A Ciência a serviço da eugenia, a eugenia a serviço da barbárie

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Na guerra de extermínio contra os herero, na Namíbia, os alemães cortavam cabeças, enviadas a Berlim para "provar" a inferioridade dos negros. Era a base da pseudociência da "craniometria".

A Ciência a serviço da eugenia, a eugenia a serviço da barbárie

por B. Boris Vargaftig

A genética, disciplina biológica e médica, tem fortes incidências culturais, sociais e políticas e se aperfeiçoou enormemente nas últimas décadas.

Foram descobertos mecanismos sutis e introduzidos conceitos que alteraram nosso conhecimento da vida, de suas origens, de seus mecanismos de avanço ou recuo — tudo isso tem consequências enormes, médicas e sanitárias em primeiro, e em seguida sociais, culturais e políticas.

Uma destas consequências, que associa conhecimento científico e sua deturpação pela barbárie, foi o desenvolvimento da teoria e da prática do eugenismo.

Este se baseia em uma interpretação reacionária do conhecimento científico, o mesmo que, em circunstâncias opostas, cria mecanismos que, se distribuídos universalmente, promoveriam o combate à doença e à morte.

Como toda teoria global, inclusive em biologia, as teorias genéticas têm portanto um componente ideológico, político.

Isto ocorre com o darwinismo, desde seus inícios. A ideia liberal-conservadora é que, na sociedade humana, os mais aptos e providos de uma genética “favorável” ganham a luta pela vida, enquanto os menos aptos são derrotados e permanecem na classe média baixa ou no proletariado.

Este é o “darwinismo social”, o extravasamento ao capitalismo dos conceitos de seleção do mais apto à vida, que prevalecem na natureza.

De forma geral, os ricos merecem portanto serem ricos porque venceram a competição com os pobres e todas medidas, reformistas ou, pior ainda, socialistas, vão contra a lógica social.

Voltarei a esta discussão, presente no liberalismo em voga hoje nas classes dominantes dos países capitalistas, inclusive na burguesia brasileira e não somente na sua fração bolsonarista.

Recordemos fatos e conceitos.

A publicação em 1871 por Darwin do livro “Origem das espécies” inaugurou a biologia moderna.

O reconhecimento da importância da “luta pela vida” (expressão abusiva, mas que se instalou) na natureza, permitiu que se desenvolvesse o “darwinismo social”, projeção à espécie humana dos conceitos de luta pela vida na natureza.

Thomas Malthus havia proposto que existe uma tendência natural ao crescimento geométrico das populações humanas, mas somente um crescimento aritmético dos recursos, notadamente agrícolas.

Diga-se de passagem que este conceito estático ignorava as potencialidades das ciências agrícolas, que corrigiriam, como corrigiram, a curva do crescimento aritmético, parte essencial da teorização malthusiana.

Foi assim proposto um princípio genérico, aplicável à espécie humana, da “luta pela vida”, que não somente atribui uma base natural ao capitalismo e à exploração dos socialmente mais fracos, mas cria uma interpretação do mundo oposta ao reconhecimento da luta de classes, universalizando e perenizando o capitalismo.

Uma das invenções precoces dos “darwinistas sociais” foi a Eugenia, termo criado por Francis Dalton em 1883, pouco mais de 10 anos após a publicação da “Origem das Espécies” de Darwin, de quem aliás era primo.

Há inúmeras definições da eugenia — eu-genia, bem nascido, no original grego.

Sua intenção explícita consistia em um movimento pelo “aprimoramento” da “raça” humana, ou seja, a preservação da “pureza” de determinados grupos.

Trata-se, segundo seus seguidores, de assegurar a constante melhoria da composição hereditária do homem através da preservação da pureza de certos grupos, em geral brancos, em oposição a negros, asiáticos, povos originários, judeus — em regra geral minoritários explorados.

Mais especificamente, a seleção social de indivíduos supostamente inadequados constitui o racismo genético.

Em nome da eugenia, os nazistas esterilizaram à força milhares de deficientes, inclusive crianças, chegando a 1% da população da Alemanha de então.

Os genes constituem a base material da genética moderna.

Trata-se de estruturas materiais localizadas quase sempre nos cromossomas e que determinam e controlam o desenvolvimento e a fisiologia.

São estruturas materiais, acessíveis ao estudo, situados em longos filamentos retorcidos localizados nos núcleos das células e também em sítios inicialmente inesperados, extra-nucleares.

São formados por uma série de quatro nucleotídeos, situados no espaço como as pérolas num colar e alojados nos cromossomas.

A ordem destes nucleotídeos constitui o suporte material da mensagem para a síntese de proteínas e ulterior diferenciação dos órgãos (o conjunto das propriedades dos organismos vivos é designado pelo termo fenótipo).

O código genético é praticamente idêntico na árvore evolutiva, uma das provas da evolução biológica.

