Wadih Damous caiu em emboscada do Fantástico. Quem mandou dar entrevista à Globo, que conta com o MPF para abafar seus casos de corrupção?
Tempo de leitura: 6 min
por Luiz Carlos Azenha
No telejornalismo é o que chamamos, nos bastidores, de uma emboscada. Em geral, acontece quando a direção da emissora determinou qual será o rumo da reportagem e o repórter vai às ruas apenas para confirmar teses pré-determinadas.
A tese da Globo estava clara no título dado à reportagem: “Congresso põe em curso manobra que dificulta punição de corruptos”.
É, portanto, premisa da emissora tratar-se de ação coletiva de um poder desmoralizado.
A Globo escolheu alguns parlamentares para denunciar. Deu prioridade a Wadih Damous, do PT, advogado que foi presidente da OAB no Rio de Janeiro e tem sido um dos críticos mais severos dos desmandos da Operação Lava Jato.
Damous incomoda. Incomoda tanto que foi citado pelo juiz Sérgio Moro em um despacho com a sugestão de que estaria envolvido em obstrução de Justiça.
Uma fala recente de Damous:
Hoje o que nós vemos no Brasil é um novo tipo de juiz, um novo tipo de membro do Ministério Público: o juiz-celebridade, o procurador-celebridade, aquele que, atraído pela luz dos holofotes, resolve ter os seus 15 minutos ou 15 segundos de glória. Se fosse só até aí — apenas para apresentar a sua gravata de griffe na TV Justiça — não teria problema, mas a questão é que esse tipo de juiz e de procurador joga para a plateia, a mais desqualificada que possa existir, que é a plateia do ódio, da intolerância, da punição a qualquer preço.
Em passado razoavelmente longínquo, o PT já acreditou que a Globo era “a TV do governo”, conforme narrado pelo então governador Roberto Requião depois de um encontro com José Dirceu.
O ex-presidente Lula e Dilma Rousseff acreditaram na “mídia técnica”, encheram as burras da Globo de dinheiro e em nome da ABERT combateram as rádios comunitárias — com Dilma dizendo que o melhor controle sobre a mídia mentirosa era o controle remoto.
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A essa altura, seria de se esperar que o PT já tivesse ficado esperto para o jogo. Mas… não.
Damous deu credibilidade à denúncia da Globo na forma de uma entrevista. Foi morto pela edição.
Como?
1. A repórter aparece em pessoa nos corredores do Congresso fazendo pouco caso dos direitos individuais. A Globo já demonstrou — antes e durante o golpe de 64 e ao longo de 21 anos de ditadura militar — que não liga muito para direitos individuais. Em editorial de 1984, Roberto Marinho chamou o golpe de “Revolução”.
2. A reportagem mostra o resultado — em forma de milhões de assinaturas — da campanha feita pelo MPF por 10 medidas contra a corrupção, mas omite a imagem de que elas foram recebidas por… Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que promove o impeachment de Dilma Rousseff.
3. As falas do procurador Deltan Dallagnol, autor da denúncia na reportagem, receberam a ênfase de letreiros, que não foram acrescentados à entrevista de Damous. Por efeito de edição, o petista ficou com cara de defensor de corrupto, não das garantias constitucionais.
4. Damous, obviamente, não sabia que a Globo trataria de “transparência” na reportagem. Se soubesse, poderia ter lembrado que a própria Globo se escondeu atrás do sigilo fiscal para não tratar publicamente da multa de mais de R$ 600 milhões que recebeu da Receita Federal por — sempre segundo a Receita — ter armado um esquema com uma empresa offshore nas ilhas Virgens Britânicas.
Segundo relatório do auditor, a empresa Empire foi montada através de um investimento fake dos irmãos Marinho e foi desmontada para que o capital fosse utilizado na compra de direitos de transmissão — com isso a Globo deixou de recolher os impostos devidos no Brasil.
Além disso, se falamos em transparência, é preciso lembrar que corre em segredo de Justiça o processo que determinou a demolição da Paraty House, ligada a Paula Marinho, a neta xodó de Roberto Marinho.
5. Damous parece desconhecer que a Globo opera como parceira do MPF com o objetivo de controlar a instituição.
Caberá ao MPF, em última instância, analisar os dados da apreensão feita na sede da empresa panamenha Mossack & Fonseca em São Paulo, onde o nome de Paula, filha de João Roberto Marinho, aparece associado a pagamentos de taxas de manutenção de três empresas offshore: Vaincre LLC, A Plus Holdings e Juste International, conforme denunciamos com exclusividade.
