Petrobrás desiste de pesquisa entre os funcionários: eles sabem que é um absurdo o Brasil importar 80% do óleo diesel dos Estados Unidos

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PETROBRÁS 2017: O ANO EM QUE A VERDADE É ACEITA COMO EVIDENTE POR SI PRÓPRIA

por Felipe Coutinho*

“Caiu a ficha! ”. Nos telefones públicos, orelhões, quando se completava a ligação a ficha caia.

A expressão quer dizer que esse é o momento em que se passa entender alguma questão.

Esse é o fato marcante para a Petrobrás em 2017.

A verdade passou a ser aceita por si própria, sem ser ridicularizada ou rejeitada com violência.

A maioria dos petroleiros e dos brasileiros percebeu a “Construção da Ignorância sobre a Petrobrás”.

A partir de agora é evidente que a Petrobrás não está (e nunca esteve) quebrada, que não precisa vender seus ativos para reduzir a dívida, que a privatização prejudica o fluxo de caixa e compromete o futuro que já se torna presente.

“Toda verdade passa por três estágios. No primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No terceiro, é aceita como evidente por si própria. ” Arthur Schopenhauer

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Agora está na cara “O mito da Petrobrás quebrada”, é óbvio que houve uma propaganda de choque e terror, a serviço das multinacionais do petróleo e dos agentes do sistema financeiro que as controlam.

Estão desmascarados os executivos que giram através de portas giratórias entre a administração pública e corporações privadas.

Eles são os modernos feitores e capitães do mato, a serviço do novo ciclo colonial da exportação de petróleo cru, que só podem debater em ambientes controlados do cartel midiático.

Interventores e porta vozes do capital internacional se entendem bem.

Antes desfilavam seus egos como os salvadores da pátria, agora se escondem e só oferecem entrevistas para microfones amigos.

Alguns leitores cuidadosos podem agora se perguntar, será? Será que realmente a maioria dos petroleiros percebeu?

Será que os brasileiros tomaram consciência do que se passa com a Petrobrás e o petróleo brasileiro?

Penso que sim, vamos às evidências.

Com relação a percepção dos petroleiros podemos recorrer a pesquisa de ambiência realizada pela Petrobrás.

A última pesquisa foi feita em janeiro/17.

Pedro Parente e seus executivos, confiantes, incluíram duas perguntas inéditas:

“71 – O Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 está na direção certa. Resultado: 37% favoráveis

72 – Confio nas decisões tomadas pela Direção Superior diante dos desafios da companhia. Resultado: 31% favoráveis” (Petrobras, 2017)

O percentual de respondentes foi muito baixo, apenas 64% do total.

Apenas 31% dos 64% que responderam, em janeiro de 2017, confiavam nas decisões tomadas pela “Direção Superior”.

Ou seja, menos de 20%, um em cada cinco, responderam favoravelmente e confiantes nas decisões do presidente, conselheiros e diretores da Petrobrás.

Veja bem, a pesquisa foi realizada em janeiro de 2017.

Ao longo do ano, a confiança certamente piorou diante do resultado das privatizações da malha de gasodutos (NTS), do campo de Carcará etc.

Em dezembro de 2017, a “Direção Superior” anunciou que não haverá pesquisa de ambiência em janeiro de 2018.

Para um bom entendedor… essa decisão basta, para afirmar que a verdade sobre a Petrobrás foi revelada e já é auto evidente para os petroleiros em 2017. E os brasileiros?

Será que perceberam que o impeachment foi um golpe para “estancar a sangria da lava jato… com o Supremo, com tudo”? Como dito pelo senador Jucá.

Notaram que tomaram o poder para aumentar a exploração dos trabalhadores e penalizar aposentados e estudantes, com as reformas trabalhistas e da previdência, em benefício de megaempresários e banqueiros?

Entenderam que serviu para o capital internacional se apropriar dos ativos da Petrobrás e do petróleo brasileiro?

Não dispomos de pesquisas recentes que tratam de todas as questões.

