Wadih Damous: “A República fascista do Paraná é comandada por fanáticos”

Tempo de leitura: 2 min

Marcha da insensatez

por Wadih Damous, em O Globo

Está em curso um processo de criminalização da vida. Da política a torcidas organizadas de futebol, tudo é visto pelo olhar punitivo e de presunção de culpa: são todos culpados até prova em contrário. Em alguns casos, até com prova em contrário. Agressões a pessoas que usam camisetas vermelhas ou que simpatizam com determinado partido, bomba lançada contra o escritório de um ex- presidente da República são alguns dos exemplos dessa escalada.

Integram esse quadro os linchamentos cometidos contra pobres e negros em várias capitais brasileiras; alterações legislativas de caráter punitivo e populista são aclamadas e representantes do Ministério Público gravam vídeos onde verbalizam proselitismo político e religioso fora dos autos e justificam a sua atuação funcional com base em desígnios divinos e sobrenaturais.

Evidente retrocesso para a ciência do Direito que, ao longo dos séculos, teve que superar a inquisição e o fanatismo religioso para buscar uma racionalidade através do Iluminismo e das revoluções burguesas para proteger o indivíduo da tirania de déspotas e do uso do poder punitivo desmedido.

A estratégia de criminalização da política, desenvolvida por setores obscurantistas do Poder Judiciário e do Ministério Público, foi estimulada pela luta política entre governo e oposição, mesmo que para tanto fosse preciso flertar com o que há de pior na política brasileira e romper a barreira da legalidade e dos direitos e garantias individuais, sempre de olho nos holofotes da mídia e atrás de dividendos políticos.

O debate sobre projetos de país ou sobre os rumos que uma das maiores economias do mundo deve tomar nos próximos anos e questões como o enfrentamento à desigualdade social, reforma agrária e educação de qualidade ficou em terceiro plano e hoje a tônica é quem alcaguetou quem. Triste realidade.

A corrupção se tornou pauta única de um país que conseguiu retirar 40 milhões da pobreza extrema e reduzir um pouco dos seus traços escravocratas e machistas de uma sociedade fundada sobre o manto sagrado do latifúndio.

Esse quadro é extremamente perigoso para a democracia porque reforça a descrença no exercício da política e permite a ascensão de forças obscurantistas que estavam adormecidas. Merecem repúdio veemente agressões e ataques a figuras públicas e a execração e banimento de lideranças políticas através de prisões ilegais e de linchamentos morais.

É preciso, urgentemente, colocar um freio à agenda punitiva e a espetacularização da Justiça. O instituto da colaboração premiada precisa se adequar à Constituição de 1988 e perder o caráter inquisitorial. O termo “voluntário” previsto na lei é contraditório com a circunstância de a pessoa estar presa.

O Brasil é muito maior que a mediocridade, a sanha punitiva despótica e medieval de celebridades jurídicas e o complexo de vira- latas de alguns. Na democracia, a luta é travada pelas ideias e pelo convencimento. Foi- se o tempo — espera- se — em que a força bruta e a violência eram utilizadas para impor visões de mundo.

Wadih Damous é deputado federal ( PT- RJ)

Veja também:

Vergonha alheia antecipada: A coreografia do golpe


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Comentários

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Jadson Oliveira

Srs. editores, por falar em “agenda punitiva e espetacularização da justiça” vai aí uma contribuição:

MONTEIRO LOBATO: O “PODER ABSURDO” DO JUIZ DE MANDAR PRENDER SEM NUNCA TER CONHECIDO UMA PRISÃO

Contribuição de Geraldo Guedes, advogado em Brumado-Bahia ao blog Evidentemente – publicado em 17/08/2015 (o título é deste blog)

“O mal da justiça humana – protestava, irônico, Monteiro Lobato, da prisão onde foi jogado pela ditadura do Estado Novo; o mal da justiça humana está na falta de uma lei que vou fazer quando for ditador: todos os juízes, depois de nomeados e antes de entrar no exercício do cargo, têm de gramar dois anos de cadeia, um de penitenciária e um de cela, a pão e água e nu – em pelo; Não há nada mais absurdo do que o poder dado a um homem de condenar outros a uma coisa que ele não conhece: a privação da liberdade”; (Roberto Abreu Sodré, No Espelho do Tempo, Meio Século de Política, Ed. Best Seller, S.Paulo, 1995, p. 51). (IBBCrim no. 62, de Janeiro/1998).

