Boulos quer saber quem paga a conta de Queiroz. Agora que ele foi encontrado, onde está o Adriano?

Tempo de leitura: 5 min
Reprodução.

Acharam o Queiroz. E não foi a PF do Moro. A questão agora é quem paga sua estadia no Morumbi e suas consultas no Albert Einstein. Com a palavra, a família Bolsonaro. Guilherme Boulos, ex-candidato do Psol ao Planalto, no twitter

Da Redação

Um mistério de cerca de oito meses foi desfeito.

Fabrício Queiroz mora no bairro de classe média alta do Morumbi, em São Paulo.

De táxi, se desloca para tratamento de câncer no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

A informação está na revista Veja que circula neste fim de semana.

Do ponto-de-vista legal, Queiroz não é oficialmente procurado.

Mas, para quem foi visto dançando em vídeo publicado nas redes sociais, o ex-assessor e amigo da família Bolsonaro conseguiu se manter um tempão longe dos holofotes.

A Veja publicou uma foto de Queiroz tomando café dentro do hospital, sem identificar autoria da imagem.

Ele não parece mal de saúde, mas segundo a publicação continua o tratamento — a cirurgia para retirar o tumor de intestino não teria resolvido totalmente o problema.

Queiroz alegou tratamento médico para jamais depor ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro.

A família Bolsonaro faz-de-conta agora que mal sabe quem é o assessor.

Até ontem, no entanto, Queiroz era tão amigo do hoje presidente da República que teria merecido de Jair Bolsonaro, então deputado federal, um empréstimo de 40 mil reais.

Parte do pagamento do suposto empréstimo Queiroz depositou na conta da hoje primeira dama Michelle Bolsonaro: R$ 24 mil.

No auge do escândalo, Queiroz foi ao SBT, emissora alinhada ao governo Bolsonaro, para dizer que ganhou muito dinheiro vendendo automóveis.

“Sou um cara de negócios, faço dinheiro”, afirmou.

Por escrito, ao MPE-RJ, Queiroz admitiu que fez dinheiro para o chefe, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro, desviando parte do salário de assessores do parlamentar para turbinar o mandato.

Na versão de Queiroz, Flávio Bolsonaro nada sabia do esquema, nem se beneficiou pessoalmente.

Contada assim, a história não explica a evolução patrimonial do hoje senador, que avançou 397% em 12 anos ou 432% em quatro anos, de acordo com cálculos publicados pela revista Época e o UOL.

Segundo o MPE-RJ, as suspeitas sobre Flávio resultam do fato de que, entre 2010 e 2017, ele lucrou mais de R$ 3 milhões em transações imobiliárias. Ao todo, comprou 19 imóveis por cerca de R$ 9 milhões.

São dois fenômenos: Queiroz no ramo dos automóveis, Flávio no imobiliário.

Mas, o que o Queiroz tem a ver com isso?

O ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que era íntimo da família, chamou a atenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao movimentar R$ 1,2 milhão — entradas e saída de dinheiro — em sua conta bancária.

Além disso, Queiroz fez saques em dinheiro de R$ 661 mil entre janeiro de 2016 e junho de 2018.

A suspeita é de que ele atuava como laranja financeiro da família Bolsonaro.

Para entender melhor o caso, a Justiça determinou a quebra de sigilo de 95 pessoas e empresas, inclusive de Flávio, da esposa dele, Fernanda, da empresa dos dois, a Bolsotini Chocolates e Café Ltda., de Fabrício Queiroz, suas filhas Evelyn e Nathalia e a ex-mulher Márcia.

As três trabalharam como assessoras em gabinetes da família Bolsonaro.

São suspeitas de terem sido funcionárias fantasmas.

Nathalia supostamente trabalhou dois anos no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara Federal, em Brasília.

Teve atestada a presença de 40 horas semanais, para justificar o salário de cerca de R$ 10 mil mensais, mais benefícios.

Porém, no mesmo período, ela era personal trainer no Rio de Janeiro.

Queiroz é policial militar aposentado e, além de motorista, atuava como segurança dos Bolsonaro.

Segundo procuradores que levantaram a vida pregressa do PM, Queiroz tem no currículo ao menos dez “autos de resistência”, ou seja, matou dez pessoas em supostos confrontos.

Por que Queiroz é suspeito de ligação com milicianos?

