Olavo diz que militares, “escravos” da mídia, tutelam o governo Bolsonaro; olavete atribui à Kroton pressão sobre o MEC

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Reprodução de vídeo

Da Redação

Uma capa da revista Veja já havia demonstrado: a mídia trabalha para derrubar os dois ministros indicados por Olavo de Carvalho no governo Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo e o ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez.

Seria uma forma de enfrentar a influencia dos três filhos do presidente, Flávio, Carlos e Eduardo.

O Estadão fez um violento editorial contra o presidente, com o objetivo de acelerar a reforma da Previdência.

Os barões da mídia sabem que a janela de oportunidade é agora ou nunca, já que a popularidade de Bolsonaro vai se desmanchando.

Impulsos midiáticos similares aconteceram ao longo dos governos Lula e Dilma, contra os que a mídia considerava “radicais” de esquerda ou em defesa de determinados objetivos econômicos (a mídia nunca publicou um editorial sequer criticando subsídios a exportadores ou industriais brasileiros).

O guru dos Bolsonaro, desde a Virgínia, nos Estados Unidos, troca farpas públicas com o vice-presidente Hamilton Mourão.

“O maior erro da minha vida de eleitor foi apoiar o general Mourão. Não cessarei de pedir desculpas por essa burrada”, chegou a escrever Olavo.

Mourão é general da reserva e Bolsonaro, capitão. No mundo militar, a hierarquia está acima de tudo.

A posição de Mourão, de fato, é dúbia, como apontou o ex-ministro Ciro Gomes.

Numa entrevista recente, falando sobre a possibilidade de impeachment de Jair Bolsonaro, Mourão não foi 100% enfático:

Não quero crer nisso. Até porque o presidente Bolsonaro jamais fará por merecer um impeachment.

Bocudo, Olavo de Carvalho torna públicas suas posições.

Não sossega no tuíter e no Facebook:

Jamais gostei da idéia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas, como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir essa ilusão num primeiro momento. O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles. Mas agora já não posso me calar mais. Todos os meus alunos que ocupam cargos no governo — umas poucas dezenas, creio eu — deveriam, no meu entender, abandoná-los o mais cedo possível e voltar à sua vida de estudos, escreveu ele em sequência no dia 7 de março.

Olavo desmentiu a notícia que o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo publicou hoje na primeira página, segundo a qual as mudanças de Vélez no MEC foram feitas depois dele ter incentivado seus seguidores a deixar o governo. Segundo o autoproclamado filósofo, quando fez o desabafo ele já sabia que os olavetes seriam afastados.

Desde então, Olavo manteve sua ofensiva digital:

Não vi o poster do golden shower. Só vi o beijinho do Mourão. Um país onde os que produzem a pornografia são louvados como artistas e os que a denunciam como imoral são acusados de pornógrafos não só perdeu senso de orientação como também considera um crime toda tentativa de reconquistá-lo. Imaginem então o general, que, emergindo da tediosa e austera secura da vida militar, se vê de repente cercado de luzes, câmeras e gostosas repórteres. Cai de joelhos. Cada politico, em Brasília, está longe do povo e perto da mídia. Logo ele entende a quem deve obedecer. Será que todos votamos no Bolsonaro para ter um governo tucano? Quantos ministros do atual governo pensam que sim? E não são todos eles uns traidores filhos da puta dignos de ser jogados na privada?

Para Olavo de Carvalho, os militares são escravos da mídia e estão acovardados:

Foi a mídia que derrubou os militares do poder e depois disso os achincalhou e humilhou durante três décadas sem que eles tivessem a coragem ou a capacidade de reagir. Eles eram e são escravos dela. Sofrem de síndrome de Estocolmo. TODOS ELES, no íntimo, sabem que estou dizendo a verdade. Não quero ver meus alunos tendo suas vidas destruídas no esforço vão de ajudar militares acovardados cujo maior sonho é tucanizar o governo para agradar à mídia. Qualquer repórter BUNDA coloca generais brasileiros de joelhos. Se for mulher, então, coloca-os de quatro. […] Os generais estão tão corrompidos por dentro que, entre o amigo que lhes diz verdades duras e a mídia que mente contra eles, ficarão com esta última. O Mourão trocou a lealdade ao povo por uns afagos da mídia — e os ganhou, é claro.

