Nassif: Investigação dos Bolsonaro vai chegar à Operação Quarto Elemento

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A certeza é que o governo Bolsonaro acabou, diz Luis Nassif

Para o jornalista, Bolsonaro dificilmente escapará de um processo de impeachment. Nas próximas semanas haverá uma caçada implacável aos negócios da família

por Luis Nassif, do GGN

“A verdade iniciou sua marcha, e nada poderá detê-la”. Emile Zola, analisando os movimentos da opinião pública no caso Dreyfus

Há uma certeza e uma incógnita no quadro político atual.

A certeza, é que o governo Bolsonaro acabou. Dificilmente escapará de um processo de impeachment. A incógnita é o que virá, após ele.

Nossa hipótese parte das seguintes peças.

Peça 1 – a dinâmica dos escândalos políticos

Flávio Bolsonaro entrou definitivamente na alça de mira da cobertura midiática relevante com as trapalhadas que cercaram o caso do motorista Queiroz. Não bastou a falta de explicações.

Teve que agravar o quadro fugindo dos depoimentos ao Ministério Público Estadual do Rio, internando Queiroz no mais caro hospital do país, e, finalmente, recorrendo ao STF (Supremo Tribunal Federal) para trancar a Operação Furna da Onça, que investiga a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Nas próximas semanas haverá uma caçada implacável aos negócios dos Bolsonaro.

A revelação, pelo Jornal Nacional, de uma operação de R$ 1 milhão – ainda sem se saber quem é o beneficiário – muda drasticamente a escala das suspeitas.

No dia 07/01/2018, a Folha lançou as primeiras suspeitas sobre Flávio. Identificou 19 operações imobiliárias dele na zona sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca.

Em novembro de 2010, uma certa MCA Participações, que tem entre os sócios uma firma do Panamá, adquiriu 7 de 12 salas em um prédio comercial, que Flávio havia adquirido apenas 45 dias antes. Conseguiu um lucro de R$ 300 mil.

Em 2012, no mesmo dia Flávio comprou dois apartamentos. Menos de um ano depois, revendeu lucrando R$ 813 mil apenas com a valorização.

Em 2014 declarou à Justiça Eleitoral um apartamento de R$ 566 mil. Em 2016 o preço foi reavaliado para R$ 846 mil. No fim do ano, a compra foi registrada em escritura — por R$ 1,7 milhão. Um ano depois, revendeu por R$ 2,4 milhões.

Ou seja, não se trata apenas de pedágio pago pelos assessores políticos, dentro da lógica do baixo clero.

As investigações irão dar inexoravelmente nas ligações dos Bolsonaro, particularmente Flávio, com negócios obscuros por trás dos quais há grande probabilidade de estarem as milícias do Rio de Janeiro.

Peça 2 – a Operação Quarto Elemento

A Operação que chegará ao centro da questão não é a Furna da Onça, mas a Operação Quarto Elemento.

Deflagrada no dia 25 de abril de 2018 pelo Ministério Público Estadual, destinou-se a desbaratar a maior milícia do estado, que atuava na Zona Oeste do Rio.

Foram presas 43 pessoas. O maior negócio da quadrilha era a extorsão.

A ala Administração atuava na 34ª DP (Bangu), 36ª DP (Bangu) e na Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

Identificavam pessoas que seriam alvos de operações e iam na frente, para extorqui-las.

Foram detidos 23 policiais civis, cinco policiais militares, dois bombeiros e um agente penitenciário.

O líder da organização é Wellington da Silva Braga, o Ecko, que assumiu o comando depois da morte de seu irmão Carlinhos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes.

Outros irmãos participavam da quadrilha, incluindo Luiz Antônio Braga, Zinho, dono de uma empresa, a Macla Extração e Comércio de Saibro.

Carlinhos Três Pontes era o capo da milícia. Morto, foi substituído pelo irmão Wellington da Silva Braga, secundado pelos também irmãos Wallace e Luiz Antônio, conhecido como Zinho.

Vamos ao jogo de relacionamentos:

Zinho é o principal suspeito de ter contratado o assassino da vereadora Marielle Franco.

Na campanha, o ato de maior impacto foi o do futuro governador do Rio, Wilson Witzel, comemorando dois brutamontes arrebentando a placa com o nome de Marielle.

“O Alan e o Alex não tem nada a ver comigo”, disse Flávio; “eles são irmãos da Valdenice (de Oliveira Meliga), que é um dos pilares do nosso trabalho de política aqui no Rio. Mas os irmãos dela não trabalham comigo. De vez em quando aparecem (nas agendas), mas não tem vínculo nenhum comigo”, completou

Na operação foram presos os irmãos gêmeos, PMs Alan e Alex Rodrigues de Oliveira, que atuavam como seguranças de Flávio Bolsonaro na campanha de 2018.