Segundo as explicações dadas por Flávio Bolsonaro, Queiroz tinha liberdade para agir no gabinete.

Contratava, cuidava dos arranjos com assessores.

Dentre os que serviram no gabinete de Flávio Bolsonaro estão Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega e Raimunda Veras Magalhães.

São a esposa e a mãe de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio de Janeiro, o Bope.

Adriano está foragido. Ele é suspeito de ser um dos líderes da milícia que atua na Zona Oeste do Rio de Janeiro e teria envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco.

Raimunda, a mãe de Adriano, aparece no mesmo relatório do Coaf que levantou suspeitas sobre Fabrício Queiroz.

De um salário líquido de R$ 5.124,62, Raimunda fez um depósito de R$ 4,6 mil na conta de Queiroz.

Tudo indica que a mãe e a esposa do miliciano foragido eram fantasmas do suspeito de ser laranja dos Bolsonaro.

Flávio hoje atribui tudo a Queiroz.

Mas Adriano, o miliciano foragido, foi homenageado duas vezes por Flávio lá atrás.

Numa moção de louvor, em 2003, Flávio escreveu que “o policial militar desenvolvia sua função com dedicação e brilhantismo, desempenhando com absoluta presteza e excepcional comportamento nas suas atividades”.

Na segunda homenagem, em 2005, Adriano recebeu a mais alta condecoração da Alerj, a Medalha Tiradentes.

Detalhe: Adriano estava preso, sob suspeita de homicídio. Ele chegou a ser condenado a 19 anos de prisão.

Quatro dias depois, em 27 de outubro de 2005, o então deputado federal Jair Bolsonaro fez discurso na Câmara em defesa de Adriano, dizendo que a condenação era injusta, fruto do depoimento de um superior que tinha desconsiderado o fato de Adriano ser um “brilhante oficial”.

Bolsonaro sugeriu que tinha assistido ao julgamento e chamou o réu de “coitado”.

Em trecho do discurso, criticou os governantes do Rio à época: “É importante saber a quem interessa a condenação pura e simples de militares da Polícia do Rio de Janeiro, sejam eles culpados ou não. Interessa ao casal Garotinho, porque a Anistia Internacional cobra a punição de policiais em nosso País, insistentemente. É preciso ter um número xis ou certo percentual de policiais presos. O Rio é o Estado que mais prende percentualmente policiais militares e, ao mesmo tempo, o que mais se posiciona ao lado dos direitos humanos”.

A condenação de Adriano seria revertida na segunda instância, mais tarde.

A contratação da esposa de Adriano, Danielle, para o gabinete de Flávio Bolsonaro foi em setembro de 2007. Ela serviu por mais de 11 anos.

Alguns meses antes, em fevereiro de 2007, Flávio fez seu famoso discurso defendendo as milícias.

Segundo ele, “a milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.

A mãe de Adriano, Raimunda, foi contratada pela primeira vez para trabalhar na Alerj em março de 2015. Servia no gabinete da liderança do PP, partido ao qual Flávio era filiado.

Deixou o cargo em março de 2016, mas em junho voltou, desta vez no gabinete do próprio Flávio.

Adriano foi expulso da PM em 30 de dezembro de 2013, acusado de envolvimento numa guerra entre bicheiros.

Apesar disso, a mãe e a esposa dele continuaram “trabalhando” para Flávio Bolsonaro por quase cinco anos.

Danielle e Raimunda foram exoneradas em dia 13 de novembro de 2018.

Em janeiro de 2019, a polícia fez a operação que tentou prender Adriano. Ele conseguiu escapar, mas foi preso o major Ronald Paulo Alves Pereira.

Major Ronald ou Tartaruga, como é conhecido na Zona Oeste do Rio, é acusado de ser “chefe da milícia da Muzema e grileiro nas regiões de Vargem Grande e Vargem Pequena”, de acordo com o diário conservador carioca O Globo.

Ronald também foi homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj, com menção honrosa, em 2004.

O STF deve decidir até o final do ano se o inquérito contra Flávio e Queiroz continua ou será trancado pelo uso indevido do relatório do Coaf — é o que alega a defesa.

O presidente do STF, Dias Toffoli, concordou liminarmente.