O guru, que influencia fortemente os filhos de Bolsonaro, jura lealdade ao pai:

Nunca escrevi uma palavra contra o meu caro Ricardo Velez nem muito menos contra o presidente Bolsonaro. Ao contrário, escrevi contra os vampiros escondidos que querem tucanizar o governo para agradar à mídia, traindo o povo. As contribuições dos meus alunos à cultura nacional nos últimos anos ultrapassam, em qualidade, tudo o que o establishment educacional — a tropa dos investigados da Lava-Jato da Educação — produziu no mesmo período. POR ISSO a mídia inteira, esse bando de criminosos analfabetos funcionais, tenta destrui-los. Meus alunos são dos poucos amigos leais que restam — ou restavam — ao Bolsonaro. Entraram no governo para ajudar a resolver alguns problemas nacionais, não para gastar todas as suas energias, como em geral fazem os políticos, numa luta sem fim para manter o próprio cargo.

Embora afirme que seus objetivos políticos sejam de longo prazo, Olavo parece bem informado sobre os bastidores do governo:

Na política brasileira, uma das poucas pessoas honradas é a cabrita que o Lula comeu. O tratamento que os comunistas dão uns aos outros é, em linha geral, um milhão de vezes mais nobre que o dos direitistas. A mim me parece óbvio: qualquer dono de empresa de educação não pode ser ministro da Educação. Chega de fofocas. Nenhum olavette foi demitido do Ministério da Educação. Foram apenas transferidos para cargos politicamente inócuos. Oficiais militares induzem o ministro Velez a tomar atitudes erradas, e depois lançam a culpa nos meus alunos. São trapaceiros e covardes. Talvez seja mais fácil ajudar o presidente de fora do governo que de dentro. Fora não é preciso disputar espaço com fominhas e similares. Dediquei minha vida a curar a alma do Brasil, não a aprimorar a administração do puteiro. 

Porém, em sua página do Facebook, Olavo identifica quem seria o influenciador das mudanças recentes no MEC:

O Cel. Roquetti, inspirador militar do movimento desolavizante no Ministério da Educação, foi orientando e é amigo e admirador do Paulo Roberto de Almeida. Eis aí elevação intelectual e moral das considerações que movem os administradores da nossa merda federal.

O Paulo Roberto de Almeida a que se refere Olavo era presidente do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (Ipri) no Itamaraty.

Ele foi demitido pelo chanceler Ernesto Araújo depois de publicar uma avaliação crítica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à diplomacia brasileira, acrescentando com suas palavras que ela estava entregue “aos eflúvios amadores de ideólogos tresloucados, como certo sofista da Virgínia, e fundamentalistas trumpistas totalmente equivocados”.

Já o coronel Ricardo Wagner Roquetti, que fez parte do time de transição de Jair Bolsonaro, agora trabalha no MEC.

O guru atribui a pressão contra Vélez e outros seguidores seus aos grandes empresários do setor da educação, sem nomeá-los.

Walfrido dos Mares Guia é fundador e acionista da Kroton, a maior empresa de educação privada do mundo. Em 1994, foi eleito vice-governador de Minas Gerais na chapa de Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Acumulou a Secretaria Estadual de Planejamento e Coordenação Geral. Na gestão anterior, havia sido secretário da Educação de Hélio Garcia, eleito pelo extinto Partido das Reformas Sociais mas originário da Arena. Em 1998, Walfrido elegeu-se deputado federal (PTB). Em 2002, coordenou a campanha de Ciro Gomes, então no PPS. Foi para o ministério do Turismo com a vitória de Lula e, no segundo mandato, ocupou o cargo de ministro das Relações Institucionais. Como se vê, alguém de muito trânsito.