O cientista germano-americano Muller, utilizando moscas drosófilas irradiadas, mostrou a existência de mutações, que são alterações de estrutura ou do ordenamento dos genes, com consequências geralmente teratológicas e inviabilidade da prole.

As mutações naturais, por causas exógenas ou endógenas, em geral de origem desconhecida, constituem a base material das doenças hereditárias.

Enquanto o código genético não puder ser alterado seletivamente, ou seja, visando a correção de uma mutação identificada, as doenças genéticas poderão ser minoradas em sua sintomatologia, mas somente serão curadas com a intervenção no gene.

Esta aliás já ocorre em condições específicas, como a introdução de genes que asseguram a produção de vacinas, anticorpos contra microrganismos identificados.

Não faltam relatos e exemplos de pessoas de origem modesta que, pela sua dedicação ao estudo e aos negócios bem planejados, sobem a escada social; isto é empregado para construir um relato individualista e convencer os recalcitrantes que ganha quem é competente e perde, quem não o é.

O capitalismo fica assim escusado, a culpa é da genética supostamente desvalorizada do pobre, que passa por inferior.

Desde os meados do século 19, após a publicação do livro de Darwin “A Origem das Espécies”, seguidores têm assim construído teorias anti-igualitárias, que suprimem as influências do meio no seu sentido mais amplo (meio interno e meio externo), pretendendo que tudo é determinado pelo genes.

Isto tem hoje seu ponto culminante nas teses de Richard Dawkins, brilhante escritor que pretende que os genes são tudo e que a vida é baseada em sua persistência que assim quase teriam uma existência autônoma, mistura de bioquímica auto-reproduzida e de fantasia apocalíptica.

Coerente com sua posição filosófica e científica, Dawkins é de direita, apoiou a intervenção anglo-americana no Iraque.

Segundo Del Cont resumido por mim: “O ponto de partida de Galton para conceber uma teoria dos mecanismos da hereditariedade que substanciasse sua proposta de uma ciência do melhoramento da raça humana, foi a teoria da pangênese (teoria das gêmulas) de Charles Darwin”.

Continua Del Cont: “… as gêmulas seriam organelas produzidas ou expelidas pelas células que compõem os vários órgãos do corpo, que só possuiriam a informação restrita do órgão expedidor. Todas as características presentes em um organismo seriam transmitidas. Algumas características poderiam manifestar-se em momentos tardios, correspondendo à época de manifestação nos pais. Outras poderiam estar ligadas … a um ancestral, o que explicaria o aparecimento de formas antigas ou uma reversão às formas antigas. … assim alguns elementos se manifestavam e outros não, ficando dormentes – para reaparecerem em uma geração futura, com a possibilidade de mudanças … na vida de um indivíduo, …. por exposição ao meio, produzirem modificações; os órgãos modificados poderiam expelir gêmulas portadoras das novas características que seriam transmitidas para os descendentes.”

Existiria, segundo esta hipótese que considero extravagante, sem evidência alguma, uma forma de transmissão dos caracteres adquiridos.

De fato, “secreção” pelos órgãos de mensagens indefinidas, espécie de genes propulsados, ativos ou virtuais é uma construção imaginada, talvez habilidosa, que a biologia moderna exclui, substituindo-a por um conceito material, o gene, de estrutura química definida.

Em determinadas circunstâncias o gene pode ser transmitido e/ou ter sua ação modificada, o que relativiza e torna obsoleto o conceito de total separação entre soma e germe, referida acima.

O conceito de eugenia nasceu no primeiro país a desenvolver o capitalismo industrial, a Grã Bretanha, com a consequente formação de uma classe operária miserável, que os porta vozes das classes dominantes precisavam manter formalmente inferiorizada, o que os conceitos da eugenia comprovariam.

Sua aplicação prática não provém entretanto somente de países colonialistas europeus, mas dos Estados Unidos.

A influência da legislação racial americana, federal e dos diversos estados, é descrita no livro de James Q. Whitman, “Le modèle américain de Hitler”.

O livro chama a atenção dos que, horrorizados pelos crimes nazistas, classificaram seus autores como a-históricos, fora da história, algo que nunca se reproduziria, “a banalidade do mal”.

Os eventos dos séculos 20 e 21 contradizem este otimismo, pois a defesa do capitalismo justifica, aos olhos de seus mentores, a repetição das barbaridades.

Há muito a discorrer sobre as relações entre a biologia, a filosofia e a política.

Isto seguirá, e discutirei em breve uma das importantes consequências da apropriação pelos conservadores e pela extrema-direita, norte-americana e alemã (nazista), das noções pervertidas da biologia moderna através da eugenia.


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Silvia Birckholz

Em vez de aprimorar a raça humana aprimorar as formas de agricultura para produzir mais. Os animais carnívoros já possuem as formas de manter o equilíbrio populacional. Deixem para Deus o que é de Deus. O erro de Deus é permitir que o Homem pense quando ele já perdeu a capacidade de análise. Agora só maldade. Viva e deixe viver. Inclusive a evolução das coisas. Assustador o erro de análise; pensem melhor, o Homem consegue. Ou ele mesmo bicho homem perdeu a razão de ser.
Ficou supérfluo. A natureza em si é perfeita, não precisa do Homem para perverte-lá.

