por Lelê Teles, no seu blog
Cabral está dando uma de Pedro Álvares. Há 50 anos nos acostumaram a gritar com orgulho O Petróleo é Nosso, agora vem o governador do Rio e muda o refrão para um choramingoso O Petróleo é Meu! E chamou o Comitê Olímpico pra defender suas lágrimas. Decretou um ponto facultativo e levou artistas, celebridades e o povo para as ruas. É no mínimo covardia levar o povo às ruas sem dizer claramente o por quê da convocação. E claro ainda não está.
Esse petróleo não é produzido nos limites territoriais do Rio de Janeiro. O petróleo e o gás que o Rio quer para si, e somente para si, são extraídos a mais de 100 milhas da costa fluminense, território, segundo a nossa constituição, de domínio da União. Curioso também é que o amigo não vai encontrar nenhum registro na Agência Nacional de Petróleo produção em terras cariocas, nem fluminenses. Cabral, como o homônimo argonauta, quer para si o que está em alto mar.
Em nenhum lugar do planeta terra o petróleo extraído a mais de 100 milhas náuticas pertence a um estado. No Canadá, por exemplo, o que é extraído a 12 milhas náuticas é de propriedade da união. E o Rio não está sendo compensado por conta de nenhum impacto sofrido com a extração do líquido negro, uma vez que isso se dá alhures. Ibsen comprou uma boa briga. Por que não compensar os demais territórios, porque não distribuir nossa riqueza? Estou com Ibsen. Cabral se escora na multidão que ele preferiu não informar. Para isso, inaugurou o feriado-passeata.
Esse troço de levar a multidão às ruas sem um prévio conhecimento dos autos nós sabemos no que dá. Foi com essa de pedir a opinião da geral que Poncius Pilatus colocou a Mestre da Galileia numa sinuca de bico. A turba pediu pra libertar o barbudo e barra-pesada Barrabás e crucificar o imberbe agitador galileu. O resultado a história não deixa de nos atirar na cara, há 2000 mil anos Cristo está pregado numa cruz, seminu e cheio de sangue (é um retrato da voz das ruas), enquanto os ladrões, sabemos todos, usam gravatas, tomam bons vinhos e comem Beluga mirando o por do sol.
É inegável que a imagem teatral do governador em prantos seduziu o povo. No entanto, se soubessem do que realmente se trata será que a multidão se arvoraria em perder um feriado na praia com a família pra levantar cartazes e bandeiras? Cabral usou o povo para se confrontar com Garotinho e Gabeira nas próximas eleições, saiu como um defensor do estado. Dizer que o governador chorou é um exagero, não se pode dizer chorou só porque verteram lágrimas dos lacrimais, podemos dizer que Cabral carpiu. Se o amigo leu, quando jovem, L´expression obligatoire des sentiments, de Marcel Mauss, sabe do que estou falando.
Lelê Teles, Brasília




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