Sérgio

Caro Azenha, não sou advogado e muito menos jurista. Portanto, foge ao meu conhecimento como as regras deste universo de Leis e Hierarquias funcionam.

Porém, a cada dia que passa acho maior o absurdo constatar que um juíz do nível deste moro, lá de Curitiba, possa interditar a vida de centenas de pessoas presas indefinidamente, prejudicar dezenas de Empresas das maiores do País, dizimar milhares de empregos , prejudicando e atrasando o desenvolvimento do País, sem nada possa ser feito.

Não é possível que esta situação não possa ser enfrentada e desmontada, responsabilizando este juiz e os procuradores envolvidos neste processo.

Quem com conhecimento suficiente pode esclarecer como isto pode ser confrontado?

Azenha, você não poderia realizar um reportagem mais profunda sobre esta situação?

Forte Abraço

Urbano

E nesse núcleo, que com toda a certeza não vem a ser o todo, há até Guantanamo; se se brincar Auschwitz…
A propósito, a coisa de uns vinte dias, eu, que por acaso vestia uma camisa vermelha, cheguei a ouvir uma senhora dizer baixinho, após a minha passagem por ela no sentido transversal, mas o suficiente para que eu a escutasse: ‘é muita coragem’. E não havia uma única pessoa próxima a nós, pelo menos a uns vinte metros. Sorri para mim mesmo sobre a visão turbada da criatura… Já pensaram na existência de outros PTs azul, amarelo, verde, preto, cinza, branco???

FrancoAtirador

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Para líder do PCdoB, lei antiterror é Genérica
e poderá enquadrar Movimentos Sociais
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Vídeo: (http://vod2.camara.gov.br/playlist/40h1jled8sy2zhdmyoqlqg.mp4)
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A líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ), disse que a proposta de lei antiterrorismo (PL 2016/15)
é muito genérica e poderá enquadrar comportamentos que não seriam considerados terrorismo
ao tratar de questões como a paz pública e outros termos sem definição específica.
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“Uma manifestação que impeça que as pessoas cheguem ao trabalho é terrorismo?
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Incendiar um ônibus por protesto de crime de Estado é terrorismo?
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Saquear um supermercado é crime, mas pode ser um crime de fome, é terrorismo?
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Ocupação de moradia de prédio abandonado é crime de terrorismo?
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Com o nível de generalização deste texto, tudo cabe”, ponderou.
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(http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/493719-PARA-LIDER-DO-PCDOB,-LEI-ANTITERROR-E-GENERICA-E-PODERA-ENQUADRAR-MOVIMENTOS-SOCIAIS.html)
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FrancoAtirador