No entanto, podemos recorrer à pesquisa do Ibope, realizada em novembro/17, para aferir a percepção dos brasileiros.

Perguntados se o impeachment significou melhora ou piora em relação ao governo Dilma, apenas 6% responderam que foi uma “melhora”, contra 52% que afirmaram que foi uma “piora”.

A banda do Titanic não para

Enquanto a maioria dos petroleiros e dos brasileiros toma consciência, Temer e Parente perseguem seus objetivos.

A meta de redução do endividamento da Petrobrás é temerária.

Não é um indicador estratégico recomendável para uma empresa com potencial de crescimento, como é o caso da Petrobrás.

O indicador e a meta são arbitrários, assim como a antecipação do seu alcance de 2020 para 2018.

A redução da alavancagem é desnecessária, mas poderia ser alcançada sem vender ativos até 2021.

Insistir na atual estratégia de focar na produção de petróleo cru e privatizar os ativos que aumentam seu valor é confrontar a realidade.

Mais sensato é mudar a estratégia, agregar valor ao petróleo, interromper a venda de ativos e preservar a atuação corporativa integrada, o que garante a geração de resultados diante da variação dos preços do petróleo.

Enfim, é preciso entender a realidade, mudar o plano estratégico e parar de enfrentar desnecessários desafios auto impostos.

Ao invés de errar no planejamento, culpar a realidade e insistir no erro esperando que a realidade mude, é melhor compreender a realidade e mudar o rumo estratégico.

Desde que Temer ascendeu ao poder, o governo assumiu a agenda das multinacionais do petróleo e de seus controladores.

Trata-se da agenda do sistema financeiro internacional e dos países estrangeiros que controlam as multinacionais, privadas e estatais.

Mas o que exatamente desejam as multinacionais e seus controladores?

Querem a propriedade do petróleo brasileiro, ao menor custo possível, com total liberdade para exportá-lo.

Querem acesso privilegiado ao mercado brasileiro.

Querem comprar os ativos da Petrobrás a preço de banana.

Querem garantir a segurança energética dos seus países, no caso das estatais.

Querem maximizar o lucro no curto prazo, no caso das privadas.

A Petrobrás adotou nova política de preços dos combustíveis, em outubro de 2016.

Desde então, foram praticados preços mais altos que viabilizaram a importação por concorrentes.

A estatal perdeu mercado e a ociosidade de suas refinarias chegou a um quarto da capacidade instalada.

A exportação de petróleo cru disparou, enquanto a importação de derivados bateu recordes.

A importação de diesel se multiplicou por 1,8 desde 2015, dos EUA por 3,6.

O diesel importado dos EUA que em 2015 respondia por 41% do total, em 2017 deve chegar a 82% do total importado pelo Brasil.

Soberania e desenvolvimento

O petróleo é uma mercadoria especial, na medida em que não tem substitutos em equivalente qualidade e quantidade.

Sua elevada densidade energética e a riqueza de sua composição, em orgânicos dificilmente encontrados na natureza, conferem vantagem econômica e militar àqueles que o possuem.

Não há substituto para o petróleo barato de se produzir, mas ele acabou e a humanidade vive as consequências econômicas e sociais deste fato.

Informações da indústria mundial, o investimento em Exploração e Produção (E&P) e a produção agregada desde 1985 evidenciam o aumento do custo médio de se encontrar e produzir cada barril adicional de petróleo, com severas consequências para a indústria e a sociedade.

O desenvolvimento do Brasil depende da utilização dos nossos recursos naturais em benefício da maioria dos brasileiros.

Temos que superar a sina colonial e condenar as elites que servem aos interesses estrangeiros, em prejuízo da maioria.

Os antigos senhores de engenho e seus feitores, são hoje os 0,01%, os rentistas, os executivos vassalos das corporações multinacionais e, no topo da cadeia parasitária, os banqueiros.

A tomada de consciência é condição necessária, porém insuficiente, para que a maioria dos brasileiros se unam e se organizem para tomar a direção da História e assim promover as mudanças desejadas e urgentes.

*Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

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