Massacre da Penha tem mais vítimas que o do Carandiru; corpos enfileirados no chão são retrato da barbárie

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Corpos encontrados por moradores começam a ser retirados Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Rio em luto: massacre da Penha tem mais vítimas que Carandiru

Corpos enfileirados no chão da Praça São Lucas são retrato da barbárie promovida pelo governo de Cláudio Castro (PL)

Por Clara Fagundes, no site do Cebes

O Rio amanheceu em luto. A cidade acordou sob o peso de um massacre: a operação policial de larga escala nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte, deixou pelo 128 mortos (veja PS do Viomundo), segundo balanço preliminar da Defensoria Pública.

As imagens da manhã desta quarta-feira (29), com dezenas de corpos enfileirados no chão da Praça São Lucas, são o retrato da barbárie promovida pelo governo de Cláudio Castro (PL).

A ação integra a chamada “Operação Contenção”, iniciativa permanente do governo estadual para conter o Comando Vermelho (CV).

Com mais de 2.500 agentes mobilizados, blindados, helicópteros e atiradores de elite, a ofensiva foi anunciada como uma resposta ao crime organizado, mas resultou em uma das maiores chacinas da história do Brasil. Os mortos superam as 81 prisões efetivadas e já superam os do massacre de Carandiru, que resultou na criação do Primeiro Comando da Capital (PCC). O que resultará desta operação?

Para o presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), Carlos Fidelis, a “Operação Contenção” é parte de “um jogo de cena para um público ávido por soluções e cansado de sofrer”. “Uma politica apelativa, cheia chavões, é empregada para alastrar o medo e mobilizar eleitores a favor de intervenções militares e do emprego desmedido da violência letal”, afirma Fidelis.

“Nada mais falacioso. Cláudio Castro e o bolsonarismo não têm competência para cuidar de temas tão relevantes como a segurança pública”, critica o carioca, apontando a resistência do governador Cláudio Castro a políticas integradas de combate ao crime, previstas na PEC da Segurança Pública (18/2025).

Governador e bolsonaristas rejeitam PEC da Segurança Pública

Fidelis critica a morosidade do Congresso na votação PEC 18, que redefine as atribuições dos entes federativos na segurança pública.

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“Os poderes locais se mostram insuficientes, como também são ineficazes intervenções militares espetaculosas. Precisamos extirpar a banda podre dos dispositivos de segurança. Precisamos seguir o dinheiro”, afirma o pesquisador carioca.

Investigações da Receita e Polícia Federal contra o PCC resultou em dezenas de prisões na Faria Lima, coração financeiro de São Paulo, sem mortes e fuzis.

“Cláudio Castro se colocou contra a PEC da Segurança Pública apresentada pelo governo Lula. O envolvimento da Polícia Federal é importante em um contexto de justificada desconfiança nas polícias estaduais. Falta seriedade no lugar da matança indiscriminada. Precisamos mais do que discursos e corpos, seja eles de bandidos ou policiais. E sabemos que a população é pega no fogo cruzado. Precisamos de inteligência, políticas articuladas e permanentes”, avalia.

“Alguém já disse que a guerra é assunto importante demais para ficar somente nas mãos de generais. Marielle Franco foi assassinada quando o Rio estava sob intervenção militar comandada pelo General Braga Neto, condenado por tentativa de golpe que incluía o assassinato de Lula, Alkmim e Moraes. O mesmo pode der dito sobre a família cujo carro foi alvejado, em 2019, por mais 80 tiros, resultando na morte do músico Evaldo Rosa dos Santos, que passeava com sua família, e de Luciano Macedo, catador de recicláveis que tentou socorrer as vítimas, incluindo outro homem, uma mulher grávida e um menino, filho do casal”, afirma.

Fidelis lembra, ainda, que muitas análises associam as operações da polícia no Rio de Janeiro a um envolvimento ativo na disputa entre facções rivais.

ADPF das favelas já provou que é possível reduzir letalidade das ações policiais no Rio

O Ministro Alexandre de Moraes determinou na terça-feira (28) que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste, em um prazo de 24h, sobre a operação no Rio de Janeiro. O massacre retorça a urgência de julgamento da ADPF das Favelas (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental ADPF 635).

Chamada de “ADPF maldita” pelo governador Cláudio Castro, a ADPF das Favelas reduziu a letalidade das ações policiais em 52% durante a pandemia de covid-19. Em 2019, o Rio registrou 1.814 mortes decorrentes de intervenção policial. Já em 2023, foram 871, revela levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A queda é resultado da liminar que restringiu ações ofensivas, vetando o uso de postos de Saúde e escolas como base de operações, e determinando a instação de câmeras nas fardas, geolocalização (GPS) e gravação em áudio e vídeo em viaturas da polícia militar do Rio de Janeiro.

O levantamento também comprova o viés nas ações da polícia. Pessoas negras foram mortas 6,4 vezes mais do que brancas em intervenções policiais, entre 2019 e 2023. 99,6% eram do sexo masculino, 54,5% eram adolescente e jovens (12-24 anos). As “balas perdidas” sabem bem os corpos que buscam.

PS do Viomundo: O número de mortos subiu para 132, após moradores encontrarem pelo menos mais 74 corpos na mata da Vacaria, no Complexo da Penha, na zona norte da capital carioca, nesta quarta, 29, e o governador Cláudio Castro revisar para baixo (de 60 para 58) o total de mortos divulgados no balanço oficial anterior. A cifra macabra transforma a carnificina do Rio no maior massacre do país, superando o do Carandiru, quando a Polícia Militar do Estado de São Paulo executou 111 presos na Casa de Detenção, em 1992.

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Comentários

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Gerson Carneiro

Na posição de Governo Federal, esse palpiteiro aqui não se juntaria ao genocida Claudio Castro. Deixaria falando sozinho, e faria o funeral de todos os 130 corpos. Reuniria em espaço público os 130 caixões para mostrar a dimensão da carnificina promovida pelo governo do Estado do Rio de Janeiro contra 130 brasileiros.

As familias pobres não arcariam o funeral.
No meu governo seria dever da União vez que se trata de um massacre promovido pelo Estado.

Zé Maria

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Atentado Bárbaro Com Requinte de Crueldade,
Equiparado a Genocídio, Operado pela Polícia,

por Ordem de um [des]governador Criminoso,
Perverso e Mal-Intencionado, com fim Eleitoreiro.
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