Faltam médicos nos serviços que atendem pessoas com HIV/Aids em São Paulo, revela estudo da USP

Tempo de leitura: 3 min
Edson Aparecido, secretário da Saúde do prefeito Bruno Covas (PSDB). Reprodução de rede social

por Conceição Lemes

A epidemia de HIV/Aids avança em todo o Brasil, inclusive em São Paulo.

Só na capital são cerca de 43 mil pacientes acompanhados nos serviços municipais.

Para agravar, há falta de médicos na rede para atendê-los.

É o que revela estudo realizado por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Divulgado neste semana (na íntegra, ao final), ele foi fechado em março de 2020, antes da pandemia de covid-19.

Na ocasião faltavam  pelo menos 86 médicos nos serviços da rede municipal de saúde que atendem pessoas com HIV e Aids.

Os pesquisadores explicam como chegaram a quantos médicos faltam:

*Os 86 são a diferença entre a necessidade dimensionada pela própria Secretaria Municipal de Saúde (208 médicos) e o número de médicos existentes (122) nos serviços em março.

*Os dados sobre oferta, dimensionamento e déficit foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) junto à Secretaria Municipal de Saúde.

*Os referentes a número de pacientes atendidos nos serviços foram solicitados diretamente ao Programa Municipal de DST/Aids.

*A estimativa de pacientes segundo idade foi obtida nos Boletins Epidemiológicos oficiais do Sistema Único de Saúde (SUS).

*Os parâmetros de atendimento médico foram extraídos da pesquisa Qualiaids, da FMUSP, que avalia a qualidade dos serviços do SUS que prestam assistência ambulatorial em HIV e Aids.

*Foram considerados 16 serviços assistenciais da rede municipal especializada em HIV/Aids, sob administração direta da Prefeitura de São Paulo. Juntos, são responsáveis pelo tratamento e acompanhamento de 42.896 pacientes.

Segundo os pesquisadores, chama a atenção o grande déficit de infectologistas — faltavam 48 — e de especialistas em clínica médica — faltavam 11.

Somando o déficit de infectologistas com o de especialistas em clínica médica há uma falta de 59 médicos, como mostra o quadro abaixo.

“Esses 59 médicos faltando são os responsáveis diretamente pela rotina de tratamento das pessoas com HIV”, observa o pesquisador Mário Scheffer, coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP.

“São eles que prescrevem os medicamentos antirretrovirais, solicitam e analisam os exames laboratoriais necessários ao seguimento clínico dos pacientes”, alerta.

COMPROMETE A SAÚDE E DIFICULTA CONTROLE DA EPIDEMIA

Segundo  os pesquisadores, com base na pesquisa Qualiaids, em 2016, na mesma rede de serviços, o número relatado de pacientes em tratamento foi de 425 pacientes por médico.

Ou seja, houve uma piora significativa na oferta de acompanhamento médico, uma vez que a entrada de novos pacientes com HIV e Aids na rede municipal não foi acompanhada da contratação de novos médicos ou de reposição de profissionais que deixaram os serviços.

Nos últimos seis anos (2014 a 2019) mais de 37 mil novos pacientes diagnosticados com HIV deram entrada nos serviços municipais, como mostra o quadro número 4, abaixo.

Entre as consequências da falta de médicos destacam-se a grande demora entre o diagnóstico, a primeira consulta médica e o início do tratamento de novos pacientes.

Além disso, não é alcançado o número mínimo suficiente de consultas médicas para o seguimento dos pacientes.

De acordo com o estudo, recomenda-se, para pacientes novos, seis consultas por ano e, para pacientes estáveis, pelo menos duas consultas por ano, o que fica inviabilizado diante da insuficiência de médicos.

“Torna-se urgente, portanto, a contratação ou alocação imediata, pela Prefeitura, de pelo menos 86 médicos para os serviços municipais de HIV e Aids, conforme estimativa da própria Secretaria Municipal de Saúde”, afirma Scheffer.

MINISTÉRIO PÚBLICO E VEREADORES PEDEM ESCLARECIMENTOS

Diante da gravidade da situação, o promotor de Justiça Arthur Pinto Filho, da Promotoria de Direitos Humanos e Saúde Pública do Ministério Público do Estado de São Paulo já oficiou o secretário de Saúde Edson Aparecido Santos, pedindo providências.

Por iniciativa do vereador Gilberto Natalini , líder do Partido Verde , o estudo da falta de médicos para tratar aids será pauta da Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher da Câmara Municipal,prevista para 24 de junho

O vereador Donato (PT) também oficiou o secretário da Saúde da cidade de São Paulo.

Pediu detalhes sobre a falta de médicos (confira abaixo)

Faltam médicos para atender HIV/Aids em SP by Conceição Lemes on Scribd


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Deixe seu comentário

Leia também