perceber que a receita está errada.
Que a ideologia do cada um por si e o Estado só por alguns nos vai levar à ruína.
Que já nos está a levar à ruína.
Portugal tem um milhão de desempregados, 154,4 mil com menos de 25 anos. Em 2011, cerca de 150 mil terão emigrado.
Por dia, 100 jovens desistem do ensino superior.

Apetecia-me citar Saramago.

(“Privatize-se tudo,
privatize-se o mar e o céu,
privatize-se a água e o ar,
privatize-se a justiça e a lei,
privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho,
sobretudo se for diurno e de olhos abertos…
E, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.”)

Mas não vou fazê-lo.

*Mariana Correia Pinto é jornalista do P3.

http://p3.publico.pt/actualidade/economia/3260/o-coiso-e-o-empreendedorismo

Vê também:

// Desemprego histórico entre os jovens não descerá antes de 2016
// Taxa de desemprego jovem voltou a crescer e está nos 36,2%
// Empreendedor por necessidade
// Para combater o desemprego jovem é preciso “educar para o empreendedorismo”
// “Conversa do empreendedorismo é um discurso muito perigoso”
// Bruxelas garante que não há mais verbas para combater o desemprego jovem
// “Austeridade obsessiva” põe em causa 37 anos de democracia
// Governo está a tentar dar um “ar respeitável” à precariedade
// Líder da JSD diz que combate ao desemprego é “questão de fé”
// Governo promete medidas de combate ao desemprego jovem
// Isabel Moreira é a deputada irreverente lá no meio do PS

Francisco

“Houve uma celebração do aquecimento econômico, que pouco alterou a condição de vida concreta.” (Ab’Saber).

Parece que o Ab’Saber já tinha casa própria antes de Lula chegar ao poder. Sendo assim, para ele, nada “mudou”.

Para mim, mudou muito. Digo mais: se a tal “mudança” fosse uma ilusão de ótica, o PT já estaria no paredão como “bolchevique” há muito tempo. O êxito petista o salva da prisão e do exilio.

Amplos setores da classe operária melhoraram o consumo, alguns passaram a “classe média” e uns poucos a pequenos-burgueses. Normal. A novidade real que não vi ninguém mencionar é um imenso lumpem tornado classe trabalhadora não marginal. Isso é novidade.

O que não é novidade é o PSTU, PSOL, PCO, acadêmicos e pequeno-burgueses em geral constatando que existe um segmento politico obreiro com grana no final do mês para ler/conhecer Bakunin, Marx, Trotsky, Gramnsci ou Ianomamis e tudo o que consegue fazer é… analisar.

Os filosofos, dizia alguém bem mais sábio que eu, analisaram o mundo de diferentes formas. O barato, dizia esse cara, era tranforma-lo. A mulher brasileira é campeã de tomar porrada de marido, o negro brasileiro é campeão de levar desaforo para casa, a nossa república é campeã de crucifixo em repartição pública e a nossa classe trabalhadora é campeã de encolher os ombros e suspirar: “Que jeito!”.

As universidades estão mais cheias de filhos de trabalhadores brasileiros. Gente jovem, sensata (porque filho de pobre…), querendo engolir o mundo e o seu saber. Isso deveria ser um banquete!

Não é. Essas agremiações politicas “ganham corrações e mentes” mirando para o cotista e o “estudante parido de Lula” e exclamando: ” – Por sua causa as federais estão cheias! Por sua causa, você aqui, está sobrando!”.

Querem mesmo fazer revolução? Boa sorte… Eu prefiro me perguntar: de onde será que esse imenso povo simples e marrom tirou esse fantástico senso de estratégia politica?

    Fernando G Trindade

    Prezado Francisco,

    Parabéns! Você escreveu o que eu gostaria de escrever. Análise objetiva e correta bem distante do idealismo metafísico e elitista de Ab’Saber, que parece não ter aprendido que Freud era materialista.

