Luís Carlos Bolzan: Na busca frenética por lucro e descaso com a vida, genocídio por covid-19 vem a galope no Brasil

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Fotos: Reprodução de vídeo, Marcello Casal/Agência Brasil e Carolina Diniz

“VIDAS INDIGNAS DE SEREM VIVIDAS”

por Luís Carlos Bolzan, especial para o Blog da Saúde

“Bandido bom é bandido morto” é a máxima bolsonarista difundida pelas redes sociais do País ao longo dos últimos anos.

A afirmação encontra eco em diferentes práticas do governo do presidente Bolsonaro.

Desde a tentativa de legalizar o “excludente de ilicitude” no projeto enviado pelo então ministro da Justiça Sérgio Moro, passando pelo descaso diante da propagação da pandemia de covid-19, com recorte especial para os bárbaros presídios brasileiros.

É que o novo coronavírus encontra neles as condições ideais para se disseminar rapidamente entre a população carcerária, com alto risco de morbidade.

Agora, com mais um agravante.

Em meio à pandemia galopante, o Ministério da Saúde fez avançar em silêncio a desassistência à população carcerária, extinguindo o serviço do SUS aos detentos com transtorno mental.

Criado em 2014, no governo da presidenta Dilma Rousseff, chamava-se Serviço de Avaliação e Acompanhamento de Medidas Terapêuticas Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com a Lei.

Foi em 18 de maio passado, dia da luta antimanicomial.

A extinção aponta para a desumanização de pessoas com transtornos mentais pelo atual governo, que, assim como de Temer, ataca a reforma psiquiátrica e todos os serviços substitutivos aos manicômios.

Vale lembrar que o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta (DEM), em consonância com o desmonte da rede de atenção psicossocial, iniciada no governo Temer, também queria rever o funcionamento e existência dos Centros de Atenção Psicossocial/CAPS e ampliar a inclusão  de manicômios e comunidades terapêuticas na rede.

O governo manicomialista que tem um general à frente o Ministério da Saúde militarizado age no sentido contrário ao da humanização do SUS e dos direitos dos usuários.

Nenhuma surpresa, já que o governo Bolsonaro é especialista em atrapalhar o combate à pandemia de covid-19.

Ao desdenhar da pandemia e forçar a retomada da “normalidade” econômica,  estimulando constantemente aglomerações, Bolsonaro impõe dinâmica que beneficia a ampla circulação do novo coronavírus, favorecendo o aumento de casos e óbitos.

Os alvos principais dessas ações de Bolsonaro são as populações com maior vulnerabilidade, entre as quais as moradoras das periferias e das comunidades urbanas.

No dizer de uma assessora do ministro da Economia, Paulo Guedes, seria melhor que os idosos morressem para diminuir impacto previdenciário.

Para o governo Bolsonaro, a mesma lógica se aplica a indígenas, população carcerária e pessoas com co-morbidades. Uma vez mortos, haveria redução de custos na assistência à saúde, com bolsa família, etc.

A lógica neoliberal de redução de custos com despesas primárias novamente aplicada com clara consequência genocida, como o que ocorreu, por exemplo, na Alemanha durante o III Reich.

No hitlerismo, pessoas doentes, mesmo em grau leve, foram mortas para diminuir despesas do Estado.

A eugenia aplicada pelo III Reich ao próprio povo alemão perseguia objetivos racistas e de corte de custos com “vidas indignas de serem vividas”, segundo regime nazista.

Pacientes com transtornos mentais foram assassinados inicialmente, sendo seguidos por crianças e adolescentes no famigerado programa T4, que pagava médicos e enfermeiros por produtividade, ou seja, quanto mais pacientes indicassem para extermínio e mais matassem, mais ganhavam pelo trabalho.

No Rio Grande do Sul, segundo o boletim epidemiológico da semana epidemiológica de 21 de 2020, emitido pelo Centro de Vigilância da Secretaria Estadual de Saúde, foram notificados 50 surtos de covid-19, entre 20 de março e 25 de maio.

Surto é um grupo de casos confirmados.

Desses 50 surtos no Rio Grande do Sul, 36 foram em empresas como frigoríficos e indústrias.

Em cada uma dessas empresas havia, no mínimo, 2 casos confirmados de covid-19, mas, na média, eram 10 a 20 infectados.

Nesses casos do Rio Grande do Sul, fica claro o nexo entre o processo produtivo e o espalhamento do vírus devido ao afrouxamento do isolamento social.

Ou seja, para beneficiar o modo de produção capitalista, optou-se por prejudicar a segurança sanitária da população.

Na busca frenética por lucro e absoluto descaso com as vidas, o genocídio vem a galope.

— E, daí? — empresários fazem coro com o presidente genocida.

Daí, que haverá consequências: maior demora para retomada real da economia, mais desemprego e aumento drástico de número de mortes (como ocorre nos Estados Unidos e já acontece no Brasil) e crescimento da tensão social.

Trump fez pouco caso da pandemia, ameaçou e hostilizou gestores estaduais e municipais, além de ter defendido uso de medicação sem eficácia comprovada para o novo coronavírus.

Na ditadura racial brasileira, a evolução da pandemia seguiu o mesmo roteiro. Consequentemente, ainda vão crescer muito os números de casos e óbitos.

Não à toa Estados Unidos e Brasil estão no topo do mundo quanto à catástrofe genocida.

E como já está acontecendo nos EUA de Trump, o Brasil poderá se tornar área de convulsão social.

A luta pela sobrevivência impõe às populações a necessidade e o direito de lutar contra plano de extermínio e destruição.

A pandemia é ponto de inflexão para reorganização social.

Do contrário, há risco de escalada irrefreável de violência e mortes dos rejeitados pelo regime de intolerância.

*Luís Carlos Bolzan é psicólogo sanitarista


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