
Estive em Luanda, Angola, trabalhando como observador eleitoral. Lá permaneci por sete dias (de 28 de agosto a 04 de setembro) e, ao contrário de muitos, volto trazendo na bagagem muitas perguntas e nenhuma resposta.
Digo isto porque há aqueles que ficam uma semana numa determinada região ou país e voltam especialistas, quando já não escrevem um livro a respeito da alma daquele povo. Caso contrário, a escrita pode ser superficial. Portanto, feita a ressalva, me resta escrever pouca coisa sobre o que vi e o que fui fazer em Angola.
Em Luanda vi ruas sujas, poeirentas e água correndo, às vezes malcheirosa, sobre as calçadas. Às vezes até parecia limpa, outras era nitidamente suja e fedorenta. A cidade tem um trânsito caótico, poluidor. Os semáforos raramente funcionam: ficam sempre piscando no amarelo, alerta.
Os homens e as mulheres são na maioria magros. Não sei se pela genética ou pelo resultado de anos de exploração e guerra, período de escassez de comida. Não vi nenhuma pessoa obesa e raro são os que têm sobrepeso.
Os funcionários dos hotéis e restaurantes são educados e prestativos. Quando nos dirigem a palavra o fazem em voz baixa. Muito baixa. Será só timidez? Pergunta necessária, pois pode ser o resultado de mais de cinco séculos de opressão portuguesa. Ou será o resultado dos quase 40 anos de guerra? Podem ser também as duas razões, pois em ambos os casos o falar baixo e o silêncio podem significar manter amigos e parentes vivos. Inclusive, muitas vezes, manter-se vivo. Quem fala muito e alto pode falar demais e ser ouvido no que não devia.
O falar baixo pode ser ainda o resultado de uma sociedade que, antes da chegada dos portugueses, se organizava de forma tribal.
Ou será tudo isso mais a imposição da organização política atual, conforme alguns me afirmaram? Observei nas ruas que, entre eles, os angolanos falam alto. Como se vê, voltei com muitas perguntas e sem respostas.
Sobre meu trabalho como observador internacional, falo mais no meu artigo semanal para o site Congresso em Foco.Nele também traço um breve histórico do país nas últimas décadas.
Concluo com dois pontos. Primeiramente, o que centenas de outros observadores internacionais afirmaram eu também afirmo: a eleição foi limpa, transparente e democrática. Segundo: é a terceira eleição realizada neste país desde que Diogo Cão, navegador português, colocou os pés, as mãos e toda a opressão portuguesa sobre a região em 1482.
Luanda e Angola são hoje o resultado do triste legado português de Diogo Cão. Mas, também, com esse nome.
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Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e vice-presidente brasileiro do Parlamento do Mercosul. No twitter: @DrRosinha
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