


Vavá do Transporte: “Quem são as duas pessoas mais importantes desse Sindicato? Valdervan Noventa, presidente, e Edivaldo Santiago, tesoureiro. Eles estão com as opiniões bem divididas”.
por Conceição Lemes
A greve de motoristas e cobradores de ônibus que parou por dois dias a cidade de São Paulo não será esquecida tão cedo.
O movimento começou por volta das 9h no Largo Paissandu, ponto final da Viação Santa Brígida, onde cerca de 20 ônibus tiveram pneus furados.
Daí, ele se espalhou para a Zona Norte e parte da Sul, as regiões mais afetadas.
Sempre com a mesma característica. Terminais fechados, motoristas largando ônibus nas ruas, um atrás do outro, formando filas imensas.
Desde o início, Valdevan Noventa, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de São Paulo (Sindmotoristas), culpa sindicalistas da chapa derrotada nas eleições de 2013.
Seu antecessor na presidência, Isao Hosogi, o Jorginho, nega.
Até abril de 2013, eles compunham a mesma diretoria. Jorginho, presidente, e Noventa, tesoureiro. Racharam. Noventa lançou uma chapa de oposição e ganhou a eleição em setembro de 2013. Ambos têm na ficha várias acusações de crimes.
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Em entrevista ao SpressoSP, Romualdo Santos, ex-presidente do Sindicato e atual assessor de Noventa, acusa o vereador Vavá (PT): “Ele é um mentiroso, tentou sentar na mesa [de negociações salariais da categoria] com o Sindicato e foi expulso, repudiamos veementemente qualquer coisa dita por ele, é mais fácil o Vavá assumir que está por trás desse movimento”.
O vereador Valdemar Silva, o Vavá do Transporte, rebate: “Essa greve nasceu de uma disputa na cozinha deles, não tem envolvimento da oposição. Quem são as duas pessoas mais importantes desse sindicato? O Valdervan Noventa, presidente, e o Edivaldo Santiago, tesoureiro. Eles estão com as opiniões bem divididas”.
Ele vai à origem do problema: ” Na quarta-feira da semana retrasada [14 de maio], houve uma assembleia, onde foi tirado um plano de luta que seria executado nessa semana que passou. Noventa não respeitou a decisão, o que deixou muita gente revoltada. Ele cancelou a passeata [na segunda-feira, 19, até a Prefeitura]. E, ainda, colocou em votação a proposta já acertada com os patrões”.
Morador de São Miguel Paulista, motorista há 37 anos (atualmente licenciado), Vavá integrava a diretoria anterior. É uma grande liderança do transporte. A categoria gosta muito dele na Zona Leste, sua área de atuação. Em 2012, com apoio dessa base elegeu-se vereador do PT com quase 30 mil votos.
Em entrevista ao Viomundo, Vavá do Transporte nos ajuda a entender o que aconteceu.
Viomundo — O senhor sabia da paralisação?
Vavá do Transporte – Fui pego de surpresa, como todo mundo. Do meu gabinete na Câmara, dá para ver o fundo do terminal Bandeira. Daqui de cima, vi que os motoristas encostavam o ônibus na frente do terminal, desciam do carro, fechavam a porta e iam embora.
Viomundo – Isso teve um comando?
Vavá do Transporte — Eu não vi nenhuma liderança atuando aí.
Viomundo – A atual diretoria acusa o senhor de estar por trás da paralisação.
Vavá do Transporte – Não é verdade. O nosso Sindicato é dividido por áreas. As lideranças são regionais. A minha liderança é em torno da área 3, Zona Leste. Como diretor do Sindicato, eu não tenho liderança na região do vizinho.
Por incrível que pareça a Zona Leste foi uma das regiões que não tiveram nenhuma paralisação.
Se eu estivesse envolvido, começaria o movimento dentro da minha casa. Na área 3, tudo rodou normalmente, não houve garagem parada nem terminal fechado.
Viomundo – Houve o dedo de outros integrantes da antiga diretoria?
Vavá do Transporte – Em 2013, a nossa chapa perdeu as eleições e fomos cuidar da vida. A grande maioria da militância e da chapa foi demitida das garagens.
Não houve nenhuma influência da gente, porque no momento não estamos fazendo disputa dentro do sindicato. Estamos fora do período eleitoral.
O sindicato está com diretoria nova há seis meses! Na verdade, como trabalhador do transporte, nós até estávamos torcendo para que os trabalhadores tivessem as suas reivindicações atendidas. Então, não tem como o sindicato jogar essa greve nas costas da oposição.
Viomundo – O que houve então?
Vavá do Transporte – O que houve foi que, na quarta-feira da semana retrasada [14 de maio], houve uma assembleia, onde foi tirado um plano de luta que seria executado nessa que semana passou. Noventa não respeitou a decisão, o que deixou muita gente revoltada. A assembleia é soberana.
Viomundo – Explique melhor.
Vavá do Transporte – Na assembleia da quarta-feira retrasada, foram aprovadas duas propostas:
* Nova assembleia nessa quarta-feira [21 de maio], para a diretoria do Sindicato apresentar a proposta patronal e a categoria decidir se iria ou não à greve.
*Passeata na segunda-feira [19 de maio] até a Prefeitura, para fazer um barulho. A ideia era o pessoal se reunir no Sindicato [rua Pirapitingui, Liberdade] e sair em caminhada até a Prefeitura.
Na segunda-feira [19 de maio], quando os trabalhadores se reuniram no Sindicato – cerca de 3 mil –, Noventa cancelou a passeata. E , ainda, colocou em votação a proposta já acertada com os patrões. A maioria levantou a mão e aprovou.