Flávio defendeu-se tratando-os apenas como voluntários sem maiores ligações. Fotos no Twitter desmentiam (ver uma acima), mostrando intimidade ampla dos Bolsonaro – pai e filho – com os irmãos.

Três PMs membros da organização, e detidos pela operação – Leonardo Ferreira de Andrade, Carlos Menezes de Lima, Bruno Duarte Pinho – , foram alvos de moções de louvor e congratulações de Flávio, quando deputado estadual.

Dizia a moção [Nota do Viomundo: a Leonardo]:

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, ao longo de mais de dois séculos de imaculada existência, sempre cumpriu seu sagrado dever constitucional de proteção de nossa sociedade. (…) Dentre tais sucessos, merece especial citação e motiva a presente moção o confronto armado em comunidade localizada em Santa Cruz que culminou na prisão de diversos criminosos – dentre eles o chefe de tráfico conhecido pelo vulgo de “Zé da Colina”, possuidor de extensa ficha criminal.

Segundo a Operação Quarto Elemento, “o esquema teve início quando os policiais eram lotados na 36ª DP (Santa Cruz) e continuou após a transferência do grupo para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói, a partir de maio de 2017”

Peça 3 – o histórico dos Bolsonaro com as milícias

Eleito deputado federal, em 12/08/2003, Jair Bolsonaro proferiu discurso na Câmara defendendo a entrada das milícias no Rio de Janeiro.

Quero dizer aos companheiros da Bahia – há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio – que enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas.

No dia 17/12/2008, outro discurso defendendo os milicianos das críticas de Marcelo Freixo, do Psol, marcado para morrer.

Nenhum deputado estadual faz campanha para buscar, realmente, diminuir o poder de fogo dos traficantes, diminuir a venda de drogas no nosso Estado. Não. Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes.

Eleito deputado estadual em 2007, com 43.099 votos, Flávio Bolsonaro passou a integrar a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio.

Na época, foi visto com uma camiseta com os dizeres “Direitos Humanos, o esterco da vagabundagem”.

Na época, frequentava uma comunidade do Orkut “Estuprador merece a morte”.

Em seus discursos, defendia o pagamento de taxa de proteção às milícias por parte dos moradores dos territórios ocupados.

As classes mais altas pagam segurança particular, e o pobre, como faz para ter segurança? O Estado não tem capacidade para estar nas quase mil favelas do Rio. Dizem que as milícias cobram tarifas, mas eu conheço comunidades em que os trabalhadores fazem questão de pagar R$ 15 para não ter traficantes.

Flávio atuou fortemente contra a CPI das Milícias [Nota do Viomundo: Ele votou contra a instalação] e anunciou sua intenção de apresentar um projeto regulamentando a profissão das “polícias mineiras”, termo da época para policiais que atuavam fora dos regulamentos.

Peça 4 – a serventia dos Bolsonaro

A Operação Quarto Elemento ocorreu em plena campanha eleitoral. Deu alguma repercussão, mas as informações foram abafadas para não influenciar as eleições e a candidatura de Fernando Haddad.

Àquela altura, mídia, mercado, Círculos Militares, o general Villas Boas, tentavam pegar carona na onda anti-PT. Quando Bolsonaro passou a cavalga-la, foi poupado em nome da causa maior: ele tinha serventia.

Agora, não tem mais. Pelo contrário. A cada dia torna-se um peso excessivo para ser carregado por seu maior avalista, o estamento militar.

Não é Sérgio Moro quem está vazando informações. Aliás, Moro está mais agarrado ao cargo que caranguejo na pedra.

Muito provavelmente é o próprio MPE do Rio, que há tempos entendeu a extensão do envolvimento dos Bolsonaro com as milícias.

Esse processo terá consequências sobre as instituições.

Mídia – com os fatos se sucedendo, rompeu definitiva e precocemente a blindagem sobre Bolsonaro.

Forças Armadas – dificilmente manterão o aval a um governo ligado às milícias, tendo se mostrado um carro desgovernado, incapaz de se articular minimamente.

Ministério Público – com o aval da mídia, e com o impacto das revelações sobre Flávio, continuará agindo e tirando da gaveta mais informações sobre a família.

Supremo Tribunal Federal – com a opinião militar mudando, recuperará a valentia e endossará as ações da PGR e do MPE. O Ministro Luiz Fux ficou literalmente com a broxa na mão.

Senado – o caos em que se transformou o PSL, facilitando a eleição de Renan Calheiros, deixará o Senado como poder autônomo em relação a Bolsonaro, especialmente agora, que se vislumbra o desmonte da blindagem institucional.

