Nelice Pompeu: Perdemos Bete, tragédia anunciada que poderia ter sido evitada pelo governo paulista

Tempo de leitura: 3 min
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Por Nelice Pompeu

Por Nelice Pompeu*

A escola pública deveria ser — sempre! — lugar de vida.

Porém, de tempos em tempos, as sementes do ódio se materializam em forma de barbárie e uma escola pública se torna palco de tragédia.

Foi o que aconteceu ontem, segunda-feira, 27 de março, em uma escola da rede estadual na cidade de  São Paulo.

Perdemos a Bete, professora de 71 anos, atacada covardemente pelas costas por um aluno de 13 anos.

Amanhã pode ser eu, você, um amigo ou amiga.

A escola reflete a sociedade em que vivemos.

Nada do que acontece no ambiente escolar está desconectado da nossa realidade.

Os discursos de desvalorização da educação e de seus profissionais têm interrompido histórias e sonhos.

Quantas vezes você não ouviu parlamentar chamando professor de vagabundo ou de parasita?

Ao agir assim, esse parlamentar está incitando o ódio contra toda uma categoria profissional que clama por respeito e valorização.

O desrespeito ao professor retrata a decadência de uma sociedade doente.

O descaso com que a educação é tratada e a falta de diálogo tornam o governo nosso principal agressor.

A resposta à morte de Bete não pode se limitar a uma nota de pesar.

Quando um professor morre, morrem sonhos, projetos e um pouco de nós também.

Desde segunda-feira, mães de alunos, amigos, colegas me perguntam:

— Foi uma fatalidade?

— A tragédia poderia ter sido evitada?

Não foi uma fatalidade. E, sim, essa tragédia poderia ter sido evitada.

A professora Bete não foi vítima apenas da violência provocada por um aluno de 13 anos.

Ela também foi vítima da negligência do Estado, que nada fez para evitar essa tragédia.

Segundo as famílias, a escola não oferecia estrutura para participar do Programa de Ensino Integral (PEI) e brigas entre os estudantes eram frequentes.

As escolas que participam do PEI precisam ter infraestrutura e planejamento, espaços adequados e funcionários em quantidade suficiente.

Só que, em geral, não têm.

É a “farsa do ensino integral” já denunciada por especialistas. Além de discriminatório e excludente, o chamado ”ensino integral” é apenas um produto para marketing político.

A rede estadual de educação no Estado de São Paulo está colapsando devido à falta de profissionais nas escolas publicas.

Há dez anos o Estado de São Paulo não realiza concurso para professores.

Em 2022, segundo dados publicados no Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOSP), o déficit de agentes de organização e de oficiais administrativos era de 20.574 funcionários e uma faixa salarial de  aproximadamente R$ 1.400,00.

As consequências desses números ficam evidentes na escola que foi palco da tragédia.

Ela contava com 15 professores e apenas três agentes de organização para atender aproximadamente 300 alunos matriculados do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

Casos de agressão têm sido rotina nas escolas.

Ambientes violentos são reproduzidos, como se fossem tragédias anunciadas, provocando aumento expressivo no número de licenças médicas.

Está achando que é exagero meu?!

Se sim, uma sugestão:  pergunte a qualquer profissional do magistério se ele já foi vítima de algum tipo de violência.

A realidade do chão da escola está muito mais perigosa do que os teóricos e empresários da educação alardeiam ou imaginam.

E essa situação não pode continuar a ser tratada como invisível.

O adolescente de 13 anos já havia encaminhado mensagens e fotos dele portando armas aos demais alunos por WhatsApp. Publicações no Twitter reforçam a tese de que o atentado foi premeditado.

Havia também um Boletim de Ocorrência feito um mês antes pela escola anterior.

Os profissionais se sentem enxugando gelo, enquanto o governo estadual passa o rolo compressor.

Somente quando há uma tragédia como a que vitimou Bete os holofotes se voltam para a escola pública.

Na escola, atendemos muitas demandas, que vão além do pedagógico.

Mas a rede de apoio não oferece o devido suporte. Faltam políticas públicas que garantam um ambiente escolar seguro.

A propósito, uma das primeiras medidas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de seu secretário de Educação, Bruno Feder, foi o fim de dois programas: Mediação Escolar (criado em 2009, buscava maior harmonização no ambiente escolar) e Psicólogos na Educação.

No lugar dos psicólogos e mediadores de conflito, o governador de São Paulo estuda colocar policiais permanentemente em escolas.

Acontece que a presença da Polícia Militar só vai reforçar os métodos repressivos e punitivos, trazendo mais insegurança.

