Bolsonaro já fez piada com pai de presidente da OAB que sumiu durante ditadura

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Bolsonaro na defesa e no ataque, em datas distintas

Perderam em 1964, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula, o que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim. Jair Bolsonaro, ao apoiar abertura de processo de impeachment, na Câmara

Natural de Olinda (PE), Fernando Santa Cruz participou do movimento estudantil secundarista e chegou a ser preso em 1967, em uma passeata contra o acordo MEC-Usaid. Depois, ele estruturou a Associação Recifense dos Estudantes Secundaristas e, já sob a égide do Ato Institucional nº 5 (AI-5), se mudou para o Rio de Janeiro, onde cursou direito na Faculdade Federal Fluminense e atuou no DCE. Em 1972, casado e com o filho recém-nascido, passou em concurso da Companhia de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo e se mudou para a capital paulista. De passagem pelo Rio, no carnaval de 1974, Santa Cruz saiu da casa do irmão Marcelo, para visitar amigos, e nunca mais foi visto. Resumo da biografia de Fernando Santa Cruz, pai do advogado Felipe Santa Cruz, presidente da OAB-RJ

Da Redação

O presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz vai pedir a cassação do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ao Supremo Tribunal Federal. “O que ele [Bolsonaro] fez ali [no plenário da Câmara] é como um deputado subir no parlamento alemão para exaltar Hitler e defender a morte dos judeus. A apologia à tortura, ao fascismo e a tudo que é antidemocratico é intolerável”, afirmou.

Felipe também vai denunciar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos na Costa Rica. Segundo ele, no passado Bolsonaro já fez piada com o desaparecimento do pai, alegando que Fernando tinha “saído no Carnaval e não voltou mais”.

O homem elogiado por Bolsonaro, Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefiou o Destacamento de Operações de Informação, Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi, entre 1970 e 1974. A Ustra são atribuídas 60 mortes. O DOI-Codi paulistano, que funcionou nas instalações de uma delegacia, deu início à estruturação da tortura “científica” no Brasil. O dinheiro era de empresários brasileiros e a tecnologia vinha dos Estados Unidos.

A militante Amelinha Teles, numa entrevista ao blog, descreveu resumidamente a atuação de Ustra:

Generosos leitores do Viomundo, como a tradutora Beatriz Velloso, se dispuseram a verter o texto da entrevista de Amelinha para o inglês (vamos providenciar as legendas). É que correspondentes estrangeiros que não dominam completamente o português têm buscado material de pesquisa sobre a atuação de Ustra durante a ditadura militar:

What was your contact with Ustra at the DOI-CODI facilities?

Right when I arrived at the DOI-CODI, when they released me… It is ridiculous to say that they released me. They left me in a courtyard and grabbed Cesar [Amelia’s husband] and Danielle. Then I saw a man screaming, and I thought: ‘maybe I should talk to him’, because they were beating really hard on Cesar and Danielle. And I said to the man: ‘how can you allow these people to be beaten like that?’ And he [Ustra] said: ‘fuck you, you terrorist’, slapped me in the face and threw me on the floor of the courtyard. He said: ‘get the woman, get the woman’. They grabbed me, took me to the torture room and began torturing me. Every once in a while he came into the room screaming, telling them to intensify the torture, to slap me…

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Janaína, Edson, Amelinha e Cesar (recentemente falecido): em 2005 a família acionou a União para que Ustra fosse declarado torturador. Ganharam nas duas primeiras instâncias

Did they put you on the ‘dragon’s chair’? [Electric chair with wires attached to the prisoner’s body]

Yes. They put me in the dragon’s chair, in the ‘pau de arara’ [torture device consisting of a pole to which the prisoner is tied and kept hanging from].

How did it work? Were you naked?

All torture is done to a naked prisoner. You never have your clothes on. At least that’s how it was for me. They tied me to the dragon’s chair, I was wet, there were bare wires, shocks being discharged to my whole body, my mouth, ears, breasts, bellybutton, vagina, anus… Because they place wires underneath one’s body. To my legs, arms…

Did Ustra come to these sessions?

Of course he did. Of course. He said: ‘you are staying right here. If you don’t cooperate, that’s where you’re staying.’ And that’s also where they brought my kids to see me. The first time they [the kids] went inside the ‘Bandeirante Operation’, or that I saw them inside the Operation, was when they were taken to the torture room by Ustra. At the 36th Police Station.

How old were your children?

Janaína [daughter] was 5 and Édson [son] was 4. I’ll never forget it. Never. They wanted to hug me. They wanted to talk to me. And I was tied, I couldn’t talk to them. I was full of wounds.

Your family filed a lawsuit against Ustra, right?

Yes, many years later, in 2005. We filed a lawsuit asking the Brazilian State to officially declare Colonel Ustra as a torturer. We won at the 23rd District Court in São Paulo, under the jurisdiction of the João Mendes Court. He [Ustra] appealed at the Court of Appeals, which confirmed the decision of the District Court. This means that, for the time being, Ustra has been officially declared a torturer by the Brazilian State.

