Fórum de Educação Inclusiva denuncia: MEC ameaça desmonte da política de inclusão das pessoas com deficiência

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Foto: José Cruz/Agência Brasil


 Rossieli Soares da Silva, atual ministro da Educação. Foto: José Cruz/Agência Brasil

MEC AMEAÇA DESMONTE DA POLÍTICA DE INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Fórum de Inclusão lança manifesto em defesa da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva 

do Fórum de Inclusão 

O Ministério da Educação (MEC) anunciou que alterará Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), retirando justamente a perspectiva inclusiva.

De forma antidemocrática, o governo pretende legitimar uma reforma sem fazer o amplo debate da política educacional, ignorando a necessidade de aprofundamento dos estudos e pesquisa realizados na área e descumprindo os atuais marcos legais que asseguram o direito à educação inclusiva.

O MEC não avança no compromisso de construção da política de inclusão nas redes públicas de ensino e propõe um profundo atraso em relação às conquistas das pessoas com deficiência ao longo dos últimos anos.

A política de 2008 é resultado de um amplo movimento de educadores, pessoas com deficiência, familiares, entidades, operadores do direito, ativistas do movimento pela inclusão, que há mais de três décadas cobram do Estado brasileiro a implantação de medidas efetivas para a inclusão escolar, superando o atraso das políticas públicas que historicamente não asseguraram investimento para o desenvolvimento inclusivo das escolas, sem considerar que a segregação tem implicações significativas na vida das pessoas com deficiência.

Implementada desde 2008, a PNEEPEI está de acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006) que assegura o direito à educação inclusiva. Essa Convenção foi ratificada pelo Brasil, que assumiu o compromisso com a inclusão incondicional das pessoas com deficiência no ensino comum, sem discriminação por motivo de deficiência.

E para a efetiva participação em igualdade de condições com as demais pessoas, a PNEEPEI adota as medidas de apoio à inclusão escolar, institucionalizando o acesso à classe comum e a oferta do atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar à escolarização.

No processo de implantação da PNEEPEI, destacam-se a implantação de programas de formação continuada de professores que envolvem os profissionais do ensino comum e da educação especial e ações inovadoras de acessibilidade na rede pública de ensino, contemplando o transporte, os prédios escolares, os materiais didáticos e os recursos de tecnologia assistiva.

Mudando a lógica do financiamento que, até então não contemplava o desenvolvimento inclusivo das escolas públicas, em 2008 foi instituído o duplo FUNDEB para os estudantes da Educação Especial matriculados em classes comuns do ensino regular das redes públicas, assegurando recursos adicionais para o atendimento educacional especializado.

A Política de inclusão escolar compreendeu o apoio técnico e financeiro da União aos sistemas de ensino e assegurou a implantação de 42 mil Salas de Recursos Multifuncionais para a realização do atendimento educacional especializado nas escolas regulares, a destinação de recursos para projetos de acessibilidade em 57 mil escolas públicas, a aquisição e entrega de 1.874 ônibus para o transporte escolar acessível nas redes públicas de ensino, a implantação e a oferta do curso de Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Brasileira de Sinais – Libras em 20 universidades, a implantação de núcleos de acessibilidade em 59 instituições federais de educação, a produção de livros em Braille e nos formatos digitais acessíveis, a implantação dos núcleos de formação e produção de materiais acessíveis  nas áreas da deficiência visual, da deficiência auditiva e altas habilidades/superdotação.

Além disso, foi criado o BPC Escola, para o acompanhamento do acesso à escola das pessoas com deficiência, de 0 a 18 anos, beneficiárias do Benefício da Prestação continuada – BPC.

Esse é um processo inovador na história da educação brasileira e que acompanha o movimento mundial pela inclusão.

No Brasil, as matrículas de estudantes da educação especial duplicaram em pouco mais de uma década, passando de 504 mil em 2003, para 977 mil em 2016.

O índice de acesso inclusivo que era de apenas 24% em 2003 alcançou 81% das matrículas em 2016. O Censo Escolar/Inep de 2017 registra 1,06 milhão de matrículas na Educação Especial, sendo 897 mil incluídos no ensino regular (84%) e 170 mil em classes ou escolas segregadas (16%). Na educação superior, em uma década, passamos de 5 mil matrículas para 30 mil matrículas.

Por todas essas conquistas e entendendo que é preciso avançar nesse caminho, as entidades reunidas no Fórum Nacional de Educação Inclusiva dizem não aos retrocessos e se organizam para acionar judicialmente o Ministério da Educação por violação dos direitos das pessoas com deficiência.

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Comentários

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ERENICE NATALIA SOARES DE CARVALHO

O MEC não está “desmontando” a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Está atualizando-a, após 10 anos de implementação. Como se pode comentar um texto ainda desconhecido?
Inclusive, o MEC colocará o texto, com as propostas de modificação, em consulta pública, para que a população interessada tenha oportunidade de postar suas sugestões, concordar ou discordar com o proposto , em parte ou no todo. A veiculação de inverdades no que tange à educação inclusiva macula seus princípios e atrasa esse processo, que é complexo e demorado, pois é sociocultural e, não, apenas técnico, administrativo ou político.
A inclusão escolar não começa no ato da matrícula, mas ocorre primeiramente na dimensão socioafetiva do coletivo escolar, mediante a aceitação dos estudantes pela comunidade escolar e pelo fortalecimento do sentimento de pertença por aquele que ingressa. Essa é a base para outros aspectos viabilizadores, como acessibilidade à aprendizagem e participação. Repudiamos esse clima de discórdia e intolerância em torno da educação inclusiva, o que prejudica seu andamento

    ERENICE NATALIA SOARES DE CARVALHO

    moderação ou censura?

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