Valdeci Elias

Daqui a uns 200 , 300 anos quando falarem do SEC 19 e 20, vão achar graça da teoria da origem do homem na Africa. De como cientistas brancos europeus, defenderam que a especie humana surgiu na Africa, e com a evolução da espécie , se espalhou pra outros continentes.

    Zé Maria

    E, se ainda houver Seres Humanos até lá, darão Gargalhadas
    dos Americanos que, em Pleno Século 21, no Terceiro Milênio
    Depois de Cristo, afirmaram que o Morcego é uma Ave, que
    a Terra é Plana, que as Mudanças Climáticas são Fake News
    do Marxismo Cultural Globalista, e que Trump e Bolsonaro
    são Homens de Deus.

Zé Maria

.
.
“O controle de características genéticas humanas através
da institucionalização de práticas socioculturais eugênicas”

Valdeir Del Cont: (https://www.escavador.com/sobre/4550280/valdeir-donizete-del-cont)

Excertos:

[Davenport e a Eliminação do “Germeplasma Defeituoso” nos EUA e no Mundo]

“Nos Estados Unidos da América a eugenia
ultrapassou o sentido de controle social das
uniões matrimoniais.
Em um contexto marcado por crescente
imigração e forte sentimento segregacionista,
os eugenistas estadunidenses de primeira hora
procuraram estabelecer condições ‘científicas’,
sociais e legislativas com o firme propósito de
controlar efetivamente a capacidade reprodutiva
dos indivíduos classificados e catalogados como
eugenicamente inaptos [“Eugenia Negativa”].

Influenciados pela crescente importância da
redescoberta dos princípios genéticos de
Mendel [que fez experiências com ervilhas
não com humanos], em princípios do século XX,
para a compreensão dos mecanismos da
hereditariedade, principalmente com a
admissão da existência de caracteres [genéticos]
dominantes e recessivos quando dos
cruzamentos entre indivíduos, os eugenistas
estadunidenses estavam convencidos de que
bastaria, ao pesquisador de campo eugenista,
determinar quais caracteres ‘nocivos’ poderiam
ser dominantes [nos humanos] e estabelecer
procedimentos visando impedir a sua proliferação
(cf. Selden, 1999, p. 2-4).”
[…]
“Proibições de casamentos, anulações e exigência
de exames pré-nupciais, com nítida preocupação
eugênica, foram estabelecidas nos Estados Unidos,
França e Alemanha (cf. Barret & Kurzman, 2004).
Mas tudo isso não era ainda suficiente.

O simples controle das relações matrimoniais
não representava, para os eugenistas estadunidenses,
avanços substantivos em sua meta de erradicação
dos elementos responsáveis pela hereditariedade
dos ‘traços degenerescentes’ (cf. Davenport, 1972 [1911], p. 1).
[…]
“Nos Estados Unidos, as condições sociais do início do século XX,
marcadas por um crescimento significativo do fluxo de imigrantes
vindos de todas as partes do mundo, motivaram, na elite americana,
o surgimento da preocupação com relação à qualidade dos indivíduos
que o país recebia. Por mais que os estadunidenses se considerassem
como um país de imigrantes, esse sentimento estava reservado aos
indivíduos vindos do norte da Europa, de ascendência nórdica,
considerados representantes de uma linhagem superior,
eugenicamente distinta de outros povos (cf. Waters & Eschbach, 1995).

Face ao sentimento de que a pureza da descendência americana
estava sendo ameaçada pela proliferação tanto de imigrantes
‘de origem inferior’ quanto pela miscigenação de indivíduos
‘degenerados’, os eugenistas estadunidenses se mobilizaram
para reunir evidências que legitimassem, em uma possível
defesa científica da discriminação, medidas restritivas e
‘corretivas’.

Tal empreitada coube à pessoa de Charles Benedict Davenport (1866-1944),
que assumiu a missão de construir as condições institucionais para a
implementação de programas de melhoria das disposições hereditárias da
população estadunidense (cf. Davenport, 1909, p. 20).

As ideias de Galton causaram em Davenport verdadeiro fascínio.
Desde o primeiro momento Davenport percebeu na proposta
de uma ciência eugênica a possibilidade de se encontrar,
a partir do avanço da pesquisa experimental, instrumentos
para intervir no curso da reprodução humana (cf. Carlson,
2001, p. 194; Paul, 1995, p. 8).

A carreira de Davenport como líder do movimento eugênico
nos Estados Unidos começou a se desenhar quando ele dirigia
o laboratório de biologia do Brooklyn Institute of Arts and Science,
em Cold Spring Harbor.