How many people do you believe he killed or did you see him kill?

The book we’ve published, the ‘Dossier of Murdered and Missing Political Prisoners’, calculates that he probably killed or ordered the murder of around 60 people. All the people that died inside the DOI-CODI – and there were many, because 60 is a lot. He lead [the DOI-CODI] for 4 years. All this happened under his command, he gave the directions, he was the boss, he saw everything, he tortured. I’m positive about that.

Desde a votação do último domingo, Bolsonaro está envolvido em uma polêmica com seu colega Jean Wyllys (PSOL-RJ) por conta de uma cusparada que o socialista disparou contra o parlamentar de extrema-direita.

Aliados de Bolsonaro devem entrar com um pedido de cassação de Wyllys com base na acusação de quebra de decoro parlamentar. Na guerra de assessoria, agora o psolista diz que um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, faz circular nas redes um “vídeo fraudado”.

Leiam a nota da assessoria de Jean Wyllys:

COMUNICADO SOBRE O VÍDEO FRAUDADO DIVULGADO POR EDUARDO BOLSONARO

A internet é perigosa para os incautos. Muita gente está presumindo que o deputado Jean Wyllys “premeditou” a cuspida que deu na cara de Jair Bolsonaro, que não parava de insultar e ofender o parlamentar do PSOL.

O filho de Bolsonaro, Eduardo, publicou nas redes sociais um vídeo toscamente editado em que é possível perceber, por leitura labial, que Jean está dizendo para o deputado Chico Alencar: “Eu CUSPI na cara de Bolsonaro”.

A fraude da edição consiste em colocar esta imagem, que é posterior ao episódio, antes da cuspida em si, e sugerir, mediante uma legenda, que a leitura correta seria “Eu VOU CUSPIR na cara de Bolsonaro”.

Qual foi a verdadeira cronologia dos fatos?

1 – Jean Wyllys se posiciona na Tribuna, anuncia seu voto pelo NÃO ao impeachment e retorna. Durante a fala e depois dela, o deputado é reiteradamente interrompido e insultado por Bolsonaro e outros parlamentares de direita. Não se trata de um fato novo ou surpreendente: Bolsonaro costuma fazer isso tanto nas sessões da Câmara quanto nas reuniões das comissões permanentes. Ele sempre se aproxima do Jean e começa a insultá-lo com termos homofóbicos e palavras de calão. Também não é apenas com o deputado Jean Wyllys que Bolsonaro faz isso: já empurrou e chamou a deputada Maria do Rosário de “vagabunda”, disse que não a estupraria “porque é feia”, tentou agredir fisicamente o senador Randolfe, ofendeu com expressões machistas e homofóbicas a Presidenta da República, convidou para estar ao lado dele no depoimento de José Genoíno o militar que o torturou na ditadura, para tentar desestabilizá-lo, etc. A violência, o xingamento, a agressão e a injúria são práticas permanentes e sistemáticas do deputado, defensor da ditadura e da pena de morte. No mesmo dia da votação do impeachment, Bolsonaro “homenageou” o torturador Brilhante Ustra, que foi chefe de um dos mais horríveis campos de concentração da ditadura.

2 – Na saída, depois de falar na Tribuna, o deputado Jean Wyllys ESTAVA SOZINHO. Os xingamentos não paravam. Alguém pegou em seu braço, o que infelizmente não está no campo de visão de nenhuma câmera (mas o fato foi registrado e noticiado pela Folha de São Paulo no dia de hoje), enquanto Bolsonaro está de braços abertos e se dirigindo diretamente a ele com expressões como “Boiola”, “Queima Rosca” e, finalmente, Tchau Querida”. O fato de ele se referir ao deputado Jean no feminino é um claro exemplo da conduta cotidiana de Bolsonaro: tratar um homossexual no feminino de forma debochada e irônica é uma conduta clássica de todos os homofóbicos e machistas. Qualquer homem gay sabe o que é aguentar esse tipo de tratamento desde a infância, que continua durante a vida adulta. O objetivo é que ninguém reaja, que as pessoas fiquem quietas, caladas e, de preferência, escondidas no armário. Não vai acontecer.

3 – Jean se vira imediatamente e cospe, indignado, na cara de Bolsonaro. Para não ser agredido pelos que cercavam seu opositor, ele se afastou. E, ainda visivelmente agitado pela provocação sofrida, explicou ao colega de bancada deputado Chico Alencar: “Eu CUSPI em Bolsonaro”. FOI DEPOIS, E NÃO ANTES DA CUSPIDA, QUE ESSA FALA ACONTECEU.

É esta a ordem dos fatos que o vídeo produzido por Eduardo Bolsonaro tenta fraudar. O que, aliás, não é uma novidade, já que é na fraude e na desonestidade que esses parlamentares atuam diuturnamente na sua campanha contra Jean Wyllys, que é na verdade uma campanha contra a população LGBT, os negros jovens de periferia, as mulheres e todas as minorias da sociedade brasileira.


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