Delegado que investigou Lula elogiou Aécio e chamou ex-presidente de “anta”
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Em reação à denúncia do MPF, a guerra de memes foi imediata nas redes sociais
Lula é denunciado pela força-tarefa da Lava Jato
Procurador Deltan Dallagnol fala em “propinocracia” e diz que Lula é “comandante máximo do esquema de corrupção”
por Redação de CartaCapital — publicado 14/09/2016
O Ministério Público Federal denunciou, nesta quarta-feira 14, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex no Guarujá, litoral paulista. Também foram denunciados a ex-primeira dama Marisa Letícia, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o empresário Léo Pinheiro, da OAS, dois empregados da empreiteira e outros dois investigados.
De acordo com a força-tarefa da Lava Jato emCuritiba, Lula recebeu vantagens indevidas da OAS, uma das empresas que pagava propinas por contratos na Petrobras, na reforma de um apartamento do Edifício Solaris. Construído pela Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários (Bancoop), o prédio foi adquirido pela empreiteira.
Se a denúncia for aceita pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, o ex-presidente passará à condição de réu pela primeira vez nas investigações conduzidas no Paraná. Pela 10ª Vara Federal de Brasília, o petista já responde a processo por obstrução da Justiça, acusado de participar da tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, um dos delatores do esquema de corrupção na estatal.
Nesta quarta-feira, a apresentação da denúncia contra Lula foi liderada pelo chefe da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol. O procurador mostrou à imprensa dezenas de slides, que traziam diagramas apontando Lula como centro de um regime nomeado por Dallagnol como “propinocracia” ou, em suas palavras, “o governo regido pela propina”.
De acordo com Dallagnol, Lula era o “comandante máximo do esquema de corrupção” e “elo comum e necessário do esquema criminoso” de desvio de recursos públicos destinados “à perpetuação criminosa no poder”.
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Indiciamento
No fim de agosto, às vésperas de viajar para Brasília e acompanhar o julgamento de Dilma Rousseff no Senado, Lula indiciado pela Polícia Federal no inquérito sobre o tríplex. O ex-presidente foi enquadrado pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
“Foi possível apurar que o casal Luís Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia Lula da Silva foi beneficiário de vantagens ilícitas, por parte da OAS, em valores que alcançaram R$ 2.430.193,61 referentes às obras de reforma no apartamento 164-A do Edifício Salaris, bem como no custeio de armazenagem de bens do casal”, diz a conclusão da peça.
Quem assina o indiciamento de Lula é o delegado Marcio Adriano Anselmo, um dos principais nomes da Polícia Federal na força-tarefa da Lava Jato. Anselmo ficou famoso em 2014, quando o jornal O Estado de S.Paulo revelou que ele e outros delegados responsáveis pela operação usaram suas redes sociais durante a campanha eleitoral daquele ano para elogiar o senador Aécio Neves, então candidato do PSDB, e criticar Lula.
“Alguém segura essa anta, por favor”, escreveu Anselmo em um grupo fechado de Facebook, segundo o Estadão, em uma notícia com o título “Lula compara o PT a Jesus Cristo”. Em outra postagem, o delegado comentou uma notícia na qual Lula dizia que Aécio não era um homem sério e de respeito. “O que é ser homem sério e de respeito? Depende da concepção de cada um. Para Lula realmente Aécio não deve ser”.
Lula é alvo de perseguição política, diz a defesa
O ex-presidente nega ter cometido qualquer ato ilegal e declara-se vítima de uma perseguição política. Recentemente, encaminhou uma petição ao Comitê de Direitos Humanos da ONU contra Sergio Moro, na qual acusa o magistrado de violar direitos e antecipar juízo em seu desfavor.
Em recente entrevista a CartaCapital, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, afirma não haver nenhuma prova para amparar a tese de que o tríplex no Guarujá foi adquirido e reformado em benefício de Lula e sua família. “Já demonstramos, com farta documentação, que a dona Marisa Letícia [esposa de Lula] investiu valores, de 2005 a 2009, em uma cota da cooperativa habitacional Bancoop, e depois o empreendimento tocado pela cooperativa foi transferido à OAS”.
“Quando ocorreu essa transferência, os donos das cotas puderam optar entre pedir o resgate do valor investido ou usar o valor como parte do pagamento de uma unidade. A Dona Marisa optou por pedir o resgate do valor investido”, prossegue Martins. “Como se pode atribuir a propriedade do imóvel a ele, sendo que o ex-presidente esteve uma única vez no local? Ele olhou e não teve interesse. Nunca usou, nunca ocupou, nunca usufruiu… É uma propriedade absolutamente diferente do que a legislação prevê e até mesmo o senso comum imagina”.
O advogado de Lula criticou, ainda, o uso político da Lava Jato. “Inverteu-se a lógica da investigação. Já acharam o culpado, agora precisam provar a culpa dele. Promoveram uma devassa na vida de Lula e de seus familiares, e não conseguiram encontrar nada”.
PS do Viomundo: Não temos como provar, mas temos convicção, foi a frase que viralizou da entrevista coletiva dos procuradores Deltan Dallagnol e Henrique Pozzobon. Ela nunca foi dita literalmente.
Mas a ideia estava lá e resultou da junção de várias frases ditas pelos procuradores, que usaram “convicção” e “provas cabais”
Inicialmente, durante a apresentação da denúncia, o procurador Dallagnol, ao justificar a decisão do MPF de denunciar o ex-presidentre Lula, fala em “convicção”.
“Provas são pedaços da realidade, que geram convicção sobre um determinado fato ou hipótese. Todas essas informações e todas essas provas analisadas como num quebra-cabeça permitem formar seguramente, formar seguramente a figura de Lula no comando do esquema criminoso identificado na Lava Jato.”
Depois, Pozzobon fala em “provas cabais”:
“Precisamos dizer desde já que, em se tratando da lavagem de dinheiro, ou seja, em se tratando de uma tentativa de manter as aparências de licitude, não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário no papel do apartamento, pois justamente o fato de ele não figurar como proprietário do tríplex, da cobertura em Guarujá é uma forma de ocultação, dissimulação da verdadeira propriedade”
Na sequência, durante a entrevista coletiva, Dallagnol volta a usar o termo “convicção” mais duas vezes. A primeira, ao responder sobre o ex-presidente Lula. A segunda, por que um dos filhos e um empresário amigo de Lula citados nas investigações não foram denunciados:
“Dentro das evidências que nós coletamos, a nossa convicção com base em tudo que nos expusemos é que Lula continuou tendo proeminência nesse esquema, continuou sendo líder nesse esquema mesmo depois dele ter saído do governo.”
“Mas nós precisamos lembrar que as investigações continuam, o trabalho do Ministério Público não termina aqui, as investigações continuam e se nós formarmos a convicção de que eles são responsáveis por esses crimes eles serão igualmente acusados.”
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