Huffington Post: Nem a oposição quer os Estados Unidos no Irã

Tempo de leitura: 4 min

“Acabo de voltar do Irã.”

12/7/2010 Stephen Kinzer, Huffington Post

Nos EUA, hoje, há um tema que faz calar todas as conversas periféricas. Os que estejam em posição de servir-se dessa vara de condão, convertem-se em objeto de fascinação geral, embora temporária, como deve ter acontecido com nossos avós, caso tivessem visitado a China ou a URSS dos anos 50s. Viajar ao Irã converte qualquer um em aventureiro amalucado ou em forasteiro em perigo, em território inimigo.

A realidade é mais prosaica. Embora poucos norte-americanos visitem o Irã, não há, de fato, nada que os impeça. No meu caso, acompanhei um grupo de turistas norte-americanos em giro de duas semanas e poucos quilômetros pelo país. Não nos reunimos nem com o governo nem com os líderes da oposição, e andamos livremente, conversando com quem nos desse na telha conversar, com iranianos comuns, e o fizemos em todas as lojas onde entramos. Dado que o governo impôs restrições a visitas de jornalistas ocidentais, que mal conseguem trabalhar no Irã, andar como turista pela cidade pode ser o melhor meio de descobrir o que pensam e sentem as pessoas.

O que mais chama a atenção de norte-americanos que visitem o Irã, é ver o quanto as pessoas são pró-EUA. Em nenhum outro lugar do Oriente Médio, em outros pontos do mundo muçulmano, e praticamente em lugar algum do planeta encontra-se gente que tanto e tão abertamente admira os EUA. Pesquisas de opinião confirmam o fenômeno, e não foi novidade para mim, que já vira exatamente o mesmo em outras visitas. Mas perturba sempre, se se pensa que ali se está no coração do eixo do mal, cercados, como eu estava, em plena praça Imam, em Isfahan, por garotas de ginásio, aos gritinhos de “Amamos os EUA!” Num jardim persa em Kashan, encontrei um solene ancião, que, de inglês, só sabia dizer “America very good”, frase que pronunciava com grave reverência.

O sentimento pró-EUA no Irã explica-se, sobretudo, pela admiração que os iranianos sentem pelos feitos dos EUA. Os EUA têm tudo a que muitos iranianos aspiram: democracia, liberdade pessoal e Estado de Direito. Os iranianos aspiram profunda e sinceramente por essas bênçãos, aspiração que não é nem abstrata nem transitória.

Essa aspiração é produto de um século de luta para construir uma democracia liberal. Desde a Revolução Constitucional de 1906, gerações de iranianos assimilaram ideais democráticos. Hoje, a sociedade iraniana é o oposto do regime iraniano: é sociedade aberta, tolerante, ansiosa por engajar-se no mundo contemporâneo. Há muito mais potencial de longo prazo para a democracia no Irã do que em qualquer outro ponto do Oriente Médio muçulmano.

O sentimento pró-EUA no Irã é ativo estratégico valiosíssimo para os EUA. Um ataque militar dos EUA contra o Irã liquidaria ou, pelo menos, feriria gravemente esse importante ativo estratégico. O mais provável é que, se os EUA atacarem militarmente o Irã, terão conseguido converter o mais pró-americano dos povos do Oriente Médio em mais um povo de antinorte-americanistas, o que enfraquecerá ainda mais a posição dos EUA, na região mais volátil do mundo.

A segunda coisa que aprendi, por ver, no Irã, é que a explosão de protestos antigoverno do ano passado acabou-se, pelo menos por hora. O governo insiste em reprimir com violência alguns fracos protestos, apenas porque repressão violenta funciona. E funcionou no Irã. Há muitos iranianos insatisfeitos – não sei estimar quantos –, mas ninguém com quem falei previu novos levantes ou agitações de rua. A vida transcorre razoavelmente boa para muitos iranianos, e uma eleição talvez roubada (e nem se sabe se foi roubada) não é suficiente para tirá-los de casa e fazê-los enfrentar espancamentos e prisões.

