Roberto Bitencourt: Realidade nas salas de aula desmente “rigorosos protocolos de controle” e casos de covid explodem nas escolas da Prefeitura do RJ

Tempo de leitura: 4 min

Explodem casos de covid-19 nas escolas da Prefeitura do Rio de Janeiro

Por Roberto Bitencourt da Silva*, especial para o Viomundo

Relatório divulgado pelo Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe) demonstra um alto índice de contágio da chaga do covid-19 entre jovens e infantes alunos, professores e demais funcionários das escolas públicas da rede municipal do Rio de Janeiro.

São números muito preocupantes, obtidos por intermédio dos relatos encaminhados por profissionais que trabalham na rede de ensino.

De acordo com relatório de monitoramento de casos e demais problemas denunciados pelo Sepe, divulgado em 19 de agosto (na íntegra, aqui), 121 unidades de ensino da Prefeitura do Rio apresentaram incidências da doença e graves limitações para reduzir os riscos de contágio.

São escolas, portanto, que tiveram que ser fechadas e outras tantas mais que, mesmo com casos plurais de contaminação, insana e incompreensivelmente permanecem abertas, com algumas turmas deslocadas para o ensino remoto.

No momento esses números compreendem quase 10% da rede de educação administrada pela Prefeitura do Rio.

Desde a publicação dos dados pelo sindicato tem aumentado a circulação de informações de novos casos de contaminação nas escolas.

Cumpre acentuar que a Secretaria Municipal de Educação deixou de lado regras que viabilizassem de fato a adoção de rodízios dos alunos por turma, criando condições bastante inseguras para a recepção dos estudantes, para o desempenho do trabalho docente, estimulando a superlotação das salas de aula.

O cartão alimentação das famílias foi suspenso, deliberadamente forçando o retorno desenfreado dos alunos para a refeição nas escolas.

A rotina é de mais de 20 alunos por sala, superando até a casa das 30 crianças e adolescentes por turma. Só não tem ultrapassado 40 alunos em sala porque alguns pais não autorizaram o regresso dos filhos.

Considerando que a rede de ensino possui mais de 600 mil estudantes, as escolas, assim, tendem a ser convertidas em verdadeiras estufas de variantes e contágios. Um absurdo.

Ademais, a Prefeitura não forneceu máscaras em quantidade e qualidade necessária para a proteção dos estudantes.

Existem máscaras descartáveis disponibilizadas pelas escolas, mas somente após a verificação dos problemas em sala pelos professores.

Isto é, quando a possibilidade maior de contágio já se deu. Levando em conta o perfil socioeconômico de parcela expressiva dos alunos da rede municipal, com famílias enredadas em uma ampla vulnerabilidade social, com responsáveis subempregados ou desempregados, a distribuição de máscaras é de suma importância. Sejam elas de tecido reforçado ou PFF2.

É comum ver estudantes com máscaras bastante desgastadas, frouxas, que nada protegem. Adicionalmente, elas não são trocadas no intervalo de tempo recomendado por especialistas, ou seja, entre duas a três horas de uso. Com efeito, não surpreende que a crescente incidência de casos de covid-19 seja considerável entre crianças e jovens alunos.

O prefeito Eduardo Paes, por seu turno, parece viver em um mundo paralelo. A cidade é, desde o início da pandemia, uma das localidades com maiores índices de transmissibilidade da doença no país.

Recentemente, nas palavras do próprio Paes, o “Rio tornou-se o epicentro nacional da variante delta”.

Contudo, o prefeito prefere nada fazer para diminuir essa agrura. Pelo contrário. Semanas atrás anunciou que promoveria uma festa em setembro para os cariocas celebrarem o fim da pandemia. Algo típico de um tresloucado tirano, que pensa ter a capacidade de moldar a realidade por decreto, a seu bel-prazer.