Os petistas são tão ruins de política que ainda não mandaram imprimir as anotações reproduzidas acima na forma de um panfleto, para distribuir nas ruas e mostrar no Congresso! E isso é material oficial da Operação Lava Jato.
Apesar de nosso pedido no twitter, nem um único meme foi produzido por ativistas com os dados de uma apreensão oficial! Se é por falta da íntegra, analisem os documentos abaixo:
5. Damous provavelmente não sabe que neste exato momento duas ações movidas pelo Ministério Público Estadual correm no Rio de Janeiro. Uma, para desfazer a entrega de um espaço público — o estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas — ao casal Paula Marinho Azevedo/Alexandre Chiappetta Azevedo, num contrato precário que dura mais de dez anos.
Na outra, o MPE quer a devolução de todo o dinheiro público investido no estádio, cerca de R$ 30 milhões, em reformas que o MPE acredita que deveriam ter sido bancadas pelo permissionário.
O estádio sediará competições das Olimpíadas de 2016, com a promessa antecipada de que continuará entregue à iniciativa privada depois dos Jogos. O fato de que Paula e Alexandre hoje estão separados não significa nada. Ela chegou a assinar um aditivo como fiadora.
Além disso, nos negócios que envolvem a empresa Glen/Glem, de Alexandre, há a suspeita da ação de uma “laranja”, Rita Wirth, que disse em entrevista não ter tido relação com contrato no qual ela aparece como procuradora para a importação de um helicóptero.
Coincidentemente, Rita é o nome que também aparece em documento da Mossack & Fonseca relacionado às empresas offshore ligadas ao casal Alexandre/Paula. Se Rita era de fato “laranja”, a quem serviu? E as offshore, foram veículos de pagamento/investimento no Exterior, nos mesmos moldes da Empire? Trouxeram dinheiro para o Brasil? Foram utilizadas para ocultar patrimônio e sonegar impostos? Por quem? São perguntas ainda sem resposta.
6. Damous foi ingênuo, quando não cabe mais ingenuidade em se tratando de Globo. Se queria dar entrevista, caberia fazê-lo mencionando sempre os casos embaraçosos relacionados à emissora, na forma de exemplos.
Poderia ter lembrado que é preciso cobrar coerência do MPF e da Justiça: enquanto o Brasil colabora com autoridades dos Estados Unidos na investigação da Petrobras, uma juíza de primeira instância bloqueou a colaboração entre autoridades brasileiras e o FBI no escândalo do futebol — investigando os contratos da CBF, autoridades norte-americanas podem chegar à Globo!
Deputado Damous, nessa hora é preciso dar uma de Garotinho:
De qualquer forma, fiquem com a reclamação do petista:
O padrão de indignidade, de mentiras e de distorção da verdade por parte da grande imprensa brasileira é fato sabido e consabido.
Domingo passado eu fui mais uma vítima dessa indignidade.
O programa Fantástico, da TV Globo, apresentou reportagem cuja tese era de mostrar que no Congresso Nacional há parlamentares que apresentam projetos de lei com objetivo de colocar obstáculos no combate à corrupção.
Usou como exemplos dois projetos de lei de minha autoria.
Um deles assegura a presunção de inocência, que é norma constitucional e o outro tenta aperfeiçoar a figura da delação premiada, adequado-a aos direitos e garantias fundamentais.
É mentirosa a insinuação da TV Globo de que não queremos o combate à corrupção.
Queremos sim, mas na forma da Constituição e da lei.
Quem não quer é exatamente a TV Globo, que nesse momento se acumplicia com o que há de mais corrupto no país a favor de um golpe de estado, como é de sua tradição.
Um combate sério à corrupção envolverá a própria TV Globo.
É só a Operação Lava Jato abandonar a sua parcialidade e a sua seletividade e investigar a fundo a tal Mossack Fonseca, empresa conhecida por operar lavagem de dinheiro e firmemente relacionada com a TV Globo.
Estamos examinando a hipótese de direito de resposta.
Posteriormente o assunto será retomado, com a íntegra da entrevista e outras informações para enriquecer o debate.
PS: um agradecimento especial à equipe do PT na Câmara, que fez a gravação na íntegra da entrevista, contribuindo, assim, para que outra versão da fala fosse possível de ser publicada.
Para conhecer os projetos, acesse:
http://wadihdamous.com.br/damous-apresenta-pl-para-aperfeicoar-delacao-premiada/
http://wadihdamous.com.br/em-defesa-da-presuncao-de-inocencia/
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