Alberto Nasiasene

É fácil para um psicanalista que nunca amassou barro e não faz análises de favelados em suas terapias, analisar a realidade histórica categoricamente. Tudo bem, ele não é obrigado a se confrontar dia a dia com o sofrimento da exclusão ao simples consumo básico na sociedade capitalista e pode se contentar com o discurso de esquerda para uma plateia universitária (alguém paga as contas dele para ele ter o padrão de consumo que tem, além disso, o sobrenome dele já dá acesso a uma clientela e a um universo que é negado para o João da Silva na favela ou na cidadezinha do sertão nordestino).
Para ele seria melhor que o PT tivesse ficado presa do discurso trotisquista radicalista e retórico de um PSTU (tem gente que faz a vida assim, nos sindicatos por eles controlados, nos partidos e movimentos; mas, na hora hagá, fogem, vão para o exílio na França, onde está a sede da Quarta Internacional, não?…), quando o PSTU era parte do PT, através da tendência autodenominada Convergência Socialista? Interessante seria ver o império do norte em guerra declarada contra nosso povo só para estar ao lado da verdadeira doutrina anti-capitalista?…
Depois de milhões de mortes, por bombas mil e fomes consequentes, quem sabe, os que sobrevivessem num futuro que ainda não é possível para Cuba, viveriam uma sociedade trotisquista ideal.
Mera questão de religião secularizada que chamam de ideologia? Cada um tem a sua (mas não precisa ser tão ao pé da letra nos textos marxistas do século XIX e início do século XX…). Mas para o Zé Povinho, poder comprar pelo menos uma pequena parte do que o Ab’Saber pode comprar é mais importante do que comprar e ler o livro que ele escreveu para agradar um determinado público consumidor de suas ideias. Fácil falar de cátedra sobre o sofrimento popular em nome de um ideal qualquer (mas qual, o de Freud?).
Quanto aos argumentos do PSTU em, si mesmos, é inútil sequer contra-argumentar com quem crê em uma Revolução à la Trotisky que nunca aconteceu concretamente na história (nem na Russía, nem na China, nem em Cuba). Trata-se de uma seita marxista que vive em seu universo fechado; imune à análise concreta, proposta pelo marxismo, ao longo de todo o século XX, das possibilidades históricas presentes em um determinado horizonte histórico pós-Revolução Russa de 1917 (a começar pelos delineamentos de Gramisci que eles sequer conhecem).
O PT não se propôs, desde o início, ser um partido comunista ou marxista, mas um partido de trabalhadores com alianças com setores de esquerda, mas na perspectiva da transformação concreta da sociedade em torno de alguns princípios básicos que são a da inclusão de amplas parcelas da sociedade em um padrão mínimo de vida aceitável em pleno século XXI.
Bem ou mal que tenha sido, o PT sempre se insurgiu contra o espírito dogmático de partidos ideológicos marxistas tradicionais que estavam mais preocupados com a pureza doutrinária do que com o Zé Povinho em suas lutas cotidianas. Além disso, muitos sabem que socialismo não é a socialização da falta de consumo, mas a socialização do consumo (claro que temos que ir melhorando o próprio conceito de consumo, mas não se pode viver sem consumir, a começar pelos alimentos).

Ely Veríssimo

Há que se lembrar, ainda, o novo “milagre brasileiro” operado por Lula e pelo PT: se na década de 70 o crescimento foi conseguido a custa do endividamento do Estado, no caso do modelo petista esse crescimento é alcançado a partir do endividamento individual. No fim das contas a conta sobra para o mesmo grupo, pois quem pagou o pato da dívida – grande orgulho de Lula- foi o povo mais pobre. Dito de outro modo, nosso modelo de crescimento é baseado no consumo interno, que é sustentado pelo crédito fácil – nem tanto assim – mas muito caro. Um modelo que tem limites claros, mas, que não se pode negar, levou a classe D ao shopping center. O pt vendeu esperança e entregou ilusões…

Olavo Marques

As melhores críticas ao lulismo partem da própria esquerda… Essa é a verdadeira “oposição”.

    Julio Silveira

    Quando o proprio Lula diz não se considerar de esquerda, o que você espera?

    Mário SF Alves

    Nada a estranhar. Exceto pelo fato de que em se tratando de Brasil, um país tão à direita – essa imensa fazenda, onde governante pode, no máximo, se comportar como capataz – onde ser democrata equivale a ser de esquerda, o melhor mesmo, companheiro, é em lugar de elubrações sobre esquerdismos, voltarmos pras ruas e, a exemplo das Diretas Já!, em uníssono, exigirmos Democracia Já!

Julio Silveira

Concordo em parte com o Ab’Saber quando diz que o Lula beneficiou demais o tal mercado, concordo também que nessa contrapartida, com os recursos publicos, os exclusivistas, que sempre se beneficiaram, continuaram se beneficiando. Mas houve uma pequena diferença entre os momentos anteriores e os que os cidadãos passaram a viver após o periodo Lula, que foi um maior acesso a bens antes inimaginaveis para a maioria dos cidadãos. De uma certa forma o Lula conseguiu obter concessões dos exclusivistas, que só pode ser alcançada atendendo a premissa conhecida do é dando que se recebe. Ruim é constatar acima disso pouco ou nada foi feito para que sejam mantidas as conquistas, Não se aproveitou a oportunidade para se produzir uma nova cultura, alem das trocas do escambo para beneficios temporários aos cidadãos. Não houve aprendizado por nenhuma das partes, mantendo o DNA desses grupos intactos, podendo novamente aflorar. Ficamos sem garantias de conquitas definitivas. Para essa gente, que já deram diversas demonstrações de completa falta de sintonia com os interesses da cidadania, sequer com a necessidade de se construir um país competitivo, pode falar mais alto suas caracteristicas culturais, exclusivistas e preconceituosas. Ainda acho que o escorpião que vive dentro deles pode, como naquele conto, mesmo tendo muitos beneficios, destruí-los por ser de sua natureza.

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