José Martins: A economia está se recuperando. Só que não. Veja o que estão escondendo de você nas manchetes

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Produção Industrial Cai Em Oito De Quatorze Locais Pesquisados Em Setembro, Informa O IBGE

José Martins, no Diário do Capital

Em um acanhado cantinho de sua edição desta quarta-feira (08), Valor Econômico – o jornal brasileiro de economia mais lido pelos capitalistas e esquerda burocrática – registra que “produção industrial cresce em seis dos 14 locais em setembro, nota o IBGE”.

Muito parecido com o nosso título acima. Parecido mas muito diferente.

Neste caso, pelo menos, a ordem dos fatores altera bastante o produto.

E o que resulta é cronicamente ameaçador para a população.

Acontece que os capitalistas precisam desesperadamente destacar qualquer indicador para demonstrar que “a recessão acabou e o país voltou a crescer”.

E forçam a barra sobre os fatos reais.

Como? Inventando ou falseando completamente os números apresentados nos relatórios.

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A luta de classes se manifesta também nesta forma.

Falsificações que do mesmo modo e seguidamente faz seu honestíssimo presidente Michel Temer.

Na manhã da mesma quarta-feira (8), novamente ameaçado pela fragmentação de sua não menos honesta base aliada, esse indigesto personagem discorreu sobre a economia nacional: “Em todos os números apresentados temos um retrato claro: o de um país que venceu a recessão mais profunda da sua história e voltou a crescer” diz o notório inimigo público número um. (Folha de São Paulo, “Temer distorce dados para defender governo em conversa com senadores”, 09/Nov. 2017”)

A realidade é que, por trás dessas cínicas manipulações de coisas facilmente observáveis a olho nu no cotidiano das pessoas, encontra-se o fato que os capitalistas e seu atual governo são incapazes de recuperar o crescimento econômico nacional.

Mesmo com as atuais facilidades externas para as exportações, crédito, etc.

O mundo inteiro está expandindo em 2017. Menos o Brasil.

De acordo com este último relatório do IBGE, a produção industrial brasileira continua rigorosamente estagnada, embora tenha crescido um pouco em alguns Estados e em alguns setores, no mês de setembro.

Apesar do comitê de negócios da burguesia ( empresários, governo, mídia e outras funções ideológicas) dar grande destaque para um discretíssimo crescimento industrial em seis estados (Rio de Janeiro foi o mais “dinâmico”), no mês de setembro – isso não tem a menor importância.

Apenas repete o minguado protocolo dos últimos trimestres. O que interessa realmente são os dados agregados desta mesma indústria.

Assim, segundo os dados do próprio relatório do IBGE, a produção industrial do Brasil fechou o terceiro trimestre com um crescimento de 1,6% em 2017, influenciada, principalmente, pelo aumento na fabricação voltada para as exportações de veículos automotores.

Este ano, o setor automobilístico acumula alta de 14,8% e, em relação a setembro de 2016, o aumento na produção foi de 20,9%. Já na comparação com agosto de 2017, o setor cresceu 1,0%.

“Em todas as comparações, o setor de veículos automotores aparece como um componente positivo para o resultado da indústria”, comenta o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo.

“As exportações ajudam a explicar o aumento da produção de veículos em 2017, principalmente para automóveis de passeio, mas também para caminhões”, complementa.

Mas não é só a produção de automóveis que aumenta puxada pelas exportações.

Todos os restantes ramos do setor de bens de consumo duráveis — do mesmo modo que os ramos do setor de bens de capital — têm aumentado bastante suas exportações e sobrevivido à brutal queda da demanda interna.

Diminuir os preços externos para aumentar as quantidades de mercadorias exportadas. O mundo todo está fazendo isso.

Neste momento, a elevação da corrente global de comércio (exportações + importações) é acompanhada por uma correspondente deflação global.

Esta é a mais importante manifestação da superprodução global. Mas esse também é outro assunto.

Mantenhamos o foco.

Neste emaranhado de determinações, o que se observa claramente com os dados da produção industrial brasileira, como um todo, é que essa desesperada liquidação no mercado externo a preço de banana de estoques de mercadorias invendáveis no mercado interno está longe de retirar a indústria toda da estagnação que se arrasta há quase dois anos.

Sempre segundo o relatório citado do IBGE, em setembro de 2017, a produção industrial nacional teve um acréscimo residual de 0.2% frente ao mês anterior, após recuar 0.7% em agosto.

No confronto com igual mês do ano anterior, a indústria cresceu 2,6%.

No acumulado dos nove meses do ano, ocorreu elevação de 1,6%, mas a média móvel trimestral manteve-se praticamente igual a zero (0.1%).

Finalmente, a importante taxa do acumulado nos últimos doze meses avançou apenas 0.4%.

Esta última taxa é importante porque sinaliza a taxa de crescimento real para o ano corrente como um todo, taxa a ser revelada apenas no fechamento deste último trimestre do ano, em pleno andamento neste momento.

O gráfico abaixo, do IBGE, retratando o período de longo prazo da produção, ilustra muito bem como esses números atuais da indústria nacional representam uma verdadeira prostração produtiva, em termos históricos.

E está longe de ser corrigida pela protoburguesia brasileira.

Esta é a base material da crise política e social que assola a maior economia ao sul do equador.

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