Isso implica que, se a alguém interessa manter negociações com o Irã em futuro próximo e nos próximos anos – o tempo necessário para que o programa nuclear iraniano amadureça –, terá de negociar com o atual regime. Adiar o início de negociações amplas com o Irã, na esperança de que o governo de Ahmadinejad caia… parece-me esperança totalmente delirante, irrealista.

Finalmente, me chamou a atenção – embora não me tenha surpreendido – a unanimidade dos iranianos, inclusive muitos dos que participaram dos protestos no ano passado, em torno de dois pontos: o apoio a uma agenda de reformas e a firme rejeição de qualquer ajuda externa de qualquer outra potência, EUA ou outra.

“Muitos não gostam de Ahmadinejad, mas muito menos queremos os EUA, aqui, mandando em nós” – disse-me o dono de uma loja no bazaar de Shiraz. “Preferem viver sob um governo do qual não gostam, do que sob qualquer governo imposto ao Irã por estrangeiros.”

Esses sentimentos são fortes e estão por toda a parte, no Irã. O motivo é histórico, da história moderna do país. Durante quase todos os séculos 19 e 20, o Irã foi devastado por potências estrangeiras que subjugaram o povo e saquearam seus recursos. Cada vez que o Irã começou a tentar modernizar-se – por exemplo, construindo uma usina de aço nos anos 1930s, ou nacionalizando seu petróleo, nos anos 1950s – alguém veio de fora e interrompeu qualquer modernização.

Os iranianos tornaram-se super sensíveis à intervenção estrangeira. São mais sensíveis que qualquer outro povo no mundo. Por isso, rejeitam quaisquer forças políticas que suspeitem ser patrocinadas, apoiadas ou estimuladas por potências estrangeiras.

Muitos norte-americanos apreciariam ver o Congresso e o presidente Obama abraçarem publica e vigorosamente o movimento democrático iraniano. Pois nem os líderes dos próprios movimentos democráticos iranianos querem vê-los por lá, ainda que para apoiá-los.Em vez de ajudar a democracia iraniana, qualquer sinal de apoio que venha de Washington só servirá para estigmatizar o apoiado e deslegitimar sua causa. Os norte-americanos tendem a supor que seu apoio a amigos que se digam democráticos sempre ajuda. Não. No Irã, só atrapalhará.

“Bush foi um desastre”, disse um professor de matemática que encontrei sentado ao pé de uma figueira na cidade de Rayen. “Obama é um pouco melhor. Mas os iranianos acreditam firmemente que, quando EUA ou Inglaterra viram os olhos para o Irã ou para países árabes, sempre querem roubar alguma coisa. Todos eles.”

Há alguns traços da realidade iraniana, bem claros: tão cedo não haverá mudança de regime, e não há o que o ocidente possa tentar para acelerar qualquer mudança. Isso não implica que os iranianos não sejam democráticos: são mais democráticos e mais democratizáveis, eles mesmos, que qualquer outra sociedade no mundo muçulmano. 70% dos iranianos têm hoje menos de 30 anos. As mudanças virão. Mas virão ao ritmo do Irã, não ao ritmo dos EUA.

Enquanto isso, as centrífugas continuaram girando nas usinas nucleares iranianas, é claro. A crise exige diplomacia criativa. E Washington parece congelada no paradigma da confrontação.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Milton Hayek

CRIMES CONTRA A HUMANIDADE COMETIDOS PELOS EUA NO IRAQUE.É REPUGNANTE:

'Faluja: Anatomia de uma atrocidade

Hoje, 6 de julho de 2010, Chris Busby, Malak Hamdan e Entesar Ariabi publicaram seu estudo epidemiológico sobre os problemas de saúde sofridos pelo povo de Faluja. O estudo completo pode ser descarregado aqui , gratuitamente: http://www.mdpi.com/1660-4601/7/7/2828/
. Vocês podem ainda não ter ouvido falar desses homens, mas estou certo que seus nomes serão citados nos livros de história. A razão para isso é que coletaram evidências cientificas do genocídio que a população de Faluja está sofrendo nas mãos dos imperialistas que invadiram o Iraque. Infelizmente, ainda não despertaram muita atenção pelas suas descobertas, e por isso sinto-me pessoalmente obrigado a ajudar com isso………"

Vamos ver isso no Irã?Milhões de pessoas vão ser exterminadas e nada???

