OBAMA, ROLANDO O LERO
por Luiz Carlos Azenha
Quando Barack Obama assumiu a Casa Branca nos foi apresentado como presidente meticuloso, capaz de analisar um tema a partir de diversos pontos-de-vista, detalhista, um cultor da ideia de que em política o diabo mora nos detalhes e, mais que isso, capaz de exorcizá-lo nas entranhas do processo executivo.
Como leitor do Daily Kos, o espaço de militantes progressistas dos Estados Unidos, acompanhei o fervor com que jovens eleitores de Obama mergulharam com ele no processo, debatendo minúcias do plano de saúde, da ideia abortada de fechar Guantánamo, das mudanças na política externa.
Obama foi vendido como o líder torturado pelos dilemas do poder, o homem que lia São Tomás de Aquino nas madrugadas insones enquanto decidia ações “defensivas” dos drones contra militantes islâmicos.
Ao conduzir seus eleitores com discursos grandiosos, vagos e repletos de filigranas através dos obstáculos colocados em seu caminho pela oposição republicana e pelos militantes do Tea Party, Obama focava na árvore para negar a visão da floresta.
Quando recuamos o zoom para localizá-lo com mais certeza na história política recente dos Estados Unidos, eis que o presidente democrata é descoberto ali pela vizinhança de George W. Bush: matando cidadãos norte-americanos com aviões não-tripulados, autorizando assassinatos remotos sem provas num ritmo maior que qualquer antecessor, turbinando um aparato de repressão interna como nunca houve nos Estados Unidos, espionando jornalistas, colocando a iniciativa privada a serviço do aparato de vigilância, monitorando telefonemas, e-mails e o tráfego da internet.
Eu havia escrito recentemente sobre José Eduardo Cardozo, nosso ministro da Justiça Rolando Lero, que foca no acessório para nos desviar da essência de sua atuação política, que é a mediação bovina entre quem tem todo o poder — os ruralistas e o agronegócio — e quem não tem nenhum poder — os indígenas e seus velhos desdentados e crianças desnutridas. Cardozo atua como se Barcelona e Noroeste de Bauru fossem times em igualdade de condições, jogando num campo e sob regras definidas pelo Barcelona. Faz isso Rolando o Lero.
Obama revela-se um Rolando Lero global. Agora sabemos exatamente o que significa Change We Can Believe In.
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