Dr. Rosinha: Queimar livros, pensamentos, vidas e esperanças é com Bolsonaro e seus seguidores

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Por Dr. Rosinha

Foto: (Iberê Périssé / Projeto Solos

Extinção

Por Dr. Rosinha*

Ao tomar conhecimento de que seguidores de Bolsonaro queimaram livros do escritor Paulo Coelho, veio-me à memória momentos na história da humanidade em que livros foram queimados.

Sérgio Augusto no artigo “O brilho incendiário dos livros”, publicado no primeiro número de Quatro cinco um: a revista dos livros, informa que 451 graus Fahrenheit (233 graus Celsius) é a temperatura em que o papel entra em combustão.

No texto, Sérgio Augusto faz um breve histórico sobre a queima de livros e lembra que há, pelo menos, 23 séculos a humanidade vive com a bibliofobia.

No Brasil, atualmente, está instalado no governo central e em alguns estados e prefeituras não só a bibliofobia, mas a necropolítica: tudo que é vida ou dá vida inteligente e conhecimento deve ser destruído.

No resumo, Augusto informa que “faltava um bocado de tempo para Jesus nascer quando o imperador chinês Qin condenou à fogueira milhares de escritos de história para que ele pudesse ter não a última, mas a única palavra sobre o passado chinês”.

Sérgio Augusto lembra ainda que:

1) para o inquisidor Tomás de Torquemada apenas a bíblia deveria escapar da fogueira;

2) “Religiosos espanhóis destruíram os códices da avançada civilização maia”;

3) “os ingleses incendiaram a primeira Biblioteca do Congresso americano”;

4) os japoneses devastaram as oito maiores bibliotecas chinesas na Segunda gGuerra Mundial; e que

5) só na Polônia os nazistas deram cabo a 16 milhões de livros.

Bolsonaro, seus ministros e seguidores têm a mesma visão de Torquemada: a bíblia é o único e suficiente conhecimento para indicar e disciplinar o rumo da vida e do mundo.

Queimar livros não é queimar papel e, mesmo que fosse, só isso seria muito grave.

Ao queimar livros, o mínimo que se faz é queimar árvores e contribuir para o desiquilíbrio ambiental.

Queimar livros é queimar pensamentos, conhecimentos, sabedorias e vidas.

Mas queimar vidas é com Bolsonaro e seus seguidores.

O Brasil, hoje, é uma verdadeira fogueira.

São chamas queimando flora e fauna, vidas e esperanças.

No Pantanal, o fogo já queimou cerca de 15% do bioma.

No Cerrado, a mais rica savana do mundo, já foram registrados quase 40 mil focos de calor.

Na Amazônia, o número de queimadas só este ano – 2020 – já é superior ao recorde anterior, de 2005.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até o domingo, 11/10, foram registrados 15.701 focos ativos de incêndios.

Durante todo o ano de 2005, foram 5.644 focos. Ainda, de acordo com o Inpe, este ano a Amazônia é o bioma mais afetado por queimadas, com 45,6% dos incêndios ocorridos no Brasil.

No Pantanal e na Amazônia, a maioria dos focos de queimadas tem origem criminosa.

Estimuladas por governantes — em algumas regiões — dos três níveis de governo, elas são executadas na maioria das vezes por fazendeiros.

Estudos mostram que a interação desmatamento-mudança climática-aquecimento global aumentará o número de incêndios e serão cada vez mais devastadores.

Soma-se a isso a destruição de capacidade de o Estado fiscalizar, prevenir e combater os incêndios.

Os principais biomas – e toda a flora e fauna contida dentro de cada um deles – estão literalmente sendo queimados.

Há perdas irreversíveis.

Este ‘coquetel’ – mudança climática-aquecimento global-desmatamento-fazendeiros – ameaça mudar para sempre a Amazônia.

Segundo o pesquisador Paulo Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, “estamos muito próximos de chegar ao ponto de não retorno na savanização de grandes porções da selva amazônica”.

Se aos 451 graus Fahrenheit (233 graus Celsius) começa a combustão do papel, já com uma floresta o comportamento é outro.

Pesquisa indica que a destruição das florestas tropicais começa quando a temperatura fica acima de 32 graus Celsius.

Acima disso, essas florestas “começam a perder biomassa, como se estivessem definhando; a mortalidade de árvores aumenta, e a taxa de crescimento da vegetação como um todo diminui. Ocorre assim uma inversão de funções: em vez de retirar e estocar dióxido de carbono da atmosfera, a floresta passa a ser fonte de emissão de gases”.

Mas a situação é pior: soma-se a isso o desmatamento, as queimadas criminosas, a fragmentação da floresta.

Sob a égide do capitalismo – que olha a natureza como fonte de lucro – a existência humana está condenada.

Se mantido, planeta Terra perderá muitas das espécimes existentes, e a espécie humana será extinta.

Livros?!Alguns sobrarão, mas quem os lerá?

*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul. 

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Dr. Rosinha

Médico pediatra e militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.


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Zé Maria

O desgoverno Bolsonaro/Mourão faz “Queimada Preventiva”:
Em vez de queimar os Livros de Papel, queima direto a Celulose.

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