Milton Hayek

A China,na moita,está pulando fora do dólar.Devíamos fazer a mesma coisa sob o risco de ficarmos com mais de 250 bilhões de dólares em papel velho dos EUA:

14 de Julho de 2010 – 11h51
A ascensão da China e a decadência dos EUA na América Latina
O contrato entre China e Argentina no valor de 10 bilhões dólares assinado em Pequim na terça-feira (13) é emblemático das mudanças que estão em curso na conjuntura econômica internacional, num contexto geral de crise do capitalismo e da ordem imperialista mundial.

Por Umberto Martins

"……………………..O potencial de investimentos chinês deriva de suas reservas internacionais de cerca de 2,5 trilhões de dólares, as maiores do mundo. Ao priorizar os investimentos diretos, o governo comunista procura o caminho para transformar reservas em ativos reais no exterior, em vez de títulos emitidos pela Casa Branca ou hipotecas, aplicações que Karl Marx contabilizaria como capital fictício, sujeito a brusca depreciação como se viu na crise imobiliária". http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia

    Carlos

    Onde e no que aplicaríamos os 250 bilhões de dólares?

Milton Hayek

Já pensou se Cuba financiasse uma turba para mudar o Estado Corporativo nos EUA?????????????

Por que foram condenados os presos que Cuba vai libertar
A igreja católica de Cuba anunciou, dia 7, um acordo com o governo de Raúl Castro e o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, com a assistência do ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, para libertar 52 presos remanescentes do desmantelamento da conspiração de 2002/2003 pelo fim do socialismo na ilha. Além dos questões humanitárias, o tema envolve aspectos políticos referentes à resistência antiimperialista na ilha que não podem ser postas de lado.

O acordo beneficia 52 presos; cinco presos terão libertação imediata (Antonio Villarreal Acosta, Lester González Pentón, Luis Milán Fernández, José Luis García Paneque e Pablo Pacheco Ávila), e os demais 47 sairão num prazo entre três e quatro meses e poderão viajar para a Espanha, "se assim o desejarem", como declarou o chanceler espanhol. Em maio, quando as negociações entre o governo de Havana e a Igreja começaram, já havia sido libertado o preso Ariel Sigler.

Os presos fazem parte de um grupo detido, julgado e condenado em 2003 por fazerem parte de uma ampla conspiração antissocialista articulada em torno do chamado Projeto Varela, que, com apoio ativo do governo dos EUA, reuniu 48 organizações antirrevolucionárias (cinco delas com sede nos EUA) para investir contra o governo socialista e iniciar o que chamavam de "transição" para o capitalismo.

O plano previa a formação de uma grande aliança opositora com o objetivo de restabelecer a Constituição de 1940 e, segundo Angel Polanco (presidente do Comitê Pró-Mudança), obter adesões a um abaixo-assinado pela renúncia do governo socialista, pela mudança no sistema político e pela convocação de um Congresso da República, levando ao poder um governo provisório para promover o desmonte do estado socialista.

Apresentada pela imprensa conservadora como um movimento pacifista de oposição ao regime instaurado em 1959, o Projeto Varela fez parte da tentativa norte-americana de desestabilizar o regime e surgiu num ambiente onde as ameaças contra a soberania e a independência de Cuba se multiplicavam.
http://www.vermelho.org.br/editorial.php?id_edito

    augustinho

    agora falta os Usa libertarem seus presos politicos que no pós-Bush são bem mais do que 52… e falta seu melhor Cliente, Israel libertar parte ponderavel, pelo menos um terço de seus 11.000 presos que la estao porque fizeram protestos politicos ou jogaram pedras no soldados.
    Depois disso a gente conversa.

