Nelice Pompeu: Com caminhada pela paz e alegria barulhenta, criançada de escola pública dá lição à “gente diferenciada” de Higienópolis; vídeo

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Por Nelice Pompeu

Ato público, com caminhada pela paz, foi a resposta dos educadores da EMEI Monteiro Lobato, no bairro de Higienópolis, em SP, às pichações racistas feitas em postes diante da escola. Ao som de cantigas, crianças e famílias fizeram muito barulho. Fotos: Grupo de educadores

Por Nelice Pompeu*

Atenção a estas frases:

Viva voz é coisa de macaco

Macacos

Escola sem educação, Escola sem Respeito, Escola sem noção

Pedagogia da violência

Música: Se eu escolho, você morre e vice versa

O que diria ou faria se essas frases racistas fossem pichadas em postes de luz diante da escola do seu filho?

Lamentavelmente, foi o que aconteceu no dia 13 de junho em Higienópolis, área nobre da cidade de São Paulo e um dos metros quadrados mais caros do Brasil.

Os postes na frente da EMEI Monteiro Lobato, que fica bairro, amanheceram pichados com ofensas  racistas, como mostra a fotomontagem abaixo.

Fotos: Grupo de Educadores da EMEI Monteiro Lobato

A EMEI Monteiro Lobato atende cerca de 500 crianças na faixa de 4 a 5 anos de idade.

Desenvolve projeto político pedagógico que promove educação inclusiva, antirracista.

Seu trabalho educativo é referência.

— Por que então tamanha violência junto a uma escola infantil em bairro da elite paulistana?

A violência, cada vez mais frequente nas escolas, pode se manifestar de diversas maneiras, refletindo frequentemente preconceitos contra minorias sociais.

Higienópolis abriga a chamada “gente diferenciada”, que é como seus moradores se autoproclamam.

Eles almejam e buscam a “higienização social” da área.

Em 2011, por exemplo, foram contra a construção de metrô no bairro.

Já realizaram campanhas para “limpar” a região – o que inclui retirar da área pessoas em situação de rua, trabalhadores informais e ambulantes, como se fossem parte do lixo a ser varrido para fora.

Em 2019, o “higienista” do Shopping Pátio Higienópolis pediu à Justiça para prender adolescentes em situação de rua, que ficavam na área.

A Justiça negou. Considerou a demanda discriminatória e ilegal, e que o local deve permitir a circulação do público sem qualquer tipo de segregação ou preconceito.

Pois a EMEI Monteiro Lobato — uma escola pública, que atende filhos da classe trabalhadora — localiza-se bem no meio do reduto dessa “gente diferenciada”.

É possível que as pichações estejam relacionadas ao som mais alto usado nos ensaios para a festa junina e à alegria barulhenta das crianças.

Só que não se trata de um ataque isolado.

Em 2018, perto das eleições um pai fez vídeo sobre a escola, alimentando desinformação, medo e pânico moral na população.

Em 2021, vídeo com criança relatando ter aprendido questões de gênero na sala de aula caiu na internet e o pastor Jorge Linhares reproduziu.

Dias depois, dois policiais civis foram à unidade.

Disseram ter havido denúncia anônima de que escola trabalhava com questão de gênero e estavam à procura de professora citada no vídeo.

Devido a essas exposições, a escola virou alvo de grupos fundamentalistas e de adeptos do Movimento “Escola sem Partido”, que buscam constranger os educadores.

Os ataques racistas de 13 de junho foram, portanto, mais uma investida contra toda a comunidade escolar: professores, crianças, famílias, funcionários, gestores.

Imediatamente a equipe da EMEI Monteiro Lobato tomou várias providências, como mostra este trecho do manifesto que divulgou (na íntegra, ao final).

O ato público com a leitura do manifesto (na íntegra, ao final) e caminhada pela paz aconteceu nessa quinta-feira, 22 de junho. Escolas públicas do território participaram. Ao som de cantigas, crianças e famílias fizeram muito barulho!

A criança aprende com o exemplo.

As pichações já foram apagadas dos postes. As marcas, porém, ficarão na memória desses pequeninos, que tão cedo descobriram a importância da escola acolhedora, promotora da paz e contrária a qualquer tipo de discriminação.

Não foi dessa vez que “gente diferenciada” de Higienópolis conseguiu silenciar a comunidade da EMEI Monteiro Lobato. Terá que continuar dormindo com esse “barulho”.

A EMEI Monteiro Lobato é motivo de orgulho para os cidadãos paulistanos.

Ela e seus educadores continuarão resistindo na defesa da escola pública, gratuita, laica e de qualidade.

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Nelice Pompeu

Professora da rede pública municipal da cidade de São Paulo. Integra o Movimento Escolas em Luta.


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Zé Maria

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BLACKBIRD
MELRO [PÁSSARO PRETO]
(John Lennon & Paul McCartney)

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Blackbird singing in the dead of night
Melro cantando na calada da noite

Take these broken wings and learn to fly
Pegue essas asas quebradas e aprenda a voar

All your life
Toda sua vida

You were only waiting for this moment to arise
Você estava apenas esperando este momento surgir

Blackbird singing in the dead of night
Melro cantando na calada da noite

Take these sunken eyes and learn to see
Pegue esses olhos fundos e aprenda a ver

All your life
Toda sua vida

You were only waiting for this moment to be free
Você estava apenas esperando por este momento para ser livre

Blackbird fly, Blackbird fly
Melro voa, Melro voa

Into the light of a dark black night
No clarão da escuridão

Blackbird fly, blackbird fly
Melro voa, Melro voa

Into the light of a dark black night
No clarão da escuridão

Blackbird singing in the dead of night
Melro cantando na calada da noite

Take these broken wings and learn to fly
Pegue essas asas quebradas e aprenda a voar

All your life
Toda sua vida

You were only waiting for this moment to arise
Você estava apenas esperando este momento surgir

You were only waiting for this moment to be free
Você estava apenas esperando por este momento para ser livre

You were only waiting for this moment to arise
Você estava apenas esperando este momento surgir

You were only waiting for this moment to be free
Você estava apenas esperando por este momento para ser livre

https://youtu.be/RRM3cfskck8

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