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O “Orador de Versos” do Sertão Nordestino, Antonio Marinho,
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ousou declamar, na Câmara dos Deputados, o seguinte Poema:
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(http://vod2.camara.gov.br/playlist/qyiznumhcr_l-pg1zld3fg.mp4)
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OS TRABALHADORES
(Rogaciano Leite)
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Uma língua de fumo, enorme, bandoleante,
Vai lambendo o infinito – espessa e fatigada…
É a fumaça que sai da chaminé bronzeada
E se condensa em nuvens pelo espaço adiante!
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Dir-se-ia uma serpente de inflamada fronte
Que assomando ao covil, ameaçadora e turva,
E subindo… e subindo… assim, de curva em curva,
Fosse enrolar a cauda ao dorso do horizonte!
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Mas, não! É a chaminé da fábrica do outeiro
– Esse enorme charuto que a amplidão bafora –
Que vai gerando monstros pelo céu afora,
Cobrindo de fumaça aquele bairro inteiro.
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Ouve-se da bigorna o eco na oficina,
O soluço da safra e o grito do martelo…
Como tigres travando ameaçador duelo
As máquinas estrugem no porão da usina!
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É o antro onde do ferro o rebotalho impuro
Faz-se estrela brilhante à luz de áureo polvilho!
É o ventre do Trabalho onde gera o filho
Que estende a fronte loura aos braços do Futuro!
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Um dia, de uma idéia uma semente verte
Resvala fecundante e se agregando ao solo
Levanta-se… floresce… e ei-la a suster no colo
Os frutos que não tinha – enquanto estava inerte!
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Foi o germe da Luz, a flor do Pensamento
Multiplicando a ação da força pequenina:
– De um retalho de bronze uma oficina!
– De uma esteira de cal gerou um monumento!
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Trabalhar! Que o trabalho é o sacrifício santo.
Estaleiro de amor que as almas purifica!
Onde o pólen fecunda, o pão se multiplica
E em flores se transforma a lágrima do pranto!
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Mas não vale o Trabalho andar a passo largo
Quando a estrada é forrada de injustiça e crimes…
Porque em vez de frutos dúlcidos, sublimes,
Gera bagos mortais e de sabor amargo!
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Ide ver quanto herói, quanto guindaste humano
Sob a poeira exaustiva e o calor fatigante,
Os músculos de ferro, o porte gigante,
Misturando o suor o seu pão quotidiano.
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Sua força é milagre! A redenção bendita!
O seu rígido braço é a enérgica alavanca
O escopro milagroso, a chave que destranca
O Reino do Progresso onde a Grandeza habita!
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Sem os pés desse herói a Evolução não anda!
Sem as mães desse bravo uma nação nas cresce!
A indústria não produz! A campo não floresce!
O comércio definha! A exportação debanda!
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No entanto, vede bem! Esses heróis sem nome,
Malditos animais que ainda escraviza o ouro,
Arrastam – que injustiça! – o carro do tesouro,
Atrelados à dor, à enfermidade, e à fome!
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Quanto prédio imponente e de valor suntuário
Erguido para o céu, firmado no infinito,
Indiferente à dor, indiferente ao grito
De desgraça que invade a choça do operário!
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De dia é no labor! Exposto ao sol e à chuva!
De noite,na infecção de uma choupana escura
Onde breve uma filha há de tornar-se impura
E u’a mulher faminta há de ficar viúva!
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Nem mesmo o sono acolhe as pálpebras cansadas!
O leite é a umidez dos fétidos mocambos!
O pão é escasso e duro! As vestes são molambos
E o calçado é paiol das ruas descalçadas!
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Ali, a Medicina é estranho um só prodígio!…
Nunca um livro se abrirá em risos de esperança
Para encher de fulgor os olhos da criança,
Apontando-lhe o céu… mostrando-lhe um vestígio!…
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Tudo é treva e descrença! O próprio Deus é triste
Ouvindo esse ofegar de corações humanos…
E a Lei – mulher feliz que dorme há tantos anos –
Não acorda pra ver quanta injustiça existe!
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Onde está esse amor que os sacerdotes pregam?
Onde estão essas leis que o Parlamento imprime?
O Código não pode abrir o seio ao Crime,
Infamando o pudor que os Tribunais segregam!
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Vêde bem da fornalha a rubra labareda!…
Olhai das chaminés o fumo que desliza!…
Pois é o sangue… É o suor do pobre que agoniza
Enquanto a lei cochila entre os divãs de seda!
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Que é feito desse herói? Ninguém lhe sabe a origem!
O Poder nunca entrou nas palhas do seu teto…
Somente a esposa enferma, o filho analfabeto,
E lá nos cabarés, – a filha… que era virgem!
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Existe essa legião de mártires descrentes
Em cada fim de rua, em cada bairro pobre!
É desgraça demais que num país tão nobre
Que teve um Bonifácio e deu um Tiradentes
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Será preciso o sangue borbotar na lança?
E o cadáver do povo apodrecer nas ruas?
Tu não vestes, ó Lei, as próprias filhas tuas?
Morre, pois, mãe cruel, debaixo da vingança!
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Mas eu vejo que breve há de chegar a hora
Em que a voz do infeliz é livre – na garganta!
Porque sei que esse Deus que nos palácios canta
É o mesmo Deus que pelos bairros chora!
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Quanto riso aqui dentro! E lá fora, os brados!
Quantos leitos de seda! E quantos pés descalços!
Já que os homens não veem esses decretos falsos,
Rasga, Cristo, o teu manto! Abriga os desgraçados!…
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(http://aguasdopajeu.blogspot.com.br/2009_10_01_archive.html)
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Nelson

Excelente discurso. Pena que não são muitos os petistas – e os que se dizem democratas – que se dispõem a também fazer a denúncia da situação a que fomos jogados.

A ditadura parece, está à espreita.

Afonso Guedes

Dr. Wadih Damous , perfeito!!!!

José Caetano

Homens de bem, Senhor Wadih Damous. Estão fazendo um belo trabalho. Coisa que deveria estar sendo feita pelo governo.

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