José Sabino

Azenha e navegantes,

Vejam só esta matéria. Depois aparecem os que gostam do Meirelles e de dólares!
http://www.espacoagora.com.br/?p=403

Abraços
José Sabino

    Milton Hayek

    Fui lá,Zé Sabino.Muito bom!!!!!!!!!!!!!!

    José Sabino

    Sr. Milton Hayek,

    Consulte os travesseiros por toda a noite para que possamos encontrar uma solução para este problema. É imperativo que levemos esta informação (o status do homem, ou melhor, do homúnculo em tela) ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil.

    A grande pergunta é: Estaria o Excelentíssimo Senhor Presidente a par do que é e do que pensa e pretende o Sr. Henrique Meirelles?

    Será que ele leu esta matéria? Será que não existe ninguém de seu círculo que possa ter lido e mostrado a ele?

    Isto só confirma a velha tese de que o pior cego é o que não quer ver.

    E depois (segundo os nobres colegas navegantes) sou eu que tenho "assombrosa puerilidade e equívoca análise econômica".

    Os que discordam que vão comprar dólares e boa sorte.

    Confusos e indignados cumprimentos
    José Sabino

    Heitor Rodrigues

    Sabino, fui lá e li o artigo. Lembrei-me de uma frase atribuída ao Garrincha, durante uma preleção de um treinador às vésperas de jôgo importante: "Tá bom! Vocês combinaram com êles?".

    A citação mais recente do artigo é o Fórum Social Mundial de 2003. Ou seja, o artigo é velho, muito velho. As ponderações do autor são respeitáveis e plausíveis à luz dos fatos econômicos e do comportamento dos governantes do Brasil e da Argentina na década de 90. De qualquer forma, o texto explica a euforia do Presidente Lula quando o Brasil zerou a dívida externa. E mais ainda, quando tornou-se credor do FMI.

    Uma condição essencial para a continuidade da agenda de Wall Street a partir de Janeiro de 2003, seria a manutenção da subserviência do Estado brasileiro, tal e qual no período FHC: a venda das estatais sobreviventes e o sucateamento dos serviços públicos, com políticas sociais de pífio alcance e política de exportações passiva a servirem de moldura para o quadro desejado pela banca internacional.

    Lula respondeu com a interrupção do programa de desestatização, com a valorização dos servidores públicos, com o aprofundamento das políticas sociais e com a diversificação da pauta das exportações e dos mercados consumidores dos produtos brasileiros. Ajudou os países vizinhos e a África a enfrentar as mesmas ameaças e, até agora, parece estar sendo bem sucedido. De quebra, participa ativamente do movimento que acua os países imperiais no plano das relações internacionais. E desmontou a armadilha. Se Meirelles pretendeu ser a fera que feriria de morte os opositores do neoliberalismo no Brasil, viu-se transformado em dócil cão amestrado, apesar dos rosnados na administração dos juros da dívida interna. Lula mostrou ao BC qual é o seu lugar na política econômica do país governado por êle, ao menos por enquanto.

    O Presidente mostrou que sabe lidar com cachorros loucos, e que não tem medo de dentes arreganhados. E que nesta briga, não há lugar para vila-latas como José Serra.

augustinho

O stephen é um cara curioso, no bom sentido, e bem intencionado. Isso é muito bom.
Mas precisa estudar mais sobre o Irã , sua historia e informar-se menos em fontes do Pig norte-americano. Tintas de contradiçoes pipocam no seu artigo e a culpa dissó é das limitaçoes informativas da condiçao de viver nos Usa.

