MP move ação penal contra aliado de Aloysio e Serra que comandou obra do Rodoanel
Tempo de leitura: 4 min
por Luiz Carlos Azenha
Paulo Vieira de Souza tornou-se conhecido dos brasileiros durante um dos debates eleitorais entre Dilma Rousseff e José Serra, na campanha presidencial de 2010.
Acossada por denúncias contra sua assessora Erenice, Dilma disparou: “Fico indignada com a questão da Erenice. Agora, acho que você também deveria responder sobre Paulo Vieira de Souza, seu assessor, que fugiu com 4 milhões de reais de sua campanha”.
Serra fez que não era com ele. No dia seguinte, tentou emplacar a ideia de que nem conhecia Paulo Vieira de Souza: “Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês fiquem perguntando”.
Vieira de Souza reagiu imediatamente. Em entrevista à Folha, disse: “Não somos amigos, mas ele me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem de responder. Não tem atitude minha que não tenha sido informada a ele”.
Rapidamente, o atual chanceler brasileiro lembrou-se do assessor: “A acusação contra ele é injusta. Não houve desvio de dinheiro de campanha por parte de ninguém, nem do Paulo Souza. Ele é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de Engenheiro do Ano (em 2009). Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo.”
O GOLPE DAS BABÁS
Se de fato não recebeu, deveria ter recebido.
O Ministério Público de São Paulo acaba de abrir Ação Penal Pública Incondicionada na qual Paulo Vieira de Souza é acusado de dar o chamado “golpe das babás” durante a construção do Rodoanel.
Apoie o VIOMUNDO
Segundo o promotor Cássio Conserino, que apura o caso, entre março de 2009 e abril de 2010 Paulo Vieira montou, através de intermediários, um esquema fraudulento para garantir indenizações a pessoas que não tinham direito.
Dentre os beneficiários, babás e empregadas domésticas que trabalhavam para Paulo e parentes dele. Elas receberam imóveis da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano, a CDHU, apesar de nem morarem no trajeto do Rodoanel.
O MP ainda não sabe se o ex-diretor da Dersa pretendia apenas fazer favor com dinheiro público ou se eventualmente embolsaria o valor arrecadado com a futura venda dos imóveis.
A principal testemunha contra Paulo Vieira é uma subordinada dele que fechou acordo de delação premiada.
Os valores da fraude, segundo o MP, atingem R$ 813.967,03, em valor não atualizado.
Não é o primeiro crime atribuído oficialmente a Paulo Vieira de Souza.
Dois meses depois de ser demitido da Dersa, logo após a inauguração do Rodoanel — quando Serra deixou o cargo de governador para concorrer ao Planalto — ele foi preso, acusado de receptação de um bracelete de brilhantes avaliado em R$ 18 mil.
À época, se defendeu dizendo que tinha sido vítima de “armação”.
O fato é que Paulo Vieira comprou a jóia e, ao tentar determinar se era verdadeira numa loja do shopping Iguatemi, em São Paulo, o gerente descobriu que o bracelete havia sido furtado da própria loja, no mês anterior.
DA COZINHA DE TUCANOS GRAÚDOS
Vieira de Souza mora num duplex com dez vagas na garagem num bairro nobre de São Paulo, a Vila Nova Conceição.
A informação de que ele teria sumido com dinheiro da campanha de Serra, onde teria exercido o cargo de tesoureiro informal, foi publicada pela revista IstoÉ e pode ter sido resultado da troca de bicadas no ninho tucano em época pré-eleitoral.
Em geral, vazamentos como o que resultaram na reportagem fazem parte de acertos de conta internos.
Por causa daquela denúncia — a que Dilma aproveitou no debate eleitoral — o ex-diretor da Dersa acionou o então vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, o deputado federal José Anibal e um dos tesoureiros oficiais do partido, Evandro Losacco, todos mencionados como fontes pela IstoÉ.
Coube a Alberto Goldman, ao assumir o governo em 2010, demitir Paulo. “Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o Super-Homem”, escreveu o ex-governador em e-mail que enviou a seu antecessor, José Serra.
No ninho tucano, o maior aliado de Paulo Vieira de Souza é o senador Aloysio Nunes Ferreira. Segundo a IstoÉ, familiares de Paulo doaram R$ 300 mil a Aloysio para que ele quitasse um apartamento no Higienópolis.
Atribui-se à amizade com Aloysio o fato de que Paulo foi assessor especial do Planalto durante todo o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, cuidando do programa Brasil Empreendedor Rural. O hoje senador reconheceu publicamente que é amigo de Paulo Vieira há 20 anos.
O período em que o engenheiro exerceu maior poder na Dersa, como diretor de Engenharia, coincide com aquele em que Serra foi governador de São Paulo e Aloysio, chefe da Casa Civil.
Paulo Vieira de Souza foi, então, o responsável pela medição e pagamento de empreiteiras em projetos que movimentaram R$ 7 bilhões, em dinheiro da época.
Por causa do Rodoanel, ele “caiu” na Operação Castelo de Areia, que investigou a contabilidade paralela das propinas pagas pela Camargo Corrêa.
Segundo relatório da Polícia Federal, Paulo Vieira teria recebido ao menos R$ 1,6 milhão só da Camargo, uma das empreiteiras do Rodoanel.
“A mim nunca ninguém entregou absolutamente nada. O lote da Camargo Corrêa na obra era de 700 milhões de reais e a obra foi entregue no prazo, só com 6,52% de acréscimo. É o menor aditivo que já houve em obra pública no Brasil”, defendeu-se.
Aloysio saiu em defesa do amigo. “O Rodoanel teve apenas um aditivo de 5% de seu valor total, um recorde para os padrões do Brasil”.
Uma das filhas de Paulo Vieira, a advogada Priscila Arana de Souza, foi acusada por parlamentares do PT de tráfico de influência: ela advogou para empreiteiras que tinham negócios com a Dersa desde 2006, ou seja, ao mesmo tempo em que o pai exercia cargo-chave na empresa.
Tanto Priscila quanto a esposa de Paulo Vieira de Souza, Ruth, tiveram funcionárias domésticas envolvidas no “golpe das babás”, mas o promotor mandou arquivar as investigações contra elas por falta de provas. Porém, outra filha do ex-diretor da Dersa, Tatiana, figura na Ação Penal ao lado do pai.
O promotor decidiu não pedir a prisão preventiva do aliado de Aloysio Nunes e José Serra. Resta saber se, oficialmente na mira da Justiça, Paulo Vieira perderá o controle.
Era a preocupação manifestada pelo ex-governador Alberto Goldman, que acabou confirmada pela frase que o próprio Paulo disse à Folha, depois que José Serra pretendeu desconhecê-lo: “Não se larga um líder ferido na estrada em troca de nada. Não cometam esse erro”.
Abaixo, íntegra da ação do Rodoanel e os relatórios da Castelo de Areia nos quais Paulo Vieira de Souza é citado:





Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!