Colapso climático: Impactos para a saúde global e como enfrentar, um debate estratégico

Tempo de leitura: 3 min
A crise climática não é mais uma previsão. Trata-se, sim, de uma reralidade em curso

Por Fernanda Regina da Cunha*, Cebes

A urgência é real — e a palavra colapso não é exagero.

A crise climática não é mais uma previsão, mas sim uma realidade em curso. O avanço do aquecimento global, a intensificação de eventos extremos, a elevação do nível do mar e o desequilíbrio energético da Terra compõem um cenário de emergência planetária.

As consequências são visíveis em todos os continentes, mas os maiores afetados são populações historicamente vulnerabilizadas, como comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas, periféricas e povos do Sul Global. Esses grupos, que menos contribuíram para a crise, estão nas linhas de frente de seus impactos mais severos.

É nesse contexto que o XVIII Congresso da Alames (Associação Latino-Americana de Medicina Social e Saúde Coletiva) dedica parte de sua programação a discutir os efeitos da crise ambiental sobre a saúde dos povos.

No dia 6 de agosto, a mesa temática “Colapso climático e multilateralismo: consequências para a saúde global” reunirá especialistas e ativistas para refletir sobre os limites da governança internacional e a necessidade de uma ação coordenada, crítica e soberana frente à devastação em curso.

A saúde coletiva latino-americana tem denunciado com firmeza que não há saúde possível em um planeta ecologicamente colapsado.

O aumento das doenças respiratórias, a insegurança alimentar, os deslocamentos forçados, as mortes causadas por ondas de calor e desastres climáticos já fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas. E essas realidades tendem a se agravar diante da inação política e da captura dos processos decisórios por interesses econômicos.

Um exemplo contundente disso é a recente aprovação pelo Congresso Nacional do Projeto de Lei nº 2.159/2021, conhecido como “PL da Devastação”.

A proposta enfraquece o licenciamento ambiental, escancarando as portas para o avanço de interesses econômicos sem a devida avaliação de impacto e sem consulta às comunidades afetadas. Tramitação silenciosa, ausência de debate público e riscos irreversíveis aos biomas brasileiros compõem o pacote. A sociedade civil agora pressiona por um veto integral por parte do presidente Lula .

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A crise do clima é, acima de tudo, uma crise política. É o resultado da priorização do lucro sobre a vida, da manutenção de um modelo de desenvolvimento predatório e da negação sistemática da interdependência entre ambiente, saúde e justiça social.

Nesse contexto, destaca-se a proposta One Health, defendida por organismos multilaterais como OMS e FAO, ao reconhecer a interdependência entre saúde humana, animal e ambiental.

No entanto, sob a hegemonia do Norte Global, essa abordagem tem sido criticada por desconsiderar os determinantes sociais e por reforçar soluções tecnocráticas que favorecem interesses corporativos. Sem enfrentar os modos de produção predatórios impostos ao Sul, One Health arrisca-se a ser mais uma retórica de gestão da crise, e não de transformação.

Frente a isso, o Congresso da Alames propõe mais do que um diagnóstico: oferece um espaço de articulação entre ciência, saberes populares e militância. Um lugar para pensar e agir por um futuro possível — onde a defesa da vida, da saúde e da dignidade dos povos esteja acima dos interesses de mercado.

O colapso já começou. A pergunta é como e com quem vamos enfrentá-lo.

A mesa temática “Colapso climático e multilateralismo: consequências para a saúde global” será na quarta-feira, 6 de agosto, às 10 horas, no auditório F51 da UERJ.

Caberá a José Noronha, médico sanitarista, pesquisador da Fiocruz e diretor do Centro Brasileiro de Estudo de Saúde – Cebes a coordenação.

Participarão:

  • Célia Almeida, pesquisadora sênior da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca
  • Christovam Barcellos, geógrafo e pesquisador da Fiocruz
  • Mario Rovere, médico sanitarista argentino e uma das principais lideranças da Medicina Social na América Latina

A mesa propõe um debate estratégico sobre os impactos do colapso climático para a saúde global e os limites e potencialidades do multilateralismo diante de uma crise que atravessa fronteiras e aprofunda desigualdades.

Texto: Fernanda Regina da Cunha/Cebes

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