O Brasileiro

É… os iranianos devem adorar a democracia americana, principalmente quando lhes foi imposto pelos EUA a monarquia de Reza Pahlevi.
Mas o auge da admiração dos iranianos veio com o apoio americano à invasão do Irã pelo Iraque!
Como diz o ditado: é preciso conhecer o passado para entender o presente e planejar o futuro!
Eu acho que o povo iraniano, que sofreu décadas nas mãos de russos, britânicos e americanos, só quer viver em paz!

Alexandre Tambelli

O que chama atenção no artigo é constatar que a sociedade iraniana seja, no Oriente Médio, a que mais admira os valores socio-culturais dos Estados Unidos! O que nos faz constatar que os americanos não tem amigos, tem apenas interesses econômicos que o beneficiem!

Sergio C Morales

Naturalmente, o Kinzer fala farsi e visitou as periferias das grandes cidades iranianas e a zona rural, onde vive a maioria do povão iraniano, não? Por que, se ele não fala a língua do país, duvido que tenha se comunicado com alguém que não seja da elite ocidentalizada (os únicos a dominarem o inglês a ponto de poderem discutir política com um estrangeiro na sua língua). Não duvido que os iranianos estejam fartos da ortodoxia rígida do xiismo oficial. Mas, daí, a adorar o Grande Satã que apoiou uma sangrenta guerra contra seu país e faz pairar a ameaça nuclear sobre as suas cabeças, eu duvido!

Marat

O Império do IV Reich não se cansa de guerrear, de roubar e de matar… Cavam sua própria cova!

Marat

Eu acho que a oposição brasileira quer sim, ver seu patrão invadindo mais um país!

Leonidas de Souza

Que tal colocar um cursinho rápido de interpretação de texto a disposição de seus leitores?

Anonymous

Besteira esse artigo. O povo iraniano é democrático mesmo, tanto que nas últimas eleições saíram as ruas para perguntar onde estava seu voto. Podem ser pró-EUA mas é por motivos práticos de qualquer povo democrático. Quanto ao governo iraniano não existe desculpa nem artigo "bonitinho" feito esse que alivie suas penas.
Apoiar um governo como do Irã é ser contra a democracia e os direitos humanos mais básicos.

    Marcelo Fraga

    É anônimo por que tem medo de admitir como suas essas afirmações ridículas?

    Marat

    É isso ai, né? Modelo de "democrata" e "humanista" é o Bush, não é mesmo?

    Leider_Lincoln

    Cara, o Ahmadinejad ganhou no voto, não há dúvidas quanto a isso. quem queria levar no grito era a oposição. Sabe, aquelas "revoluções" coloridas que a USAID e a CIA patrocinam mundo a fora, Ucrânia, Sérvia, Geórgia, Tadjiquistão e por aí vai. E outra, meu caro, democracia é para fortes, não aceito um covarde me dizer o que significa e o que não significa ser democrático.

Jairo_Beraldo

A sobrevivencia politica dos EEUU e Israel, depende deles NÃO invadirem mais nenhuma nação, por qualquer motivo seja.

Allan

Propaganda estadunidense travestida de jornalismo. Bobagem extrema!! Duvido que algum iraniano esclarecido e vivendo sob ameaças constantes, seja pró-EUA e por tabela, pró-israel.

O Artigo é uma forma disfarçada de validar os toscos argumentos difundidos pelo verdadeiro eixo do mal(Israel, EUA e Inglaterra)

    Heitor Rodrigues

    Acho que o artigo não é validação dissimulada do eixo do mal, e tampouco chancela estratégias imperialistas invasivas. Ao contrário, considera uma importante variável que permeia a vida – pessoal e social – nos mundos islâmico e asiático, e ausente aqui no Ocidente: o tempo, a paciência. Malgrado a expansão do capitalismo, a vida da imensa maioria de muçulmanos e orientais não é submetida a balanços anuais de ativos e passivos. Os ingleses, primeiro na China, e depois na Índia, aprenderam a duras penas que, naquelas bandas do mundo, o buraco é mais embaixo. Só os norte-americanos, apesar da experiência humilhante vivida no Vietnã, parecem não ter aprendido nada, ainda.