No local, para aumentar sua renda, Davenport [tal como o Astrólogo da Virgínia]
começou a oferecer um curso de verão muito concorrido, que atraía um número
cada vez maior de jovens.

Assim foram lançadas as sementes do que aos poucos se transformaria
na ‘meca espiritual’ de eugenistas ao redor do mundo (cf. Kevles, 2001, p. 51).

Na virada do século [XX], com a redescoberta das leis de Mendel,
Davenport vislumbrou a possibilidade de transformar as ideias
galtonianas de melhoramento das características hereditárias
humanas por meio de experimentos laboratoriais (cf. Kevles, 2001,
p. 54-6; Paul, 1995, p. 39-49).

Ao arquitetar o seu projeto de melhoramento de traços humanos hereditários, Davenport considerava que isso só poderia tornar-se realidade se, além de instalações apropriadas, houvesse uma congregação de esforços institucionais, acadêmicos e financeiros no sentido de dar sustentabilidade para o programa eugênico. Para tanto, mesmo sendo um indivíduo ensimesmado, até avesso a contatos sociais, Davenport transformou-se no maior propagandista da eugenia nos Estados Unidos e reuniu, sob o ideário eugênico de melhoramento das disposições hereditárias da população, milionários filantropos, agremiações representativas de setores econômicos, órgãos governamentais, instituições científicas e departamentos universitários (cf. Kevles, 2001, p. 54-56; Paul, 1995, p. 8-11).
O primeiro passo de Davenport foi articular o apoio de uma grande e famosa
instituição.
Assim, em 1902, vislumbrou na recém-criada Carnegie Institution o ponto de
apoio institucional e financeiro para os seus propósitos.

Davenport enviou àquela instituição uma série de relatórios e cartas procurando
convencer os curadores sobre a urgência de se criar um laboratório de pesquisa
para realizar experimentos de melhoramento de traços humanos considerados
indesejáveis.

Depois de várias investidas, os membros da Carnegie Institution se convenceram
da relevância do empreendimento e da sua importância para o desenvolvimento
da ciência e para o futuro da nação americana.

Com isso, em 19 de janeiro de 1904, deu-se início formal ao programa eugênico
de melhoramento das características da população estadunidense, mediante a
fundação da Station for Experimental Evolution of the Carnegie Institution (SEE)
em Cold Spring Harbor (cf. Allen, 1986, p. 209-230).

No início, os experimentos realizados com plantas e animais sugeriam aos adeptos
da eugenia a possibilidade de se controlar experimentalmente também a reprodução humana, no sentido de se encontrar fatores mendelianos
responsáveis por características degenerativas presentes nos seres humanos.

E assim, segundo Davenport, a questão prática para a estação experimental seria:

‘O que pode ser feito para a redução da frequência da debilidade mental
e de traços corporais que são encargos demasiados para nossa população?
Essa questão tem sido por muitas vezes solicitada. Ela tem sido respondida
de diversas formas, e, na verdade, há vários métodos para parar a reprodução
de traços indesejáveis’ (Davenport, 1972 [1911], p. 256).

Com o propósito de ampliar ainda mais o campo institucional e de pesquisa,
Davenport percebeu que a American Breeders Association (ABA)
[correspondente, no Brasil, à EMBRAPA] – uma associação fundada em 1903
com o propósito de unir esforços de criadores de animais e especialistas em
sementes para produzir pesquisas que fizessem avançar a produtividade e a
qualidade de seus produtos (cf. Kimmelman, 1983, p. 166) – poderia ser um novo
parceiro institucional no estabelecimento de bases experimentais que
produzissem conhecimentos passíveis de serem aplicados também no
melhoramento das características humanas (cf. Allen, 1986, p. 232).

Com essas primeiras ações institucionais, as condições materiais e alguns
aspectos experimentais foram estabelecidos, assim faltava apenas a Davenport
criar um dispositivo de trabalho de campo que pudesse transformar a sociedade
em um grande laboratório de pesquisa, rastreando e catalogando os indivíduos
para coletar informações que pudessem sustentar medidas de controle
reprodutivo dos considerados eugenicamente inaptos.

Para tanto, Davenport precisava urgentemente encontrar e determinar
quais seriam os indivíduos portadores do que os eugenistas classificavam
de “Germeplasma Defeituoso”, e assim buscar medidas corretivas que
levassem à sua eliminação (cf. Davenport, 1909).

Os seus primeiros passos consistiram em, juntamente com Alexander
Graham Bell (1847-1922)*, um dos principais membros da ABA e eugenista
convicto, distribuir um questionário de registro familiar em escolas e
universidades, procurando registrar informações sobre históricos familiares
no que dizia respeito à existência de debilidade mental e deficiência visual ou
auditiva em algum aparentado (cf. Black, 2003, p. 101).

