PM do governo Zema despeja 100 famílias com crianças e idosos em pleno dia de Natal; vídeos

Tempo de leitura: 4 min

por Conceição Lemes

Em artigo publicado em Hypescience. com, Jéssica Maes relembra a trégua no Natal da Primeira Guerra Mundial:

Em dezembro de 1914, a guerra estava entrando em uma nova fase: um cerco prolongado acontecia em trincheiras estáticas ao longo de uma frente de 750 km. Mas, durante o Natal, as coisas de repente ficaram calmas, pelo menos por um tempo.

Na noite antes do Natal, um capitão britânico servindo na Rue du Bois ouviu um sotaque estrangeiro do outro lado do fosso, dizendo: “Não atire depois da meia noite e nós também não o faremos” e, em seguida: “Se você for inglês, saia e converse com a gente, nós não vamos disparar”.

Tropas da Comunidade de Nações que lutavam na Bélgica e França começaram a ouvir sons estranhos vindos de toda a terra de ninguém; soldados alemães estavam cantando músicas natalinas. As tropas aliadas aplaudiram e comemoraram, gritando por mais. Os soldados de ambos os lados começaram a cantar em uníssono, trocando versos em línguas alternadas.

Escrevendo em seu diário na época, o sargento major do regimento, George Beck, fez a seguinte observação:

“Alemães gritaram para nós e nos pediram para jogar futebol com eles, e também para não disparar e eles iriam fazer o mesmo. Às 2h (do dia 25) uma banda alemã passou ao longo de suas trincheiras tocando ‘Home Sweet Home’ e ‘God Save the King’, que soou grandioso e fez todo mundo pensar nas nossas casas”.

Pois o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO) fez o oposto nesse 25 de dezembro de 2019, mostrando crueldade, desumanidade e covardia extremas.

Eram 15h30 quando a Polícia Militar invadiu a Ocupação Monte Cristo, em Santa Luzia, município mineiro pertencente à Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Os policiais chegaram por ar, fazendo voos rasantes de helicóptero, como estivessem numa caçada a criminosos.

E por terra, atirando balas de borracha, spray pimenta e bombas de gás lacrimogêneo, inclusive contra crianças e idosos.

“Na base da violência, sem mandado judicial, despejaram cerca de 100 famílias que estavam ali, entre as quais havia 20 crianças, alguns idosos e pessoas doentes”, informa ao Viomundo Laura Sabino, ativista digital e militante de movimentos populares.

A ocupação, em área urbana, era recente.

“Os policiais tocaram fogo nos documentos, derrubaram os barracos e levaram os pertences dos companheiros”, diz, emocionada.

Dois foram detidos. Mas integrantes da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (Renap) conseguiram libertá-los.

Algumas famílias foram para casa de parentes, outras para abrigos.

“É muito duro ver crianças sem perspectiva nenhuma de vida, tendo direitos e oportunidades negados e, ainda, atacadas por policiais no dia de Natal”, lamenta.

“O desejo de 100 famílias em pleno Natal faz parte da política desumana que o governo Zema vem aplicando”, expõe Laura.

“Ele tem feito um ‘esforço’ para desumanizar e demonizar moradores de ocupações e criminalizar os movimentos populares”, afirma.

Tânia Mandarino, do Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD), condena a ação totalmente ilegal:

“Sem um mandado judicial, os policiais jamais poderiam ter feito esse despejo. E, ainda, teria que ser um mandado com ordem especial do juiz para cumprimento fora do do horário determinado pelo Código do Processo Civil. Em feriado, especialmente de Natal, não se cumpre despejo.

41 HORAS DE TERROR NOS ACAMPAMENTOS PÁTRIA LIVRE E ZEQUINHA

Fotos: MST

Esta foi a terceira ação arbitrária, truculenta e sem ordem judicial da PM mineira em uma semana.

No dia 17 de dezembro, às 13h, os policiais atacaram os acampamentos Pátria Livre e Zequinha, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em São Joaquim de Bicas, também na região metropolitana de BH.

Com muitas viaturas, disparando tiros de balas de borracha, gás lacrimogêneo, cercaram os dois acampamentos que abrigam 1.200 famílias e invadiram, montando uma base no interior deles. Só saíram às 6h do dia 19.

Há relatos de assédio de PMs.

Mulheres, inclusive adolescentes, foram alvo de “comentários maldosos de cunho sexual”.

Reportagem do Brasil de Fato registrou a denúncia do MST sobre a invasão e o assédio :

Na chegada de um ônibus de integrantes do MST, os policiais teriam feito um “corredor polonês” para os acampados passarem.

As mulheres, que eram maioria, afirmam que policiais faziam comentários do tipo “tem gente aqui que não é sem-terra, é um pitelzinho”; “olha que bonitinha essas mulheres. Até que dá pro gasto”.

A agricultora Alessandra Andrade, que mora no acampamento Zequinha há um ano e seis meses, diz que está revoltada com a atitude da PM.

“A polícia está agindo como se tivesse bandido aqui dentro. E aqui não tem bandido, tem trabalhador, gente honesta com a mão cheia de calo igual a minha, de tanto trabalhar e lutar pela terra”, conta.

Sobre a ronda da noite, Alessandra reafirma que os policiais estão “assediando e olhando pro corpo das mulheres”.

O que diz a polícia

O tenente-coronel Itabirano, que responde pela operação, alega que o motivo da entrada da Polícia Militar é realizar “policiamento ostensivo” para evitar crimes. “Assim como a gente faz policiamento nos bairros”, completa. Diz ainda que a ação não é relacionada a uma reintegração de posse, que só pode ser feita mediante ordem judicial, mas que a PM ficará “até quando precisar”.

A integrante da direção estadual do MST Mirinha Muniz, discorda dos motivos alegados pela Polícia. “Eles dizem que estão ali para garantir a segurança das famílias, que existem denúncias de que ali tem criminosos, mas não apresentam quem são esses criminosos, não apresentam plano de trabalho. Ao contrário, fazem filmagens das famílias o tempo todo e a gente fica sentindo extremamente violado”, critica.

Porém, não saíram sem antes deixar a marca da violência. Na noite de quarta-feira (18), a PM destruiu a bandeira do MST e avançou para dentro dos lotes atropelando os moradores e apoiadores no local, além de destruir jardins e plantações.

Foram 41 horas de terror, humilhação, angústia e devastação.

Além de destruir a bandeira do MST, arrasaram também jardins e plantações


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Comentários

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Jardel

Esse é o “feliz natal” dos fascistas à população pobre do país.
A sanha bozoloide está infestando o país.

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