    A sabotagem contra a usina de aço iraniana nos anos 1930 e a entrega ao Brasil, já nos 1950, de sucata como pagamento de prometida usina siderúrgica em troca do apoio brasileiro aos Aliados na Segunda Guerra foram lances do mesmo jôgo colonial e imperialista.

    Entretanto, alguma coisa está mudando. A globalização tornou o mundo menor, muito menor. E por aí afora, dirigentes nacionais – brasileiros inclusive – trabalham para que a série O Exterminador do Futuro não saia das telas de cinema e venha para o mundo real. O crescente constrangimento e reprovação a que estão sendo submetidos, à vezes abertamente, os governos dos EUA, da Inglaterra, da França e de Israel, é prova disso.

    O Autor propõe uma diplomacia criativa para enfrentar o problema. É como se falasse de inventar algo nunca feito para lidar com uma situação igualmente inédita. E, até agora, parece que os países imperiais não sabem nem mesmo por onde começar.

    Quanto à existência de idosos e adolescentes entusiasticamente pró americanos, não há motivo para espanto. Cenas iguais podem ser vistas em qualquer lugar e nas portas dos colégios particulares da Zona Sul carioca. São efeitos da propaganda, apenas.

Hans Bintje

Sem ironia, estava tudo preparado para um FINAL FELIZ.

A descrição de Stephen Kinzer pode surpreender, mas é verdadeira:

"O sentimento pró-EUA no Irã explica-se, sobretudo, pela admiração que os iranianos sentem pelos feitos dos EUA. Os EUA têm tudo a que muitos iranianos aspiram: democracia, liberdade pessoal e Estado de Direito. Os iranianos aspiram profunda e sinceramente por essas bênçãos, aspiração que não é nem abstrata nem transitória."

A missão do Lula no Irã já incorporava esse conceito: a partir dos termos da carta do Obama, preparar o início das conversações de paz.

No momento seguinte, no melhor estilo "Nixon em Pequim", Obama desembarcaria em Teerã contando com essa REAL boa vontade do povo iraniano.

Mas aí chegou a velha MÁFIA estadunidense e melou o processo. Em resumo, para ela, a guerra é mais lucrativa, que se danem as vidas humanas.

    Maria 1

    É impressão ou essa "velha MÁFIA estadounidense" atacou de novo, recentemente? Estou me referindo à Russia e ao alegado processo de melhoria de suas relações com os EUA. Logo após a visita do Medvedev, pipocou o escândalo dos espiões russos que não espionaram. E a Secretária Clinton, em visita à Georgia, exigiu a retirada da base militar russa da Ossétia do Sul, falando grosso.

    augustinho

    A SRA Clinton gosta de falar grosso. Mas teve que engolir a reaçao de Putin ao ataque a traiçao da Georgia contra
    as tropas a serviço de paz russas na Ossetia. A Georgia trouxe ate tropas suas do afganistao para isso.. mas dançou.

    Leider_Lincoln

    Pior, apanharam como bode na horta. Pode falar grosso o quanto quiser, por que a corna não assusta a dupla Putin/Medvedev…

Paulo

Pensei que era um conto de fadas ao ler que " O que mais chama a atenção …é ver o quanto as pessoas são pró-EUA. Em nenhum outro lugar do Oriente Médio, em outros pontos do mundo muçulmano, e praticamente em lugar algum do planeta encontra-se gente que tanto e tão abertamente admira os EUA. "
Não fazia idéia que muçulmanos xiitas gostassem tanto assim dos EUA, a ponto de PRATICAMENTE EM LUGAR ALGUM DO PLANETA se gostar tanto dos EUA.

Mas, li o texto diversas vezes porque achei que seria pré-julgar esta narração sem ter mais dados além .de ter sido postada no Huffingtonpost, exemplo do pensamento democrata , liberal e multiculturalismo americano.