Aliás, sobram exemplos de ações violentas da polícia contra estudantes e professores em escolas.

Ações isoladas e marqueteiras não resolvem a escalada da violência.

O que resolve são outras medidas, entre as quais estas:

— diálogo com toda a comunidade escolar para promover uma cultura da PAZ;

— realização de concursos devido ao déficit de profissionais;

— programas com equipes multidisciplinar;

— políticas educacionais que lidem com as múltiplas formas de violência que atravessam as nossas escolas; rede de proteção mais eficiente;

— acompanhamento psicológico nas escolas para estudantes, seus responsáveis, professores e funcionários.

Estamos cansados de discurso. Precisamos de ações que realmente façam a diferença.

Do contrário, podemos nos tornar amanha um Estados Unidos, onde frequentemente ocorrem massacres nas escolas.

*Nelice Pompeu é professora da rede pública municipal da cidade de São Paulo. Integra o Movimento Escolas em Luta.

Leia também:

Dalva Garcia: Adeus a uma companheira de trabalho num curto intervalo de tempo escolar

Carla Jimenez: O fascismo matou Tia Bete

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Nelice Pompeu

Professora da rede pública municipal da cidade de São Paulo. Integra o Movimento Escolas em Luta.


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Comentários

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Zé Maria

Uma Estatística bem sugestiva de causas indiretas:

Dos 22 Ataques a Escolas com Lesões Corporais Graves
e Tentativas de Homicídio e Homicídios Aleatórios ocorridos
no Brasil nos últimos 20 anos, 12 [DOZE] foram do início
do Governo de Jair Bolsonaro (2019) pra cá.
Ou seja, mais da Metade ocorreram de 2019 em diante.

Zé Maria

Nazifascista Bolsonarista Serial Killer de Blumenau/SC
postou fotos da Milícia Bolsonaro Armada até os dentes.

“Não vou divulgar nada sobre o assassino de
crianças em Blumenau, mas esta foi uma
postagem dele em 2018:”

https://pbs.twimg.com/media/Fs9tsLtWAAQxz0T?format=jpg

Zé Maria

Psicopatas Bolsonaristas,
Nazifascistas Serial Killers,
estão à Solta no País.

Realmente faz-se Necessária
a Medida Urgente do Governo
Federal, para reprimir a Violência
acumulada nos 4 Anos de Bolsolão.

https://twitter.com/RonnyCombate/status/1643629825486204929Serial Killers

Zé Maria

Thread
https://twitter.com/Pimenta13Br/status/1643730197382832129

“Ataque em Blumenau:
agora à tarde, o Presidente @LulaOficial, muito abalado,
convocou uma reunião emergencial com os ministros
@silviolual, @CamiloSantanaCE, @FlavioDino, @MarcioMacedoPT
e comigo, @Pimenta13Br, para anunciar as medidas do Governo
para enfrentar o problema.
São elas:”

“1. O Ministério da Justiça, @mjsp_gov, anunciou R$150 milhões
para Estados e Municípios como recurso extra para fortalecer
as rondas nos entornos das escolas públicas, tanto estaduais
quanto municipais.”

“2. Também será iniciada uma força-tarefa com 50 policiais
com o objetivo de fortalecer o monitoramento de ameaças violentas
e organizações criminosas em ambientes digitais.”

“3. Um decreto governamental interministerial cria imediatamente
um Grupo de Trabalho, incluindo os ministérios da Cultura, @minc,
e do esporte, @esportegovbr, além dos citados anteriormente,
para o desenvolvimento da Política Nacional de Enfrentamento
à Violência nas Escolas.”

“Estamos movimentando uma frente conjunta para reestabelecer
a cultura da paz nas escolas e impedir que casos como o de hoje
se repitam.”

PAULO PIMENTA
Deputado Federal
Ministro-Chefe da SECOM
Governo LULA (2023-2026)
https://twitter.com/Pimenta13Br/status/1643730203271725057

Silvia Mabel de Souza Rocha

A Educação no nosso país tem mais que gritado, vem clamando por socorro e a cada nova gestão política as medidas só a sucumbi ainda mais para o fracasso, afinal a manipulação intelectual ,se faz necessária pela elite !!!!

Edgar Lima

Separar briga é outra carreira. PM.
Cuidar de filho dos outros tb não dá.
Inventarão a profissão Cuidador de Adolescente.
Complicado pra caramba.
Não obedecem nem os pais.