Assim, Davenport percebeu duas consequências importantes para os seus
propósitos eugênicos:
primeiro, a necessidade de reunir informações sobre os eugenicamente
indesejáveis, o que representava um método de trabalho a ser seguido; e,
segundo, a necessidade da criação de um órgão que se responsabilizasse pelo
trabalho de campo, o que incluía a catalogação dos dados e posterior análise. Esse órgão poderia estar associado ao Comitê Eugênico da ABA, mas teria responsabilidades e funcionalidades independentes, traduzindo as suas pesquisas de campo e as pesquisas laboratoriais de base feitas pela SEE em propostas de políticas governamentais para a sociedade americana. Estava vislumbrado o terceiro instrumento institucional para a implementação de medidas eugênicas, o Eugenics Record Office (ERO) (cf. Allen, 1986, p. 226).

A criação do ERO envolveu novamente uma complexa conjugação de esforços
por parte de Davenport, o que incluía fatores de competência técnica e política
para o estabelecimento de um campo de produção de conhecimento científico
no que diz respeito ao controle hereditário dos traços comportamentais ‘degenerantes’.
Com o ERO, Davenport procurou conjugar práticas laboratoriais e estratégia
política com o propósito de estabelecer um campo de articulação no qual o
conhecimento científico de base e as ações sociopolíticas contribuiriam para
consolidar e legitimar a eugenia como um programa de pesquisa científico.

Tal como assinala Pierre Bourdieu, os campos científicos podem ser
compreendidos como o lugar do estabelecimento de duas formas de poder,
correspondentes a duas espécies de capital:

‘De um lado, um poder que se pode chamar temporal (ou político), poder
institucional e institucionalizado que está ligado à ocupação de posições
importantes nas instituições científicas, direção de laboratórios ou
departamentos, pertencimentos a comissões, comitês de avaliação, etc., e ao
poder sobre os meios de produção (contratos, créditos, postos, etc.) e de
reprodução (poder de nomear e fazer as carreiras) que ela assegura.
De outro, um poder específico, ‘prestígio’ pessoal que é mais ou menos
independente do precedente, segundo os campos e as instituições, e que
repousa quase exclusivamente sobre o reconhecimento, pouco ou mal
objetivado e institucionalizado, do conjunto de pares ou da fração mais
consagrada dentre eles, por exemplo, com os “colégios invisíveis” de eruditos
unidos por relação de estima mútua’ (Bourdieu, 2004, p. 35).

Na conjugação dessas duas formas de capital, Davenport primeiramente
percebeu que era preciso encontrar alguém que financiasse o projeto e que, ao
mesmo tempo, fosse representativo da elite financeira e racial que ele pretendia
orientar, a partir dos princípios de uma ciência eugênica, em direção ao
estabelecimento de um ambiente social livre dos indivíduos eugenicamente
‘inaptos ou degenerados’.

As intenções de Davenport encontraram eco no magnata das ferrovias Edward
Henry Harriman (1848-1909), um entusiasta das ciências e financiador de vários
projetos científicos.
Harriman havia falecido e deixado sua fortuna aos cuidados de sua esposa, Mary
Harriman (1851-1932), com quem Davenport logo procurou estreitar relações no
sentido de aproximá-la do ideário eugênico.
Davenport não precisou de muitos esforços para convencê-la da importância da
participação do nome Harriman na edificação de uma nova nação construída
sobre as bases eugênicas.
Em fevereiro de 1910, a senhora Harriman concordou definitivamente em financiar
o projeto (cf. Paul, 1995, p. 8-10; Allen, 1986, p. 234-5).
Iniciava-se, com essas medidas, a “caçada aos eugenicamente indesejáveis”,
faltando apenas a Davenport encontrar um executor de tal ideário.

Davenport, desde o início, procurou dar ao ERO a conotação de que se tratava
de um empreendimento conjunto da ABA – e seus estritos laços com o governo
americano – com o status econômico representado pelo nome Harriman. Isso
fazia do ERO, muito embora parecesse um anexo da SEE, uma instituição
independente e fruto de um projeto comum da ABA e da senhora Harriman.

Com isso Davenport conseguiu manter três instituições trabalhando sob seu
comando – o Comitê Eugenista/ABA, a SEE e o ERO – recebendo apoio financeiro
e institucional, bem como respeitabilidade pública.
Dessa forma, Davenport atraiu para os seus projetos um número crescente de
financiadores esperançosos de estarem contribuindo como ‘benfeitores’ da
humanidade (cf. Paul, 1995, p. 8-10).

No final da primeira década do século XX, o projeto de Davenport ganhou
proporções que exigiam esforços de outros membros tão combativos quanto ele
próprio.
Com efeito, ao definir os objetivos do ERO enquanto um órgão de pesquisa de
campo e de políticas, Davenport necessitava de alguém para dirigi-lo que, além
de formação científica, ansiasse desesperadamente por reconhecimento e
acreditasse sem reservas na urgência de impedir a proliferação dos eugenicamente ‘indesejáveis’.