Será que " No meu caso, acompanhei um grupo de turistas norte-americanos em giro de duas semanas e poucos quilômetros pelo país " estes poucos quilometros não SÃO distância entre os hotéis e a embaixada americana e seus funcionarios? Talvez a pesquisa tenha sido feita la.

"Em nenhum outro lugar do Oriente Médio, em outros pontos do mundo muçulmano, e praticamente em lugar algum do planeta encontra-se gente que tanto e tão abertamente admira os EUA."

    Vera Palmer

    Não é impressionante ver aqui, ao vivo e em cores, que TODOS os comentaristas aqui reunidos — exceto o Hans Bintje — reagem com indignação contra o artigo (e o jornalista é inglês e bom jornalista, não americano, como, parece, tantos 'concluíram' sem pensar), apenas porque o artigo NÃO REPETE os lugares comuns que se ouvem por aí, nos jornalões?!
    Houve até um comentarista que não entendeu nada do que leu! Por quê? Porque o artigo NÃO REPETE o que dizem TODOS os 'analistas', sejam a favor sejam contra. Por isso, exatamente, achei o artigo SENSACIONAL. Parabéns, Huffington Post! Parabéns, Azenha!
    Só o Hans Bintje leu, no artigo, a mesma coisa que eu li: há forças que INVENTAM guerras. A imprensa de jornalão, é claro, é uma delas. A guerra contra o Irã — se virar guerra-guerra, mas já é guerra que chegue — parece, sim, ter sido TOTALMENTE inventada, de fato, também contra o que pensa o povo iraniano. É o complexo bélico-industrial que FALA PELA IMPRENSA. É a imprensa, estúpido!

    Paulo

    Comentario sem nexo este.
    Ao contrario do que disse este jornalista, iranianos não tem essa admiração que em " praticamente em lugar algum do planeta encontra-se gente que tanto e tão abertamente admira os EUA. " Em momento algum o jornalista especifica com quem contatou. Uma entrevista entre jovens da classe media alta ou comerciantes do bazar de Teerã, apontará respostas pró-ocidente ( EUA). Mas, bastaria o jornalista viajar mais quilometros para o interior ou conversar com um espectro maior de habitantes, notadamente com os mais pobres, para comprovar que escreveu um absurdo.
    Ele disse o que a Fox sempre cometa: que os iranianos são contra seu governo e que amam os EUA. Exatamente o que a direita e extrema direita ocidental vivem anunciando. Nada de diferente. E, mesmo que fosse: diferente não significa nem inteligente nem verdadeiro.
    O fato da imprensa ocidental em sua maioria sempre ter apoiado a guerra e este ser um bom jornalista não exime o artigo de seus absurdos. Existem otimos jornalistas e artigos para se ler no Guardian, Al Manar e Al Jazeera, entre outros, que fornecem um quadro que o contradiz.

    Vera Palmer

    Queria, primeiro, corrigir um erro meu: o autor é norte-americano (pensei que fosse inglês, pq ele tb escreve no Guardian, RU). Mas é jornalista MUITO escolado. Sabe mais, de Irã, do que todos os leitores de jornalões brasileiros vezes 10.

    Queria lembrar também que o jornalista NÃO DIZ o que diz a Fox. A Fox diz que todos os iranianos odeiam Ahmadinejad e querem ver os EUA lá, em Teerã, mandando nos iranianos. ISSO é falso. Mas, sim, é verdade que os iranianos não gostam do Ahmadinejad mas votaram nele, o elegeram e não querem que EUA e Fox alguma derrubem o governo que eles elegeram.

    Além disso, o "quadro dos outros bons jornais" NÃO CONTRADIZ o que diz esse jornalista: os jornalões apenas NÃO DIZEM o que ele diz aí (dizem outras coisas, sempre repetindo as mesmas coisas). Há aí um OUTRO modo de falar do Irã. INTERESSANTÍSSIMO, me pareceu. Cabeça dura, neh-naum, o amigo Paulo?!

