Tânia Mandarino: Podemos dividir com os pais o trabalho de cuidado dos filhos e filhas?

Tempo de leitura: 2 min
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Por Tânia Mandarino

Cena do filme de animação ucraniano ''The Cord'' (O Cordão), do diretor Olexandr Bubnov, que mostra os efeitos de eterna ligação umbilical entre mães e filhos

Por Tânia Mandarino*

Desde o domingo, 5 de outubro o tema da redação do ENEM 2023 está em debate nas redes sociais,  escolas, rodas de conversa.

Afinal, diz respeito a todas e todos nós: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.

Por isso, gostaria muito conversar com estudantes que fizeram a redação do ENEM no domingo para tratar de algumas contradições que cercam a temática.

A mais evidente, que me salta aos olhos, é a ferrenha batalha de movimentos de mulheres para NÃO compartilhar a guarda de suas filhas e filhos com o pais das crianças.

A disputa é tanta que há grandes celebrações quando a guarda unilateral materna é definida por lei em caso de violência doméstica (mesmo que somente contra a mãe e não contra a criança).

Celebram até quando o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) mantém a guarda somente para a mãe em caso de “animosidade entre as partes”.

Por que isso?!

Há algum tempo observamos as movimentações de um lobby fortíssimo, financiado pelo identitarismo imperialista, para revogar integralmente a Lei da Alienação Parental.

A esse lobby se juntaram parlamentares evangélicos de extrema direita, como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o senador Magno Malta (PL-ES).

Os dois puxam um trem insano pela revogação Lei da Alienação Parental, que se ”locomove” graças ao apoio ferrenho de mulheres e parlamentares de esquerda.

Por que movimentos de mulheres fantásticas se aliam à direita para exigir que, em um país de filhos sem pais, os pais sejam cada vez mais afastados dos filhos pela imposição da celebrada guarda unilateral materna?

O trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil conta com a luta pública das mulheres para continuarem realizando-o sem apoio dos homens/pais, ao menos no que toca à igualdade parental?

A contradição, certamente, virá de um comando muito maior do que a questão parental em si. Um comando ligado à imposição de compatibilidade da esquerda brasileira, pelo grande capital financeiro internacional – que assim o exige.

Afinal, lutas viscerais como essa, pela guarda unilateral materna, mantém a esquerda em guerra e a guerra parental certamente interessa mais a quem a financia do que a luta de classes.

Se eu tivesse feito a redação no domingo, teria falado sobre isto também: o trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil que não pode ser dividido com homens da classe trabalhadora (tão vítimas do capitalismo quanto as mulheres da mesma classe) porque alguém firmou que filhos devem permanecer umbilicalmente ligados às mães e suas pautas adultomulherescentristas.

É ou não é uma contradição?

Agora, uma sugestão.

Confiram, abaixo, esta preciosidade: o curta-metragem ucraniano O Cordão (2018), dirigido por Olexandr Bubnov, que mostra os efeitos nefastos de se manter uma eterna ligação umbilical entre mães e filhos.

*Tânia Mandarino, advogada, feminista classista não compatível, por igualdade de gênero e IGUALDADE PARENTAL

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Tânia Mandarino

Advogada; integra o Coletivo Advogadas e Advogados pela Democracia (CAAD).


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Zé Maria

Em Tempo

Livro*

“ARMADILHA DA IDENTIDADE: RAÇA E CLASSE NOS DIAS DE HOJE”

Autor: ASAD HAIDAR
Tradução: Leo Vinícius Liberato
Prefácio: Professor Silvio Almeida
Editora Veneta. SP, 2019. (Coleção Baderna).

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7999025/mod_resource/content/1/Armadilha%20da%20identidade%20%28Asad%20Haider%29%20%28z-lib.org%29.pdf

*Citado no Artigo “Identitarismo: A Nova Cara do Liberalismo”, de
Moura & Nascimento no Portal LavraPalavra ( 09/11/2023 – 15h44)
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Por oportuno, leia também:

“POLÍTICAS PÚBLICAS ANTIRRACISTAS,
RACISMO ESTRUTURAL E
PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA”

“Negro, aliás, sempre foi o nome por excelência do escravo
– homem-metal, homem-mercadoria e homem-moeda.
O complexo escravagista atlântico, no centro do qual
se encontra o sistema de plantation no Caribe, no Brasil
ou nos Estados Unidos da América, foi um elo notório
na constituição do capitalismo moderno”
(MBEMBE, 2018, p. 93).
“E o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações.
Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (‘infans’, é ‘aquele
que não tem fala própria’, é a criança que se fala na terceira pessoa,
porque falada pelos adultos), que neste trabalho assumimos nossa
própria fala.
Ou seja, ‘o lixo vai falar, e numa boa’
(GONZÁLEZ, 1984, p. 225).

