Nicolelis: A batalha do Nordeste contra o covid-19 ainda pode ser ganha, mas as brigadas de saúde precisam entrar em ação já; vídeo

Tempo de leitura: 6 min

Casos confirmados no Brasil (à esquerda) e no Nordeste (à direita), segundo dados do Ministério da Saúde. Fonte do gráfico: Comitê Científico do Consórcio Nordeste

por Conceição Lemes

Em 1º de abril de 2020, o Comitê Científico do Consórcio Nordeste publicou o seu boletim 01.

Naquela altura, o Brasil tinha 6.836 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus, o covid-19, e 241 óbitos.

Os nove estados do Nordeste somavam 1.007 casos e 27 óbitos.

Os dados são do Ministério da Saúde.

Nessa terça-feira, 05/05, o Comitê Científico do Consórcio Nordeste publicou mais um boletim, o de número 6.

O Brasil já tinha 114.715 casos confirmados e 7.921 mortes.

Do total de infectados no País, 35.641 (31,1%) estão no Nordeste, assim distribuídos:

Dados do Ministério da Saúde até 05/05/2020

Comparados aos dados do Ministério da Saúde de 1º de abril,  temos em 5 de maio de 2020 crescimento de 1.578% no número de casos confirmados no País e aumento de 3.186% nos óbitos.

No Nordeste, o número de casos cresceu 3.439% nesse período.

Já o de óbitos foi de 27 (em 1º de abril de 2010) para 2.244 (em 5 de maio). Um salto de 8.211%.

Com dois complicadores à vista:

1) Tremenda subnotificação de casos.

“É possível que seja da ordem de 10 vezes. Podemos já ter quase um milhão de pessoas infectadas “, salienta o professor e neurocientista Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste.

2)  Infelizmente, ainda estamos um pouco longe dos picos do número diário de novos casos de covid-19 e de mortes.

Segundo o boletim nº 6  (na íntegra, ao final), do Comitê Científico,  simulações matemáticas realizadas até agora mostram que os picos não serão atingidos antes do mês de junho.

Logo, o pior ainda está por vir.

“Temos que ir já para o ataque nos bairros periféricos das capitais e municípios ainda com menos de 50 casos”, afirma Nicolelis. “É a nossa proposta aos governadores do Nordeste.”

Das 187 sub-regiões do Nordeste, 112 têm menos de 50 casos.

É nessas áreas do Nordeste que a batalha contra o novo coronavírus pode ser ganha.

“Se conseguirmos manter a maioria dos municípios dessas sub-regiões sem explosão de casos, nós vamos ganhar a batalha do Nordeste”, anima-se Nicolelis.

Isso só será possível com a atuação das brigadas emergenciais de saúde in loco, nessas regiões.

Integrada por médicos de família, elas irão às casas das pessoas, para examiná-las e testá-las.

Os nove governadores já aprovaram.

Agora, cada estado  tem que implementá-las, recrutando os “soldados” que atuarão nas frentes de batalha.

Detalhe: as brigadas emergenciais de saúde não atuarão a esmo.

E, aqui, entra o uso do Monitora-Covid-19, aplicativo do Comitê do Nordeste.

Com base nas respostas de 11 mil das 70 mil pessoas que responderam as perguntas do aplicativo sobre sintomas atuais, doenças existentes — as chamadas comorbidades — idade,  sexo, o Comitê Científico já sabe, por exemplo que:

*A doença mais frequente entre os indivíduos é hipertensão. Seguem-se asma e diabetes.

*41,2% não têm fatores de risco capazes de tornar mais grave a infecção pelo covid-19. Já 19,1% são de alto  risco.

* A maior parte (59,3%) é do sexo feminino.


“Essa tecnologia vai apontar os focos críticos, nos permitindo, assim, destinar as brigadas emergenciais e os insumos para onde elas são necessárias”, explica Nicolelis.

“Nós vamos mover a brigada com a mesma velocidade que o vírus nos ataca e onde ele nos ataca”, observa.

