Estudo alerta: Reabertura na Baixada Santista ocorre com a covid-19 em expansão

Tempo de leitura: 4 min

por Conceição Lemes 

Em 10 de junho, durante entrevista coletiva, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou a flexibilização da quarentena na Baixada Santista.

Doria autorizou a reabertura gradual da economia na região, a partir de 15 de junho.

O secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, alegou que a Baixada Santista havia migrado da classificação “vermelha” para a “laranja”, após redução do número de novos casos e aumento do número de leitos de internação.

“A epidemia desacelerou”, disse, justificando a decisão.

Resultado: shoppings, lojas, restaurantes parcialmente reabertos.

Porém, estudo divulgado nessa terça-feira, 23/06, indica que a reabertura do comércio e serviços na Baixada Santista está sendo feita em plena expansão da transmissão do covid-19, como mostra o gráfico abaixo.

Trata-se da quarta etapa do estudo epidemiológico EPICOBS, realizado na Região Metropolitana da Baixada Santista.

Leia-se: Santos, São Vicente, Praia Grande, Guarujá, Cubatão, Itanhaém, Peruíbe, Bertioga e Monguaguá.

O objetivo é estimar a prevalência do novo coronavírus na população dos nove municípios que integram a região.

Juntos, os habitantes desses nove municípios representam 4,1% da população do estado de São Paulo.

O EPICOBS foi realizado em quatro etapas.

A primeira, nos dias 29/30 de abril e 1 de maio.

A segunda, de 13 a 15 de maio.

A terceira, de 27 a 29 de maio.

A quarta, de 17 a 20 de junho.

A amostragem populacional foi estratificada por sorteio aleatório e a coleta de sangue para os testes, domiciliar.

Ou seja, pessoas dos nove municípios foram escolhidas  ao acaso para fazer: 1) teste rápido de covid-19 — verifica se há partícula do vírus no sangue; 2) pesquisa de IgM e IgG (anticorpos) ao novo coronavírus.

“Este tipo de estudo é importante porque nos permite ter uma estimativa da infecção pelo covid-19 na população”, explica o médico sanitarista Arthur Chioro, professor da Universidade Santa Cecília (Unisanta).

Chioro integra o grupo técnico-científico responsável pelo estudo EPICOBS.

— Mas os dados disponibilizados pelos serviços de vigilância epidemiológica não servem então? – alguns talvez questionem aqui.

Servem, sim, e são muito importantes. Mas não permitem que os pesquisadores os extrapolem para a população como um todo.

“Como baseiam-se em casos graves e moderados internados e confirmados, eles representam uma pequena parcela das pessoas infectadas e não o conjunto da população, como é o caso do estudo EPICOBS”, esclarece Chioro.

O quadro abaixo mostra os resultados das quatro etapas.

Como podem observar, à medida que houve avanço dos dias e das fases,  aumentou o número de testes positivos.

Na etapa 1, no final de abril, representavam 1,4%.

Na etapa 4, na segunda quinzena de junho, significavam 6,6%.

Na fase 4, especificamente, foram realizados 2.442 testes, sendo 160 positivos.

Isso significa que 6,6% da população da Baixada Santista já tem anticorpos contra o covid-19.

Esses 6,6% equivalem 120.904 habitantes da região.

Para cada caso notificado às autoridades de saúde, há 7 não notificados.

Diante desse quadro, o grupo técnico responsável pelo EPICOBS chegou às seguintes conclusões:

1) A prevalência está em ascensão na Baixada Santista

2) A velocidade de disseminação da infecção na Baixada Santista é mais acelerada do que todos os estudos semelhantes no mundo

3) O crescimento entre as fases 3 e 4 se deu com um pouco menos de intensidade do que o observado entre as fases 2 e 3 (77,2%). Ou seja, continuou crescendo, mas deu uma pequena desacelerada.

4) Atenção especial aos municípios de Guarujá, São Vicente e Cubatão

Por fim, o grupo técnico recomendou enfaticamente:

1) Manutenção do isolamento social

2) Utilização de máscara de forma adequada por toda a população

Além de Chioro, integram o grupo:

Cláudia Renata dos Santos Barros,  Lourdes Conceição Martins , Luis Amador Pereira – Unisantos

Evaldo Estanislau e Marcos Calvo – São Judas/Medicina Cubatão

Karina Calife – UNIMES/Santa Casa SP

Marcos Caseiro –  Unilus e Prefeitura Municipal de Santos (PMS)

Rogério Santos – Parque Tecnológico – PMS

A propósito, os prefeitos vão seguir as recomendações do grupo técnico-científico das universidades locais ou cederão às pressões e manterão a flexibilização já iniciada?

Quem vai se responsabilizar pelas mortes a mais que a flexibilização causará?

“Embora seja sensível às questões econômicas, por que é a saúde que tem que flexibilizar, e não Economia/Governo, a quem cabe, de fato, realizar medidas anti-crise efetivas”, pergunta às autoridades o médico infectologista Evaldo Stanislau.

Ele é professor universitário (HC/São Judas)  e também integra o grupo técnico-científico responsável pelo EPICOBS.

“Nossa pesquisa evidencia a expansão da covid-19 e, mesmo assim, falamos em abrir quando os números em geral crescem”, prossegue.

“O problema é que, se der errado, não dá para simplesmente voltar atrás. Muita gente terá se infectado, alguns morrido, por conta desse ‘experimento’ mal sucedido de reabertura”, alerta Stanislau.

Depois, senhores prefeitos e empresários, não digam que desconheciam todo esse risco.

A conta das vidas roubadas pela covid-19 irá também para vocês.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

Os Governantes principalmente das Regiões Sul e Sudeste
estão irresponsavelmente brincando com a População,
liberando as atividades comerciais não essenciais.
Será que não perceberam que depois o prejuízo será maior,
tanto econômico quanto de vidas.
Isso é por interesses políticos eleitorais ou o quê?

Excerto:

“O problema é que, se der errado, não dá para simplesmente voltar atrás.
Muita gente terá se infectado, alguns morrido, por conta desse ‘experimento’
mal sucedido de reabertura”, alerta [o médico infectologista Evaldo] Stanislau.

Deixe seu comentário

Leia também