“A pobreza e a extrema pobreza no Brasil têm cor, gênero e idade.
A proposta da pesquisa é analisá-las no contexto econômico racializado,
isto é, observar o ponto nodal entre a desigualdade socioeconômica
e as estruturas do racismo no país.”

Por MAYARA PEREIRA AMORIM
(PPG em Direito – CCHSA/PUC-Campinas/SP)

http://repositorio.sis.puc-campinas.edu.br/bitstream/handle/123456789/16912/cchsa_ppgdir_disserta%C3%A7%C3%A3o_amorim_mp.pdf

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Zé Maria

Excerto

Há algum tempo observamos as movimentações de um lobby fortíssimo,
financiado pelo ‘identitarismo imperialista'[*], para revogar integralmente
a Lei da Alienação Parental.

A esse lobby se juntaram parlamentares evangélicos de extrema direita,
como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o senador Magno Malta (PL-ES).

Os dois puxam um trem insano pela revogação Lei da Alienação Parental,
que se ”locomove” graças ao apoio ferrenho de mulheres e parlamentares
de esquerda [SIC].
.
.
[*] “As ideias da classe dominante são,
em cada época, as ideias dominantes,
isto é, a classe que é a força material
dominante da sociedade é, ao mesmo
tempo, sua força espiritual dominante.”

Karl Marx / Friedrich Engels
Em “A Ideologia Alemã” (1845-1846).
.
.
“Identitarismo como Ideologia de Dominação”

“Num mundo sob alta pressão ideológica,
as alteridades identitárias podem ser
meros espelhos de uma norma
heterossexual branca.

Desligam-se dos vínculos nacionais
e da luta de classes.
Nesses casos, alienam e agridem
a soberania dos povos”

“O identitarismo é uma ideologia
da dependência biopolítica
em face da metrópole mundial
da atualidade: o Pentágono.”
[…]
“É a ideologia da dependência
da estrutura mundial arquitetada
pela hegemonia do complexo
industrial-militar ianque, após
a segunda guerra mundial.”

Por LUIS EUSTÁQUIO SOARES, poeta, escritor, ensaísta
e Professor da Universidade Federal do Espírito Santo;
autor de “A Sociedade do Controle Integrado: Franz Kafka
e Guimarães Rosa”; “O Ultraimperialismo Americano e a
Antropofagia Matriarcal da Literatura Brasileira”; “Sete
Ensaios sobre os Imperialismos”, (em coautoria com
Luis Carlos Muñoz); e “O Evangelho Segundo Satanás”
(romance); dentre outros livros. E Coordena o Projeto
de Extensão “Teatro dos Desoprimidos”.

No “Outras Palavras”

Íntegra:
https://outraspalavras.net/descolonizacoes/identitarismo-como-ideologia-de-dominacao/

Leia também:

“Identitarismo: A Nova Cara do Liberalismo”

“Obviamente, os movimentos identitários não são os únicos
e principais responsáveis pelas mazelas sociais e políticas
que nos assolam.
A proposta desse artigo é apontar as armadilhas que o identitarismo
traz quando inserido na lógica do sistema capitalista, notadamente
para os setores identitários da esquerda, pois acreditamos que o debate
nesse espectro é urgente e necessário.
Justamente porque classe e raça (bem como gênero, sexualidade e outras
formas de representação de minorias políticas) estão associadas de forma
intrínseca ao processo de manutenção da exploração capitalista, é que a
constituição de identidades coletivas deve manter sempre em perspectiva
modos alternativos de associação política, notadamente aqueles que se
constituam pela classe – haja vista que sua maior abrangência desestimula
sectarismos – mantendo exposto o elemento central de exploração em
última instância: o trabalho humano.
Dessa forma, no contexto do livro de Haider (2019), ao considerar a
perspectiva de raça atrelada à de classe pela associação inseparável
entre racismo e capitalismo, será possível, encontrar formas de
organização amplas, articuladas, revolucionárias e emancipatórias.”

Por:
ARTHUR MOURA, Cineasta (202 filmes), formado em História,
pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e Mestre em
Educação pela Faculdade de Formação de Professores da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (FFP-UERJ.); &
RICARDO NASCIMENTO, Bacharel em Administração pela
Universidade Estácio de Sá (Unesa), graduando em Ciências
Sociais pela UFF e membro fundador do Coletivo Bacamarte.
É Tecnólogo em Marketing .
Os Autores são Membros do Grupo de Estudos “Concreto Pensado”,
do ” Coletivo Bacamarte” de “Artistas Independentes”.

No “LavraPalavra”

Íntegra:
https://lavrapalavra.com/2020/11/25/identitarismo-a-nova-cara-do-liberalismo/

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