Francirosy Barbosa: Ainda é cedo para dizer que houve “derrota” dos EUA no Afeganistão

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Da Redação

Ainda é cedo para dizer que os Estados Unidos foram “derrotados” no Afeganistão, sustenta a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, professora no campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e pós-doutorada em Teologia Islâmica pela Universidade de Oxford.

Foi uma retirada feita a partir de acordo fechado em 2020 e a situação permanece muito turva, afirma a professora — com dois dos principais supostos beneficários, China e Rússia, monitorando cautelosamente os acontecimentos.

Vladimir Putin já advertiu os vizinhos da extinta União Soviética para redobrar a vigilância contra o terrorismo, bem como a China — que faz fronteira com o Afeganistão — teme agitação entre a minoria muçulmana uigure.

O talibã é majoritariamente formado pela etnia pashtun, que ocupa também o norte do Paquistão, motivo pelo qual a volta do grupo fundamentalista ao poder foi celebrada por paquistaneses. Como sunitas que seguem uma vertente do wahabismo, originário da Arábia Saudita, os talibãs também recebem apoio do reino.

O único vizinho que deu um claro sinal de boa vontade até agora foi o Irã, que retomou a exportação de petróleo, mas o fundamentalismo sunita considera os xiitas apóstatas.

Em entrevista ao Viomundo, a professora Francirosy diz que as mulheres afegãs estão na expectativa sobre como o talibã implantará a sharia. Se for da maneira convencional, ela sustenta, os direitos das mulheres estarão garantidos.

Porém, isso é muito pouco, quando 76% das mulheres são analfabetas, uma situação que não melhorou dramaticamente durante os vinte anos de ocupação da OTAN. Sem nem poder ler o livro sagrado do Alcorão, as mulheres não podem dar sua própria interpretação ao texto religioso e ficam completamente dependentes dos homens.

Para os Estados Unidos, ter uma relação funcional com um eventual governo talibã pode ser importante, o que ficou claro quando um dirigente da Central de Inteligência Americana encontrou-se recentemente com uma das lideranças mais importantes do grupo.

Antes mesmo da retirada, já era política de Estado em Washington reduzir a presença de tropas dos EUA na Ásia Central e no Oriente Médio e fazer o que no governo Obama ficou definido como “pirueta” para a contenção da China.

Na entrevista acima, a antropológa Francisrosy analisa várias nuances da situação das mulheres não só no Afeganistão, mas no mundo árabe e islâmico.


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