Júlio Cerqueira César Neto: Sabesp privilegia acionistas em detrimento de usuários

Tempo de leitura: 2 min
Foto Divulgação

por Júlio Cerqueira César Neto

No último dia 15 de maio a Sabesp foi homenageada na Bolsa de Valores de Nova York, quando completou 10 anos de negociação de suas ações.

Na série de atividades comemorativas foi realçada a excelente valorização de suas ações, 601% nesses 10 anos, superando em muito a performance do [índice] Dow Jones, que subiu 29% no período, além de destacada sua posição de maior empresa de saneamento das Américas e quarta do mundo em número de clientes: 27,6 milhões de pessoas.

O valor de mercado da Sabesp quase triplicou: passou de R$ 6 bilhões para R$ 17 bilhões.

Entretanto, essa invejável situação da empresa e dos seus acionistas apresenta enorme contraste com a de seus usuários da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que representam mais de 70% dos clientes e de certa forma podem explicar a lógica desse formidável sucesso empresarial.

A empresa não investe em novos mananciais desde a conclusão do Sistema Cantareira, há mais de 20 anos, deixando o abastecimento em situação gravíssima, à beira de um colapso, como já ocorreu em 2003.

Não investe em sistemas avançados de tratamento de águas, necessários há mais de dez anos, tendo em vista a péssima qualidade das águas dos mananciais, colocando em risco a saúde de seus usuários.

Desde a sua criação, em 1973, [a Sabesp] não protegeu os seus mananciais, permitindo que Guarapiranga atingisse a lamentável degradação que apresenta hoje.

Além dessa situação do abastecimento de água, desenvolveu o seu programa de esgotos privilegiando a construção de redes coletoras, com lançamento sem tratamento nos córregos e rios da região, que hoje se constituem em canais de esgoto à céu aberto.

Trata apenas 25% dos esgotos gerados na região.

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Após a execução das duas primeiras fases do Projeto Tietê (1992-2000 e 2000-2010), a qualidade das águas superficiais da região está muito pior do que antes do início da obra.

A empresa, que no próximo ano faz 40 anos, sempre decidiu suas ações de forma isolada, atendendo aos seus próprios objetivos (comerciais), sem nenhum controle externo, inclusive a implantação do sistema tarifário, responsável pelo sucesso econômico-financeiro que, além de nunca ter sido auditado, cobra pela prestação dos serviços de tratamento de esgotos sem executá-lo.

Para concluir mais uma imagem futebolística: a Sabesp não tem marcador, sempre jogou livre.

Júlio Cerqueira César Neto é engenheiro, durante 30 anos foi professor de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica/USP.

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