Por trancaço contra Alckmin, Unesp tentou arrancar de estudantes confissão de atentado à moral e aos bons costumes

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Da Redação

Trinta e cinco estudantes da Universidade Estadual Paulista, campus de Marília, correm o risco de sofrerem punições disciplinares por terem participado de um ‘trancaço’.

Em nota, reproduzida no Esquerda Online, eles explicaram:

No ano de 2015, o governo do Estado de São Paulo decretou a “reorganização escolar”, que pretendia fechar 92 escolas e transferir mais de 300 mil alunos da rede pública com o argumento de que era necessária uma separação em ciclos únicos por escola (Fundamentais I e II e Médio) para uma suposta melhora do desempenho do ensino.

Esse decreto não só foi colocado de maneira autoritária, sem qualquer dialogo com as escolas, professores e, principalmente, as e os estudantes secundaristas, como também faria com que as e os alunos se deslocassem por longos trajetos até sua nova escola, forçados pela distribuição dos ciclos por escolas.

Por conta disso, o movimento estudantil secundarista se colocou corajosamente em luta, ocupando mais de 200 escolas, ruas e avenidas. A partir dessa intensa mobilização, o governador Geraldo Alckmin se viu obrigado a retroceder.

Em Marília, foram ocupadas três escolas: Monsenhor Bicudo, José Alfredo, Sylvia Ribeiro, todas sofrendo um processo violentíssimo de repressão policial.

Nós, enquanto Movimento Estudantil da Unesp, campus de Marília – Faculdade de Filosofia e Ciências, nos colocamos em pleno apoio ao Movimento Secundarista; além de acharmos essa proposta absurda, entendemos necessária e fundamental a luta estudantil em conjunto com o movimento secundarista!

Com isso, em Assembleia Geral, decidimos trancar os portões da faculdade no dia 04 de dezembro, para que não houvesse nenhuma atividade ordinária dentro dos prédios em apoio às ocupações e contra a “reorganização escolar”.

Por conta do ‘trancaço’, houve um confronto entre servidores e estudantes da universidade.

Agora, 35 deles podem ser punidos — 14, “reincidentes”, correm o risco de suspensão ou expulsão, segundo a nota dos alunos.

Convocados para uma reunião com a diretoria, no dia 6 de julho, 21 deles teriam sido ‘convidados’ a assinar um termo em que assumiriam a culpa pelos acontecimentos, com uma particularidade: confessando violar os ‘bons costumes’.

Segundo a nota, os alunos da FCC “foram convocados a assinar um termo em que assumiam ter, entre outras coisas, agredido verbal e fisicamente funcionários da chefia da FFC, incentivar ausência coletiva, atentar contra a moral e os bons costumes e realizar propaganda ideológica, político-partidária, racial ou religiosa. Cabe ressaltar que o regime disciplinar da Unesp data de 1972, em plena vigência do AI-5, anos de chumbo da Ditadura Militar”.

Acrescentam os estudantes:

Diante dessas condições, os estudantes solicitaram um prazo para que pudessem decidir se assinariam tal termo ou não. As agressões e ameaças sofridas por estudantes que partiram de funcionários da chefia, que inclusive se desculparam publicamente por suas ações no dia mencionado, sequer são citadas na apuração de fatos e no processo de sindicância, evidenciando o caráter político e persecutório ao Movimento Estudantil e suas táticas de luta, bem como o caráter absolutamente degradante e injusto dos processos em andamento.

O Movimento Estudantil da UNESP-Marília pede o apoio de movimentos sociais, sindicatos, partidos, mídias independentes, comprometidas com a luta por uma sociedade mais justa e igualitária para repudiar os processos em andamento e reivindicar seu encerramento sem punição aos estudantes que se colocaram e se colocam em luta.

A direção da Faculdade de Filosofia e Ciências confirmou o andamento da apuração:

A Direção da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Unesp, Câmpus de Marília, diante do que tem sido divulgado sobre alunos desta Unidade sindicados, esclarece que:

Devido ao “trancaço” realizado em 4 de dezembro de 2015, por uma pequena parcela do corpo discente, foi aberto, no dia 22 daquele mesmo mês, processo de apuração preliminar;

Após identificação, por meio de imagens extraídas de fotografias, gravações em vídeo e áudio do referido ato, foi indicada a abertura de procedimento de sindicância dos alunos envolvidos que foram identificados, considerando, conforme Termo de Deliberação, que “os alunos identificados impediram o livre acesso às dependências da FFC de professores, técnico-administrativos, outros alunos e o público em geral”;

Em 6 de setembro de 2016, foi aberta sindicância administrativa, sendo que, por motivos adversos à Administração, os trabalhos ainda não foram concluídos;

Neste período, membros da Comissão Sindicante tiveram sucessivos afastamentos e pedido de rescisão contratual;

Contudo, esta Direção explica que, com a indicação de novos membros, os trabalhos da referida Comissão terão sua continuidade, sendo que os sindicados serão intimados e lhes serão assegurados amplo direito de defesa e do contraditório.

Portanto, a continuidade de atos administrativos relacionados ao ocorrido em 4 de dezembro de 2015 não possuem nenhuma relação com quaisquer outros fatos sucedidos recentemente na FFC.

Marília, 10 de Julho de 2017

Durante o trancaço, um estudante acusou o jornalista Fábio Conti, da TV Sol e Rádio Clube de Marília, de filmar os estudantes com o objetivo posterior de identificá-los junto às autoridades.

Ele reagiu: “Nós estávamos lá fazendo o registro das cenas e flagramos quando os estudantes entraram em confronto físico com servidores da própria Unesp e isso acabou provocando a ira deles. Não é a primeira vez inclusive que vamos atrás desse tipo de coisa. Esse grupo é o mesmo que invadiu escolas semanas atrás. Quando a gente mostra essa outra realidade, muitas vezes de um modo violento que eles usam para se fazer valer, entre aspas, do direito deles, isso acaba provocando raiva. A gente lamenta o episódio. Dentro do nosso trabalho, precisamos mostrar todas as versões, inclusive o comportamento inadequado dentro dos protestos”.


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