Davenport encontrou tudo isso na pessoa de Charles Benedict Davenport
(1866-1944) [como um Eichmann** de Heydrich*** ou um Heydrich de Himmler],
um antigo aluno de seus cursos de verão, com o qual se encontrara novamente em 1909 em um congresso da ABA, mantendo desde então as mesmas aspirações eugênicas (cf. Carlson, 2001, p. 235-43).

Laughlin foi contratado para dirigir o escritório por um período inicial de dez anos.
No final de 1910, Laughlin e família já estavam instalados nas dependências do ERO.
Em outubro do mesmo ano, o Eugenics Record Office foi inaugurado com a
missão de “realizar pesquisa sobre hereditariedade humana, especialmente a
herança de traços sociais; e educar os leigos sobre a importância da pesquisa
eugênica e as implicações da eugenia no estabelecimento de políticas públicas”
(Allen, 1986, p. 238).

Laughlin dedicou-se de corpo e alma ao ERO e logo colocou em funcionamento
a máquina eugênica de identificação, catalogação e restrição dos considerados
inaptos à reprodução.
O trabalho consistia em identificar o número de americanos deformados e
‘indesejáveis’,
estimado no mínimo em dez por cento da população (cf. Carlson, 2001, p. 242).

Aliás, essa cifra virou referência no debate.
Falava-se naturalmente da existência de dez por cento da população que deveria
ser submetida a “tratamento apropriado”, no sentido de acabar com a cadeia
reprodutiva.
Várias propostas de tratamento foram consideradas, mas, por uma questão
estratégica, resolveu-se que os principais métodos deveriam ser a segregação e
a esterilização (cf. Carlson, 2001, p. 241-2).

Utilizando o mesmo tipo de metodologia que se usava para a identificação de
animais, os pesquisadores do ERO tinham como missão relacionar as linhagens
das famílias americanas, denominadas de “pedigrees”.

Depois de um breve período de treinamento, os pesquisadores empreenderam
as pesquisas de campo com a intenção de levantamento de dados sobre os
considerados eugenicamente ‘inferiores’, suas famílias e sua concentração
geográfica. Os primeiros alvos foram as prisões e as instituições de tratamento
mental, depois estendeu-se para qualquer canto do país onde houvesse alguém
considerado portador de alguma ‘degenerescência’, mesmo que isso significasse
apenas um comportamento diferente dos demais
(cf. American Breeders Association, 1909).

Acolhidos com entusiasmo por administradores de asilos, prisões, hospitais
psiquiátricos, casas de caridades e autoridades de pequenas localidades rurais,
os pesquisadores de campo do ERO se espalharam por todos os cantos dos
Estados Unidos.
O simples fato de não falar corretamente o inglês já era um indício suficiente
de debilidade mental e passível de registro para controle reprodutivo.

Os métodos de abordagem dos pesquisadores eram desde questionários formais
e catalogação dos registros das instituições até o estabelecimento de contatos
simpáticos, procurando ganhar a confiança das pessoas para levantar dados
sobre elas e seus parentes (cf. Allen, 1986).

Os candidatos à esterilização ou à segregação em campos ou fazendas especiais
consistiam em todo um conjunto de indivíduos marcados pela diferença e por
condições sociais desfavoráveis.
Assim, além de criminosos, os pesquisadores estavam atrás de albinos, surdos,
cegos, débeis mentais, pessoas acometidas por doenças consideradas incuráveis,
miseráveis e prioritariamente os epilépticos (cf. Reilly, 1987).

Para o ERO, a pobreza e a epilepsia estavam naturalmente associadas e eram
sinônimos de debilidade mental. Os sentidos treinados dos pesquisadores de
campo do ERO catalogaram além dos severamente retardados, também
qualquer um que se apresentasse como tímido, introvertido, calado, gago, mudo
e os que falavam inglês incorretamente.

O critério era tão amplo que foram registradas como epilépticas pessoas
acometidas por enxaquecas e mesmo aquelas com desmaios por outras causas.

Como instrução para o trabalho de campo, o boletim do ERO sobre o estudo da
hereditariedade humana declarava:
‘por muitos anos as melhores organizações hospitalares e instituições de
deficientes têm mantido registros familiares dos pacientes. Da informação obtida
por aplicação de formulários, os médicos têm computado, tabulado e deduzido.
Mas, tem-se notado há algum tempo que tais registros estão longe de ser
satisfatórios e que a melhor maneira de obter a herança da epilepsia, debilidade
mental, criminalidade e de várias formas de insanidade é por meio de
trabalhadores de campo, indo até as casas e entrevistando as pessoas que
podem e darão a informação desejada’ (Eugenics Record Office, 1911).

Nesse contexto, em maio de 1911, em Palmer, Massachusetts, o comitê eugenista
da ABA decidiu criar um novo comitê especial, com um objetivo bem definido:
eliminar o “Germeplasma Defeituoso”.