Dentre as perguntas ainda a responder: Queiroz foi intermediário no repasse do dinheiro que esclarece o enriquecimento veloz de Flávio Bolsonaro? se sim, qual a origem dos valores, apenas o repasse do dinheiro público desviado de salários? houve relação financeira entre Queiroz e os milicianos Adriano e Ronald? Flávio, ao contratar parentes de milicianos, estava pagando alguma dívida anterior com os ex-PMs?

Em uma live no Facebook, ontem, o presidente Jair Bolsonaro prometeu indulto a policiais que, segundo ele, estão presos injustamente.

“Final do ano, espera aí. Aqueles indultos, eu vou escolher alguns caras, colegas, policiais que estão presos injustamente no Brasil. Presos por pressão da mídia. Até o final do ano vai ter policial neste indulto aqui”, declarou.

Independentemente disso, agora que sabemos onde anda Queiroz, é preciso perguntar: e o Adriano?


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Comentários

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Jardel

O MPF do Rio de Janeiro é uma vergonha. Jogaram o Queiroz pra debaixo do tapete.
Acharam o Queiroz e o MPF/RJ não vai obrigá-lo a depor???
Por que o cara está há 8 meses sem depor e ainda não pediram a condução coercitiva??
Que merda é essa?

Zé Maria

https://youtu.be/vo5XJ1F3Uqw

Agora é “Fala Queiroz!”

@DeputadoFederal Paulo Pimenta, no YouTube: https://www.youtube.com/paulopimentapt

Polícia Federal fica a 12 quilômetros do Morumbi.
Incompetência ou omissão determinada por Moro
no Caso Queiroz?

Canal da Resistência – Paulo Pimenta

https://www.youtube.com/channel/UC9dBF5Mxf5pMAc7fXdEi8AQ

Zé Maria

8 de dezembro de 2018 – grupo Filhos do Januario 3

Deltan Dallagnol – 00:56:50 – https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2018/12/07/bolsonaro-diz-que-ex-assessor-tinha-divida-com-ele-e-pagou-a-primeira-dama.htm
Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 00:58:15 – [imagem não encontrada]
Dallagnol – 00:58:38 – COAF com Moro
Dallagnol – 00:58:40 – Aiaiai
Julio Noronha – 00:59:34 –
Dallagnol – 01:04:40 – [imagem não encontrada]
Januário Paludo – 07:01:20 – Isso lembr
Paludo – 07:01:48 – Lembra algo Deltan?
Paludo – 07:03:08 – Aiaiai
Jerusa Viecilli – 07:05:24 – Falo nada … Só observo
Dallagnol – 08:47:52 – Kkk
Dallagnol – 08:52:01 – É óbvio o q aconteceu… E agora, José?
Dallagnol – 08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos?
Dallagnol – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?
Dallagnol – 08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa

    Zé Maria

    8 de dezembro de 2018 – chat privado

    Roberson Pozzobon – 09:12:41 – Em entrevistas, certamente vão me perguntar sobre isso. Não vejo como desviar da pergunta, mas posso ir até diferentes graus de profundidade. 1) é algo que precisa ser investigado; 2) tem toda a cara de esquema de devolução de parte dos salários como o da Aline Correa que denunciamos ou, pior até, de fantasmas.
    Pozzobon – 09:13:05 – Tava escrevendo esse tuíte agora mesmo
    Pozzobon – 09:13:11 – “Informação de que um ex-assessor do deputado estadual e senador eleito pelo PSL, Flávio Bolsonaro, movimentou 1,2 milhão de reais entre 2016 e 2017”. Se deve ser investigado? É certo que sim. É para isso que servem os relatórios de inteligência financeira do COAF. Pontuar as suspeitas no meio de bilhões de transações diárias https://www.terra.com.br/noticias/brasil/movimentacao-atipica-de-ex-assessor-de-flavio-bolsonaro-pode-levar-a-investigacao,8bb3ff45edd7744a4cad8dab9d014e87963u9zqu.html

    Dallagnol – 10:04:00 – Não sei se convém o nível 2.
    Não podemos ficar quietos, mas é neste momento
    um pouco como com RD [Raquel Dodge?].
    Vamos depender dele pra reformas…
    Não sei se vale bater mais forte

    Pozzobon –10:07:15 – Pois é
    Pozzobon – 10:07:26 – To na msm dúvida

    https://exame.abril.com.br/brasil/the-intercept-deltan-disse-que-moro-poderia-proteger-flavio-bolsonaro/

    Zé Maria

    Dallagnol sugeriu que Moro protegeria Flávio Bolsonaro
    para não perder indicação ao STF
    […]
    Um mês e meio depois, no dia 21 de janeiro de 2019, no mesmo grupo, Dallagnol disse ter sido convidado pelo Fantástico, da rede Globo, para uma entrevista sobre foro privilegiado. Ele, no entanto, teria negado o convite, justamente por receio de que tivesse que falar também sobre o caso de Flávio e tentativas do filho do presidente de usar o foro para barrar investigações.

