Assembleia de Minas forma comissão para investigar Samarco com deputados que receberam $$$ de mineradoras; Mariana ficou com 0,7% do lucro da empresa
Tempo de leitura: 3 minImagens gravadas na margem do rio do Carmo, 50 km abaixo de onde romperam as barragens da mineradora Samarco
NA ELEIÇÃO
Deputados da comissão de barragens receberam R$ 587 mil de mineradoras
Juntos, os nove titulares da Comissão Extraordinária de Barragens receberam R$ 587 mil em doações diretas ou indiretas de mineradoras na última campanha eleitoral
PUBLICADO EM 12/11/15 – 16h32
TÂMARA TEIXEIRA, no jornal O Tempo
O maior impacto ambiental no Estado, as mortes causadas em função do rompimento das barragens de Bento Rodrigues e o sofrimento das famílias atingidas em Minas não conseguiram superar o lobby das mineradoras na Assembleia. Os deputados desistiram de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o desastre de Mariana e a situação das demais barragens em operação em Minas. O Colégio de Líderes decidiu criar, no lugar da CPI, a Comissão Extraordinária das Barragens. Juntos, os nove titulares dessa comissão receberam R$ 587 mil em doações diretas ou indiretas de mineradoras na última campanha.
Na prática, a discussão do assunto perde força na Casa. No caso de uma CPI, os deputados teriam poder de investigar, quebrar o sigilo dos investigados e garantir – se preciso com o uso da força policial – que os intimados para depor comparecessem à Assembleia.
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Entre os membros da comissão, o que mais recebeu doação de mineradoras foi Gustavo Corrêa (DEM). Ao todo foram R$ 239,9 mil vindos da Anglogold, Empresa de Mineração Esperança, Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), e da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Thiago Cota (PPS), filho do ex-prefeito de Mariana Celso Cota, recebeu R$ 111 mil da CBMM, Phoenix Mineração e Comércio, Mineração Corumbaense Reunida e MBR. Gil Pereira (PP) contou com R$ 180 mil da MBR e da Mineração Corumbaense Reunida. João Magalhães (PMDB) recebeu R$ 50 mil da Embu S/A Engenharia e Comércio. A reportagem considerou os parlamentares que receberam acima de R$ 10 mil.
Nos bastidores, nomes da base e da oposição confirmam que a pressão das mineradoras foi maior que a mobilização para colher assinaturas para a CPI. Os deputados chegaram a reunir 40 nomes para protocolar a abertura da CPI. O número foi superior aos 26 necessários para instaurar a investigação.
Oficialmente, a Assembleia informou que a Comissão Extraordinária seria mais eficaz porque “continuará atuando durante o recesso parlamentar” e porque ela apresenta a “possibilidade de centrar seus esforços nas questões que envolvem a atividade minerária como um todo, em vez de focar em um assunto específico”. A intenção da CPI, no entanto, já era apurar possível irregularidades em outras obras de mineração, além da operada pela Samarco, em Mariana.
PS1 do Viomundo: No mesmo jornal, “no ano passado, dos cerca de R$ 54 milhões que ela [Samarco] pagou em royalties pela exploração em território mineiro, R$ 20,22 milhões ficaram em Mariana. O que a cidade recebeu é menos de 1% (0,72%) do lucro líquido da mineradora em 2014. Os acionistas receberam R$ 1,81 bilhão, ou seja, cerca de 65%, segundo relatório de administração e demonstrações financeiras de 2014”.
PS2 do Viomundo: É como escrevemos aqui. Por serem parcial ou totalmente privatizadas, Petrobras e Vale (ambas na gestão de FHC) — assim como Sabesp, Cemig e muitas outras — obedecem à lógica de colocar o lucro dos acionistas acima de qualquer outra consideração. Preço alto do minério? Tira tudo para fazer caixa. Preço baixo? Tira tudo para enfrentar os competidores e não perder mercado. Isso envolve precarizar o trabalho (a grande maioria dos empregados da Samarco é de terceirizados) e correr riscos sem considerar o interesse público. Por que faltou água em São Paulo? Porque a Sabesp tratou de priorizar os acionistas e não fez os investimentos necessários quando deveria ter feito. Agora, falta água mas ela aumentou o preço… para satisfazer os acionistas. Veja aqui quem são os acionistas da Sabesp. É isso aí: os interesses dos investidores estrangeiros, da Bolsa de Nova York, colocados acima dos interesses nacionais. Quanto ao R$ 1 bilhão calculado como custo ambiental do que está acontecendo nos rios do Carmo e Doce, deve ser alguma piada…




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