No dia 15 de julho de 1911, Laughlin e os principais membros do comitê da ABA reuniram-se no City Club, em Manhattan, para debater como resolver o problema da proliferação dos degenerados.

Nessa reunião foram traçadas algumas diretrizes importantes para o futuro da
população estadunidense.

Primeiramente, concordou-se que o futuro da população dependia não somente
de se impedir a reprodução do indivíduo portador de degenerescência, mas sim
a identificação do “Germeplasma Defeituoso” presente em toda a família, mesmo
que não tenha se manifestado, estabelecendo assim uma nova categoria de
indesejáveis: os assintomáticos.

Além disso, os “degenerados”, “incapazes sociais” e alvos das medidas de limpeza
racial foram agrupados em dez categorias principais:

(1) deficientes mentais,
(2) indigentes,
(3) alcoólatras,
(4) criminosos,
(5) epilépticos,
(6) insanos,
(7) constitucionalmente frágeis,
(8) predispostos a doenças específicas,
(9) fisicamente deformados e
(10) deficientes quanto aos órgãos dos sentidos.

Em uma conta preliminar feita pelos próprios eugenistas, no total isso
representaria onze milhões de pessoas (cf. Black, 2003, p. 121).

Laughlin estimava que em 15 ou 30 anos, após medidas eficazes que envolviam
matrimônio restritivo, controle compulsório da natalidade, segregação
obrigatória e perpétua e até esterilização dos inaptos, a nação americana estaria
livre das características degenerescentes e pronta para edificar uma nova e
purificada linhagem hereditária.

Para multiplicar a linhagem genética desejável, Laughlin sugeria até a poligamia
e a procriação sistemática, uma ideia que seria posta em prática na Alemanha
nazista, em 1935, por Heinrich Himmler, com a inauguração do Lebensborn,
instituição responsável pela reprodução sistemática e controlada de indivíduos
representativos da pura raça ariana.

Após livrar os Estados Unidos dos eugenicamente indesejáveis, os eugenistas,
liderados por Laughlin e Davenport, vislumbravam estender as medidas
eugênicas para além das fronteiras estadunidenses, “caçando os eugenicamente
inaptos” onde eles se encontrassem, de modo a livrar do “Germeplasma Defeituoso”,
primeiramente, os Estados Unidos e, depois, o mundo (cf. Black, 2003, p. 126)
[ideologia imperialista que permeia a História Política dos EUA, inclusive na
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_do_destino_manifesto)].

Os planos de internacionalização dos programas eugênicos de Davenport e
Laughlin começaram a tornar-se realidade em 1912, com a realização do Primeiro
Congresso Internacional de Eugenia em Londres.

Ainda sob a força da influência do mais importante teórico da eugenia, Francis
Galton, que tinha morrido um ano antes, esse congresso representou para os
eugenistas estadunidenses o ponto de partida para a criação de um organismo
internacional que coordenasse as ações eugênicas.
Com representantes vindos de vários países, o encontro foi dominado pelos
delegados provenientes dos Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Itália e França,
além obviamente dos anfitriões ingleses.

Para organizar o movimento internacionalmente foi deliberada a criação de um Comitê Internacional de Eugenia, que viria a se reunir um ano depois, em 4 de agosto de 1913, em Paris.
Dentre as questões a serem resolvidas, havia a da continuidade das ações de
cooperação internacional e também a da realização de um segundo congresso,
a ser decidida em nova reunião marcada para 15 de agosto de 1914, na Bélgica.

O segundo congresso eugenista deveria ter sido realizado em 1915, mas a Europa
e o mundo viram-se envolvidos na Primeira Grande Guerra, de modo que os
planos dos eugenistas tiveram que ser adiados à espera de um momento mais
oportuno (cf. Carlson, 2001, p. 267-9; Pearl, 1912, p. 396).

Com efeito, o segundo congresso só viria a acontecer em setembro de 1921,
na cidade de Nova York.
A organização do congresso coube à linha de frente do movimento eugenista
americano: a senhora Harriman, Laughlin e o curador do Museu de História
Natural da cidade de Nova York, à época considerado o maior especialista
mundial em raça, Madison Grant (1865-1937).

A relação entre o Museu de História Natural [de New York, EUA] e o congresso
eugenista era tão íntima que dava a entender que o evento fazia parte das ações
da programação do Museu, o que conferia ao encontro o “status” de um importante
e respeitado evento “científico” (cf. Cocks, 1994).

O modelo americano de eugenia dominou completamente o encontro,
motivando críticas de delegados de outros países.
Por exemplo, dos cinquenta e três trabalhos apresentados, somente doze
não foram produzidos ou não refletiam temas de interesses dos americanos
(cf. Mehler, 1988, p. 36-41).

Diferentemente do que aconteceu no primeiro, no segundo congresso o movimento
eugênico já obedecia às orientações do grupo ligado a Davenport e Laughlin
e o problema da reprodução dos ‘indesejáveis’ se tornava o ponto central dos
trabalhos apresentados (cf. Osborn, 1968, p. 312).