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Comentários

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Maria Izabel Lima

Tudo se encaixa. Tudo faz sentido.Sinto que é apenas uma questão de tempo.Ah, o tempo…

David lincoln

É melhor vocês Jair se acostumando. Todo estar acusações fictícias são produtos dos canalhas dos petralhas que estão loucos porque perderam as tetas. Seus preguiçosos, vocês vão ter que trabalhar para sobreviverem, igual a maior parte dos Brasileiros. VICA O GOVERNO DEMOCRÁTICO E PROGRESSISTA DO BOLSONARO.

    Hudson

    Explica aí, oh, defensor de bandidos:

    “É plausível Bolsonaro emprestar R$ 40 mil a um sujeito que movimentava milhões, segundo o Coaf? É plausível que esse milionário fizesse o suposto reembolso não de uma vez, mas em uma espécie de carnê das Casas Bahia (dez parcelas)? É plausível o presidente não ter mostrado sequer um extratozinho bancário do suposto empréstimo? É plausível o pagamento ter ido para a mulher sob o argumento de que o marido, que recebia mensalmente R$ 33,7 mil na conta, não ter tempo de movimentar dinheiro? É plausível Bolsonaro não saber o que a filha de Queiroz fazia em seu gabinete? E, em não sabendo, não procurar se informar nem divulgar?”

    https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ranier-bragon/2019/01/bolsonaro-tem-tudo-a-ver-com-o-flaviogate-so-nao-ve-quem-nao-quer.shtml

Zé Maria

Os 3 Filhos mais o Pai é “Operação Quarto Mau Elemento”.

Existe um time (tempo) ideal para os fatos virem à tona.
Não nos esqueçamos:
-muita gente que votou em Bolsonaro acha razoável um monte de ideias que soam grotescas – milícias atuando contra “bandidos”, por exemplo.
-muito eleitor do Bolsonaro ainda carrega, orgulhoso, o adesivo da campanha no vidro do carro, a despeito de todas as notícias da lavanderia Queiroz.
É preciso “deixar sangrar”. É preciso que uma parte significativa dos eleitores dele se arrependam do voto. É preciso chegar no nível de vergonha de Temer. Bozo não tem a articulação que Temer tinha para se safar no congresso.
Se há alguma utilidade em eleger Bozo é mostrar pra população que ideias simplistas não funcionam, que não existe um jeito óbvio de resolver problemas.

Karla

“Há método nessa loucura” diria o Bardo.
A ilação de que o promontório de evidências factuais resulte em impedimento, por parte de Nassif, não dá conta de uma realidade que já se anunciava ao longo do processo eleitoral.
O militar da reserva personificava, de fato, uma “candidatura militar”.
É mais fácil o Executivo produzir uma “intervenção militar” a seu próprio pedido, como um dos Poderes com base no artigo 142 da Carta de 88, do que sobrevir um impedimento presidencial.
A tendência a cada dia que passa é haver a ocupação progressiva e continuada do centro decisório pelo estamento militar: generais, almirantes e brigadeiros.
Nassif decanta uma ingenuidade pueril longe da realidade concreta anunciada desde 2017 e que se concretizou com a manifestação do Ministro do Exército que pautou a agenda e o comportamento do STF desde então.
A agenda governamental tem sido escoltada e será monitorada pelo Ministro da Defesa e os chefes das Forças Armadas.
1968 e 1988 terminaram em 2018 com a volta dos militares ao centro do poder com o voto popular e a imposição de “três derrotas monumentais da esquerda”, nas palavras de Flávio Dino: o impeachment de Dilma, a prisão de Lula e a derrota do PT para a extrema-direita militar.
Nassif ainda deve estar com a sua ressada mal curada.

LUIZ HORTENCIO FERREIRA

Sabe nada! Me diz o que o Ministro da Justiça (Moro) e o futuro PGR (Dalagnhol) vão fazer… irão contra os fascistas eno poder? rsrsrsrsrsrsrsrsr

LUIZ HORTENCIO FERREIRA

Acho interessante o bom humor do povo brasileiro, faz piada e brinca com tudo!
O tal do Sergio Moro, foi o juiz que interferiu nas eleições passadas de forma assuntosa e favorecendo os adversários do PT, em troca de um cargo de Ministro da Justiça do governo fascista aí instalado e ninguem mais fala mais disso, ficam só criando piadas e brincadeirinhas, desenhinhos na inernet. Voces acham que vai dar alguma coisa isso tudo dos bolsonaros? O Moro já é o ministro da justiça, depois vai fazer parte daquele antro do STF e ainda por cima o proximo PGR vai ser o tal do dalanghol e ninguem dfala disso!!!!!! Tá tudo muito de bom humor o povo brasileiro!!!
Depois não adianta reclamar da vida!!!

Edson Araujo

Ao invés de “Moro está mais agarrado ao cargo que caranguejo na pedra” diga-se: “Moro está mais agarrado ao cargo que ostra (ou marisco) na pedra”,

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