A empresa dele seria um dos alvos da Lava Jato da Educação, anunciada por Jair Bolsonaro.

Olavo reproduz em suas redes sociais opiniões de Silvio Grimaldo, um de seus apoiadores, que acompanhou por dentro o “expurgo”:

O expurgo de alunos do Olavo de Carvalho do MEC é a maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora. Nem as trairagens DO Mourão ou do Bebianno chegaram a esse nível. Só para deixar claro, eu não fui expulso do MEC. Trabalho com o professor Vélez desde a transição. Na verdade, desde antes, ainda durante a campanha, quando numa reunião em minha casa, eu e um amigo recomendamos seu nome para o ministério, assim como uma porção de nomes que agora são deslocados para funções inócuas, sem serem demitidos ou exonerados.

Grimaldo prosseguiu a explicação, em sua página do Facebook:

Durante o carnaval, estando fora de Brasília, fui avisado por telefone de que perderia minhas funções no gabinete e seria transferido para a CAPES, onde deveria enxugar gelo e “fazer guerra cultural”. O cargo era apenas um prêmio de consolação pelos serviços prestados, uma política comum com os que se tornam indesejados no MEC. Dada a absurdidade da proposta, que veio como uma decisão tomada e consumada, e vendo que o mesmo destino fôra dado a outros funcionários ligados ao Olavo (apenas olavetes foram transferidos) e mais alinhados com as mudanças propostas pela eleição de Bolsonaro, não vi outra saída senão comunicar ao ministro meu desligamento pedir minha exoneração, que deve sair nos próximos dias.

Grimaldo admite que participou da formulação da Lava Jato do setor educacional:

Quando lançamos a Lava Jato da educação, idealizada, criada e organizada pelos “olavetes do gabinete”, as ações da Kroton, o maior grupo de interesse junto ao ministério, despencaram 10% no outro dia, demonstrando que o mercado percebia que ali tinha treta. Na semana seguinte, uma importante lobista foi ao MEC pedir peloamordedeus para pegarmos leve, pois “o mercado estava derretendo”. O Vélez a mandou pastar. Hoje, com o anúncio da desarticulação dos olavetes do MEC, as ações da Kroton voltaram a subir, depois de dias em queda. Bateu mais de 7%. Recomendo aos daytraders a KORT3 no pregão de segunda. Puta negocião. A Estácio também, depois de dias em queda, se deu bem com fim dos olavetes do MEC. Só hoje recuperou 8% do seu valor na bolsa depois de derreter com o anúncio da Lava Jato da Educação.


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Comentários

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Netho

O guru da “legião de imbecis” não percebeu a obviedade ululante: a configuração em torno dos generais da articulação de um movimento para construir uma “candidatura militar”,
Taticamente, os generais (do qual Vilas Boas foi porta-voz) atuaram para aproveitar a ofensiva à direita e o esgarçamento do centro com a divisão da esquerda fulminada pela expansão do anti-petismo.
O que existe – Ciro também não se deu conta, tanto quanto o guru dos imbecis -, é um projeto militar de poder que vem sendo paulatinamente concatenado.
Parece que todo mundo esqueceu que, na própria Globo, o general Mourão chamou atenção para o artigo 42 da Carta Magna.
Trata-se de um artigo incluído na Carta de 88 pela poderosa influência do Ministro do Exército, o general Leônidas Pires Gonçalves.
Nunca o artigo 42 esteve tão próximo do núcleo dos generais como atualmente.

Luiz claudio

É muita escrotidão. Que tempos. O Brasil e seu povo não merecem tanta ignorância, servilismo e tanta bosta. Que sina! Tive chance na Vida de ir a dezenas de países mundo afora. Nasci e moro no melhor PAÍS DO MUNDO. Com todos os defeitos e com essa elite de quinta categoria que temos. Precisamos resistir a essa desgraceira toda.

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