Uma das deliberações importantes do segundo congresso para o avanço do
movimento eugenista, em termos mundiais, foi a mudança e redefinição das
competências do Comitê Internacional, tornando-se a Comissão Internacional
Permanente de Eugenia, sob o controle diretivo de Davenport e com poderes
sobre as organizações eugênicas presentes em uma série de países membros,
a saber:
Argentina, Austrália, Bélgica, BRASIL, Colômbia, Cuba, Dinamarca, EUA, França,
Grã-Bretanha, Itália, México, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Suécia
(cf. Black, 2003, p. 390).
[…]
No terceiro congresso internacional de eugenia, realizado em 1932, novamente
no Museu de História Natural [de New York, EUA], os adeptos do movimento
eugênico, a despeito de inúmeras críticas, ainda mantinham a firme convicção
de que a eugenia se constituía em uma prática científica legítima.
O conhecimento sobre o domínio da reprodução humana, orientado através
de rígidos preceitos eugenistas, estava pronto para ser conduzido não apenas como práticas de pesquisas laboratoriais, mas, principalmente, como políticas
públicas de saúde [Higienismo] para a “higiene racial” (cf. Laughlin, 1922, p. 446).

A essa altura, Laughlin já tinha elaborado um modelo de legislação para orientar
as medidas públicas, que mais tarde foram levadas até as últimas consequências
na Alemanha nazista de Adolf Hitler (cf. Weiss, 1987) …

*(https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_Graham_Bell)
**(https://pt.wikipedia.org/wiki/Adolf_Eichmann)
***(http://almanaquemilitar.com/site/wp-content/uploads/2014/02/Robert-Gerwarth-O-Carrasco-de-Hitler-A-Vida-de-Reinhard-Heydrich.pdf)

Íntegra do Artigo em: https://doi.org/10.1590/S1678-31662013000300004
Scientiae Studia ISSN 1678-3166 (Sci. stud. vol.11 no.3 São Paulo 2013)

Zé Maria

“No braZil, não há Diferenças
entre Brancos, Negros e Índios.
Só existem Bons e Maus”. [SIC]
A Dicotomia do Determinismo
de Jair Bolsonaro, na ONU.

Estaria o PreZidenti, na sua
‘subjetividade eugenista’ querendo
dizer que, ‘de nascença’, os ‘bons’
são brancos e ricos?
E os maus – salvo exceções, como o
Presidente da Fundação Palmares –
são pretos e pobres?

Zé Maria

A Genealogia, tão prezada pelos Monarquistas,
foi também incorporada pelos Eugenistas para
determinar os Indivíduos de “Boa Estirpe”, que
serviriam de referência para a “Eugenia Positiva”,
isto é, o Aprimoramento da “Linhagem Humana”.
.
.
“Galton formulou, portanto, uma teoria da herança
com o propósito de que servisse de base para o
desenvolvimento de uma ciência de princípios
eugenistas. Isso por conta de que, ao formular
uma teoria da herança em termos da impossibilidade
de que características adquiridas pudessem ser
transmitidas para gerações seguintes, Francis
Galton proporcionou ao movimento eugenista
um requisito teórico, no qual especificidades
biológicas, hoje diríamos genéticas, serviriam
de fundamentação para que a reprodução –
regulamentada nas uniões matrimoniais
‘cientificamente’ orientadas – obedecesse
a critérios definidos pela ‘ciência’ da
hereditariedade: a eugenia.
Tudo em nome da conservação e perpetuação
de características que melhorariam as condições
raciais da humanidade.”

“Francis Galton: Eugenia e Hereditariedade”
Valdeir Del Cont
https://doi.org/10.1590/S1678-31662008000200004
.
.
” … posteriormente Galton admitia que os esforços
eugênicos deveriam ser no sentido de se estabelecer
condições para que os indivíduos aderissem às
práticas eugênicas por reconhecerem o seu valor
moral e social (cf. Galton, 1908). Em sua opinião,
as uniões orientadas eugenicamente deveriam
depender muito mais da adesão de indivíduos
conscientes de seu valor para o bem geral da
humanidade, do que de algum tipo de controle
externo. Portanto, para Galton, as relações
eugenicamente orientadas configurariam
muito mais uma obrigação moral e, até, um
princípio religioso (cf. Galton, 1904; 1908).

“O controle de características genéticas
humanas através da institucionalização
de práticas socioculturais eugênicas”
Valdeir Del Cont
https://doi.org/10.1590/S1678-31662013000300004

Zé Maria

Uma das invenções precoces dos “darwinistas sociais”
foi a Eugenia [‘bem nascido’], termo criado por Francis
GALTON, em 1883, que a definiu como “o estudo dos
agentes sob o controle social que podem melhorar
ou empobrecer as qualidades raciais das futuras
gerações seja física ou mentalmente”.

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