Isso deixou parte do pessoal meio revoltado. Esse foi um dos motivos da paralisação. O outro é que, na disputa eleitoral, a chapa de oposição, que agora é situação, prometeu muita coisa. E quando você promete muito e dá menos também gera revolta.
Na nossa avaliação o que basicamente ocorreu foi isso. O sindicato perdeu o controle da situação e aconteceu esse desastre, que todo mundo viu. Na segunda-feira, foi aprovada a proposta patronal e na terça, aconteceu a paralisação.
Viomundo – Não houve assembleia na segunda-feira?!
Vavá do Transporte — Como já disse, a assembleia é soberana. E a assembleia da quarta retrasada aprovou um plano de lutas: reunir 3, 4 mil trabalhadores na porta do Sindicato e vir em passeata até a Prefeitura. E não fez isso.
Para abortar esse plano, a diretoria tinha que, na segunda-feira, colocar em votação primeiro a proposta de quarta. E não fez isso também.
A diretoria do Sindicato tinha, ainda, solicitado, através de um vereador da Câmara, uma reunião com o governo. Ela foi agendada, salvo engano, para sexta-feira da semana retrasada. Às 10 da manhã daquele dia, o sindicato cancelou a reunião, dizendo que a proposta estava quase fechada com o sindicato patronal e não havia necessidade da reunião.
Viomundo – Vamos por partes. Por que fazer barulho na Prefeitura e não em frente ao sindicato patronal?
Vavá do Transporte — Foi uma proposta aprovada da assembleia, e a assembleia, insisto, é soberana.
Viomundo – Essa reunião foi agendada com quem do governo?
Vavá do Transporte – No início da campanha salarial, o Sindicato levou a pauta de reivindicações ao secretário de Transportes do município [Gilmar Tatto], que recebeu a diretoria. Ao mesmo tempo, a diretoria do Sindicato seguiu discutindo com o sindicato patronal as reivindicações da categoria.
De lá para cá, na semana passada, a diretoria do Sindicado solicitou uma reunião com o governo. Quando eu falo governo, me refiro ao secretário de Relações Governamentais da Prefeitura [Chico Macena]. A reunião foi agendada para sexta-feira, salvo engano. E, aí, às 10 da manhã, o Sindicato cancelou.
Em nenhum momento, o governo fechou as portas para receber a diretoria do Sindicato.
Viomundo – O que o Noventa fez é permitido?
Vavá do Transporte – Na verdade, na segunda-feira, ele fez um arranjo. Não fez a passeata aprovada pela assembleia e ainda colocou em votação a proposta patronal. Só que, pelo que havia sido aprovado, isso só deveria acontecer na quarta-feira, em nova assembleia, quando a categoria decidiria pela greve ou não.
Viomundo – Noventa atropelou tudo então?
Vavá do Transporte – Isso causou um estrago grande. Ele chamou o pessoal, combinou um negócio e fez outro, gerando uma crise.
Viomundo – Crise entre quem e quem?
Vavá do Transporte – Toda época de campanha salarial tem uma turma a favor, outra contra. Coloca-se em votação. Se a categoria aprovou, tudo bem. Não aprovou, tem que sentar para discutir qual o plano de luta a ser adotado.
Nessa paralisação, isso ficou muito escancarado porque houve um racha dentro da diretoria atual do Sindicato. Um problema na cozinha deles.
Viomundo – Não teve também a mão dos patrões?
Vavá do Transporte – Não posso te confirmar isso [a mão dos patrões], porque, na verdade, estou afastado da direção. Eu não participei da campanha salarial. Eu acompanhei de fora. Como um telespectador.
Numa campanha salarial, há geralmente três rodadas de negociação. Na primeira, entram as questões sociais. Na segunda, se discutem outras coisas específicas do setor.
Na terceira, as cláusulas econômicas. A diretoria do Sindicato dos Motoristas e Cobradores discute diretamente com uma comissão do sindicato patronal. Essa greve nasceu de uma disputa na cozinha deles, não tem envolvimento da oposição.
Viomundo – Na cozinha da atual diretoria?
Vavá do Transporte – Sim.
Viomundo — Mas isso teve um comando?
Vavá do Transporte — O começo se deu no Largo do Paissandu, no ponto final da Viação Santa Brígida. Pararam uns 20 ônibus, furaram os pneus…
Viomundo — Como eu chego ao comando do movimento?
Vavá do Transporte – No comando do Sindicato, você tem o presidente, Valdevan Noventa, e o tesoureiro, que é o Edivaldo Santiago. O que deu para perceber é que eles estavam com opiniões divididas.
Viomundo – O Edivaldo foi quem comandou? Na madrugada, ele esteve na garagem da Santa Brígida conversando com motoristas e cobradores…
Vavá do Transporte – Ele esteve lá, realmente, mas, até onde sabemos, ele não convocou a paralisação. O que eu posso te dizer é que a oposição está dentro da cozinha deles. Quem são as duas pessoas mais importantes desse sindicato? Valdevan Noventa e Edivaldo Santiago. O presidente não fez a luta, não fez o combinado com a assembleia. Estopim estourou para todo lado.
PS do Viomundo: O Vavá se enganou em relação à assembleia da semana retrasada. Ela foi na quarta-feira (14 de maio) e não na quinta, como ele havia nos informado. Já corrigimos. Ele pediu desculpas pelo erro. Outro dado: na sexta-feira, solicitamos entrevista com o Edivaldo Santiago, tesoureiro do Sindmotoristas. Mas ele não retornou.
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