    Paulo

    Absolutamente ! ;o)

    dukrai

    vixxxxxxxxxxximaria, fico impressionado com tanta modéstia, e ainda dá uma colher de chá pro Hans. Só acho que a nacionalidade do jornalista é o que menos importa, deslumbrado que é pela ex-colônia, e vc por ambos. Onde vc vê uma originalidade absoluta só encontro clichê e quando fala de "forças que inventam guerras", juro que não entendi, sempre achei que guerras fossem tudo, menos invenções saídas da cabeça de algum ente diabólico.

Paulo Roberto

Sempre a mesma coisa: EUA preocupado com a democracia iraniana. A Arabia Saudita, uma ditadura sanguinaria aliada dos EUA. Neste caso os EUA não estão preocupados com a democracia? Uma coisa ele disse certo: Assim como aconteceu no Iraque, os EUA passaram a ser vistos pior que o Saddam, que aliás éra seu pupilo. Eita imprensiva safada.

FabioT

eua exemplo de democracia ? e as eleições roubadas do bush? MENOS HEIN

dukrai

o que mais impressiona quando se fala no Irã fala-se "em uma eleição talvez roubada (e nem se sabe se foi roubada)".
Ora, jornalista, vá nas fontes, nos relatos dos observadores que monitoraram as eleições de Armadinerrá e tire as suas dúvidas, aliás, nem precisa porque pela ressalva do "nem se sabe" tá na cara que ele sabe.
No mais, é pra matar de rir a descrição dos gritinhos de adolescentes de paixão pelos EUA. Surpreso, maibródi? Não desmereça os nossos colonizados made in Miami, dizendo que "praticamente em lugar algum do planeta encontra-se gente que tanto e tão abertamente admira os EUA" como no Irã.
Essa gente, tanto lá quanto aqui, na Venezuela, na Bolivia e muitos outros, faz parte de uma elite que foi expelida do poder pelo exercício democrático do voto e estão órfãos da americanidade, da pátria mãe da "democracia, liberdade pessoal e Estado de Direito", em que um presidente ganhou uma eleição garfada, invadiu um país baseado numa mentira e uma quadrilha de banqueiros arrebentou o próprio país e o mundo com um mega-trambique.
Nós, assim como os iranianos, os bolivianos e venezuelanos agradecemos firmemente qualquer "ajuda" rumo à democracia porque sabemos que essa "ajuda" é a saída para o golpe como o que vitimou Honduras e a volta dessa elite desqualificada, colonizada e lesa-pátria ao poder.
Por fim, o jornalista, sem a ajuda do Ibope e do quiroga, aposta que tão cedo não haverá mudança no regime e constata que os EUA não tem outra posição que não a confrontação. Vamos ver se Obama vai chutar o pau da barraca, enfiar o pé no pinico e mandar Israel atacar o Irã. Acho cada vez menos provável.

Carlos

"Cada vez que o Irã começou a tentar modernizar-se – por exemplo, construindo uma usina de aço nos anos 1930s, ou nacionalizando seu petróleo, nos anos 1950s – alguém veio de fora e interrompeu qualquer modernização."
"quando EUA ou Inglaterra viram os olhos para o Irã ou para países árabes, sempre querem roubar alguma coisa."

"70% dos iranianos têm hoje menos de 30 anos."
Nasceram entre a revolução e a guerra com o Iraque, com Saddam então aliado dos EUA…
Como governos pós-revolução de 1979 apresentaram e apresentam Mossadegh?

(Biblioteca Nacional já providenciou a digitalização da coleção do jornal "Emancipação", editado pelo Centro Nacional de Estudos e Defesa do Petróleo, CEPEN? Em edição de 1953, excelente matéria sobre a derrubada de Mossadegh.)

    Carlos

    Sugestão de leitura: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMos

    dukrai

    Argemiro Ferreira dispensa comentários. Na mulêra.

    Carlos

    Correção: Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional, CEDPEN.

Deixe seu comentário

Leia também