    Os procuradores concordaram que não seria uma boa ceder à entrevista, devido à “bola dividida Flávio Bolsonaro”.

    “Mensalinho”

    Em outras conversas privadas, procuradores do MPF comentaram o escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro e Queiroz.
    “Não tenho dúvida de que isso é mensalinho”, escreveu o procurador Danilo Dias, acrescentando em seguida:
    “No mesmo esquema de Mato Grosso com Silval Barbosa”.

    No dia 11 de dezembro de 2018, em um grupo chamado Winter is Coming, a subprocuradora-geral da República Luiza Frischeisen compartilhou um link para uma matéria do Jornal Nacional sobre o caso.
    O telejornal explicou que “a análise do relatório do Coaf revela que a maior parte dos depósitos em espécie na conta do ex-motorista de Flávio Bolsonaro coincidem com as datas de pagamento na Assembleia Legislativa do Rio”.
    Frischeisen está na lista tríplice escolhida pelos membros do MPF para substituir a PGR Raquel Dodge, cujo mandato se encerra em setembro.

    Uma outra procuradora do MPF, Hayssa Kyrie Medeiros Jardim, explicou que o esquema praticado por Flávio
    se tratava de “esquema equivalente ao descoberto
    na Dama de espadas”.

    Em seguida, a procuradora compartilhou um artigo da Tribuna do Norte, publicado no dia 12 de novembro de 2018, que revelava o funcionamento de um esquema similar na Assembleia Legislativa do RN. No caso, uma organização criminosa formada por servidores e ex-presidentes da casa realizou desvios milionários por meio de um esquema com funcionários-fantasma.

    Frischeisen comparou o caso de Flávio a um outro, também no RJ, envolvendo a deputada estadual Lucia Helena Pinto de Barros, conhecida como Lucinha, “acusada de desviar dinheiro público em contratação de funcionário fantasma”. Citando uma nota do MP/RJ, a procuradora disse que “MPRJ já fez denúncia sobre caso semelhante envolvendo funcionário fantasma”, indicando que haveria precedente para uma denúncia contra Flávio.

    No decorrer da conversa, nenhum dos procuradores discordou da declaração enfática de que Flávio teria praticado corrupção.

    Segundo a revista Veja, que teve acesso ao documento que embasou a quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro, o Ministério Público do Rio de Janeiro vê indícios que sugerem a prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete do então deputado.

    O caso seria, então, ainda mais grave do que os outros casos citados pelos procuradores.

    https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI307055,81042-Vazamentos+Dallagnol+sugeriu+que+Moro+protegeria+Flavio+Bolsonaro

Zé Maria

Acharam o Queiroz: Glenn lembra que Vaza Jato
revelou que Moro protegia Flávio Bolsonaro

“Deltan Dallagnol, em chats secretos, sugeriu
que Sérgio Moro protegeria Flávio Bolsonaro
para não desagradar o presidente e
não perder indicação ao STF”,
postou o editor do The Intercept

https://t.co/uD5cOwYQyA
https://twitter.com/revistaforum/status/1167417151059386369

https://revistaforum.com.br/politica/acharam-o-queiroz-glenn-lembra-que-vaza-jato-revelou-que-moro-protegia-flavio-bolsonaro/

Zé Maria

Cadê o Adriano e cadê o COAF, que sumiram? O 01 sabe …

    Zé Maria

    #VazaJato
    E tudo não passou de cometer e acobertar crimes,
    para evitar “uma possivel volta do PT”.
    Chegando ao ponto de converter Deus ao Antipetismo.

    28 de setembro de 2018 – chat privado

    Anna Carolina Resende – 11:24:06 – ando muito preocupada com uma possivel volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve

    Deltan Dallagnol – 13:34:22 – Valeu Carol!
    Dallagnol – 13:34:27 – Reza sim
    Dallagnol – 13:34:32 – Precisamos como país

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