Luis Felipe Miguel: Hoje, no Brasil abundam os patriotas de araque

Tempo de leitura: 3 min
Arte: ICL

Sobre o patriotismo

Hoje, no Brasil, abundam os patriotas de araque, mas faz falta quem defenda o interesse nacional.

Por Luis Felipe Miguel, em seu Substack

“Patriota”, para mim, sempre foi palavrão. Eu nasci durante a ditadura militar, a época do slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, de Don & Ravel cantando “Eu te amo, meu Brasil”, dessa patacoada toda. E nasci numa família comunista, em que se aprendia que os proletários de todo o mundo deviam se unir.

Acho a bandeira brasileira uma das coisas mais feias do mundo, pela paleta de cores e pelo geometrismo bocó. O pior é o dístico, que está lá para representar (ao lado do verde das nossas matas, do amarelo do nosso ouro e do azul do nosso céu) o autoritarismo da nossa classe dominante.

Quando, ouvindo Noel Rosa, descobri que o lema original de Comte era “amor, ordem e progresso” e que limaram o amor da bandeira, achei pior ainda.

Hoje, até aprecio a letra do Hino Nacional (não a música de Francisco Manuel da Silva, genérica, ribombante e nada nacional). Mas, quando tinha que cantá-la na escola, todos os dias, antes do início das aulas, em fila no pátio, era um verdadeiro suplício.

Nunca consegui torcer pelo time da CBF. Talvez por não me interessar por futebol, não vejo ali uma coletividade abstrata (a “seleção brasileira”, muito menos a “pátria de chuteiras” de que falava Nelson Rodrigues), mas uma coleção de jogadores, muitos dos quais babacas, alienados, machistas, oportunistas, reacionários, neymares. Não torço contra “o Brasil”, torço contra eles.

Os jogadores de outras seleções também são assim? Talvez. Mas não é sobre eles que eu vejo notícias todos os dias, logo não tenho gastura deles.

Meu desgosto com a ideia do “patriota” só aumentou, é claro, com a adoção da palavra para designar os militantes da extrema-direita acéfala. Aí, o patriotismo se impregna tanto de reacionarismo que perde quase por completo a referência à nação, limitada à camiseta da CBF e às cores da bandeira.

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O “patriota”, então, se torna aquele que defende a desigualdade social, o individualismo mais exacerbado, a violência como forma de solucionar os conflitos, a repressão à dissensão, o racismo, o machismo, a homofobia. A não ser que definamos o Brasil por estes atributos (e, felizmente, creio que não podemos defini-lo), é um “patriotismo” sem pátria, um “patriotismo” despreocupado com o futuro de seu país.

O que leva ao passo seguinte, ainda mais paradoxal: o patriotismo do país alheio.

Sim, vivemos em um mundo globalizado, o que gera algum trânsito de lealdades. Quem esquece das personalidades brasileiras, à esquerda ou à direita, declarando voto nas eleições estadunidenses – e das centenas de memes com frases como “Kamala Harris lidera em Niterói”?

Mas aí, digamos, é simpatia, empolgação e um tiquinho de falta de senso. É diferente de você, brasileiro, adotar como slogan “Make America great again”.

Um país que já começou usurpando o nome do continente e se tornando “a América”, apagando a existência de dezenas de outras nações. E cuja ideia de grandeza sempre passou pela dominação de outros povos.

Que tipo de brasileiro mané usa um boné MAGA e acha que está fazendo bonito?

Como se chama isso? Síndrome de Estocolmo? Viralatismo? Transtorno delirante? Espírito de capacho? Masoquismo?

Ontem, na Câmara, dois deputados bolsonaristas levantaram uma bandeira de Trump. Dois deputados, é preciso reconhecer, que estão entre os mais desqualificados da casa – o que, como sabemos, equivale a ser vencedor em um dos concursos mais disputados do mundo.

O de bigodão folclórico é o Sargento Fahur, do PSD paranaense. O usuário de Grecin 2000 é o Delegado Caveira, do PL paraense (na foto acima). Dois representantes de nossas forças de repressão, como se vê.

Não se trata de algo apenas simbólico. Os bolsonaristas estão promovendo as sanções contra o Brasil, estão sonhando até mesmo com uma invasão estadunidense, qualquer coisa para livrar Jair da cadeia.

Na pandemia, como lembrou outro dia um leitor em carta à Folha de S. Paulo, estava OK que morressem 300 mil, se fosse necessário para salvar a economia. Agora, a economia pode ser estrangulada para salvar a pele de um só…

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê (@demode.unb). Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica)

*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Comentários

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Rogério Amaro

Tinham que ser do Paraná.

Zé Maria

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4×1: Placar na Primeira Turma do STF
para Manter Medidas Cautelares
Contra ex-presidente Bolsonaro.

Como era de se esperar,
“Fucks Matou no Peito”
e votou Favorável ao Réu
Inelegível, Tornozelerível
e Horrível Jair Bolsonaro.
.
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Notícias STF

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) referendou, nesta segunda-feira (21), as medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Petição (Pet) 14129, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

A ministra Cármen Lúcia e os ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin, presidente da Turma, seguiram o relator.

O ministro Luiz Fux divergiu.

Bolsonaro tem de cumprir recolhimento domiciliar
com tornozeleira eletrônica, não pode falar com
autoridades ou embaixadores estrangeiros nem
se aproximar de embaixadas e consulados.

Segundo o ministro Alexandre, a decisão se baseia
em atos recentes do ex-presidente que podem
configurar coação, obstrução de investigações
e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.

Em seu voto, o relator assinalou que, ao longo dos
últimos meses, Bolsonaro e o filho, o deputado federal
licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), vêm atuando
junto a autoridades governamentais dos Estados
Unidos com o intuito de obter sanções contra agentes
públicos do Estado Brasileiro.

https://noticias.stf.jus.br/postsnoticias/stf-confirma-medidas-cautelares-impostas-ao-ex-presidente-jair-bolsonaro/
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Ministro Fux eleva o Tom contra Decisões
do Relator nas Ações sobre Jair Bolsonaro,
mas Ministro Alexandre mantém Maioria
Sólida nos Julgamentos da Primeira Turma.

“Divergência sobre Tornozeleira reforça Dúvida:
O que Fará esse ministro no Julgamento do Golpe?”

[ Reportagem: Leonardo Miazzo | CartaCapital ]
https://www.cartacapital.com.br/politica/divergencia-sobre-tornozeleira-reforca-duvida-o-que-fara-fux-no-julgamento-do-golpe/
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Zé Maria

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As Matrizes Coloniais Norte-Ocidentais
já levaram “o amarelo do nosso ouro
e o verde das nossas matas” com auxílio
dos Traidores da Pátria-Nação Brasileira.

Agora, a Gentalha Bolsonarista quer entregar
de bandeja aos EUA até “o azul do nosso céu”
em troca de livrar um Fascista Desqualificado.

Esses Larápios Falsos Patriotas fazendo Proselitismo
do Presidente dos Estados Unidos DA América,
que adotou medidas anti-econômicas contra o Brasil,
estão cometendo um Crime de Lesa-Pátria.

Deveriam ir pra Cadeia junto com seu Líder Local.

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