Mistério: Quem contou a Moro que o caso do tríplex iria para Curitiba?

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Reprodução de vídeo

Triplex: Moro antecipou a Dallagnol decisão que seria tomada pela Justiça de SP

“Nobre, isso não pode vazar, mas é bastante provável que a ação penal de SP seja declinada para cá se o LL não virar Ministro antes”, escreveu Moro em 13 de março de 2016

Por Jornal GGN – 13/06/2019

Jornal GGN – Em uma das conversas privadas com Deltan Dallagnol no Telegram, Sergio Moro antecipou uma decisão que seria tomada no dia seguinte por uma juíza de São Paulo. Na pauta: Lula e o apartamento no Guarujá.

Em 13 de março de 2016, Moro escreveu a Dallagnol: “Nobre, isso não pode vazar, mas é bastante provável que a ação penal de SP seja declinada para cá [Curitiba] se o LL não virar ministro antes.” Dallagnol respondeu: “Ok. Obrigada.”

No dia seguinte, 14 de março, uma segunda-feira, o Estadão noticiou, por volta das 15h, que a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, de São Paulo, dividiu o caso Bancoop, apresentado pelos procuradores paulistas, e transferiu para a 13ª Vara Federal de Curitiba os trechos que citavam Lula e o apartamento no Guarujá. O despacho divulgado pelo Estadão não contém data, mas o jornal afirma que a decisão foi tomada no dia 14.

O Ministério Público de São Paulo havia denunciado Lula, Marisa Letícia e mais 14 pessoas e pedido a prisão preventiva do ex-presidente, a quem foram imputado os crimes de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro com a ocultação da propriedade do imóvel no Guarujá.

Na decisão, a juíza Maria Priscilla entendeu que o apartamento tinha relação com propinas da Petrobras e, por isso, declinou a competência para Moro. Exatamente como o então juiz de Curitiba havia antecipado na noite anterior a Dallagnol.

O que permaneceu em mãos do Ministério Público de São Paulo não foi suficiente para levar os réus à condenação e, em 2017, a magistrada absolveu todos.

Na mensagem do dia 13, Moro também denotou que já estava preocupado com as movimentações em Brasília para Lula virar ministro de Dilma Rousseff.

Em 16 de março de 2016, ele vazou para a imprensa um áudio de conversa entre a então presidenta e Lula, sobre o termo de posse no Ministério da Casa Civil. O vazamento ilegal também foi objeto de diálogo fora dos autos entre Moro e Dallagnol, como mostrou o The Intercept Brasil.

“Você é o cara”

No mesmo dia em que recebeu a notícia de que a ação penal contra Lula que tramitava em São Paulo seria remetida para Curitiba, Dallagnol parabenizou Moro pela repercussão dos protestos a favor da Lava Jato que aconteceram naquele domingo, 13 de março, reunindo milhares de pessoas em várias capitais do País.

Moro respondeu que estava satisfeito com o apoio público, mas que não tinha fé na capacidade do Supremo Tribunal Federal em processar e julgar tantos políticos – que seriam implicados em delações geradas a partir de empresários presos em Curitiba. Dallagnol replicou que a solução era mudar o sistema.

“O próximo passo que podemos dar é o fim do foro por prerrogativa de função, reservando-o para 15 pessoas. Teremos voz para isso, porque os casos do Supremo não andarão com 1/10 da celeridade [de Curitiba]. (…) Foi em razão da experiência com o Banestado que no ano passado investi tanto tempo nas 10 medidas. Se não mudarmos o sistema, sabemos o que acontecerá com os casos [da Lava Jato]”, disse o coordenador da força-tarefa.

Dallagnol finalizou com um apelo a Moro: “Preciso que você assuma mais as 10 medidas. (…) Você é o cara. Não é por nós nem pelo caso (embora afete diretamente os resultados do caso), mas pela sociedade e pelo futuro do país.”

PS do Viomundo: A Petrobras fica no Rio de Janeiro, Lula mora em São Bernardo e o apartamento fica no Guarujá. Por decisão superior, Moro ficou com todos os casos da Lava Jato ligados à Petrobrás. O caso de Lula foi arrastado para Curitiba, o que garantiu a condenação em segundo grau em tempo recorde, tirando o ex-presidente da disputa eleitoral de 2018. Na sentença, Moro admite que não ficou provado que Lula teria recebido o tríplex que nunca ocupou como compensação por contratos da empreiteira OAS junto à Petrobrás.



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Comentários

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Zé Maria

É óbvio que o desmembramento do Processo em São Paulo ocorreu por combinação do Moro com a tal juíza Maria Priscilla, que só mencionou a vinculação do triplex com a Petrobrás para fundamentar a decisão de enviar o processo de Lula para a 13 ª Vara Federal de Curitiba para o juiz Moro julgar.

    Mariana

    Concordo. E nunca lembramos de nos perguntar “quanto valeu isso”? Essa passagem foi de graça? Duvido.

    André Caldas

    Tem que quebrar sigilos telefônicos. Tem que interrogar a tal juíza.

Marcelo Carlos dos Santos

Outro fato que chama a atenção na mensagem é Moro ter se referido a Lula como LL, que nos permite inferir com Lula ladrão, haja vista que ele diz “…se o LL não virar ministro antes.”
Percebe-se, portanto, que mesmo antes de julgar o caso, o “juiz imparcial de Curitiba” já tinha opinião formada, sem mesmo ter todos os fatos do processo, ou seja, já estava contaminado pela parcialidade.

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