“Se tivermos essa primeira linha de defesa, ela vai reduzir dramaticamente a necessidade de sobrecarregar os hospitais terciários, as UTIs das cidades maiores e das capitais do Nordeste”, avalia Nicolelis.

Portanto, senhores governadores, a formação das brigadas emergenciais de saúde é URGENTE,  para ontem!

Afinal, a cada dia postergado mais vidas serão perdidas.

As medidas para implantação das brigadas de saúde, aliás, é um dos pontos tratados no Boletim nº6, do Comitê Científico .

Um boletim revolucionário.

Quase certamente o primeiro plano estratégico (na íntegra, ao final) de combate ao novo coronavírus no Brasil.

Seguem algumas das recomendações contidas nele e já feitas aos governadores do Nordeste.

Manutenção das medidas de isolamento social

O Comitê Científico reitera a necessidade da manutenção do isolamento dos casos confirmados de coronavírus e de distanciamento social, preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS):

São as principais ações para conter o aumento do número de vítimas e não sobrecarregar os sistemas de saúde.

Portanto, é fundamental que governadores e prefeitos ampliem as medidas restritivas de isolamento social e intensifiquem as campanhas de esclarecimento da população sobre o comportamento necessário até que a evolução da epidemia indique que as medidas possam ser flexibilizadas.

Planejamento e critérios quantitativos para lockdown

No popular, trancar as ruas.

Lockdown é quando todas as entradas de determinados perímetros são bloqueadas por profissionais de segurança e ninguém tem permissão para entrar ou sair sem justificativa plausível.

A OMS recomenda o lockdown quando há avanço consistente no número de pessoas infectadas e o sistema de saúde não tem capacidade para atendê-las.

O Comitê Científico recomenda aos governadores e prefeitos do Nordeste que decretem lockdown quando o número de leitos hospitalares tenham superado  80% de ocupação e, ao mesmo tempo, a curva de casos e óbitos seja ascendente.

Regulação das vagas em UTIs

O Comitê Científico recomenda a todos os estados  do Nordeste que estabeleçam procedimentos de regulação dos leitos de UTI, para organizar fila única de acesso da população aos serviços de forma universal e igualitária.

Para o Comitê Científico, a regulação deve incluir leitos do SUS, contratados com entidades filantrópicas e os da rede privada à disposição dos planos de saúde.

Contratação de médicos de família e de intensivistas

Os médicos de família vão integrar as brigadas emergenciais, objetivando reforçar a assistência nas unidades básicas de saúde e a busca ativa de pessoas infectadas e mais vulneráveis, que precisam de medidas mais adequadas de distanciamento social.

Já os médicos intensivistas, além de reforçar a assistência primária nos postos de saúde, vão atuar nos hospitais destinados ao atendimento de pacientes infectados pelo covid-19, devido à falta de médicos especialistas no Nordeste.

Proteção às equipes de saúde

É o item mais extenso do Boletim 6, do Comitê Científico.

Chama a atenção a quantidade de medidas de proteção destinadas a preservar a vida dos profissionais de saúde. Questão de cuidado e respeito.

“É de suma importância que governos estaduais e municipais adotem urgentemente medidas que previnam a transmissão do covid-19 nos hospitais públicos”, enfatiza Nicolelis.

Entre elas, assegurar aos profissionais de saúde Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de qualidade, em quantidade adequada e  em conformidade com os parâmetros técnicos recomendados.

O professor Nicolelis abordou essas medidas no episódio do seu programa Nicolelis Night News, que foi ao ar no final da noite dessa quarta-feira, 06/05.

O vídeo tem pouco mais de 23 minutos.

Nos primeiros dez minutos, o professor Nicolelis fala do boletim e das medidas recomendadas aos  governadores e prefeitos.

Nos outros 13 minutos, ele conta a viagem de um mês que fez com seu filho mais velho, Pedro, a Moscou em 2004. Pedro, na época, tinha 16 anos.

Confira abaixo.


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