Carta Manifesto do GT Ambiente e Saúde aos participantes do 14º Abrascão

Tempo de leitura: 4 min
Carta Manifesto do GT Saúde e Ambiente aos participantes do 14º Abrascão. A carta manifesto do GT Ambiente e Saúde, da Abrasco, foi lida na plenária por Luanda Lima, secretária-executiva da entidade

Por Redação Viomundo

De 28 de novembro a 3 de dezembro, aconteceu em Brasília o 14º Abrascão.

Ontem, quarta-feira, portanto, foi o último dia.

Na plenária, foram lidos os documentos legitimados pelo 14º Congresso da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Um deles: a Carta Manifesto do GT Saúde e Ambiente aos participantes do 14º Abrascão.

Ela foi lida por Luanda Lima, secretária-executiva adjunta da Abrasco.

A leitura vai pode ser vista neste vídeo, na altura de 2h9min a 2h11.

O documento (na íntegra, abaixo) resultou de um trabalho coletivo.

Integram o GT Saúde Ambiente da Abrasco:

Coordenação: Alexandre Pessoa (coordenador), Cheila Bedor e Marla Fernanda Kuhn (coordenadoras adjuntas)

Apoie o VIOMUNDO

Membros: Agnes Soares, Allan Rodrigo de Campos Silva, Carmen Ildes Rodrigues, Fróes Asmus, Felipe Milanez Pereira, Fernando Ferreira Carneiro, Guilherme Franco Netto,Hermano Albuquerque de Castro,Juliana Rulli Villardi,Karen Friedrich,Luiz Augusto Galvão, Leiliane Coelho André,Lia Giraldo da Silva Augusto, Lourdes Conceição Martins,Marcelo Firpo de Souza Porto,Marcia Sarpa de Campos Mello,Mauricio Polidoro, Nadia Spada Fiori, Nelson Cruz Gouveia

****

CARTA MANIFESTO DO GT SAÚDE E AMBIENTE AOS PARTICIPANTES DO 14º ABRASCÃO

Título: A Luta da Saúde Coletiva frente ao Colapso Ecológico — Soberania, Justiça e Conhecimento para a Transformação

”Nós, do GT Saúde e Ambiente da Abrasco, apresentamos essa carta para o conjunto dos abrasquianos reunidos no 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, para reafirmar nosso compromisso com o tema estratégico deste Congresso: “Democracia, Equidade e Justiça Climática: saúde e os enfrentamentos dos desafios do século 21”.

Trata-se de um enorme desafio epistemológico, político e institucional para o campo da Saúde Coletiva, a defesa e os avanços do SUS.

Em novembro de 2022, no 13º Abrascão, aprovamos uma Carta Compromisso no contexto da eleição do novo Governo Lula.

Ecoamos os clamores de alegria e esperança vindos das urnas, das ruas e dos territórios daqueles que buscam (re)construir o pais e o planeta com mais democracia, saúde, diversidade, equidade e justiça social, nosso lema no 13º Congresso em Salvador, Bahia.

Também em 2022, conclamamos a amazonização do Brasil, entendida como ecologização das políticas públicas e a centralidade dos territórios e povos da sociobiodiversidade, dentro do horizonte civilizatório construído pelo sanitarismo e a saúde coletiva.

Passados três anos de reconstrução do país, alguns avanços ocorreram, com destaque para a derrota da tentativa de golpe e a recuperação de políticas públicas destruídas pelo governo anterior.

Em 2025, esse chamado ganhou o mundo: a COP30 na Amazônia se tornou a mais popular da história, marcada pela ocupação de movimentos sociais, pela força dos povos e a inequívoca inserção da saúde na agenda ambiental e do clima.

Contudo, seus resultados diplomáticos foram tímidos e ambíguos, com decisões multilaterais divergentes e insuficientes para enfrentar o colapso ecológico e as emergências climáticas que passaram a fazer pane do nosso cotidiano, sendo a ciência desconsiderada nas decisões.

Entre 2022 até o momento, a Abrasco, através desse GT e sistematicamente com o apoio de vários Grupos Temáticos, movimentos sociais e parceiros externos, produziu um importante conjunto de manifestações acerca do agravamento do colapso ecológico e das emergências climáticas.

Dentre eles destacamos dossiês e notas sobre a questão indígena, agrotóxicos e saúde reprodutiva, o PL da devastação, entre tantos outros. Todos disponíveis em nossa página da Abrasco.

Esse paradoxo da conjuntura política em todos os níveis — desde o local ao nacional e global
— se agrava ainda mais com a recente derrubada, pelo Congresso Nacional, dos vetos do presidente Lula ao PL da devastação, tornando o licenciamento ambiental uma tábua rasa de proteção à saúde de nossas populações, aos ecossistemas e biomas, e à sociedade como um todo.

É imperativo que a Saúde Coletiva exerça seu papel crítico e independente para analisar a complexidade dos processos em curso, reforçando seu compromisso com a transformação a partir da determinação social e seu engajamento contra as injustiças sociais, sanitárias e o racismo ambiental.

Isso não será possível sem a mudança do modelo hegemônico de desenvolvimento neoextrativista que explora seres humanos, a natureza e os povos que dela vivem, avançando sobre as florestas, águas, campos e cidades.

Em termos epistêmicos há um novo desafio do conhecimento para o nosso campo: a aproximação radical com os saberes e práticas produzidos pelos povos — indígenas, quilombolas, afro-diaspóricos, camponeses e periferias urbanas — e seus territórios.

O necessário e respeitoso diálogo interdisciplinar e intercultural deve se pautar por uma ética convivencial que considere o rigor das ciências com a sabedoria e lutas por dignidade e sobrevivência dos povos.

Nesse sentido, preocupa-nos a introdução de abordagens extemporâneas aos princípios conceituais e políticos da Saúde Coletiva e do SUS, caso recente da One Health (Uma Só Saúde ou Saúde Única).

É evidente que a saúde humana, animal e ambiental estão integradas na história da saúde pública.

Entretanto, isso não deve ocorrer à margem dos princípios éticos, conceituais, políticos e democráticos que orientam a Reforma Sanitária Brasileira, um patrimônio coletivo essencial na garantia do direito universal à saúde.

Conclamamos toda a comunidade abrasquiana, todos os gestores e trabalhadores do SUS, todos os movimentos sociais e territórios em lutas por seus direitos de sobrevivência, dignidade e defesa do Planeta, a se unirem ao 3º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente “(3º SBSA), que ocorrerá de 27 a 29 de maio de 2026, na cidade de Cuiabá, no campus da Universidade Federal de Mato Grosso.

Trata-se de uma região extremamente ameaçada e vulnerabilizada pelo avanço do agronegócio e da mineração.

Nosso tema é ‘A Luta da Saúde Coletiva frente ao Colapso Ecológico: Soberania, Justiça e Conhecimento para a Transformação’. Esperamos por você nessa jornada’‘.

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Leia também