Edgar Lima

Por isso digo que essa escola é uma creche de adolescentes. Tem que ficar separando confusão de crianças. Adolescente é criança.
O FHC já descia a lenha nos professores. Os políticos sempre malharam os professores como se fossem o Judas.
A falta de concursos é um problema crônico no Estado. Em outras áreas em SP tb tem esse problema.
E aí o possante quer que o servidor do Estado trabalhe por 4 ou 5 e ganhe por 1. Só 1 salário.
Professor é para dar aula, não é para cuidar do filho dos outros como se fosse uma babá.
Os profs cuidam, olham, aconselham etc, mas isso não é função deles.
Tem professor que é crânio pra porra. Uma hora se cansa de tudo isso e vaza.
Meus sentimentos á família e aos amigos da prof. Elizabete.
Enriqueça o ambiente escolar, mas não com o brigadeiro das meninas.

Zé Maria

Excertos

“É a ‘farsa do ensino integral’ já denunciada por especialistas.

Além de discriminatório e excludente, o chamado ‘ensino integral’ é apenas um produto para marketing político.

A rede estadual de educação no Estado de São Paulo está colapsando devido à falta de profissionais nas escolas publicas.

Há dez [10!] anos o Estado de São Paulo não realiza concurso para professores.”
[…]
“O adolescente de 13 anos [autor do homicídio] já havia encaminhado mensagens e fotos dele portando armas aos demais alunos por WhatsApp.
Publicações no Twitter reforçam a tese de que o atentado foi premeditado.

Havia também um Boletim de Ocorrência feito um mês antes pela escola anterior [Escola Estadual José Roberto Pacheco, em Taboão da Serra/SP].

Os profissionais [da Educação Pública] se sentem enxugando gelo, enquanto o governo estadual passa o rolo compressor.

Somente quando há uma tragédia como a que vitimou Bete, os holofotes se voltam para a escola pública.”
.
.
Comentário

Entrementes, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo havia anunciado em Fevereiro a Contratação Temporária [Sem Concurso Público] de Agentes de Organização Escolar (AOEs) [antigamente denominados Auxiliares de ‘Disciplina’ que na realidade serão ‘Espiões Ideológicos do Tarcísio’].

Os chamados Contratos Temporários Emergenciais
estão burlando a Constituição Federal de 1988 que exige que o Preenchimento das Vagas aos Cargos de Carreira se dê mediante Concurso Público, não por ‘processo seletivo simplificado’ como faz o Governo de São Paulo.

https://www.educacao.sp.gov.br/educacao-sp-vai-contratar-mais-de-7-mil-agentes-de-organizacao-escolar/

Zé Maria

Excertos

“É a ‘farsa do ensino integral’ já denunciada por especialistas.

Além de discriminatório e excludente, o chamado ‘ensino integral’ é apenas um produto para marketing político.

A rede estadual de educação no Estado de São Paulo está colapsando devido à falta de profissionais nas escolas publicas.

Há dez [10!] anos o Estado de São Paulo não realiza concurso para professores.”
[…]
“O adolescente de 13 anos [autor do homicídio] já havia encaminhado mensagens e fotos dele portando armas aos demais alunos por WhatsApp.
Publicações no Twitter reforçam a tese de que o atentado foi premeditado.

Havia também um Boletim de Ocorrência feito um mês antes pela escola anterior [Escola Estadual José Roberto Pacheco, em Taboão da Serra/SP].

Os profissionais [da Educação Pública] se sentem enxugando gelo, enquanto o governo estadual passa o rolo compressor.

Somente quando há uma tragédia como a que vitimou Bete, os holofotes se voltam para a escola pública.”
.
.
Comentário

Entrementes, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo havia anunciado em Fevereiro a Contratação Temporária [Sem Concurso Público] de Agentes de Organização Escolar (AOEs) [antigamente denominados Auxiliares de ‘Disciplina’ que na realidade serão ‘Espiões Ideológicos do Tarcísio’].

Os chamados Contratos Temporários Emergenciais
estão burlando a Constituição Federal de 1988 que exige que o Preenchimento das Vagas aos Cargos de Carreira se dê mediante Concurso Público, não por ‘processo seletivo simplificado’ como faz o Governo de São Paulo.

https://www.educacao.sp.gov.br/educacao-sp-vai-contratar-mais-de-7-mil-agentes-de-organizacao-escolar/

Zé Maria

Tragédia Anunciada.
Inclusive pelo Agressor Psicopata.

E a Mídia Venal protege o Governo de São Paulo.
Afinal, o Governador não é do PT.

Então, tudo ficará como dantes
no Quartel de Abrantes.

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