Enquanto as autoridades da Prefeitura alegam que mantêm “rigorosos e científicos protocolos de controle da pandemia nas escolas”, predomina uma realidade de aglomerações e a inexistência de distanciamento nas salas, praticamente retornando as aulas presenciais sob condições anteriores à pandemia.

As imagens aqui publicadas são sobremodo ilustrativas (veja-as no topo).

Na contramão das afirmações autolaudatórias da Prefeitura, há poucos dias a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um notório centro de pesquisa científica e ensino universitário de excelência no país, manifestou-se contrária ao retorno das aulas presenciais em suas instalações.

Pesquisadores do seu Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 (aqui, íntegra do relatório da UFRJ) pronunciaram-se assinalando que “a cobertura vacinal contra a covid-19 no estado do Rio de Janeiro é muito baixa e não atingiu de forma tão contundente os mais jovens… Estima-se que a cobertura vacinal acima de 70% dos indivíduos com esquema vacinal completo seria uma faixa segura para o início das medidas de flexibilização”.

A população da cidade do Rio de Janeiro, no entanto, ainda está longe de alcançar significativamente os números de vacinação com dose única ou duas doses, encontrando-se com percentual pouco acima de 40% dos habitantes com esquema vacinal completo. A UFRJ não retorna tão cedo.

Entretanto, para a Prefeitura, parece que a pandemia não existe nas escolas sob a sua responsabilidade.

O comportamento do Eduardo Paes, em vez de se orientar pela implementação de medidas que reduzam os danos e atenuem os riscos de contágio nas unidades municipais de ensino fundamental, norteia-se mais por um irresponsável negacionismo eivado por delírios de realização de uma festa carnavalesca, que, infelizmente, ainda está, ou deveria estar, muito distante no horizonte.

Reacionário, agente político que renitente e flagrantemente desrespeita o direito trabalhista de greve, autoritário, inflexível nas negociações com os representantes sindicais dos profissionais de educação, negacionista, perseguindo a projeção de uma imagem de normalidade para uma cidade doente, em que rapidamente dissemina-se a variante delta, com altos índices de ocupação de leitos e enfermarias hospitalares, em nome da preservação da saúde das comunidades escolares da rede municipal de ensino, Eduardo Paes precisa ser freado e fiscalizado pelos Poderes Legislativo e Judiciário.

*Roberto Bitencourt da Silva é cientista político e historiador.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Denner Rios

Qdo eu dava aula eu comprava o meu giz e comprava o meu apagador.
O Estado não fornecia nada disso. Ou seja, não fornecia para todo prof. durante todo o ano letivo.
E a primeira sala que entrei tinha 45 alunos, crianças de 10, 11 ou 12 anos.
Eu nem conseguia controla-los. 45 é muito aluno. Qdo conseguia “distrair” os meninos e fazer com que eles ficassem quietos, as meninas pequenas começavam a zoar.
Será que tem álcool gel para todas crianças na escola estadual ?
Não tem nem papel higiênico. As vezes, até nas universidades não tem papel higiênico.
Sinceramente eu não mandaria meu filho para escola sendo que o povo não está vacinado. NAO VALE A PENA O RISCO.
Ainda mais numa escola que o ensino é bem precário.
Fora o risco de uma criança dessas pegar covid e morrer. O corpinho delas por fora e por dentro é bem fraquinho.
Quem avisa amigo é.
Tem supletivo de 1 e 2 grau se precisar.
Não vacila com teu filho que político não tá nem aí pra nós povo pobre.
Tem supletivo. Se for o caso recupera, faz tudo na metade do tempo.
Mas tem que ser em supletivo oficial da secretaria estadual de educação do SEU estado.
Os pequenos na escola vivem pulando um em cima do outro, e alguns se esparramam em cima da mesa do professor.
Eles não tem aquela disciplina motora, são crianças. São latinos.
Não vacila pq não tem vacina.
Não é 6 meses a mais de escola que faz a diferença, mas a qualidade do ensino.

Deixe seu comentário

Leia também